As ruas e as travessas ... uma constante na sua obra.
A Corsa um veículo de tracção por excelência até meados do século XX
A rede um meio de transporte senhorial e popular conforma as épocas e as circunstâncias
O Carro de bois um ícone do turismo madeirense até ao último terço do séc.XX ?...
Max Wilhelm Roemer, nasceu em
Hamburgo a 22 de Novembro de 1878 e foi baptizado na igreja luterana de São
Jacob, com cerca de uma ano e um mês no dia de Natal de 1879. A 24 de Maio de
1902, contraiu matrimónio com Louise Kaetchen Parizot, natural de Java e a quem
se deve a sua passagem pela Madeira, segundo os contemporâneos de Max Roemer. De
facto, as suas origens no sudoeste asiática, não eram bem vindas na Alemanha
onde a crença da raça pura já circulava por todos os estados germânicos nos
anos 20. Mas, Louise Parizot, do ponto de vista social se encontrava num
patamar superior a Marx Roemer, na verdade era filha de um alemão (?) e os seus
avós paternos eram oriundos de boas famílias parisienses, pelo lado materno,
era neta do Conde Raden Ati Patti Sokro Nogaro, regedor de Soerabia. O seu pai,
era um distinto monárquico, cuja origem parisiense só a perdeu quando se exilou
na Alemanha, adquirindo a naturalidade germânica. Porém, tratava-se de um jovem
aristocrata, com uma vida atribulada, mas feliz e cheia de aventura, terá sido
um corredor de cavalos amador, percorreu dois continentes o europeu e a
asiático, mas particularmente a China onde viveu durante vinte anos
distinguindo-se como um exímio cavaleiro. Antes de se radicar na ilha de Java
onde exerceu o cargo de director de empresa de incêndios e onde Louise Perizot
foi apenas mais uma filha dos vinte cinco, do Conde Raden Nogaro, que foi
esposo de treze mulheres. Louise perdeu a mãe com um ano e a cuidado de uma
antiga governanta da família foi educada na Suiça. Conheceu Max Roemer quando
este decorou as salas de recepção do Dresdner Bank e o Palácio Municipal de Berlim,
encantado com a coloração e a feição exótica de Loiuse iniciou-se uma longa
aventura matrimonial, antes porém surgiram os primeiros filhos, quando Max Roemer
se alistou como soldado na infantaria alemã, durante a I Grande Guerra. Esteve
nas campanhas da frente oriental e na cidade grega de Salónica, sendo promovido
a 1ª cabo e decorado com a Cruz Hanseática, Cruz de ferro de Combatentes e
ainda com a Insígnia dos Feridos, que pressupõe que foi provavelmente vítima em
alguma circunstância do conflito de guerra, mas não existe nenhum documento que
possa fazer essa prova. De regresso, à Pátria a sua esposa queixava-se dos invernos
frios de Hamburgo e as condições financeiras da família estavam debilitadas
pelo surto inflacionista gerado pela Grande Guerra. Um novo destino, esperava a
família Roemer, na verdade Bente Olsen, um amigo, um ex- bailarino escandinavo
falava-lhe da ilha da Madeira, do encantamento das suas flores, da simpatia da
população e do sol …. E fazia-lhe frequentemente a sugestão de se radicar na
ilha em várias das suas cartas dirigidas a Max. A ideia, de voltar a uma ilha
não motivava a sua esposa, mas com os seus três filhos o casal desembarca no
Funchal, no dia 27 de Maio de 1922, após a escala do vapor brasileiro “Curvello”
que se dirigia para o Rio de Janeiro. A primeira residência dos Roemer situou-se
em São Roque, com dezassete anos de vivência na capital funchalense muda-se
para a Estrada Monumental antes de se fixar na freguesia de São Martinho, na
Nazaré e nos últimos cinquentas de da sua vida, viveu no Funchal na Rua Major
Reis Romes, nº8. Na capital madeirense curiosamente, não se integrou na
comunidade estrangeira, convivendo de forma afectiva com a população local,
cortou relações de amizade com o seu velho amigo Bengt Olsen a quem lhe prestou
auxílio económico, não estabeleceu grandes relações com a comunidade alemã que
residia na ilha, a amizade com o médico dentista Karl Friedrich Rohwedder que
era nos anos trinta adepto do nacional-socialismo ou com o cônsul Wilhelml
Hoffman, que chefe do Partido Nazi, local que com alguma dificuldade lhe
anunciou que não podia pertencer ao partido, acabaram prematuramente. Segundo o
testemunho da sua filha, essa notícia não lhe causou qualquer estado de alma,
pois o facto de a sua mulher ser javanesa não lhe conferia, o tal desígnio de
pertencer à raça superior. A única excepção na comunidade alemã, era outro
nacional-socialista, de nome Uhse, técnico de um moinho de trigo, que lhe
adquiria com regularidade alguns dos seus trabalhos. Entretanto a sua vida
quotidiana, decorria com maior normalidade, entre umas braçadas a mar aberto,
ginástica pela manhã e umas cavalgadas, no seu cavalo, humanizado chamado de “Pedro”
preenchia-lhe os tempos que eram doados aos tempos artísticos. A sua obra, seria
desde logo, reconhecida por António Nóbrega, pintor madeirense que com Max Roemer
executou alguns painéis da Igreja de São Vicente. Todavia, a sua temática
artística, ficou desde logo planificada com o que a cidade lhe proporcionava,
as ruas, as travessas, os costumes e as paisagens, utilizando as técnicas mais
variadas, desde o guache, o óleo ou a aguarela. Um pormenor, contudo marca a
sua obra, evidenciando a sua identidade germânica, as caras das pessoas, que na
maioria das vezes não traçam com clareza o rosto e os traços madeirenses, mas
alemãs. Parte desta obra era vendida directamente nos hotéis a turistas nacionais
e estrangeiros, em especial a ingleses. Outros trabalhos artísticos,
desenvolveu na capital madeirense, nomeadamente desenhos para cartazes de
publicidade para os cinemas locais, por vezes recebia alguns bilhetes por troca,
para si e para sua filha Valeska.
Cartões de Boas Festas foram outro tipo de actividade artística que desenvolveu
para a Casa Africana, em 1935 tais cartões apresentavam a seguinte legenda e
foram objecto de publicidade no Diário de Notícias – nº18 336, de 11 de Dezembro
de 1935 : “Get your especial X. mas Cards painted by Max Rmmer/at/ Africa
House/ the rights places for your X. mas Shop – ping at moderade price”. Max Roemer viria a falecer com 81 anos, após
uma forte gripe que o debilitou durante 14 dias, tendo sido sepultado no antigo
cemitério das Angústias do Funchal perdendo-se a sua sepultura para sempre. Dos
seus filhos, Anita seguiu-lhe os seus passos, como pintora mas morrendo
prematuramente aos 29 anos de tuberculose em 30 de Outubro de 1934 e Valesca,
que também faleceu no Funchal a 25 de Agosto de 1988, que no fim da sua vida
curiosamente conservava ainda o sotaque germânico, apesar de ter feito toda a
sua vida na Madeira, reproduzia com alguma qualidade, os quadros do seu pai
para os amigos. A senhora Roemer, também terminaria os seus dias no Funchal (4
de Abril de 1977). O seu filho, Rolf seria o único que voltaria a Hamburgo,
onde foi intérprete, tradutor e correspondente do Diário de Noticias do
Funchal, tendo em 26 de Abril de 1984, oferecido à Região Autónoma da Madeira,
o património artístico, desenhos e pinturas, do qual foi receptor deste acto, o
Secretário regional de Turismo, João Carlos Abreu. De resto, Max Roemer considerava
a Madeira a sua segunda Pátria e os madeirenses souberam honrar a sua memória,
com a primeira exposição realizada entre 1 e 11 de Janeiro de 1961, sob
iniciativa do Dr.Wiliam Clode, Coronel Eduardo Ferreira, Engº Peter Clode e o
pintor Louro de Almeida, nessa exposição levada a cabo na Academia de Música e
Belas Artes da Madeira, foram expostas algumas obras realizadas antes de se
radicar no Funchal como por exemplo, as que mostravam “As trincheiras da
Primeira Guerra Mundial.” A obra de Max Roemer está conservada no Museu das Cruzes
do Funchal e a sua memória foi novamente evocada em 1998, data correspondente o
110º aniversário tendo-se realizado uma exposição itinerante pelos Concelhos da
Madeira e Porto Santo de dezoito aguarelas do pintor.