quarta-feira, março 30, 2011

8.1.1. - A propriedade agrícola. A formação da classe dos lavradores. Algumas referências à paisagem agrícola.


O cereal amarelo  - determinante na afirmação da economia elvense oitocentista
 O olival fundamental na economia local nos fins da Monarquia Constitucional
 Desfile em Santa Eulália terra agrícola e esteio dos proprietários durante a I República

 A maioria dos proprietários com estatuto inicial de arrendatários, que se constituíram a partir de meados do século XIX, chegam ao final da I República já com algum capital e alguns já com a sua casa agrícola. De facto, o número crescente de arrendatários que se converteram em grandes proprietários é de facto notável entre 1869-1881 nada mais que uma dezena de famílias de Elvas, que possuíam pelo menos uma herdade arrendada. A excepção seriam as famílias:  Rasquilha , Telo e Caldeira, que dotadas de maior capital tinham sob arrendamento pelo menos duas herdades. Mas entre todas era sem dúvida a família Rasquilha que a maior potencial económico agrícola detinha já que eram grandes proprietários em Arronches e até final do séc. XIX possuíam mais quatro herdades arrendadas em Elvas  entre o período situado entre 1871 e 1881, antes de as integrar na sua propriedade. Aliás os Rasquilha juntamente com o Conde de Tarouca eram os proprietários que detinham maior riqueza agrícola na área entre Arronches-Elvas e Campo Maior. De realçar que esta capacidade de fazer riqueza e fortuna com base na agricultura é sem dúvida uma particularidade da região de Elvas, uma vez que os pequenos e médios arrendatários das principais famílias elvenses com vocação agrícola, revelaram-se excelentes gestores das casas aristocráticas e dos proprietários agrícolas exteriores ao concelho que lhes cediam as suas terras para exploração agrícola, que atingiu o auge durante a primeira “Campanha dos Cereais -1899” levada a cabo no Alentejo durante a Monarquia Constitucional. Na verdade o apoio do Estado e a existência de vastidão de terras incultas favoreceu esse enriquecimento, numa época em que era possível identificar outro tipo de arrendatários, mais esclarecidos que se fixam nos arredores de Elvas e que se distinguiam dos futuros proprietários/lavradores, como era o caso dos chamados “doutores”, quase sempre médicos que associavam ao seu prestígio professional o domínio de uma ou mais propriedades, inicialmente com base no arrendamento, na maioria dos casos. Ou seja, o proprietário/lavrador foi no município de Elvas uma realidade dominante até ao final da I Guerra Mundial, ou melhor é sensivelmente a partir de 1920, que desaparecem os grandes arrendatários que chegam a ser uma dezena em vésperas da implantação da I República, pouco mais de uma meia dúzia em 1915 e nos anos seguintes já surgem na documentação como senhores das terras ou por outra, com estatuto de lavradores que durante décadas lhes permitiram adquirir o capital para a sua compra, através da exploração agrícola e da pastorícia como forma de obtenção de derivados do seu abate. Por outro lado, o número de pequenos arrendatários “dispara” entre 1910 e 1915, quando nada menos de sessenta arrendatários que desenvolveram a sua labuta em pequenas parcelas arrendadas pelos grandes arrendatários e sobretudo pelos novos proprietários, as razões são várias como o custo de exploração da terra, as taxas contributivas elevadas que eram exigidas pelo Estado e a concorrência dos cereais estrangeiros e em especial do chamado “trigo americano” para o seu aparecimento .  Porém, desde meados do séc. XIX que a agricultura elvense era mais do que a produção do cereal amarelo, “transpirava” alguma vitalidade o centeio de Elvas colocado nos mercados nacionais atingia a cifra de 1.5% ocupando uma área agrícola próxima dos 150 ha, nos quais se distinguia as terras dos grandes produtores locais, Francisco da Silva Rosado e José Joaquim da Silva. O azeite era outra das riquezas da economia nacional com uma capacidade produtiva na ordem dos 2% no contexto nacional, a sua exploração era uma tradição local, o seu investimento era relativamente baixo, não exigia muita mão-de-obra, complementava muitas vezes as áreas livres das grandes propriedades mas também era explorada em pequenas propriedades rústicas, hortas de pequenos proprietários. De resto, a produção de azeite para o mercado regional/local era assegurado por duas dúzias de lagares com tecnologia variada sendo um pouco de menos de metade de prensa de ferro e varas, os mais modernos que então se destacava dos demais caracterizados com tecnologias mais atrasadas. Mas a importância da produção de azeite continuou a ser uma prioridade dos lavradores locais ao longo das primeiras décadas do século XX como se pode comprovar nas razões que levam a criação da Sociedade Oleica Elvense, constituída em 12 de Julho de 1925 com um capital de 2.000$00 e que reuniam cerca de cinquenta e quatro proprietários nos quais se destacam Júlio Alcântara Botelho e o Dr. João Pinto Bagulho que foram sem dúvida os impulsionadores deste movimento associativo. Paralelamente a criação de gado era outra aposta da agricultura elvense, como veremos.

domingo, março 20, 2011

8.1 - Elvas Portuguesa. A organização económica entre o liberalismo e a I República.

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    A diversidade agrícola marcou a paisagem agrícola após a  Revolução Liberal de 1820

   As receitas dos cereais no final da Monarquia Constitucional a riqueza dos arrendatários. 

A prática agrícola foi sem dúvida a actividade fundamental e prioritária ao longo da história de Portugal e que se reflectia de uma forma particular a sul do território nacional, com o predomínio do latifúndio e do absentismo em terras do Alentejo. Todavia nos distritos de Évora, Portalegre e de Beja, algumas décadas após a Revolução Liberal do Porto (1820), as herdades tornaram-se pela sua dimensão e importância económica um modo de exploração económica das novas classes de posse em ascensão pelos menos até ao Estado Novo. Até à Regeneração no distrito de Portalegre a sua extensão média não ultrapassa os 6 hectares, sendo a paisagem agrícola dominada pela exploração do olival, da madeira de sobreiro, da plantação de cereais e de alguns pastos para os gados no complemento da exploração económica da propriedade. Todavia, era na raia norte alentejana, que esta geografia da propriedade era mais visível nos concelhos de Arronches, Elvas e Campo Maior, onde um grupo de agrários e arrendatários viviam directamente deste tipo de exploração económica. O concelho de Elvas constituía sem dúvida, o território mais vasto e importante do ponto de vista económico e agrícola, numa época em que a riqueza do município estava concentrada nas freguesias rurais de Barbacena, S.Vicente e Santa Eulália. Na verdade, os matagais e os arbustos silvestres dominavam a maior extensão das terras de bons solos agrícolas nos  concelhos Arronches e Campo Maior cujo arroteamento ocorre mais tarde do que na segunda cidade portuguesa do distrito. Por outro lado, em Elvas o investimento na exploração agrícola ocorreu mais cedo que nos municípios já citados, uma vez que nas décadas de 1830, 1840 e 1850, muitas das propriedades pertencentes aos Condes de Cadaval e S. Martinho foram objecto de compra ou de aluguer pela imensa rede de arrendatários que também beneficiaram de parte das propriedades da Casa aristocrática do Marquês de Penalva que sendo o único grande proprietário residente jamais alienou o seu património latifundiário durante a centúria de oitocentos. Outro grupo de proprietários com capacidade de exploração e investimento, em solo elvense era sem dúvida um trio de grandes comerciantes lisboetas, como era o caso de António José de Andrade, José Silva Falcão e António Silva Neves Lança Alvim, este originário da vila de Ourém e que acabaria por investir também num conjunto de propriedades situadas nos termos municipais de Arronches e Campo Maior. A maioria dos restantes proprietários do concelho de Elvas em meados do século XIX era arrendatária, apesar de alguns tratados oficialmente por lavradores por fazerem a gestão das terras arrendadas pertencentes a lavradores exteriores ao concelho. Mas, numa análise minuciosa da propriedade, verifica-se que a maior parte dos mesmos, estava directamente depende dos grandes proprietários por contratos de duração com prazos de dez anos, por isso mesmo só na viragem para o século XX e durante o Estado Novo, se revelam como a nova elite agrária em função da posse de uma ou mais herdade. Todavia é de salientar a capacidade de trabalho e de arrojo, que permitiu que uma parte destes arrendatários tenha construído a sua pequena fortuna a partir da introdução de novas culturas agrícolas, da ampliação do espaço agrícola através da limpeza das zonas baldias arrendadas ou de práticas inovadores como os sistemas de drenagem que permitia um melhor aproveitamento da área agrícola. A herdade transformava-se no centro de exploração agrícola em solo elvense a partir do monte, com uma série de edifícios e estruturas de apoio na qual se destacava a casa principal, de resto um modelo resultante e secular desde a romanização da Ibéria. Em meados do século XIX, o monte alentejano, no município de Elvas caracterizava-se pela presença da casa agrícola no extremo das herdades e na parte mais alta da propriedade ou seja edificada sobre uma colina, como forma de controlo sobre o espaço agrícola e dos pastos circundantes.

terça-feira, março 15, 2011

A Torre de Pisa está de novo aberta ao público.


 A Torre de Pisa emerge na Praça de Duomo 


O Campanário projecto de Tommaso Pisano

As obras de equilíbrio da Torre de Pisa iniciadas em 2002 com a finalidade de reduzir a sua inclinação foram finalmente concluídas. De facto, a ameaça da queda da mítica Torre motivada pelas suas 14.700 toneladas de peso e 55.8 metros de altura, tornou-se evidente desde a década de 1990 e o processo de intervenção custou cerca de 30 milhões de euros e consistiu num sistema de extracção de terra abaixo, da base dos alicerces de cimento da dita construção com vista à estabilização da inclinação, que consistia em endireitar a torre em 13 cm  . A fase final desta intervenção iniciada em 2002, que implicou um financiamento de cerca de seis milhões, segundo as previsões estimadas pelos projectistas da intervenção, atingirá o valor da inclinação que tinha em 1990 (altura em que a inclinação aumentava cerca de 1.2 mm) nos próximos 300 anos. A primeira pedra lançada para a edificação do campanário da Praça de Duomo, ocorreu na festa da Anunciação em 9 de Agosto de 1173. De autor desconhecido, a sua edificação decorreu ao longo de três centúrias, mas foi interrompida prematuramente doze anos após o início da obra em 1185 quando se verificou o afundamento da base da edificação responsável pela sua inclinação e determinando a paralisação da obra durante um século. A sua continuidade seria assumida por Giovanni di Simone, que havia trabalhado na Igreja de San Francesco e que mostrou uma grande habilidade para reparar os danos provocados pela inclinação inicial, mas seria Tommaso Pisano, que durante o séc. XVI concluía a terceira campanha de obras com o último anel da torre correspondente ao campanário. A Torre de Pisa, declarada Património Mundial de UNESCO em 1987, está de novo aberta ao público e aos milhares de visitantes que a visitam em cada ano.          

terça-feira, março 08, 2011

8. Elvas Portuguesa. Introdução. Demografia (1850-1930)


A construção da Linha de Leste teve impacto no comportamento demográfico na transição para o séc.XX


   A chegada do comboio foi determinante para o desenvolvimento regional



A cidade perdia em termos de % populacional relativamente à população rural - o centro do trabalho.

A demografia contemporânea demonstra que durante a Monarquia Constitucional, I República e início do Estado Novo, o concelho de Elvas, apresenta um constante crescimento pelo menos até 1882, quando a população atinge um valor próximo das 19.659 almas. Vivia-se numa época em que a população rural, cerca de 10.964 efectivos era mais representativa que a população urbana que se limitava a cerca de 8.695 efectivos, numa época em que o arroteamento dos campos estava no seu auge. Aliás em 1887 a população rural chega a um número recorde de 10.202 habitantes. Numa época em que a cidade de Elvas era o núcleo urbano mais importante do distrito se considerarmos por exemplo que em 1890, a cidade raiana tinha um registo populacional de cerca de 13.291 habitantes contra 11.820 de Portalegre, de resto a capital do Distrito só se afirma como o centro urbano mais populoso nos censos de 1911 e 1930, como resultado do reforço das políticas republicanas em favor da circunscrição administrativa mais importante do distrito. Mas, numa análise comparativa, das duas cidades que procuram liderar as políticas públicas no Distrito, observamos desde logo um percurso quase comum e um crescimento médio entre 1864-1930, de 62% de efectivos humanos, mas com um claro crescimento da capital do Distrito que duplica o número de habitantes entre (1864-1930) isto é passa de 6.433 para 14.712 habitantes enquanto Elvas, cidade, no mesmo período recebe apenas mais 2.142 almas. Situação aliás curiosa, uma vez que Portalegre só ultrapassa efectivamente o número de efectivos no curto período de 1920-1930, quando a força do trabalho na cidade raiana desenvolvia-se no espaço rural. Por outro lado, numa análise dos dados estatísticos observa-se que no período de 1864-1878, a taxa anual de crescimento de ambas as cidades foi bastante reduzido não ultrapassando a média de 0.3%, numa época em que os ventos da emigração contribuem para a saída de efectivos populacionais do distrito que todavia não atingiu os índices de outras regiões nacionais. Mas os dados dispararam, durante o período de 1878 e 1900, quando o distrito de Portalegre é dos que mais crescem a nível nacional, atingindo um crescimento médio de 2.1% mas com o contributo de Elvas que chega nesse período à taxa média anual de 3.1% , não havendo dúvidas que o desempenho demográfico do Distrito de Portalegre e da cidade de Elvas, deve-se a chegada do caminho de ferro à fronteira do Caia ou por outras palavras, a Linha de Leste, mobilizando novos moradores e um vasto número de assalariados, criou trabalho e progresso e um grande número de assalariados procedentes de outras regiões. Outras, duas grandes construções foram determinantes para esta etapa de progresso e trabalho na região, nomeadamente o Ramal de Cáceres e a estrada regional, Portalegre e Elvas. No caso, do concelho de Elvas, juntava-se ainda o aumento da população rural, que desde finais do século XIX vinha alcançando um número de efectivo superior à população urbana e a presença de novas forças militares, estacionadas na Praça Militar de Elvas no âmbito das Campanhas de África, depois da saída dos Regimentos de Artilharia nº2 e da extinção do Regimento de Caçadores nº2, que permitia que a presença militar tivesse ainda alguma representação até final da década de 1890, altura em que se inicia um verdadeiro processo de desmilitarização só estacando com a implantação do Estado Novo. As décadas de 1900-1920, a cidade de Elvas numa análise crua de dados, parece vítima de uma hecatombe, a recessão demográfica é evidente, a população urbana situa-se à volta de 9.133 habitantes em 1920 ou seja a valores de finais do séc. XVII. Mas, a realidade é de natureza administrativa que integra as freguesias de S. Lourenço, S. Vicente, Aventosa e Várzea, que até então haviam pertencido à cidade. Na década de 1920-1930, a cidade elvense voltava a crescer com taxa anual de 3%, recuperando o seu potencial humano, contando com mais 6.248 habitantes numa época que o município introduziria um conjunto de melhorias locais que foram fundamentais para a fixação de mão de obra na área urbana e municipal.