sábado, outubro 19, 2013

Os movimentos de vanguarda nas primeiras décadas do séc. XX


Henri Matisse, Mesa Posta ou Harmonia em Vermelhos, 1908


Franz Marc, O Cavalo Azul, 1911 



George Braque, Casas d´Estaque, 1908


Piet Mondrain, Quadro I, 1921 


Umberto Boccioni, Estado de Espírito II, 1911 


Slvador Dali, A persistência da Memória, 1931

O desafio da inovação, definido pelos vanguardistas, conduz a um clima de experimentação constante, que resulta numa sucessão vertiginosa de movimentos artísticos e literários, o que explica que um mesmo artista possa produzir obras que se enquadram em diferentes movimentos. Em 1905, surge em Paris, o fauvismo, que se destaca por uma simplificação decorativa e pelo abandono tendencial da perspectiva e do modelado. O uso da cor pura e estridente, usada de forma arbitrária, imprime uma sensação de alegria às obras fauvistas, que contrasta com a expressão da angústia humana, sobretudo a citadina, transmitida pelas obras do expressionismo, que emergiu, nesse mesmo ano, na Alemanha.  Este último movimento que abrange também a literatura e o cinema, reparte-se na pintura em dois momentos: Die Brcke (ponte) caracteriza-se pelo uso contrates cromáticos violentos, de formas sintéticas e distorcidas e de temáticas dramáticas e obsessivas. Der Blaue Reiter (O cavaleio azul) surgido em 1911, aborda temas calmos e serenos, de cores suaves usadas arbitrariamente. Em 1907, desenvolve-se em França, o cubismo, caracterizando-se pela bidimensionalidade e pela representação figurativa, através da simplificação do volume dos objectos e da geometrização das formas (fase cezzaniana)  . Picasso e Braque, principais mentores, deste movimento, evoluem para uma segunda fase - a analítica -, realçando a composição de planos e a fusão de planos, através da decomposição das formas e do uso das cores cinzentas e castanhas. As sucessivas tentativas de representação dos objectos na sua essência fará emergir uma terceira fase – a sintética – marcada pela simplificação da composição e pelo uso de cores mais intensas e variadas, bem como pelo aparecimento das primeiras colagens. A escrita cubista caracteriza-se pela ausência de pontuação, sobressaindo na poesia os caligramas, cuja mensagem está directamente relacionada com a representação gráfica e os objectos. Na Itália, afirma-se a emergência do futurismo em 1909, que se assume como um movimento artístico e literário produtor de uma arte para o futuro. Este movimento recusa a harmonia convencional e defende a violência, a velocidade e a sociedade industrial, desenvolvendo temáticas preferencialmente relacionadas com a vida citadina, com a máquina e com a electricidade. As suas composições revelam um carácter abstracto, mas dinâmico, realçado pelo uso de cores vivas e linhas curvas. O abstraccionismo, movimento não figurativo, surgido em 1910 no qual se destaca a figura de Wassily Kandiski, que exalta o dinamismo da cor pura, imprimindo aos seus quadros um ritmo quase musical, sendo esta a fase de abstracção cromática. Outros irão ligar a cor ao uso da geometria, criando o abstraccionismo geométrico. Piet Mondrain, recorrendo apenas a cores primárias, cria o abstraccionismo racionalista ou neoplasticismo, ao introduzir linhas verticais e horizontais, formando ângulos rectos , numa tentativa de demonstrar que a linguagem racional e universal da matemática pode responder à irracionalidade da guerra. O abstraccionismo impõe-se, assim, como uma nova estética universal, defendendo-se que a obra de arte será tanto mais significativa quanto maior for a sua autonomia em relação ao criador, ou seja, quanto maior for a diversidade de leituras e sensações obtidas pelos espectadores. Durante a Primeira Guerra Mundial, irrompe na Suiça o dadaísmo, reflectindo um cepticismo total em relação aos valores tradicionais, valorizando o caos e a destruição da ordem vigente. Estes artistas vão recorrer a objectos banais e a colagens de desperdícios com o objectivo de chocar o público, assumindo uma atitude de renúncia relativamente à criação artística, através da incoerência, da ironia e do sarcasmo. O surrealismo, surge em França em 1904, sob influência de Freud, os artistas e escritores reclamam a autonomia da imaginação, através da exploração e livre expressão do que é consciente. Tentam reproduzir o mundo onírico, realçando os instintos, os desejos e o erotismo. Também o surrealismo se expressa em duas tendências diversas: a figurativa – que recupera a tridimensionalidade, usando perspectivas insólitas, e que representa seres objectos estranhos e deformados, por vezes em situações de tensão ou conflito – e a abstractizante – que tende ao abandono da tridimensionalidade.                                

sábado, setembro 28, 2013

Dois grandes vultos da Historiografia do Caia



                  
Ao longo da História da Cidade de Elvas e da Vila de Campo Maior, grandes nomes destacaram-se na reconstrução da memória dos seus antepassados, mas dois nomes são fundamentais e determinantes quando se fala de uma História, cujo objecto de reconstrução se centra no documento. Referimo-nos a Vitorino de Almada e João Francisco Dubraz, o primeiro natural de Elvas, onde nasceu em 21-10-1845 sem dúvida o mais importante historiador desta cidade, o segundo nascido em Campo Maior destacou-se não só na vida cultural da sua vila como foi um dos colaboradores mais importantes da imprensa periódica de Elvas onde se salientou como cronista político e historiador, de facto foi no nº1828 da Voz do Alentejo, que Dubraz escreveu o primeiro artigo sobre história que se intitulava “História de Campo Maior. Em comum, estes dois vultos para além da História, possuíam uma verdadeira paixão pelo jornalismo chegando Vitorino de Almada, a correspondente do Diário Ilustrado na década de 70, enquanto que João Dubraz iniciou mesmo a sua “carreira jornalística” no periódico lisboeta Revolução de Setembro. Todavia, a forma de participação na imprensa nacional e depois local, foi fortemente marcada pela sua formação profissional, que os distingue notavelmente na forma como utilizaram as folhas periódicas onde colaboraram, Vitorino de Almada, capitão do exército e oriundo de uma família ligada a carreira de armadas, jamais utilizou o seu talento para a reflexão da temática política numa época em que o exército português caminhava no sentido da unidade nacional, depois das várias divisões que as guerras liberais determinaram e que ainda se faziam sentir perto de meados do século XIX. João Dubraz, pelo contrário era um verdadeiro activista político, participou na revolta da Maria da Fonte, defensor de um liberalismo radical e da república como regime político, de tal forma que os escritos deste professor foram sempre motivo de polémica na cidade de Elvas, quando essas ideias eram motivo de reflexão. No plano da construção memória, a recolha de fontes e uma forma muito particular de registar os agentes da história, são sem dúvida os elementos de maior destaque nas suas obras. No caso de J.Dubraz destaca-se «Recordações dos Últimos Quarenta Anos (1868)», que é

sem dúvida, a memória descritiva mais importante da Vila de Campo Maior, referente aos séculos XVIII e XIX e em particular da conjuntura de guerra, desde as Invasões francesas até às guerras peninsulares. De realçar também que uma parte significativa desta memória foi publicada nos jornais de Elvas, Voz do Alentejo e Diário de Elvas. O mesmo caminho seguiu Vitorino de Almada, uma vez que uma parte considerável da sua obra foi também antes publicada em alguns artigos do Elvense, Gil Fernandes e Correio Elvense. Porém de referência é sem dúvida o Dicionário de História e Geografia do Concelho de Elvas e Extintos de Barbacena, vila Fernando Vila Boim, uma obra ímpar que reúne uma vasta informação: Política, Institucional, Económica, Social e Cultural, uma parte dela recolhida por António Tomás Pires ou facilitada pelo Dr. Francisco de Paula Santa Clara, entre outras personalidades que nos finais do século XIX permitiram o acesso a uma documentação institucional que estava à sua guarda. Eis, algumas notas, sobre dois vultos e duas obras de referência que permanecem ignoradas pela historiografia portuguesas, uma referente a vida de uma cidade e que se estende pelo Alentejo, outra sobre uma memória de uma vila que se desenvolve num cenário específico da História de Portugal.


quarta-feira, setembro 18, 2013

Thomas Woodrow Wilson e a criação da Sociedade das Nações

“A criação de uma sociedade em que todos os Estados, tanto grandes quanto pequenos, cooperassem para a preservação da paz era o velho sonho dourado do presidente Wilson. Fora essa, na verdade, uma das principais razões que o tinham levado a entrar na guerra. Acreditava que a derrota da Alemanha seria um golpe mortal vibrado no militarismo e que seria possível estabelecer então um controle das relações internacionais por uma comunidade de poder, ao invés do complicado e ineficiente equilíbrio de poder. Contudo, para conseguir que a Liga ou Sociedade das Nações fosse aceite, viu-se obrigado a transigir em numerosos pontos. Permitiu que na sua ideia primitiva de uma redução dos armamentos “ ao nível mínimo das condizentes com a segurança interna” fosse formulada de maneira que lhe dava um sentido completamente diverso, dizendo “segurança nacional”. Para induzir os japoneses a aceitar a Liga, concordou em deixar-lhes as antigas colónias alemãs na China. A fim de agradar aos franceses, sancionou a exclusão da Alemanha quanto da Rússia, a despeito da sua velha insistência de que ela devia incluir todas as nações. Esses inconvenientes eram bastante sérios, mas a Liga recebeu um golpe ainda mais grave quando foi repudiada pela própria nação cujo presidente a havia proposto. Instalada sob auspícios tão desfavoráveis, a Sociedade das Nações jamais conseguiu cumprir as metas do seu fundador. Somente em poucos casos logrou afastar o espectro da guerra, e em todos eles as partes litigantes eram nações pequenas. Mas em todas as disputas em que se envolviam uma ou mais grandes potências, a Sociedade das Nações não obteve sucesso”.                  

domingo, junho 02, 2013

I - História do caminho de ferro na Madeira: A inauguração.


O Monte Palace - o hotel das elites europeias


O Bello Monte outra das unidade hoteleira pioneira do Turismo Madeirense


O Comboio de partida do Pombal


A chegada ao Monte centro do Turismo Madeirense

As dificuldades de comunicação e transportes era um problema que afectava os madeirenses desde o tempo dos descobrimentos, em finais do século XIX o Diário de Notícias, noticiava assim os obstáculos à circulação no interior da ilha “Quem julgar que haja exagero no que dizemos monte-se num cavalo e vá percorrer a ilha e voltará horrorizado pelo que respeita a vias de comunicação em muitos pontos se não na maior parte das freguesias rurais”. As notícias do triunfo da linha férrea na Europa era já conhecidas antes de meados do século XIX no arquipélago madeirense, mas seria o capitão António Joaquim Marques natural de Lisboa,  o pioneiro do desenvolvimento ferroviário na Madeira, apresentando na Câmara Municipal em 17 de Fevereiro de 1887 um estudo da autoria de Raul Mesnier Ponsard que deixava clara que a viabilidade do caminho de ferro era uma realidade. As autoridades municipais acabaram por apresentar alguns obstáculos ao projecto, do capitão António Marques, mas em 24 de Julho de 1890 o projecto era finalmente aprovado e concedido ao madeirense, capitão Manuel Alexandre de Sousa, que se propunha a criar a Companhia dos Caminhos de Ferro do Monte. O Monte era então a zona de turismo por excelência e a elite madeirense possuía as suas quintas na referida freguesia, zona privilegiada para as férias dos madeirenses de posse até ao séc. XX e o comboio podia ser um instrumento ao serviço   de uma indústria em desenvolvimento . A escritura da companhia definia as suas características: Art.º1 - É criada uma sociedade anónima da responsabilidade limitada que se domina Companhia dos Caminhos de Ferro do Monte; Art.º 2 – A Companhia tem por fim construir e explorar o caminho-de-ferro do Monte para o sítio do Monte, bem como um casino denominado as Laginas, extremo da Linha. Artº 3 – A sede da Companhia é o Funchal; Art.º4 – A sua duração será pelo tempo de noventa anos (…): Art.º 4 – O capital da Companhia será de cento e doze contos e quinhentos mil réis dividida em doze mil e quinhentas acções. Em Agosto de 1891 foram inaugurados os trabalhos do elevador começando simultaneamente na Confeitaria e no Pombal. Entretanto a imprensa local ia dando conta da chegada do material fixo e circulante para o elevador. Em 12 de abril de 1893, as notícias davam conta “ que estava ontem à vista a barca que se supõe ser a que veio de Antuérpia com parte do material fixo e circulante para o caminho-de-ferro do Monte”. Entretanto as informações técnicas era motivo de divulgação, dizendo-se que devido ao declive do traçado era escolhido o sistema Riggenback, que consistia na presença de uma cremalheira colocada no eixo da via e ao longo de todo o seu percurso e constituída por uma calha de ferro, cujas lâminas verticais estão rebitadas os seus dentes ou degraus como se uma escada se tratasse. Outros pormenores eram notícia, como o tipo de carro (carruagem), como então lhe chamavam, que teria uma lotação para 60 passageiros. Finalmente a 16 de julho de 1893, era inaugurado o primeiro troço entre o Pombal e a Levada de Santa Luzia. A imprensa local noticiava assim o acontecimento: “Antes das 10 horas da manhã já eram numerosos os grupos de curiosos que estacionaram em toda a linha do percurso, onde, a pequenos espaços, se erguiam mastros com bandeiras e em cima, na Levada de Santa Luzia, onde também flutuavam bandeiras levemente agitadas por uma viração que mal atenuava a intensidade do calor. Sob um sol faiscante a multidão dos curiosos foi aguentando gradualmente, e muito antes de uma hora da tarde, a anunciada inauguração, era difícil encontrar um lugar onde se pudesse estar à vontade. Na Levada de Santa Luzia achava-se armado um coreto com toldo, onde tocou a banda regional de Caçadores 12 depois da cerimónia religiosa. A estação do Pombal apresentou-se, decorada com flores e verduras. O Exmº prelado diocesano, D. Manuel Agostinho Barreto, de pluvial, de roquete, de estola e mitra e empunhando o báculo, procedeu à cerimónia da bênção da locomotiva, onde se via hasteada a bandeira portuguesa, rodeando sua s.ex. reverendíssima o Cabido da Sé com a cruz alçada. Assistiram a este acto quase todos os cavaleiros convidados pela direcção do Caminho-de-ferro. Concluída a bênção estrugiu nos ares uma girândola de foguetes e fizeram-se ouvir os sons festivos da música. Em seguida, o Exmo. Prelado, o Sr. Governador Civil; o Sr. Agostinho de Ornelas e os srs. Conde Calçada; comendador Read Cabral, director da Alfândega do Funchal, comendador Luís Ribeiro de Mendonça; secretário-geral interino, Major Almeida Ferreira; capitão Camacho; engenheiro Roma Machado; dr. Joaquim Ricardo trindade de Vasconcelos, vice-presidente da Câmara Municipal do Funchal e vereadores João Franco de Castro, Pedro Luís Rodrigues, Silvestre Quintino de Freitas, cónego vigário do monte, Francisco Rodrigues de Almeida; Manuel Pires Taborda; Dr. Frederico Martins ; os directores do Caminho-de-ferro do Monte e outros cavaleiros, deram entrada no carro que se pôs imediatamente em marcha, percorrendo em cinco minutos a distância que vai da estação do Pombal à Levada de Santa Luzia entre duas alas compactas de espectadores. Ali foram os viajantes convidados pela direcção a se apearem e seguindo para uma propriedade pertencente ao Sr. Manuel Pires foi-lhes servido um delicado copo de água. A banda dos caçadores 12 tocou várias peças escolhidas, terminando assim uma festa comovente e abrilhantada por um tempo esplêndido que há-de lembrar sempre na Madeira para a qual se abre uma página nova e auspiciosa da história”.               


quinta-feira, maio 30, 2013

O Dadaísmo ...a consciência do inconsciente na Arte ...



Marcel Diuchamp, L.H.O.O., Lápis uma reprodução de Mona Lisa, 19.7X12.4 cm 



Rauol Hausmann, O Crítico da Arte, Colagem,31.4 X 25.1 cm



George Groz, O Culpado ainda é desconhecido, 50.7x35.5 cm


Raoul Haussmann, Tatlin em Casa, Colagem e guache, 40.9x27,9 cm  


O dadaísmo surgiu durante a 1ª Guerra Mundial, alegadamente através da palavra Dada que significa “cavalo de brinquedo” em francês e tirado acaso de um dicionário. Os defensores desta nova corrente defendiam que todas as crenças morais, políticas e estéticas, tinham sido destruídas pela guerra. Proclamavam uma abordagem destrutiva, irreverente e libertadora da arte. O dadaísmo evoluiu para o Surrealismo a partir de meados da década de 1920. O primeiro Manifesto Dada, publicado em 1918 defendia que o Dadaísmo “era uma nova realidade” e tinham uma atitude crítica relativamente aos expressionistas que acusavam de “resistência sentimental aos tempos”. A nova expressão artística  tinha como finalidade chocar a sociedade vigente do nacionalismo e do materialismo que tinham levado ao desastre da Primeira Guerra Mundial. O Dadaísmo também foi um movimento literário, além de visual, e formaram-se grupos independentes de dadaístas em Zurique, Nova Iorque, Berlim e Paris. O acaso e o disparate eram elementos determinantes que evidenciavam uma nova expressão artística marcada pelo inconsciente da vida quotidiana. Em termos objectivos a sua intensão era fazer com que as pessoas consciencializassem que as definições e os padrões pelos quais rotulamos e julgamos as obras de arte são talvez secundários para a arte e não são definitivos.       

domingo, maio 19, 2013

Sandro Botticelli - a perfeição da pintura florentina ...


O Homem e a Medalha de Cosme Médicis (1475)



A virgem e o Menino com os seus Anjos (1480-1481).


A Primavera (pormenor) 1482.

Depois da sua aprendizagem, o florentino Sandro Botticelli (1445-1510), aprendeu a arte da pintura pelas mãos de Frei Filipo Lippi. É provável que depois de trabalhar no atelier de Andrea del Verochhio, onde também estava empregado o jovem Leonardo. Desenvolveu um estilo muito pessoal baseado no dinamismo das linhas. O movimento imaginativo da roupa, o cabelo e os contornos conferem às suas pinturas um tom elegante e no qual de destaca o aspecto decorativo de forma bem evidente, que era muito o gosto dos mecenas como era o caso dos Médicis, de quem foi um pintor favorito. Nas suas pinturas da Virgem criou um ideal feminino inconfundível: esbelta, ruiva, virginal e ligeiramente melancólica. Na representação das personagens da mitologia clássica, inaugurou toda uma série de novos temas, que influenciaram alguns artistas posteriores. A sua obra está representada por inúmeros retábulos, frescos de grande relevância, assim como retratos e cenas cosmológicas e no seu conjunto representa a perfeição do “estilo florentino”.


sábado, maio 11, 2013

O contributo português para a ciência náutico nos séc.XV -XVI


Astrolábio Planisfério do Rei Afonso, o Sábio -Séc.XIII. 


Expedição de João Nova (1501) in Livro das Armadas da Índia.


Fragmento abrangendo a América - Panisfério de Cantino - 1502.


Quando iniciaram a expansão marítima os portugueses já possuíam um conjunto de conhecimentos e técnicas de navegação, legadas pelos árabes e judeu, e testadas no Mediterrâneo durante séculos por venezianos, genoveses, catalães e maiorquinos. Eram elas o leme fixo à popa (imerso e preso ao cadaste com dobradiças; mais fácil de manobrar e permitindo mudanças de direcção); a bússola (invenção chinesa que séculos antes permitiria o traçado das linhas de rumo nas cartas-portulano) e o astrolábio (instrumento de orientação astronómica de origem grega). Mas, à medida que a navegação ia avançando no Atlântico, as técnicas náuticas ia avançando no Atlântico, as técnicas náuticas foram evoluindo, tal como se foi aperfeiçoando a arte de marear. Os ventos e as correntes, dificultavam a navegação costeira, ao longo da costa ocidental africana e para ultrapassar esta dificuldade foi necessário construir uma embarcação que fosse capaz de navegar à bolina, isto é aproveitando os ventos e navegando ao largo da costa, surgia a caravela (barco veloz, manobrável e cujas velas triangulares permitiam o aproveitamento dos ventos em todas as direcções). Com as longas viagens em direcção à África Oriental e América impunham a construção de navios mais resistentes e maior porte. Surgia a nau ou galeão, com velas quadrangulares (redondas) e com boa capacidade de artilharia). A navegação com ventos contrários implicou outra mudança: o abandono da navegação costeira – que os portugueses praticavam aquando do regresso da Guiné e da Mina, e adoção da “volta ao largo”, que os levava ao mar dos Açores. A navegação de cabotagem cede assim lugar à navegação do mar alto ( que podia durar meses sem qualquer referência terrestre). A navegação de rumos e estima (apoiada na bússola, e em que os rumos e as distâncias percorridas se calculavam por estimativa). Revela-se igualmente insuficiente, sendo progressivamente substituída por um conjunto de práticas de medição, a chamada navegação astronómica – em que a observação e a medição da altura dos astros (sol, estrela polar, cruzeiro e ursa maior), através do astrolábio, quadrante e balestilha e a consulta posterior das tábuas de declinação solar e de regimentos dos astros (elaborados por matemáticos e astrónomos) permitiram  (após introdução de correcções aditivas ou subtractivas) a determinação da latitude e, por conseguinte, da posição do navio.Nos séculos XV e XVI como resultado da expansão marítima, a cartografia europeia entrou numa fase de evolução e aperfeiçoamento, projectando-se então os primeiros mapas elaborados cientificamente e que reviam as concepções medievais. De facto, com as viagens dos povos ibéricos, nomeadamente as portuguesas demonstraram-se que a cartografia medieval era incipiente e simplista, como por exemplo, o planisfério T-O que representava a terra como um disco plano, com três continentes rodeados por um oceano ou o planisfério de Platomeu do séc.II que não admitia, a comunicabilidade entre o oceano Atlântico e Índico e que vigorou até 1490 . Assim e graças ao contributo dos cartógrafos portugueses, os contornos das terras e dos mares são representados com uma corecção quase científica; as distâncias em escala aproximam-se da realidade, como é o caso, do planisfério de Cantino, a mais famosa das cartas portuguesas. (A África aparece representada com grande exactidão e é esboçado um trecho do litoral brasileiro). Os mapas passam a ter escalas e latitudes, planos hidrográficos ( e registos de profundidade), informações variadas sobre etnias, fauna e flora, tudo isto apresentado sob forma de ricas iluminuras. O traçado correto do Equador, paralelos e meridianos, tornam-se visíveis nas representações cartográficas nomeadamente no séc. XVI destacando-se entre os cartógrafos nacionais, Jorge reinel, Diogo Homem e Bartolomeu Velho.                     


sexta-feira, fevereiro 08, 2013

O Carnaval ....Momentos da história e dos lugares .....


As troupes femininas no elitista  "Carnaval de Cannes" 


O famoso Carnaval de Nice - o regresso da felicidade no pós guerra. 




O Careto. a versão judaica/cristão portuguesa  


Máscaras do Carnaval de Veneza (2010)

Carnaval do Rio (2008) - um hino à mulher brasileira



domingo, janeiro 20, 2013

Nos fins da Idade Média ...


Os Hospitalários estavam sediadas  no Crato e  continuavam a percorrer a planície ....  


A Casa de Bragança dinamizava a formação de senhorios e vilas no Alentejo Central 


Os grandes senhorios finalmente estavam consolidados no distrito de Beja


No final da Idade Média, o Alentejo tal como o Algarve mantinham-se como espaços periféricos e marginais marcados por uma ampla dependência dos poderes públicos. A distância, as ligações viárias e a insegurança, contribuíam para o isolamento da planície alentejana, ao mesmo tempo que tais regiões não constituíam uma prioridade da governação e pontualmente a sua voz era “ouvida” nas Cortes Régias. Nas regiões de fronteira, as cidades de Évora e Beja e as vilas de Estremoz, Portalegre e Elvas, mereciam alguma atenção, nomeadamente nos núcleos situados no norte alentejano, uma vez que a sua função estratégica  continuava a merecer alguma atenção. Tal como, se observava em Castela, este “olhar para o espaço fronteiriço” , justificava-se como forma de controlar e precaver qualquer ameaça inimiga e  a rede de castelos de 1º linha na fronteira dos distritos de Portalegre e de Beja, justificava só por si a possibilidade da referida ameaça.  Na verdade, em diversos momentos e não apenas durante as chamadas guerras fernandinas, o espaço da raia do Caia, foi em determinados momentos lugar de estacionamento militar temporário, cenário de incursões inimigas e campo das chamadas guerras de cerco e de assédio. De resto, foi em função destas circunstâncias a partir do reinado de D. Afonso IV , assistiu-se a uma melhoria dos recursos humanos e económicos, como meio de precaver o desenvolvimento das populações fronteiriças e nesse âmbito, a vila de Elvas e as zonas periféricas, Vila Viçosa e Estremoz ganharam alguma notoriedade junto à Coroa Portuguesa. Em parte, já D. Afonso III, já tinha esta intenção de desenvolver o Alentejo Oriental, concedendo foral a Portalegre, Arronches, Estremoz,  Évora Monte  e  Vila Viçosa . Mas o poder imposto do exterior, levanta-se, na vasta planície a Torre do Castelo de Beja, evidencia o poder do Alcaide em todas as terras da cercania, tal como a monumental Sé de Évora evidencia já o poder episcopal em terras onde as fronteiras cristãs há muito estão consolidadas e trata-se agora de conquistar a fé dos homens num espaço de conquista e de defesa da soberania nacional. De facto, no Alto Alentejo, os centros urbanos conheceram maior expansão e a onde a presença senhorial é mais evidente, a Casa de Bragança não só ocupa o topo da hierarquia senhorial como contribuiu para o desenvolvimento de concelhos como Arraiolos, Sousel, Borba, Portel e Monsaraz. Na verdade o número de concelhos que se constituíram para leste da capital do Alentejo é notável perante o “descampado” concelhio do sul alentejano, num espaço onde se instalaram as principais sedes das ordens religiosas a de Avis e a dos Hospitalários. Este último, com sede no Crato, acabará por se tornar a “arma de socorro” dos alcaides de Beja e ao fim ao cabo, foram os Hospitalários que ao longo de três séculos garantiram a soberania nacional, em terras a sul de Évora e da linha de Guadiana em terras a sul de Mértola e com o reino dos Algarves já no horizonte. A nível económico, nos fins da idade Média, a diversidade económica, era naturalmente maior a norte do Mondego, mas nas terras do sul, o centro e o norte do Alentejo, conhecia um franco desenvolvimento, as feiras, afirmaram-se de um modo particular junto à raia e no princípio do séc. XIV, Arronches, Elvas, Borba, Terena e Olivença, formavam por si um núcleo com algum dinamismo económico, bem diferenciado das regiões centrais, que se limitavam as feiras de Évora e Alvito e mais a sul, Moura, Beja e Ourique, evidenciavam ainda um despovoamento notável do território. Aliás, só durante o séc. XV que se formam os grandes senhorios de Beja, Serpa e Moura, nas mãos de D. Fernando, irmão do rei D. Afonso V e em pleno desenvolvimento no último quartel da referida centúria, quando o seu filho, D. Manuel, futuro rei de Portugal partilha a sua ampla riqueza agrária com o seu filho D. Luís que e torna o grande senhor das terras do sul ao mesmo tempo que a larga autonomia administrativa e jurisdicional, contribui decisivamente para a individualidade do Baixo Alentejo.                    

sábado, dezembro 22, 2012

Max Roemer um pintor germânico que fez da sua obra um culto a cultura madeirense ....

As ruas e as travessas ... uma constante na sua obra.


A Corsa um veículo de tracção por excelência até meados do século XX


A rede um meio de transporte senhorial e popular conforma as épocas e as circunstâncias


O Carro de bois um ícone do turismo madeirense até ao último terço do séc.XX ?...




Max Wilhelm Roemer, nasceu em Hamburgo a 22 de Novembro de 1878 e foi baptizado na igreja luterana de São Jacob, com cerca de uma ano e um mês no dia de Natal de 1879. A 24 de Maio de 1902, contraiu matrimónio com Louise Kaetchen Parizot, natural de Java e a quem se deve a sua passagem pela Madeira, segundo os contemporâneos de Max Roemer. De facto, as suas origens no sudoeste asiática, não eram bem vindas na Alemanha onde a crença da raça pura já circulava por todos os estados germânicos nos anos 20. Mas, Louise Parizot, do ponto de vista social se encontrava num patamar superior a Marx Roemer, na verdade era filha de um alemão (?) e os seus avós paternos eram oriundos de boas famílias parisienses, pelo lado materno, era neta do Conde Raden Ati Patti Sokro Nogaro, regedor de Soerabia. O seu pai, era um distinto monárquico, cuja origem parisiense só a perdeu quando se exilou na Alemanha, adquirindo a naturalidade germânica. Porém, tratava-se de um jovem aristocrata, com uma vida atribulada, mas feliz e cheia de aventura, terá sido um corredor de cavalos amador, percorreu dois continentes o europeu e a asiático, mas particularmente a China onde viveu durante vinte anos distinguindo-se como um exímio cavaleiro. Antes de se radicar na ilha de Java onde exerceu o cargo de director de empresa de incêndios e onde Louise Perizot foi apenas mais uma filha dos vinte cinco, do Conde Raden Nogaro, que foi esposo de treze mulheres. Louise perdeu a mãe com um ano e a cuidado de uma antiga governanta da família foi educada na Suiça. Conheceu Max Roemer quando este decorou as salas de recepção do Dresdner Bank e o Palácio Municipal de Berlim, encantado com a coloração e a feição exótica de Loiuse iniciou-se uma longa aventura matrimonial, antes porém surgiram os primeiros filhos, quando Max Roemer se alistou como soldado na infantaria alemã, durante a I Grande Guerra. Esteve nas campanhas da frente oriental e na cidade grega de Salónica, sendo promovido a 1ª cabo e decorado com a Cruz Hanseática, Cruz de ferro de Combatentes e ainda com a Insígnia dos Feridos, que pressupõe que foi provavelmente vítima em alguma circunstância do conflito de guerra, mas não existe nenhum documento que possa fazer essa prova. De regresso, à Pátria a sua esposa queixava-se dos invernos frios de Hamburgo e as condições financeiras da família estavam debilitadas pelo surto inflacionista gerado pela Grande Guerra. Um novo destino, esperava a família Roemer, na verdade Bente Olsen, um amigo, um ex- bailarino escandinavo falava-lhe da ilha da Madeira, do encantamento das suas flores, da simpatia da população e do sol …. E fazia-lhe frequentemente a sugestão de se radicar na ilha em várias das suas cartas dirigidas a Max. A ideia, de voltar a uma ilha não motivava a sua esposa, mas com os seus três filhos o casal desembarca no Funchal, no dia 27 de Maio de 1922, após a escala do vapor brasileiro “Curvello” que se dirigia para o Rio de Janeiro. A primeira residência dos Roemer situou-se em São Roque, com dezassete anos de vivência na capital funchalense muda-se para a Estrada Monumental antes de se fixar na freguesia de São Martinho, na Nazaré e nos últimos cinquentas de da sua vida, viveu no Funchal na Rua Major Reis Romes, nº8. Na capital madeirense curiosamente, não se integrou na comunidade estrangeira, convivendo de forma afectiva com a população local, cortou relações de amizade com o seu velho amigo Bengt Olsen a quem lhe prestou auxílio económico, não estabeleceu grandes relações com a comunidade alemã que residia na ilha, a amizade com o médico dentista Karl Friedrich Rohwedder que era nos anos trinta adepto do nacional-socialismo ou com o cônsul Wilhelml Hoffman, que chefe do Partido Nazi, local que com alguma dificuldade lhe anunciou que não podia pertencer ao partido, acabaram prematuramente. Segundo o testemunho da sua filha, essa notícia não lhe causou qualquer estado de alma, pois o facto de a sua mulher ser javanesa não lhe conferia, o tal desígnio de pertencer à raça superior. A única excepção na comunidade alemã, era outro nacional-socialista, de nome Uhse, técnico de um moinho de trigo, que lhe adquiria com regularidade alguns dos seus trabalhos. Entretanto a sua vida quotidiana, decorria com maior normalidade, entre umas braçadas a mar aberto, ginástica pela manhã e umas cavalgadas, no seu cavalo, humanizado chamado de “Pedro” preenchia-lhe os tempos que eram doados aos tempos artísticos. A sua obra, seria desde logo, reconhecida por António Nóbrega, pintor madeirense que com Max Roemer executou alguns painéis da Igreja de São Vicente. Todavia, a sua temática artística, ficou desde logo planificada com o que a cidade lhe proporcionava, as ruas, as travessas, os costumes e as paisagens, utilizando as técnicas mais variadas, desde o guache, o óleo ou a aguarela. Um pormenor, contudo marca a sua obra, evidenciando a sua identidade germânica, as caras das pessoas, que na maioria das vezes não traçam com clareza o rosto e os traços madeirenses, mas alemãs. Parte desta obra era vendida directamente nos hotéis a turistas nacionais e estrangeiros, em especial a ingleses. Outros trabalhos artísticos, desenvolveu na capital madeirense, nomeadamente desenhos para cartazes de publicidade para os cinemas locais, por vezes recebia alguns bilhetes por troca,  para si e para sua filha Valeska. Cartões de Boas Festas foram outro tipo de actividade artística que desenvolveu para a Casa Africana, em 1935 tais cartões apresentavam a seguinte legenda e foram objecto de publicidade no Diário de Notícias – nº18 336, de 11 de Dezembro de 1935 : “Get your especial X. mas Cards painted by Max Rmmer/at/ Africa House/ the rights places for your X. mas Shop – ping at moderade price”.  Max Roemer viria a falecer com 81 anos, após uma forte gripe que o debilitou durante 14 dias, tendo sido sepultado no antigo cemitério das Angústias do Funchal perdendo-se a sua sepultura para sempre. Dos seus filhos, Anita seguiu-lhe os seus passos, como pintora mas morrendo prematuramente aos 29 anos de tuberculose em 30 de Outubro de 1934 e Valesca, que também faleceu no Funchal a 25 de Agosto de 1988, que no fim da sua vida curiosamente conservava ainda o sotaque germânico, apesar de ter feito toda a sua vida na Madeira, reproduzia com alguma qualidade, os quadros do seu pai para os amigos. A senhora Roemer, também terminaria os seus dias no Funchal (4 de Abril de 1977). O seu filho, Rolf seria o único que voltaria a Hamburgo, onde foi intérprete, tradutor e correspondente do Diário de Noticias do Funchal, tendo em 26 de Abril de 1984, oferecido à Região Autónoma da Madeira, o património artístico, desenhos e pinturas, do qual foi receptor deste acto, o Secretário regional de Turismo, João Carlos Abreu. De resto, Max Roemer considerava a Madeira a sua segunda Pátria e os madeirenses souberam honrar a sua memória, com a primeira exposição realizada entre 1 e 11 de Janeiro de 1961, sob iniciativa do Dr.Wiliam Clode, Coronel Eduardo Ferreira, Engº Peter Clode e o pintor Louro de Almeida, nessa exposição levada a cabo na Academia de Música e Belas Artes da Madeira, foram expostas algumas obras realizadas antes de se radicar no Funchal como por exemplo, as que mostravam “As trincheiras da Primeira Guerra Mundial.” A obra de Max Roemer está conservada no Museu das Cruzes do Funchal e a sua memória foi novamente evocada em 1998, data correspondente o 110º aniversário tendo-se realizado uma exposição itinerante pelos Concelhos da Madeira e Porto Santo de dezoito aguarelas do pintor.