domingo, setembro 18, 2011

9.1. António Sardinha e a "Causa Monárquica"

A morte de Sidónio Pais culminou com uma tentiva efémera de implantar a Monarquia.
(Folha volante entregue no funeral de Sidónio Pais)

Portal da Quinta do Bispo - local de encontro de algumas figuras integralistas
(foto de Raul Ladeira)


Correspondência de António Sardinha no período da Monarquia do Norte
(in arquivo FAS) 

António Sardinha, Alberto Monsaraz e Luís Almeida Braga três vultos do integralismo no exílio em Espanha ( in arquivo FAS)

A turbulência marcava a vida política portuguesa e o Dr. António Sardinha, tornava-se cada vez mais uma figura proeminente, na vida política nacional apoiante incondicional do Prof. Major Sidónio Pais, continuava longe do pensamento republicano que tinha marcado os seus primeiros passos na vida política. Todavia, era uma figura com uma visão realística do seu tempo e com uma capacidade de previsão política indiscutível face ao clima de conspiração que se vivia, então escrevia nos seus apontamentos: “ Não tenhamos ilusões, nem esquecimentos; a situação do Sr. Sidónio Pais não é eterna e, quando findar, ou regressa Afonso Costa ou termos a Monarquia”. A verdade é que a República Nova fundada pelo Major Doutor Sidónio Pais se assemelhava mais a uma monarquia do que uma república, que apenas existia em termos teóricos, tal era o protagonismo de Sidónio Pais. De resto, por todo o País, nas cidades e vilas, os apoios ao Chefe de Estado eram tão evidentes que dava a impressão de que não havia monárquicos e republicanos, católicos ou ateus, mas exclusivamente, defensores de uma realidade única. Em Elvas aclamação ao chamado “Presidente-Rei” foi notável, uma multidão ocupou em toda a sua extensão da Praça da República e perante os republicanos e monárquicos locais, acompanhado do Dr. António Sardinha diria “Não sirvo apenas para ser o guarda temporário do País, mas sê-lo-ei por tempo ilimitado, como presidente enquanto o Parlamento o marcar e como Português até à morte». A afirmação do Sidonismo, em terras do Alentejo tal como um pouco por todo o território nacional, tornou-se uma realidade inquestionável e mais evidente nas zonas mais empobrecidas, para tal contribui, a medida popular que foi sem dúvia a “sopa dos pobres” e os apoios incondicionais de certos sectores da Igreja, contribuiram para a  consolidação do seu carisma e do seu poder quase absoluto, interrompido brutalmente pelo atentado atribuído à Maçonaria na pessoa do algarvio José Júlio Costa na estação ferroviária do Rossio a 14 de Dezembro de 1918. Estava assim interrompida a primeira experiência de carácter nacionalista na Europa Ocidental, que tinha de certo modo favorecido de forma eficaz e apreciável, os interesses monárquicos que tinham ganho protagonismo sobretudo nas regiões do norte de Portugal. Sobre esta questão, escreveu Oliveira Marques “ Já antes da morte de Sidónio o controle da situação em diversas partes do País. Tinham-se criado Juntas Militares no Norte e sul, com o pretexto de defender Portugal da “subversão” e de apoiar o Presidente contra os seus inimigos mas, na realidade, com o propósito de proclamar a Monarquia, mais cedo e mais tarde”. As conversações entre os monárquicos para mudança de sistema política, ocorreram ao longo do ano de 1918, muitas das quais no norte de Portugal ou em Elvas na Quinta do Bispo, onde vivia o ideólogo do integralismo lusitano, de tal forma que no final do ano militares, monárquicos e conservadores esperavam o melhor momento para conspirarem.  E assim aconteceu quando o Coronel Paiva Couceiro, aceitando a tarefa de comando das hostes revoltosas, desfilou no Monte do Pardal (Porto) em 19 de Janeiro de 1919, fazendo hastear a bandeira azul e branca, seguindo-se uma proclamação pública em nome dos valores tradicionais face às ameaças que ponham em causa a integridade da Pátria. Pouco depois era constituída a Junta Provincial, proclamando-se a vigência dos símbolos próprias da monarquia tradicional e suspenso o corpus jurídico que estava em vigor após a implantação do regime republicano em 5 de Outubro de 1910.  Mas, a proclamação da restauração da monarquia, limitava-se às regiões Entre Douro e Minho, Trás-os-Montes e Beira Alta, nascia a Monarquia do Norte e o país, estava profundamente dividido entre norte e sul ou melhor entre monárquicos e republicanos. Na cidade de Elvas, nos últimos meses,  local de conspiração para alguns integralista, a sua população mantinha-se fiel à causa republicana, o Governador Militar da Praça de Elvas sem rodeios telegrafava ao Governador Civil de Portalegre: “Esta Praça é toda republicana com pequenas excepções e deste modo posso afirmar categoricamente a V.Exa. que tanto a guarnição militar como a população civil reprovam e condenam o infame movimento monárquico a norte”. Na mesma carta, o comando da guarnição de Elvas dava a conhecer que tinha quase 1.000 homens, disponíveis para defender a República e o Governador do Forte da Graça informava as autoridades republicanas que era : “…desesperada a ansiedade dos presos políticos do Forte da Graça para irem combater o traiçoeiro movimento monárquico”. No cerco no Monsanto, os monárquicos sem meios militares e económicos, rendiam-se  e a fronteira do Caia tornava-se um espaço de partido para o exílio dos monárquicos, um periódico de Elvas de 9 de Fevereiro de 1939 noticiava que: “Estão em Badajoz vários cabecilhas realistas, entre eles o germanófilo António Sardinha  ….. e acrescentava….conhecidos monárquicos desta cidade vão ali conferenciar com eles". As notícias corriam independentemente dos factos e geravam-se os boatos, um funcionário superior de alfândega de Elvas admitia que tinha falado com António Sardinha que lhe dissera que o plano dos monárquicos era fomentar distúrbios e desordens em todo o País, especialmente a sul, de modo a criar embaraços à República. Mas do norte de Espanha na mesma semana o poeta de Monforte dirigia-se à sua esposa do seguinte modo: “ Minha pobre e querida mulherzinha: Calculo o teu sofrimento! Calculo a tua agonia ….Encontro-me em  Vigo de passagem e, apesar de tudo o que terás visto nos jornais, a saúde não me falta, nem alegria. Os negócios não correm mal e espero-te ver-te bem depressa…”  . Entretanto o tempo era de consagração para os republicanos e em suas memórias no pós Monarquia do Norte, José Relvas registaria:”A República tem o caminho livre para recuperar muito do que tem perdido nos últimos anos. A Monarquia fez a sua decisiva experiência e estará a esta hora bem convencida da inutilidade da sua acção.