quinta-feira, junho 23, 2011

Há 34 anos a Argentina sagrava-se pela 1ª vez Campeão do Mundo de Futebol

A Argentina sagrava-se campeão Mundial de futebol, interrompendo a rotina diária do país latino-americano que vivia sob uma ditadura militar, numa época em que a liberdade dos argentinos era motivo de preocupação das instituições internacionais. A própria, Amnistia Internacional exortou o governo alemão no sentido de criar condições para que a República Federal da Alemanha voltasse a validar o seu título conquistado em 1974. Mas, na final não estariam os germânicos mas os holandeses, de facto perante milhares de espectadores a  Áustria eliminava a R.F.A, que não perdia com os seus vizinhos havia quarenta e sete anos. O Brasil, outro dos favoritos não chegaria à final (3º) .E a 23 de Junho de 1978, as equipas de César Luís Menotti (Argentina)  e do austríaco, Ernest Happel (Holanda) sobem ao palco para a  grande final, os argentinas jogando em casa contam com o seu público e com um árbitro que se revelou muito benévolo. A Holanda, em campo revelou-se ao longo da partida a equipa que melhor futebol apresentou, mas os nervos atraiçoaram a chamada “laranja mecânica” como em Munique em 1974. A falta de serenidade conduziu os holandeses a disputas evitáveis com os adversários e que lhes acabou por  trazer um  grande desgaste , perante uma equipa defensiva durante muito tempo mas decisiva nos momentos cruciais de tal forma que os 3-1 , no final da partida colocava a Argentina na categoria de uma nova potência do desporto-rei e Mário Kempes era o herói nacional ao decidir a partida com  os seus golos naquela tarde de Verão de 1978.

sábado, junho 18, 2011

O papel da Praça de Elvas no Alentejo e no contexto das Guerras peninsulares

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As obras anexas foram fundamentais na defesa da Praça Militar no cerco de 1801


O último reduto onde se concentraram o regimento nº 85 sob comando do General napoleónico Kelerman     



A Praça Militar placa de estacionamento e hospital de prevenção das forças anglo-portuguesas.


A prevenção dos caminhos de ronda foi uma ordem de Lord Wellington estacionado nos arredores de Elvas
(onde hoje se situa a herdade da Gramicha)


A fortaleza da Juromenha ponto de encontro das forças luso-espanholas na acção de agitação popular junto dos aglomerados ao longo da margem esquerda do Guadiana.

Síntese da Conferência Principal (5.5.2011 - Salamanca) : Simpósio Internacional  sobre as Guerras Penínsulares na Península Ibérica.
A perspectiva de uma invasão do território português, pelo menos desde a Idade Moderna implicava desde logo a defesa da sua raia nacional como forma de defender qualquer ofensiva terrestre que tinha como objectivo prioritário o avanço sobre a capital, fundamental para a existência do estado português. E nesse contexto o teatro de Operações do Alentejo, era prioritária na organização da defesa nacional na medida em que pela sua configuração geográfica, plana sem obstáculos relevantes, capaz de suster os avanços dos exércitos inimigos, sobre a capital do Reino. Por outro lado, no plano geo - estratégico e militar, a planície alentejana não era mais que um prolongamento da Estremadura Espanhola, assumindo-se, simultaneamente, como teatro fronteiriço e central, que permitia atingir de forma rápida, eficaz e directa, Lisboa - Península de Setúbal.  Ou seja os corredores de entrada no território nacional por via da região Alentejo, eram verdadeiros eixos de aproximação relativamente à capital, nomeadamente os seguintes itinerários: Moura -Évora-Montemor -o.-Novo e Lisboa; Elvas-Estremoz e Lisboa e Serpa-Beja e Ferreira do Alentejo. E no último decénio de Setecentos uma vez Portugal preparava-se para a confrontação bélica, a ameaça da guerra determinava o fecho e o controlo de todo o espaço fronteiriço e especialmente dos principais eixos de entrada em território nacional. A ameaça agora vinha da França, em primeiro lugar, devido à participação de Portugal na Campanha do Rossilhão (1793-1795), ao lado de outros estados inimigos da coroa francesa, a Espanha e a Inglaterra e em segundo, devido à aliança firmada pela França e a Espanha em 8 de Agosto de 1796 no Tratado de Santo Ildefonso.Relativamente à Campanha do Rossilhão, a evolução das alianças seriam alteradas a partir do momento em que a Espanha por via diplomática chega à paz com os franceses em 7 de Junho de 1795, o que alterou significativamente o quadro político-militar, peninsular. Uma vez que Portugal se manteve no campo de batalha e só assinou a paz dois anos mais tarde em 10 de Agosto de 1797, mas acabaria por não cumprir as obrigações estabelecidas pelo tratado, relativamente às indemnizações de guerra por um valor de 10 milhões de libras, na concessão de facilidades comerciais com a França, na interrupção da ajuda militar à Inglaterra e na revisão das fronteiras na zona das Guayanas. Neste contexto político e diplomático, um avanço dos exércitos franceses tornava-se evidente há medida que Luciano Bonaparte desenvolvia uma intensa actividade diplomática junto da corte espanhola, que culminou com o segundo Tratado de Santo Ildefonso assinado em 26 de Janeiro de 1801, que permitia o livre-trânsito dos exércitos franceses por Espanha com a finalidade de realizar uma invasão sobre o território português, considerando que Portugal mantivera os portos abertos aos navios ingleses, entre outras condições. Nestas circunstâncias a Espanha declarava guerra a Portugal a 27 de Fevereiro de 1801, tendo como resultado imediato uma concentração muito significativa das forças militares nas cidades e vilas mais próximas da região do Caia. Assim, em Badajoz e nos seus arredores estacionaram cinco divisões espanholas que integravam um número de 40.000 a 50.000 homens e que em 20 de Maio sob o comando do Marquês Solana atravessavam a fronteira do Caia para realizar uma serie de campanhas vitoriosas em terras do Alto Alentejo. Os primeiros combates, sem consequência para ambas as partes ocorreram junto da praça militar de Elvas, dirigindo-se mais tarde as tropas espanholas para os núcleos populacionais a norte da praça, onde as forças lusas foram facilmente derrotadas junto das localidades de São Vicente, Barbacena e Monforte. Mas a primeira derrota assinalável das forças portuguesas ocorreu na praça militar de Arronches, cuja capacidade militar era muito frágil, a própria fortaleza estava em ruínas desde o tempo das guerras da Restauração e a sua função prática, justificava-se no âmbito de ajuda a qualquer assédio o cerco que ocorresse na vizinha praça da vila de Campo Maior. Mas este acontecimento demonstrou desde logo que o exército português não estava preparado para a guerra, segundo a opinião de António Ventura: “ A derrota foi rápida e só não assumiu a forma de catástrofe total pela pronta intervenção de Bernardim Freire, que enviou algumas tropas de Mosteiros para proteger a retirada dos que estavam em Arronches. A confusão não podia ser mais completa: a cavalaria portuguesa debandou no meio do maior caos, atropelando a infantaria. Os soldados fugiam cada um para o seu lado, encurralado entre o rio e os muros da vila, abandonando, bagagens e armas”. O cenário do combate de Arronches acabaria por repetir-se nos vários cenários de guerra no Alto Alentejo, como é exemplo o combate em Flor da Rosa, a norte da cidade de Portalegre: “O desastre de Arronches não serviria de lição ao comando português. Num vale tão exíguo, a coordenação entre a infantaria e a cavalaria, num vale seria impraticável em caso de ataque inimigo. Por outro lado, o terreno situado entre a vila e o rio Tejo não estava ocupado militarmente, nem sequer nele foram colocados vigias, confiando os chefes militares portugueses na inacessibilidade do terrenoAssim, as diferentes vitórias obtidas pelas diferentes divisões do exército espanhol em todo o Alto Alentejo, foram facilitadas pela circunstância de que as tropas portuguesas tomaram posições estritamente defensivas e retirando-se de forma estratégica a fim de evitar um possível aniquilamento. O tratado de paz (Tratado de Badajoz), que determinou o fim da “Guerra das Laranjas” em 6 de Junho de 1801, determinava que Portugal devia fechar os seus portos à navegação inglesa, cancelar as relações comerciais com a Grã-Bretanha, impedir a persistência do contrabando que afectava negativamente os interesses de Espanha e indemnizar os súbitos espanhóis pelos danos sofridos, entretanto o estado espanhol comprometia-se a restituir todas as praças conquistadas (Juromenha, Arronches, Barbacena, Portalegre, Castelo de Vide, Campo Maior e Ouguela), a excepção seria Olivença. Segundo, a opinião de António Ventura “ …a Espanha conseguia concretizar uma velha aspiração, fazer coincidir, naquela zona, a fronteira política com a fronteira natural, o rio Guadiana” Cinco anos mais tarde Portugal voltava estar de novo sobre a ameaça da França, ao ignorar o primeiro Bloqueio Continental imposto pela França decretado por Napoleão em 21 de Novembro de 1806 por não ter fechado os portos à sua velha aliada, a Inglaterra. A partir do momento em que a França e a Inglaterra, assinaram o Tratado de Fontainebleau em 27 de Outubro de 1807, a integridade do território nacional estava ameaçada até que esse tratado determinava a ocupação e a divisão do território, estabelecendo-se que as terras situadas entre o Douro e o Minho, passavam a pertencer ao rei da Etúria, com o nome de Lusitânia Setentrional, enquanto o Alentejo e o Algarve recebiam o nome de Principiado dos Algarves e seria doado a D.Manuel Godoy e as províncias da Estremadura (portuguesa), Beiras e Trás-os-Montes, ficaria nas mãos do Imperador, ainda que poderia manter-se na Casa de Bragança, mas dependente da coroa espanhol.De realçar também que esta situação em que o estado português se torna refém da França e da Espanha, deve ser entendida pela dificuldade em que Portugal então tinha em optar. De facto, a classe política portuguesa estava consciente que a manutenção da aliança histórica com a Inglaterra significava a invasão do território nacional. Por outro lado, a França não podia admitir em nenhumas circunstâncias esta santa aliança, uma vez que não se tratava de uma potência marítima e nesta perspectiva, Portugal do ponto vista estratégico e militar tornava-se uma plataforma marítima favorável aos interesses britânicos que após a vitória sobre a França na famosa batalha naval de Trafalgar surgia como a principal potência marítima do Ocidente. Uma aliança com a França, significava desde logo uma mudança radical na diplomacia portuguesa que tinha que chegar a acordo com o seu adversário político sem garantias do respeito pela sua integridade territorial face às ambições da França napoleónica. Mas a hostilidade com a Inglaterra implicava desde logo a possível perda dos territórios ultramarinos e a dificuldade de manter as suas tradicionais rotas marítimas com o devido impacto na economia nacional. Assim a neutralidade era a solução possível numa conjuntura internacional, em que tal realidade era simplesmente impossível até que a Espanha, já tinha iniciado a sua aproximação com a França e como tal só restava organizar a defesa face às ameaças veladas à integridade do território português. Em Portugal face aos desastres sofridos pelo exército português nas campanhas mais recentes, a classe política e os militares, chegavam a um consenso da necessidade de proceder a uma reforma militar que acabaria por ser promulgada em 27 de Setembro de 1805, associando-se a esta nova reforma, duas finalidades por um lado, tratava-se de diminuir os gastos e por outro aumentar a capacidade operacional das praças e fortalezas, terrestres e marítimos. Pouco depois um novo Decreto Real promulgado em 19 de Maio de 1806 determinava que o exército português se formaria exclusivamente em linha, integrando-se estas em diversos regimentos de infantaria, artilharia e cavalaria nos quais se integravam as milícias e as ordenanças como alguns corpos militares e civis. Em véspera da primeira invasão francesa estas unidades estavam já estacionadas ao longo da fronteira portuguesa, sobretudo na região do Caia onde se localizava a praça militar de Elvas, que se destacava das demais pelo número de efectivos acantonados, uma vez que se admitia que a entrada do exército invasor por esta zona da raia lusa. Deste modo, esta presença militar efectiva permitiu o domínio efectivo da província do Alentejo de tal forma que no final da primeira década de novecentos (1810), a capacidade de abastecimento do exército de ocupação era nula, uma vez que a correspondência coeva refere que a partir das cidades de Cádiz, Elvas e Badajoz, todo o curso do Guadiana estava sob domínio das forças peninsulares enviabilizando por exemplo o abastecimento de cereais que chegava à Península Ibérica por via do Norte de África. A guerra estava já bem delineada nos seus contornos gerais. Para os generais franceses as entradas e pontes haviam permitido balancear as suas forças, de norte para sul, e delinear modalidades de acção conjugadas contra Portugal, através das duas entradas, enquanto podiam acorrer com facilidade à Andaluzia, onde a guerrilha espanhola não lhes dava tréguas. Para Wellington, a posse das entradas e das pontes permitia fazer de Portugal a zona interior segura do seu teatro de operações em Espanha e delinear estratégicas ofensivas em território espanhol semelhantes às dos Franceses, mas de sentido contrário.Welligton percebera que a expulsão de Massena do território português era o começo de uma retracção francesa definitiva que o marechal francês desejava adiar, e que chegara à altura de iniciar uma contra-ofensiva fulminante que expulsasse todos os exércitos franceses da Península Ibérica. Apesar das preocupações dos estrategas militares, durante a guerra peninsular frente aos exércitos napoleónicos só uma das três invasões realizadas pelos franceses, que atravessaram o país semeando medo, violência e morte, tornou o território alentejano num teatro de guerra convencional. No entanto, o sul do país não esteve impune às movimentações militares do exército napoleónico que marchou sobre a planície a partir de finais de 1807. A 2 de Dezembro, as forças espanholas que estavam estacionadas em Badajoz entravam na cidade de Elvas, no âmbito do compromisso do Tratado de Fontainebleau e do Bloqueio Continental imposto pela França em 27 de Outubro de 1807 e que a Espanha comprometera-se a cooperar. Estas forças que tomaram posse sem resistência das praças militares de Elvas e Badajoz, estavam sob comando do General D. Francisco Maria Solano Ortiz Rozas, Marquês do Socorro e Capitão - General da Andaluzia, que deixou na cidade de Elvas três dos seus batalhões e um regimento, o de Córdova na vila de Campo Maior, dirigindo-se para Estremoz os invasores estabeleceram o seu quartel militar em Setúbal, de salientar também o “carácter ordeiro” da força de comando espanhola que recomendava aos seus soldados o maior respeito para com os portugueses e suas propriedades. Entretanto nova Ordem Geral datada de 31 de Dezembro, reforçava este respeito pela dignidade da nação portuguesa, louvando a amizade entre os portugueses e espanhóis e reafirmando em nome de Sua Majestade os empregos de todos os corregedores e governadores civis do sul de Portugal, numa estratégia puramente política que tinha como finalidade a constituição do principiado de D. Manuel Godoy prevista na partilha do território nacional entre Portugal e Espanha. Outras medidas denunciam claramente a preparação do futuro principiado, de facto o sul do país, chegou a ser dividido em distritos, procedendo-se para tal a nomeação de um comissário de polícia que tinha por obrigação zelar pela manutenção da ordem pública. Em Setúbal onde estava sediado o quartel-general foi criado um Tribunal Superior de Paz que era constituído por um Juiz Maior e com quatro juízes desembargadores cuja função era a avaliação dos processos civis e apelações que seriam apresentadas no decurso da conjuntura política e militar que então se vivia.O volte face ocorria no início da Primavera de 1808, quando a concentração de efectivas militares junto as fronteiras nacionais espanholas, denunciavam uma vez mais as ambições napoleónicas e mais do que uma provocação era uma ameaça e que de resto, era uma nítida violação do artigo nº8 do Tratado de Fontainebleau. E as forças espanholas sob comando do General Solando receberam ordem para abandonar o território português. Ao mesmo tempo, que a forças francesas são obrigados à sua reposição no espaço nacional como forma de dominação do mesmo, Junot para evitar o vazio deixado pela retirada das forças espanholas coloca a terceira divisão em Setúbal enquanto o General Maurian recebia ordens para se deslocar para o Algarve, evidenciando já uma clara intenção dos franceses de ocuparem definitivamente o território português e o sul que pela partilha, franco-espanhola, seria atribuída a Manuel Godoy. A necessidade de dominar o sul de Portugal era uma emergência e a 28 de Março Junot nomeava o General Kellerman como comandante superior de toda a margem esquerda do rio Tejo. E com a recomendação que o mesmo se deveria deslocar para a cidade fortaleza de Elvas com a sua cavalaria, assim um batalhão de 1.000 homens ao qual se juntou o regimento nº 86 com 1.700 homens entrou na maior praça terrestre do sul de Portugal. Entre as forças que acabariam por estacionar em Elvas, destacava-se cerca de metade do regimento da cavalaria dos Dragões com uma finalidade específica, estabelecer o controlo e a respectiva prevenção relativamente a qualquer manobra ofensiva do exército espanhol da Extremadura. Entretanto Junot mostrava-se preocupado com as manifestações populares anti-francesas ocorridas em Badajoz a 4 de Maio e que poderiam de alguma forma alastrar a Portugal como de resto viria a ocorrer mais tarde. Aliás desde a revolta de 2 de Maio em Madrid, que o movimento revolucionário anti-francês, se manifestou por toda a Espanha desde as Astúrias, Galiza e Leão até à Andaluzia e em Portugal emergiu em toda a sua raia fronteiriça um movimento geral contra as tropas francesas. Que em resposta às manifestações populares das “gentes” alentejanas utilizou a violência e a repressão, mas o sentimento anti-francês crescia e em 19 de Junho de 1808 e por influência de um grupo de espanhóis que se deslocaram a Juromenha, a população de Vila Viçosa revoltou-se contra a guarnição dos 3.000 homens ali estacionados sob comando do General Avril. Em socorro, das forças napoleónicas deslocava-se o 86º Regimento a mando do General Kellerman com o objectivo de punir os revoltosos, os confrontos entre as forças francesas e portuguesas, sucederam-se e a repressão sobre a população da vila alentejana foi inevitável mas o sentimento anti- francês crescia e propagava-se por todo o sul de Portugal.No sul de Portugal, a população pegava em armas contra os franceses, em Beja tal atitude corajosa terminava com uma elevada mortandade nas hostes nacionais e a própria Igreja, tomava partido dos ocupantes, a nota pastoral “Sacro Collegio Patriarchal “, era clara, estavam todos os portugueses excomungados que ousassem pegar armas contra os franceses. Os apoios à causa da libertação do jugo francês mantêm-se, no início de Julho, as forças militares espanholas passam a fronteira e ocupam a vila de Campo Maior, onde se constituiu a primeira Junta Governativa do Alentejo, mas a presença espanhola era evidente em Castelo Vide, Portalegre, Arronches e Juromenha onde estacionou D. Francisco Moretti com uma força de 200 infantes e 20 cavaleiros, na primeira semana de Julho, cobrindo uma série de espaços fundamentais na defesa da raia ibérica, numa época em que a Espanha (?), defendia as suas fronteiras territoriais em solo português. A pressão sobre a presença francesa aumentava com a chegada de uma força naval de 10.000 ingleses que desembarcava nas proximidades da capital e Junot, receando o pior reunia o seu Conselho de Guerra a 26 de Junho na qual se determinou:
1.- Apenas deveriam permanecer as guarnições de Peniche, Almeida e Elvas;
2.- Todas as outras forças deviam ser concentradas em Lisboa;
3.- Setúbal, bem como as posições localizadas na margem esquerda do Tejo em frente à capital deviam ter prioridade no comando francês.
4.- Deviam merecer uma vigilância atenta em função da sua posição estratégica, aos seguintes aglomerados: Leiria, Ourém, Tomar, Santarém, Rio Maior, Óbidos e Peniche. E ainda, Sacavém e Sintra, no contexto do avanço sobre Lisboa.
5.- A cidade de Lisboa, devia ser defendida até exaustação e as forças militarizadas só deveriam recuar para Elvas quando fossem pressionadas e onde uma vez reorganizadas deveriam passar a Elvas.Entretanto na Praça militar de Elvas, o General Kellerman abandonava as suas campanhas no Alentejo, fixando-se na cidade dando ordens para a realização de reconhecimentos na zona da Juromenha e nas proximidades de Badajoz, organizando ao mesmo tempo a sua defesa e o seu aprovisionamento face a qualquer cerco que pudesse acontecer, deslocando -se em pleno Verão para a capital. Na principal cidade da Extremadura as notícias da chegada do General francês, determinava uma intervenção rápida das forças de comando que contava com cerca de 20.000 soldados, provisões e artilharia. Enquanto tal acontecia os focos de resistência no Alentejo, em Beja e Vila Viçosa reacendiam-se. E a situação no Alto Alentejo tornava-se explosiva e em 17 de Julho de 1808, o tenente-general Francisco Paula Leite, aceita a nomeação para governador militar do Alentejo, os corpos do exército incluíam não só portugueses como espanhóis a que se juntavam os civis. No final do Outono numa tentativa de pôr termo ocupação da praça militar de Elvas, que estava sob comando Girod de Novilard, os portugueses auxiliados pelo exército espanhol sob liderança do General D. José Galluzo, que assentou baterias sobre o Monte da Graça, onde estavam estacionados os franceses, obrigando-os à sua retirada sem antes que antes alguns militares fossem vítimas da justiça popular da população elvense que aprisionou três oficiais galeses e assassinou um sargento que seria arrastado pelas ruas da cidade. Estas movimentações militares que ocorreram entre 1807 e 1808, em pleno Alentejo, demonstraram que a resistência à presença francesa foi inexistente nas zonas onde implantação francesa era notável como era os casos de Elvas e de Estremoz, onde a falta de armas e de comando determinava a submissão das populações. Não podemos ignorar que estes focos de resistência, resultavam de um recrutamento feito na sua grande maioria nas ordenações concelhias e nas próprias milícias regimentais que actuaram sob a forma de guerrilha. A sua actuação baseava-se não só em actividades colectivas e que se integravam os próprios aglomerados urbanos, mas também em actividades singulares, tais como ataques às retaguardas das colunas, aos depósitos, destruindo recursos logísticos e, sempre que possível, liquidando elementos ou forças militarizadas. Todavia estes focos de resistência por iniciativa local, também não trouxeram a desejada libertação, como foram as iniciativas dos núcleos populacionais de Vila Viçosa, Beja, Montemor-o-Novo e Évora, que sofreram as maiores crueldades do exército napoleónicas. A viragem ocorreu a partir do momento em que as forças espanholas prestaram um notável apoio às portuguesas, em termos materiais e humanos que foram decisivos para a sublevação de um grande número de aglomerados populacionais junto à raia portuguesa. Perante a incapacidade de pacificar a resistência que se foi levantando em todo Alentejo perante um exército desmoralizado por inúmeras baixas provocadas pelas batalhas, altas temperaturas, falta de víveres, água e alimentos durante dias inteiros de marcha. Por outro lado, as forças inglesas ganhavam projecção no interior da orgânica do exército português, quando por Decreto Real de 21 de Janeiro de 1809, era nomeado, o Major General Wiliam Carr Beresford para Comandante do Exército Português e com essa finalidade, fez-se acompanhar de um conjunto de jovens oficiais que na fase de preparação e aprontamento do exército, introduziram não só novos procedimentos, novas regras disciplinares, novas tácticas e novas armas. Em todos os Regimentos e Batalhões, Beresford procurou evitar a preponderância de uma nacionalidade com vista à sua coesão, assim se o Coronel era inglês o Tenente Coronel era português e vice-versa. Mas seria durante a terceira invasão que a província alentejana tornar-se-ia efectivamente num teatro de guerra, chave nas operações militares desenvolvidas a partir das praças alentejanas, com o fim de evitar a ocupação das terras da raia e da Extremadura, nomeadamente de Badajoz e de Albuquerque.Terminada a resistência ao êxito às forças napoleónicas na zona portuguesa, o conflito manteve-se nas localidades vizinhas já em solo espanhol e nessa conjuntura de guerra, os reforços anglo - lusos, sob comando do General Beresford que tinha sido destacado da zona militar de Abrantes para a Praça militar de Elvas por Wellington com a finalidade de aliviar a pressão francesa, seriam decisivos para a primeira derrota significativa das forças francesas junto da ponte de Albuera. Na qual a cavalaria lusa irrompeu sobre os forças francesas provocando um número elevado de baixas junto às muralhas. Onde pela primeira vez as forças peninsulares constituídas por um exército composto de portugueses, espanhóis e ingleses, cuja coordenação de esforços foi fundamental para o desencadear com êxito as operações da campanha militar. De realçar que uma vez mais a praça militar de Elvas desempenhou um papel fundamental não como espaço militar mas como hospital de retaguarda, para onde eram deslocados em sucessivos comboios os feridos do teatro de guerra onde lhes era prestada assistência médica. Uma pouco antes em Janeiro, havia sido ocupada pelos franceses sem resistência a praça de Olivença, libertada alguns meses depois em meados de Abril por um exército anglo - português, uma vez desocupada outra fortificação fronteiriça, a Praça militar de Campo Maior em 25 de Março, por imposição do exército de Mortier, comandado pelo barão Girard que impôs a rendição da vila. Este acontecimento ocorre na transição entre a segunda e terceira invasão francesa, quando Massena e os franceses continuavam a pôr cerco às praças situadas próximas do raia, Alentejo e Extremadura, na verdade após a tomada de Badajoz, a divisão francesa, resolveu invadir o território português propondo de imediato a rendição do governador da praça, José Joaquim Talaia, o qual rejeitou tal proposta. Ficando de imediato sujeito às hostilidades, com os franceses abrindo fogo sobre as posições portuguesas em 15 de Março e continuando até 21 de Março, quando o governador aceitou a capitulação face à ausência de socorro das forças aliadas. Mas a ocupação desta praça por parte das forças napoleónicas não iria durar muito tempo, pois Beresford aproximou-se da mesma e três dias depois ponha termo ao cerco à praça portuguesa e estabelecia o corte de comunicações com Badajoz, ainda sobre controlo dos franceses. A 25 de Março finalmente quebrava-se a resistência francesa …”nesta ocasião fizerão os Franceses, tiverão de evacuar a praça com perda de mais 600 homens entre mortos, feridos e prisioneiros “. E, alguns dias depois a conquista de Badajoz, cujo plano de libertação seria gizado por Wellington que tinha montado o seu quartel-general nos arredores de Elvas. A tomada de Badajoz, já tinha sido tentada pelo General Beresford que apesar das dificuldades de defesa daquela praça que apresentava alguns danos conseguiu resistir até 16 de Marco de 1812, data do início da sua afirmação. Todavia, os ataques lançados às tropas francesas pelas forças militares e civis de Elvas e Campo Maior, acabaram por se inserir numa nova etapa, a chamada Guerra Peninsular. Na qual as forças militares estacionadas na cidade de Elvas acabariam por ter um papel fundamental na medida em que integradas no exército anglo - inglês no qual se destacavam também as forças militares espanholas, iniciariam o processo de expulsão dos franceses da Península ibérica. Neste âmbito as unidades militares estacionadas em Elvas, as Batalhão de Cavalaria nº1, as Regimento de Infantaria nº4, as Regimento da Infantaria nº 8 e o Regimento de Infantaria nº 17, acabariam por evoluir no teatro das operações gizado por Wellington na libertação da Península Ibérica. Num primeiro momento, fazendo parte da composição do exército de 60.000 homens que se colocou estrategicamente defronte da cidade de Salamanca, que em 22 de Julho de 1812 procedeu à sua libertação. A batalha de Arapilles ou de Salamanca, abria uma nova era em solo espanhol, deixava de ser uma guerra de exércitos para se tornar numa guerra total, com intervenção não só das tropas como da população. Nesta batalha era já evidente as deficiências de organização dos exércitos franceses e as causas foram variadas: - A incapacidade para reabastecer de forma eficaz as tropas de víveres, efectivos, fardamento, equipamentos e cavalos a partir da retaguarda, uma vez que a aquisição de recursos locais tornava-se quase impossível devido ao clima de hostilidade que se vivia em toda a península; - A indisciplina e os desentendimentos entre a oficialidade francesa eram evidentes e reflectia-se na condução operacional do exército e sobretudo na sua conduta operacional e por último, a subestimação do valor e possibilidades do adversário, sobretudo no campo dos reabastecimentos devidamente organizado e operacional. Em finais de 1812, uma vez mais as referidas unidades elvenses voltam a ser convocadas para a ofensiva final em Espanha integradas agora na força militar sob comando do General Hill. A hora de libertação da Península Ibérica ocorre na Batalha da Vitória em 21 de Junho de 1813 quando o exército aliado se organiza em três frentes, a direita onde se integrava as forças portuguesas lideradas pelo Major General Hill, o centro e a esquerda pelos estrategas militares, Cole e Graham. No campo de batalha, as forças peninsulares organizaram-se como três exércitos diferenciados e que actuavam em três combates distintos, fragmentando a extrema resistência das forças comandadas por Reille obrigado a bater em retirada abandonando o cabo de batalha, com inúmeras baixas e com a perda de importante material bélica. A partir de então estavam criadas todas as condições para a vitória das forças aliadas sob comando do General Hill nas operações militares que se sucederam e que ficaram conhecidas por “Batalhas dos Pirinéus” de resto determinantes para a libertação da Península Ibérica das ambições da França imperial e napoleónica.

domingo, junho 12, 2011

Cléopatra no cinema na mais longa metragem de sempre...



Liz Taylor a beleza feminina personalizada na rainha do Egipto. 

Em  12 de Junho de 1963, estreia-se em Nova York a película mais cara e mais longa, da sétima arte, “Cleópatra”.  Esta longa-metragem que tinha como protagonista a famosa rainha egípcia, foi rodada durante vários anos e tinha a duração recorde de quatro horas. Os custos da sua produção atingiram valores astronómicos para a época cerca de 37 milhões de dólares, mas fundamentais para os gastos relativamente à multidão de protagonistas, actores e actrizes de referência internacional, assim como para a construção de cenários únicos , tão sumptuosos como o vestuário, usado pela bela Liz Taylor que encarnava a figura Cleópatra. O tema central do filme, centrava-se nas relações entre a rainha egípcia (Liz Taylor) e os imperadores romanos, Júlio César e Marco António, personificados respectivamente por Richard Burton e Rex Harrison outras duas vedetas de Hollywood. Mas, esta longa metragem que consagrou Liz Tyalor e Richard Burton, na ficção, acabou por se cruzar nas suas vidas reais, o seu matrimónio, seguido de um divórcio e mais tarde de um novo casamento, tornaram o casal  tema de capa da imprensa internacional, de tal forma que durante a década de sessenta a sua vida, os seus encontros e desencontros, tornaram-se mais importantes que a obra cinéfila majestosa e  grandiosa, que fez e faz parte da história do cinema do séc.XX.

sábado, junho 11, 2011

Henri Matisse vencia a Bienal de Veneza.


Retrato com risca verde, óleo sobre tela, 40.5 x 32.8 cm ( 1905)


A Dança, óleo sobre tela, 259,7 x 390 cm (1909) 


Alegria da Vida, òleo sobre tela, 1.74 x 2.38m, 1906/06

Em 11 de Junho de 1950, Henri Matisse (1869 -1954) vence o prémio de Pintura da Bienal de Beleza. A sua carreira pictórica inicia-se sob orientação de Gustave Moreau, depois de uma breve experiência pelo pontilhismo opta por uma composição mais expressiva, onde a cor predomina, evidenciando a influência de Van Gogh e Paul Gaugin. Na sua formação pictórica muito contribui a sua formação e conhecimento da arte africana e oriental. Faz parte do grupo dos Fauve que expõe no Salão de Outono de 1905 em Paris e analisa racionalmente o objecto de representação do Cubismo e opta pela máxima complexidade expressa com a máxima simplicidade, numa atitude crítica a intuição sintética cubista. Aliás a sua simplicidade de representação é sem dúvida uma dádiva à pintura contemporânea, de facto a sua obra reflecte a omissão dos detalhes mas as cenas conservam os elementos essenciais da forma plástica e da profundidade espacial. A sua obra, juntamente com a função criativa da cor, aprofundada, sobretudo após o período Fauve, as potencialidades da linha e do arabesco. Na última fase, da sua carreira o contínuo processo de síntese aproxima-o da abstracção, sobretudo após 1950, como é exemplo, “As guaches pintadas”. A sua obra compreende também a escultura e a cerâmica e  as técnicas de incisão e colagem.          

sexta-feira, junho 10, 2011

A polémica biografia de Ghandi faz notícia na Índia

Joseph Leyveld, vencedor do Prémio Pultizer e antigo correspondente do The New York Times, volta a ser notícia agora pela publicação de uma polémica bibliografia, sobre Mahatama Gandhi (1896-1948) que titulou de Great Soul (Alma Grande).  A obra tem sido motivo de debate e tem gerado alguma discussão no seu país natal, uma vez que a mesma põe em causa a imagem idealizada do líder pacifista. Nesta perspectiva, o autor reproduz algumas revelações polémicas, como alguns comentários atribuídos a Ghandi de perfil xenófobo, como é o caso da sua visão sobre os zulus que considerava “ problemáticos, sujos e vivendo como animais”  ou algumas reflexões polémicas, como a atribuição de uma relação de carácter homossexual, do líder indiana com Herman Kallenbach, arquitecto e fisioterapeuta, a partir da reprodução de cinco cartas nas quais se encontra expressões comprometedoras como “sempre estás na minha mente” ou “ tomaste completamente a posse do meu corpo”. Esta revelação tem sido mal acolhida na índia onde a homossexualidade é proibida por lei desde 2009 e a referida biografia está proibida na sua terra natal, Gujarat. Cujo governador do Estado a que pertence tal circunscrição administrativa, Narenda Modi declarou que a obra de Joseph Leyveld é difamatória e preserva e como tal tem sido censurado em território indiano.              

8.3. A sociedade contemporânea (1850-1930) : Os militares.

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A militarização da Praça de Elvas uma realidade secular entre as Guerras Peninsulares e a Guerra Colonial


O forte da Graça, reduto da resistência liberal e absulotista nas guerras liberais  


Os militares ocuparam a hierarquia dos poderes na cidade de Elvas até ao início do Estado Novo. 


A G.N.R. um futuro para os jovens com pouca escolarização 
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O tempo da presença militar como força organizada e profissional de um estado nacional na cidade de Elvas é uma realidade recente, inicia-se com o estacionamento militar das forças nacionais durante a Guerra Peninsular, mas torna-se evidente com a consagração do estado liberal. De facto, após a Revolução Liberal de 1820, uma nova “classe de índole profissional” afirma-se na sociedade elvense, o tempo dos Generais e dos Brigadeiros, como autoridades locais torna-se evidente na relação com o poder central, o espaço urbano está confinado às exigências militares e até à ao Estado Novo a figura do governador da praça militar se projecta para além dos poderes civis. Do ponto vista, da presença militar ao contrário de algumas opiniões sem fundamento científico, os militares estacionados na cidade foram sempre leais às causas nacionais. Não é verdade que Elvas tenha sido um reduto miguelista e apenas a arma de infantaria nº3 estacionada no Forte a Graça se manifestou a favor da facção miguelista durante a Carta Constitucional de 1826/1827. Por outro lado, as forças miguelistas jamais ajudaram os miguelistas elvenses e o General Magnessi que comandava a Divisão miguelista do Alentejo, não tomou uma atitude solidária e nesse âmbito, os trinta e dois soldados do destacamento de Infantaria nº5, que aderiram à causa absolutista, apenas encontraram protecção para as suas vidas na Vila Nova de La Serena. Com a Regeneração, a vitalidade da Praça Militar de Elvas tornou-se evidente nomeadamente durante as Campanhas de África na década de 1880, quando viu reforçada a sua valência como espaço de estacionamento militar, função, essa reforçada durante a Guerra Civil de Espanha e mais tarde durante a Guerra Colonial. Do ponto vista estritamente profissional, o tempo dos generais durou de forma consolidada até 1876, numa época em que a carreira militar e a origem nobre ainda estava associada, como são exemplo o Visconde de Sá da Bandeira, o Conde de Lumiares, o Barão de Claros ou General Furtado de Mello, da melhor nobreza de Portugal. Durante a monarquia constitucional a maioria dos oficiais de carreira eram homens distintos oriundos da nobreza ou da burguesia, vivendo à margem da sociedade local, com alguma presença nos actos sociais nas casas nobres da cidade nomeadamente na casa palaciana da Condessa de Tarouca e outras da região. Nos finais do séc. XIX alguns oficiais de média, patente, já iniciam a sua participação nos espaços de lazer local nomeadamente no Clube Elvense e o número da oficialidade com origem em Elvas aumenta notavelmente na transição para o século XX, o “ser militar” torna-se uma opção profissional. O poder económico e a formação escolar distinguia os filhos dos grupos mais abastados, os filhos das famílias mais modestas durante a I República, aumentavam as fileiras do exército português, os que se distinguiam no estudo, chegaram às patentes superiores do exército, outros adquiriam a sua escolaridade no exército chegando à patente de sargentos e os menos aptos cumpriam o serviço militar e aspiravam integrar a nova força policial a GNR. Clandestinamente primeiro e efectivamente depois os militares na Praça Militar conspiraram contra a Monarquia Constitucional e contra a República como mais tarde teremos oportunidade de verificar.




sexta-feira, junho 03, 2011

8.3. A sociedade contemporânea : as classes populares -1850-1926

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A pobreza e a miséria estava associada quase sempre às "crises do trabalho"  na região do Caia
(foto de Fernando Silva Dias, in Campo Maior a Preto e Branco, coordenação de Luís Dias Caraças)


Os portais das Igrejas de Elvas foram os anjos da guarda de muitas crianças da região 


O chefe da República Nova ascendeu à categoria de Santo para as classes pobres de Elvas

A maior parte da população estabelecida no Distrito de Portalegre após os ventos do Liberalismo, estava directamente ligada a vida agrícola, realizando na sua vida quotidiana, uma serie de tarefas agrícolas complementares que incluía a pastorícia, em troca de um precário salário e formando em consequência um verdadeiro “proletariado rural”. Segundo, o Grande Dicionário de Língua Portuguesa de Domingos Vieira, caracterizava estes indivíduos que viviam do sustento do seu árduo trabalho nos campos, por oposição a classe dos grandes proprietários como “ homem do campo”, “sem educação”, “grosseiro”, “áspero e descortês”. Na imprensa periódica de Elvas, na época da Regeneração as expressões, “pobres homens”, vagabundas” e ”miseráveis”, era as mais comuns para identificar, este multidão de trabalhadores rurais que trabalhavam nas herdades locais mediante um contrato de trabalho de natureza variável correspondente às diferentes funções que exerciam, (tais como, guarda da herdade, sota, boieiro, ganhão entre outras) … De referir também que até final do séc. XIX uma parte significativa das prestações a pagar pelos proprietários rurais, não se exprimia em dinheiro mas em géneros, mas em comum durante várias décadas de Oitocentos era a época de pagamento que no concelho de Elvas, ocorria no final de cada colheita agrícola mas quase sempre durante o período da Festa de São Mateus, onde este trabalhadores rurais, por vezes iam adquirir os produtos artesanais ou agrícolas, que eles próprias tinham produzido com a força do seu trabalho. Aos trabalhadores locais, juntavam-se os itinerantes oriundos das Beiras que depois de fazerem a campanha dos cereais de Elvas, dirigiam-se para Badajoz, estes homens de trabalho, eram de resto muito “apreciados” pelos proprietários rurais da raia Alentejo/Extremadura, uma vez que estavam dispostos a realizar qualquer trabalho por salários muito baixos, que não eram de resto aceites pelos trabalhadores locais. A sua presença na cidade elvense não passava despercebida pela população local, não só deslocavam em grande número, chegavam à centena, como envolviam-se em lutas por vezes violentas quando tinham que dividir os ganhos obtidos pelo grupo e que era repartido pelo encarregado da camaradagem. Aliás a violência, era algo que perseguia estes trabalhadores itinerantes sobretudo quando chegavam à Extremadura Espanhola, nomeadamente em tempos de crise económica, aliás a documentação extremenha, refere a expulsão e a violência dos ratinhos portugueses em períodos de desemprego em Espanha nomeadamente na crise económica de 1898. Todavia, alguns acabavam por se fixar na cidade de Elvas, após o fim das campanhas agrícolas e uma parte dos mesmos durante algum tempo era identificados com a prática de mendicidade. Todavia, a mendicidade que marcou os finais do séc. XIX em Elvas não era apenas extensiva aos ratinhos das Beiras. E nesse sentido as bolsas de pobreza segundo a documentação oficial eram identificadas segundo três grupos: a ) Pobres por incapacidade de assegurar o seu próprio sustento, como meninos, enfermos e presos; b) pobres aptos para o trabalho mas incapazes de se alimentar ou vestir os seus dependentes como os desempregados, viúvas ou trabalhadores com famílias numerosas ou pobres que tinham a possibilidade de trabalhar mas eram identificados por um comportamento ocioso e marginal. Era o caso, dos “falsos pobres”, “vagabundos” ou “contrabandistas ocasionais”. O certo é que a questão da pobreza e da miséria, não deixava indiferentes certos sectores da sociedade elvense e uma das primeiras figuras da história da solidariedade em Elvas era sem dúvida o Brigadeiro José Maria Baldi, Governador da Praça militar de Elvas que durante os primeiros decénios da Regeneração criou o Asilo da Infância Desvalida com o apoio das classes mais abastadas da cidade e inclusive da própria Coroa a quem pediu apoio para esta instituição, que servia dezenas de órfãos portugueses e espanhóis, numa época em que alguns extremenhos recém-nascidos eram abandonados com alguma frequência junto dos portais das Igrejas da cidade de Elvas e particularmente junto da Igreja de São Domingos. A Casa da Misericórdia, com as suas festas de beneficência, com vista a aquisição de meios financeiros, não só para sua manutenção mas também  no apoio à multidão de desfavorecidos que apoiava, a Igreja e a acção de alguns particulares, eram outros patronos dos mais pobres que em Elvas encontra durante o Sindonismo pela primeira vez o apoio estatal com a criação da sopa das pobres nos finais da I República.