quarta-feira, agosto 27, 2008

Governadores da Praça Militar de Elvas

História Local - A recuperação da independência de Portugal em 1 de Dezembro de 1640, foi marcada pela preocupação de defesa e de estratégia militar que a guerra do fogo determinou. De facto o castelo que havia dominado a actividade bélica medieval, quando os únicos recursos disponíveis ao sitiante eram os da antiguidade clássica - catapultas, aríetes, escadas e, a mais eficaz de todas as armas, a fome. O canhão terminou com isto tudo : a demolição dos muros de Constantinopla pela artilharia turca simbolizou, neste e em muitos outros aspectos, o fim de uma longa era na história do homem ocidental. A nova era da engenharia militar, como registou Maquievel, na obra a Arte da Guerra, Livº VII,C.1: "A nossa primeira preocupação é construir muralhas retorcidas e com vários abrigos e locais de defesa para que se o inimigo tentar aproximar-se, possa ser enfrentado e repelido tanto nos flancos como na frente". Nascia assim o conceito de Praça Militar que iria marcar a vida militar e institucional até ao fim do séc. XX, uma vez que a nova etapa da vida da cidade de Elvas até à Revolução Liberal de 1820, estava sob o comando de um governador militar que acabou por substituir a personagem do alcaide mor. Durante a Regeneração até à I República, a figura do Presidente da Câmara foi ganhando relevo mas pelo menos até ao fim da Guerra Civil de Espanha, o Governador Militar continuou a ser o representante de referência da soberania como prova toda a legislação militar válida que predomina sobre jurisdição civil. Ao longo da História dos governadores de Elvas conheceu cerca de 33 governadores para a Época Moderna e 79 para a época Contemporânea até à Guerra Civil de Espanha a partir desse período as informações documentais existem mas não estão completamente ordenadas no actual momento de investigação. O primeiro governador da cidade nomeado em 1640 foi o capitão môr D. Álvaro de Ataíde da segunda nobreza de Portugal e que marcou o domínio da aristocracia civil e militar até 1829, quando pela primeira vez um oficial de carreira o Marechal de Campo, Luís António Salazar Moscoso, governa a cidade entre Setembro e Dezembro do referido ano. O período entre 1642-1658 , marcado pelas ofensivas no eixo de Elvas-Badajoz, que terminou com o célebre Cerco e Batalha das Linhas de Elvas, foram governadores da cidade algumas das grandes figuras da Nobreza e Cavalaria Portuguesa: Conde S.Lourenço (1641); D. João da Costa, Conde de Soure (1642), D.Sancho Manuel, Conde Vila Flor (1658) ou D. António Luís Menezes, Conde Catanhede (1658). Contudo durante o séc. XVII a grande figura da Praça Militar de Elvas, foi sem dúvida João Furtado de Mendonça com várias nomeações de comando : 1682, 1671, 1675, 1678, 1688, 1702 e 1704. O primeiro Governador oriundo da mesma família foi D.Sancho Manuel de Vilhena, neto de um dos heróis das Linhas de Elvas o Conde de Vila Flôr. Em 1783 o reformador do exército português o Marechal de Campo Gullerme Valleré dirigiu a Praça Militar e acompanhou o período final das obras do Forte de Graça onde viveram na última década do século XIX alguns dos governadores da Praça num período em que a patente de Coronel surgia numa lista de que até então era recheada de Brigadeiros e Generais. O último dos Generais foi Roque Francisco Furtado de Mello (1876) numa época em que os Coronéis detinham o comando do Forte da Graça após a fase dos Generais e dos Brigadeiros estes últimos com funções de comando até 1860. De realçar também a figura do General José Maria Baldi (1851) um dos militares com maior protagonismo e participação na vida política e social da cidade ao longo da existência operacional da instituição militar na cidade. Os seus ideais macónicos estão na base da sua conduta que foi determinante para a fundação do Asilo de Infância Desvalida em plena época da Regeneração onde os interesses da classes dominantes centrava-se sobretudo nas obras públicas. Finalmente uma referência para os governadores de nacionalidade estrangeira como o já citado Valleré e os generais franceses durante o período das invasões, Michel, Giraud e Novilar. Do ponto vista militar, a Praça Militar atravessou a Época Moderna com uma força militar miliciana e com funções de socorro apesar de algumas actividades próprias da guerra de cerco sem grandes efectivos militares. Os séculos XIX e XX, destacou-se sobretudo como um espaço de estacionamento como determina a Decreto de lei de 19 de Maio de 1806 num período em que a ofensiva napeleónica ameaçava a soberania portuguesa, assim a Praça de Elvas concentrava parte do exército de linha, com 21.600 efectivos de infantaria e cerca de 9.600 cavaleiros, a partir de então assiste a decadência da praça que chega à I República com pouco de cinco centenas de efectivos todavia o último momento de afirmação com espaço de estacionamento e de mobilização ocorre já na segunda metade do séc. XX com a desencadear da Guerra Colonial, o novo conceito de cidadania, de tecnologia e estratégia militar, na transição do séc. XXI marca o fim de mais de três séculos e meio de história da Praça Militar. O fim da Praça Militar do ponto vista da jurisdição militar, não marcou o fim da patente do comando que passou a ser identificada com a figura do comandante do Regimento de infantaria nº 8 até ao início do séc. XXI, quando aquele regimento deixa de figurar oficialmente desde 30 de Junho de 2007 na relação das forças militares nacionais. Hoje a presença militar está representada pelo jovem Museu Militar, sob direcção do Coronel Aragão Varandas, antigo comandante do RI nº8 (2000-2002). Postado por Arlindo Sena

segunda-feira, agosto 25, 2008

20 anos o Chiado sobrevive



Notícias com História - Eram 4h30 minutos da madrugada quando o fogo irrompe sobre o Chiado na baixa pombalina cujo traçado e edificação se inseriu no plano da reconstrução da cidade de Lisboa após o terramoto de 1755 e que de certo modo marcou o desenvolvimento do urbanismo em Portugal, ainda que de forma incipiente. Esta segunda tragédia na Lisboa Contemporânea, marcada pelo fogo que percorreu na sua fúria cerca de 10 mil metros quadrados, provocando a destruição de cerca de 18 prédios situados no eixo da Rua do Carmo e a Rua Garret, entre os quais os Armazéns do Chiado um dos primeiros edifícios em Portugal com escadas rolantes, o Grandela onde se gerou o foco do incêndio e os espaços comerciais de elite com a Pastelaria Ferrari, a Casa Batalha ou a Valentin de Carvalho. Às 12 h 30 minutos após o esforço das várias corporações bombeiros lisboetas que reuniram cerca de 1.680 homens davam terminado o fim do inferno lisboeta que deixava apenas as suas altas e nobres fachadas, de pé e acizentadas pelo fumo e pelos corações da alma lisboeta. De facto a elite política, cultural e artística abandonava aquele espaço devidamente socializado e estratizado. Para os anónimos era o fim do comércio tradicional e dos seus dois mil empregos e o princípio da saída dos lisboetas para da Capital. Para os saudosistas foi também o desaparecimento da visualização das belas raparigas que subiam a Rua do Carmo que os GNR popularizaram através da música. Contudo o novo Chiado alguns meses depois sobre a prancha de desenho de um arquitecto de referência do Porto, hoje internacional, Siza Vieira a convite do Presidente da Câmara de Lisboa, Krus Abecassis, defenia a nova realidade arquitectónica que em termos sintéticos obedecia a planificação oposta entre o exterior e que seguia a tradição através da manutenção primtiva das fachadas e o interior sujeito ao gosto das marcas da era da globalização. Vinte anos depois o Chiado pombalino e de certo modo popular dá lugar uma realidade própria do cosmopolitismo internacional onde o luxo e a moda são e serão os elementos caracterizadores da nova era. Postado por Arlindo Sena.

domingo, agosto 24, 2008

Contrabando e fiscalização na raia de Elvas

História Local - A partir de meados do séc. XIX com o desenvolvimento das vias de comunicação terrestres nomeadamente a linha de Leste como resultado da política governamental regeneradora, os espaços raianos do município de Elvas conheceram um notável movimento de pessoas e mercadorias sem precedentes até então na sua história. Em Janeiro de 1853 , por decreto governamental, nº2/1853 , a Alfândega de Elvas, situada a sudoeste da Praça Militar, junto da estação ferroviária tornava-se no centro de fiscalização de pessoas e mercadorias. O seu funcionamento só ficaria estabelecido pelo Diário de Governo nº 51, de 4 de Março de 1884 , integrando uma vasta área de jurisdição que integrava três delegações de primeira ordem [ Campo Maior, Alandroal e Marvão] . O seu funcionamento era limitado entre as 9 e as 15 horas, o que não impediu o desenvolvimento das práticas ilícitas até que o mesmo se desenvolvia longe do controlo das autoridades fiscais e com facilidade ao longo do rio Guadiana e nos limites da raia do Caia. Os primeiros passos para a repressão do tráfico ilícito tornou-se real com a criação da Garda Fiscal em 1885 defenido como um corpo especial de força pública . No ano seguinte era criado a Polícia Fiscal e as actividades de controlo e fiscalização, tornavam-se efectivas através das patrulhas que era um serviço ordinário diurno; as rondas pela noite e o serviço de deligências que eram feitas em casos especiais e orientadas para a perseguição de criminosos. Em 1899, esta força pública era reforçada pela entrada de mulheres que deviam comprovar se as viajantes de sexo feminino possuíam ou transportavam artigos proibidos pela lei vigente. De realçar ainda que o as forças do Batalhão nº4 da guarda Fiscal com sede na jurisdição de Elvas era o mais numeroso com cerca de 186 efectivos em 1887 passava a 344 em 1895 numa época em que o número de apreensões de produtos ilícitos baixara em cerca de 78% quando comparados com os valores de meados do século. Até o fim da 1º República o contrabandista traficava sobretudo tabaco, tecidos, panos de algodão, cereais e gado, de um modo geral eram trabalhadores rurais, desempregados e por vezes comerciantes, não faltando também no último quartel do séc. XIX a presença de numerosos marginais nestas actividades, que podiam actuar individualmente ou em grupo. As herdades , os moinhos e colaboração pontual das populações situadas junto a raia funcionavam como pontos de apoio as actividades de contrabando. Todavia e apesar do zelo das autoridades nem sempre a sua acção fiscalizadora era objecto de crédito, como se pode observar: " Parece incrível, mas é verdade! Algumas autoridades administrativas dos concelhos da fronteira deixam de prestar coadjuvação que devem às autoridades militares do cordão sanitário, por contemplações políticas com os contrabandistas que são dignos adeptos do partido regenerador". No ínicio do século XX, o controlo do contrabando era uma realidade policial mas o encontro entre os representantes da lei e os transgressores eram agora marcados pela violência em função da utilização das armas de fogo: " (...) Perto do posto fiscal do Caia, deu-se na noite de terça-feira, um incidente entre carabineiros e candogueiros [ contrabandistas ] portugueses. Foi o caso que, quando estes últimos se dirigiam para esta cidade [ Elvas] de volta de Espanha e já em território português, uns carabineiros perseguiram-nos e maltrataram-nos com as armas. Travou-se luta entre uns e outros, resultando terem ficado assinalados com vergões pelo corpo os contrabandistas, e um dos carabineiros encontra-se em perigo de vida no hospital". Postado por Arlindo Sena





sábado, agosto 23, 2008

Primeiro Centenário de Cartier Bresson



Notícias com a História/ Didáctica de História e Cultura das Artes - Homenagem ao grande vulto da fotografia contemporânea, Henri de Cartier Bresson - Nascido em 22 de Agosto de 1908 faria ontem 100 anos já que morreu a 3 de Agosto de 2005. Frequentou a Ecole Fénélon e o Lyce Condorcet em Paris antes de estudar pintura sob orientação de Cotenet de 1922 a 1932. A sua formação académica na área da pintura e filosofia concluiuna Universidade de Cambridge. Pouco depois inicia-se a sua carreira fotográfica, com uma passagem relâmpago pelo México, em 1935 inicia a sua experiência no âmbito da fotografia cinematográfica em 1937 já como produtor realiza os seus primeiros documentários em Espanha. Durante a Segunda guerra Mundial esteve detido no Estado de Baden- Württemberg entre 1940 a 1943, donde foge para se juntar pouco depois á resistência francesa. Nas três décadas seguintes torna-se uma lenda viva da fotografia e as suas viagens levam a percorrer a Índia, Burma, Paquistão, China, Indonésia, Cuba, México, Canadá, Japão e antiga União Soviética. De realçar ainda a sua acção pioneira na fundação da primeira agência internacional de fotografia, a Magnun com a participação de outros vultos como: Robert Capa, David Seymour e george Rodger. Entre as suas fotografias de referência, pertecentes à colecção Grouber destacam-se a "Rue Mouffetard" -1938, Paris, impressão a gelatina e brometo de prata, 26,3x39,9 cm, cujo tema é uma cena de rua que mostra um rapaz de rosto orgulhosamente erguido a levar para casa duas garrafas de vinho tinto. "O Domingo nas Margens do Mane - 1938", com as características técnicas habituais na sua obra, variando o tamanho de 27.5x39.9 cm, trata-se da representação de um piquenique francês expresso pela tranquilidade da família nas margens do rio. Outras duas fotografias de referência de mundo em guerra, são "As crianças brincando" sobre os destroços da Guerra Civil de Espanha em Sevilha em 1933, ( 27,2x47.1cm) e uma "Fila de abastecimento (27.7x39.9 cm), em Xangai, 1934, em plena II Guerra Mundial. Outras obras primas da fotografia contemporânea de Cartier Bresson, a paisagem exótica que marcou a fotografia na aurora do séc.XX na qual se destaca um conjunto de mulheres sem rosto em Caxemira em 1940 com 27.3 x39.9 cm ou a reportagem de guerra consagrada na fotoreportagem "Prisioneira de campo de guerra em Desseau" em 1945, 17,2 x 24.5 cm ; em França ou mais recente "Galant Vert" paisagem ribeirinha em Paris 1953 .Eis alguns dados sintéticos do grande mestre da fotografia francesa que considerava que "a fotografia sendo capaz de reproduzir a realidade, deve expressar o que há de verdade para que a sua importância seja vital". Postado por Arlindo Sena