segunda-feira, agosto 31, 2009

Há 70 anos o Mundo preparava-se para a guerra

Memória – Há 70 anos na noite de 31 de Agosto para 1 de Setembro, a Alemanha preparava-se para a invasão da Polónia, o mundo entrava em guerra. Vários SS disfarçados de civis assaltaram uma rádio local da localidade fronteiriça de Gliwice, lançado proclamações anti-alemães e eliminando de forma fatal os três empregados que asseguravam a emissão nessa noite. A referida emissora não podia ser um foco de agitação por mais fortes que tenham sido as proclamações dos intrusos na referida rádio, já que a mesma não tinha na sua emissão propósitos políticos mas acabou por ser um dos protestos para legitimar a invasão germânica da Polónia. A primeira terra ocupada pelo exército Nazi seria Danzig (actual Gdansk) no Báltico, de cuja soberania os alemãs haviam feito bandeira. Objecto de disputa históricas entre a Alemanha e a Polónia, o chamado “corredor de Danzing” não era mais que uma cidade livre de cerca de 2.000 kms quadrados, administrada pela Sociedade das Nações (antecessora da ONU). Na madrugada de sexta – feira pelas 04.45m, em 1 de Setembro de 1939 a cidade de Danzing perdeu a sua liberdade iniciava-se a invasão da Polónia e o princípio de um vasto conflito a Segunda Guerra Mundial.

Património Arqueológico da Cidade Sagrada de Caral (Perú)



A UNESCO classifica a Cidade Sagrada de CARAL (Perú)

nNotícias com História - A UNESCO apresentou recentemente na sua página oficial um conjunto de vídeos de curta duração (em castelhano, francês e inglês) sobre um conjunto de lugares classificados e declarados como Património da Humanidade. O projecto foi o resultado da colaboração da empresa japonesa Broadcasting Corporotion (NHK) que utilizou avançadas técnicas de digitalização na construção da referida página. O acesso à página pode ser a feito a partir de um click em www.unesco.or.es/nhk-video). A cidade sagrada de Caral é a mais recente classificação de lugares declarados como património universal, situada no Peru a 184 km de Lima e a sua extensão ocupa cerca de 65 hectares. Este aglomerado urbano, que surgiu entre 3000 e 1500 aC.., é considerada a cidade mais antiga do contimente americano e inclui as Pirâmides Maior, do Anfiteatro e um sector residencial cuja dimensão é única no património da arquitectura pública peruana. O processo de classificação foi supersónico e iniciou-se em 1994 e tendo sido dirigido pela arqueóloga, Doutora Ruth Shady, directora do Projecto Arqueológico Caral-Supe (PEACS). De realçar ainda que a Cidade Sagrada de Caral, foi descoberta em 1905 pelo arqueólogo Max Uhle e a décima prima classificação da UNESCO atríbuida ao Perú.

quinta-feira, agosto 27, 2009

2.1-Elvas Portuguesa: Duas famílias da Nobreza de Corte na vila de Elva

Nos primeiros tempos da Reconquista Cristã e em função da conjuntura política da época que determinava a deslocação dos monarcas para o Centro e depois para a Sul, determinou um corte progressivo com a aristocracia do Norte da região de Entre Douro e Minho, perante a afirmação dos filhos segundos da Nobreza que acompanham o “ primer inter pares” nas campanhas contra os infiéis. Por outro lado, esta nova nobreza encontrava nas campanhas da reconquista um meio de afirmação social e de reconstituição da sua riqueza fundiária que a progressiva constituição de linhagens não lhes permitia, sendo o exercício das armas, uma das razões para acompanhar as hostes reais. Assim a conquista de novas terras a partir da linha do Tejo e terras da raia, ficaram à reserva das ordens militares e aos filhos segundos da nobreza, identificados como ricos homens eram os únicos dotados de virtudes guerreiras em função da sua formação que exercitava a violência guerreira. (Como foi o caso, das hostes militares que acompanharam D. Sancho II na conquista de Elvas). Nestas circunstâncias a Nobreza de Corte nas primeiras décadas da existência da Vila de Elvas, estava praticamente ausente sendo excepção as duas famílias da Corte de D. Afonso III, os Estevão Annes e os Aboim. Os primeiros senhores de várias propriedades fundiárias localizadas nos distritos de Évora e Portalegre e que por carta régia de 1251 recebia as primeiras terras na região de Elvas o baldio de Barbacena, que desde a reconquista era considerada terra de ninguém na pessoa do chanceler Estevão de Annes. O Chanceler do rei “Bolonhês”, um homem com carreira política na Corte e um verdadeiro senhor feudal, com grandes domínios identificados documentalmente no Norte de Portgal (Arcos de Valdevez, Valença e Monção), na Linha do Tejo (Abrantes, Santarém, Lisboa e Cascais) e no Algarve (Silves, Lagoa, Portimão, Faro e Tavira). A família Annes estava representada em Elvas por outros três nobres irmãos de Estevão Annes, Gomes Peres, e os falecidos Fernão Peres e Paio Peres num conflito entre ambos. (ANTT, 4 de Abril de 1255). Os Aboim senhores da herdade do mesmo nome, na sua posse durante mais de um século pelo menos até 14 de Junho de 1374, quando doaram a referida terra a Fernão Gonçalves Sousa, que passou a ser reconhecida pela Coroa, como vila, estendiam os seus domínios mais para sul, com algumas propriedades em Évora nomeadamente ao longo do Guadiana com excepção de algumas que se situavam no Centro do actual distrito de Beja. Mas no Distrito de Évora o seu principal núcleo de bens situava-se na região de Portel, segundo a documentação, “num extenso tracto de terra que se situava entre a ribeira de Pecenas até ao Guadiana, confrontando com o termo de Beja para sudoeste e tocando na ribeira de Dejebe para leste”. Não deixa de ser curioso, que a riqueza acumulada por Estevão Annes e João Peres de Aboim, chefes de melhores linhagens que se constituíram no Alentejo no período pós-reconquista, não só foi obtida pela sua influência na Corte Régia, em função dos cargos que desempenharam mas pela amizade e convívio com o monarca D.Afonso III. Em finais do séc. XIV, estas duas famílias, João Peres de Aboim de Arco de Valdevez e o Chanceler Estevão Annes, era identificados não só como membros da Nobreza de Corte de pleno direito, como os seus domínios senhoriais e fundiários eram só comparáveis à riqueza fundiária de Nuno Martins de Chacim que dominava praticamente as terras de Portugal situadas no Norte Interior. [ Continua]


terça-feira, agosto 25, 2009

1.13 - Elvas Portuguesa: As terras do Termo da vila

Desde a sua fundação que as terras situadas no termo da vila e arredores, estavam em expansão territorial sob exploração económica de alguns ricos homens e herdadores que em torno da vila ou em terras concelhias nomeadamente das herdades de Aboim e de Barbacena, futuras vilas concelhias, organizavam as primeiras formas de sustentação económica ainda que condicionados pela incapacidade tecnológica e pela dureza do clima e da fome, e até da guerra, que levava com relativa facilidade ao abandono de tais meios de produção. A herdade foi inicial uma das “chaves” mestras das áreas de ocupação e povoamento nos tempos imediatos à reconquista cristã, como comprova entre outras cartas régia, a outorgada por D. Estevão Annes, chanceler mor de D. Afonso II, que determina aos moradores da localidade de Barbacena “… aos poboradores presentes, e aos que hão de vir, que na minha herdade de Barvacena poborarem presentes, e aos que hão de vir (….) dêm a mi e a tôdolos que depôs mi vierem, em qualquer tempo, para sempre, pelo terrádego d´essa terra, a outava parte do pão, e do vinho, e de tinta, e de legumes, e de linho, e d´azeite, e de pomos, e de almoinhas, e de tôdolos outros fruitos que Deus hi der (…).” [ANTT, Abril de 1273]. Do mesmo tipo, regista-se a carta de doação a D. João de Aboim, à herdade do mesmo nome por carta régia[ANTT, 22 de Março de 1261]. E outras doações e aforamentos que se sucedem durante os séculos XIV e XV, de acordo com o ritmo de crescimento de uma população que concentrando-se nos três pólos de agregação populacional da vila de Elvas [ Elvas-Barbacena e Vila Boim], como podemos observar no quadro nº I, :


Doação ou Aforamento

Receptor

Carta régia - Fonte.
Do comendador de Elvas, Pero Cebola, da Herdade de Cascavel
Ordem dos Templários
ANTT, 23.12.1262
Doação régia de um terreno
Ordem de S .Domingos
ANTT, 1.5.1268
Doação da herdade de Alvernaz,
situada no Caia.
Ordem de S .Domingos
ANTT, 26.8.1330
Aforamento da herdade de Ourinaça
Beneficiados do Salvador.
ANTT, 30.8.1338
Doação da herdade e terras de Barbacena
D. Martin Afonso de Mello
ANTT, 1.10.1388
Aforamento da Herdade de Castel, em Vila Boim
Beneficiados do Salvador.
ANTT, 9.4.1341
Doação da herdade de Segóvia
Ordem de S. Domingos
ANTT, 5.1.1348
Doação da herdade dos Negros
Ordem de S. Domingos
ANTT, 3. 7.1453
Doação da herdade de Tintão
Ordem de S. Domingos
ANTT, 21.11.1455
Doação da herdade de Algalé (Caia)
D. Afonso Álvares
ANTT, 4.11.1457
Doação da herdade d’ Alcadaria
D. Vasco da Gama
ANTT, 24.3.1474.
Doação de várias herdades do concello
D. Álvaro de Bragança
ANTT, 18. 3.1479
Outro tipo de meios de produção, envolvia os vários agrupamentos populacionais em torno das herdades de matriz senhorial laica e religiosa, assim como outros meios e proventos económicos que animavam os vários servidores do monarca, como a doação de pastos e montados a um conjunto de pequenos e médios proprietários (ANTT, 15.4.1259). Mas, ao contrário do que ocorria em outras vilas e localidades do Alto Alentejo - Avis, Seda, Fronteira, Veiros, Cabeço de Vide ou Sousel, onde um dos principais proprietários fundiários da região, era a Ordem de Avis, que se desenvolveu e afirmou durante a reconquista e colonização das regiões conquistadas aos mouros, em Elvas as terras de matriz eclesiástica, os coutos, estavam na posse da Ordem de São Domingos cuja acção centrava-se na fé e no trabalho. A propriedade laica, não era representativa do ponto vista espacial uma vez que a aristocracia de sangue estava praticamente ausente, não havendo grandes latifundiários quando se compara com as vendas e as compras de propriedade de olival, cereal e vinha, que inclusivamente se desenvolvia no interior do espaço amuralhado. [ CONTINUA]

sábado, agosto 22, 2009

1.12- Elvas Portuguesa: A Mouraria ou os "Bairros dos Mouros"

Em relação à mouraria a sua localização na estrutura urbana e viária na vila de Elvas, não nos oferece grandes dúvidas, considerando que a presença moura é anterior à (re)conquista de Elvas e por outro há todo um conjunto de fontes conhecidas e estudadas, cuja toponímia permite-nos a sua localização no espaço e no tempo. De facto a partir da segunda metade do séc. XIII, a Coroa por carta régia de 1270, estabelecia em parte a área de ocupação da mouraria, situada entre a Porta Nova da muralha almóada e a Porta de Banhos nos limites da actual Igreja paroquial de S. Pedro [ Chac. D.Pedro I, p.264.]. Área esta fundamental e decisiva para a fixação, desenvolvimento e afirmação, da comunidade moura uma vez que a partir do séc. XIV o número de olarias expande-se ao longo das vias que desembocavam na Porta de Banhos numa época em que a área urbanizada atinge os arredores da Igreja, hospedaria e convento de São Domingos, que durante quase um século se manteve isolada nos arrabaldes da área territorial da vila. Durante o período quinhentista , a mouraria ou os “bairros dos mouros”, estavam já consolidados integrando provavelmente a cerca almóada e a cerca nova, fruto da importância económica da produção de vasos e objectos de cerâmica da produção artesanal e oficinal das olarias dos mouros. Aliás esta expansão causou algumas disputas entre cristãos e mouros, quebrando a normalidade das relações de convivência que as duas comunidades mantinham desde os primeiros tempos da fundação da Vila de Elvas. Não podemos esquecer que os mouros de Elvas, gozavam de vários privilégios alguns dos quais como a isenção de portagem como reconhecimento do seu serviço prestado às hostes nacionais com armas e cavalos na guerra contra Castela. O Cemitério mourisco situado junto do adro da Igreja de S.Vicente já fora dos limites da cerca árabe e relativamente perto do Mosteiro de S. Domingos, foi palco de várias incidentes quando quase há mesma hora os cortejos funerários se cruzavam entre si. [Eurico Gama, 1930,pp.39 e 65). Todavia, a vasta área a sul situada entre a Porta de Banhos e a Porta de Badajoz, que na centúria de duzentos revelara-se produtiva na cultura agrícola do cereal amarelo, estava um século mais tarde ocupada pelos mouros, que era na prática a razão das dificuldades de relacionamento das duas comunidades, como se comprova nas alegações apresentadas pelos Procuradores de Elvas às Cortes de 1436. O monarca D. Duarte por carta régia, determinava que a solução fosse encontrada entre os juízes e os mouros da vila e que o novo “jazigo colectivo dos mouros”, “façam e que assignem logar convinhavel aos mouros em que façam seu adro.” O conflito em torno dos espaços ocupados pelos mouros ao longo da época de Trezentos manteve-se pelo menos até finais do séc. XV quando o almocovar primitivo e adjacente ao adro do Mosteiro de S .Domingos, foi trocado por um terreno exterior à cerca nova em más condições de habitabilidade e que determinou um recurso do alcaide dos mouros à Coroa, cuja resposta seria enviada ao concelho por carta régia de 14 Julho de 1464 na qual D. Afonso V “Somos certificados em como o chão que ora daes aos mouros d`essa vila, pêra fazerem seu almocovar, é pedregoso e pouco pertencente pêra semelhante cousa. E além de sermos d éllo assí certificado, estando nós em essa villa, e passando um dia por o dito chão, así nos pareceu como nos dito era”. [continua]


segunda-feira, agosto 17, 2009

1.11- Elvas Portuguesa:- As Judiarias no traçado da Vila de Elvas

Vivia-se uma nova era no plano vial e urbanístico da vila, a saída directa para exterior, a partir do castelo ou da alcáçova era uma realidade da época da reconquista como provam as várias ruas estruturantes dos séc. XIV e XV, as praças e os amplos terreiros crescem em ruas mais largas uniformemente em torno do traçado antigo. Mas o progressivo aumento demográfico que a Vila de Elvas conheceu até finais do séc. XV era também o resultado da presença e crescimento da comunidade judaica, uma realidade extensiva em toda a raia do Distrito de Portalegre onde a proliferação dos judeus foi evidente por duas causas bem determinadas: a prática comercial e o exílio evidente nos períodos em que a Inquisição Espanhola, mais violenta que a portuguesa determinava o refúgio clandestino em terras portuguesas. Em fins do séc. XIV a vila de Elvas tal como outras de fronteira como são os casos de Trancoso, Guarda e Castro Marim eram centros de atracção para esta população flutuante clandestina que no Alentejo crescia em torno de outros centros urbanos como: Estremoz, Vila Viçosa e Beja [Elucidário, II ,325].A referência documental da Judiaria de Elvas mais antiga que se conhece situa-se por volta de 1386, mas a sua existência será provavelmente anterior a meados do séc. XIV como as demais situadas na raia nacional. A sua localização é ainda hoje problemática, pois a documentação é escassa e imprecisa na sua informação, mesmo quando se tem em consideração a documentação da Chancelaria Régia ou os Processos da Inquisição de Évora, fundamentais na caracterização e identificação do perfil dos Judeus e Cristão Novos de Elvas. As outras questões que se formulam é se devemos falar da Judaria de Elvas ou da Judaria Nova, são aliás estas as designações que encontramos em algumas obras publicadas por historiadores locais e nacionais. Nesta perspectiva, a problemática situa-se na inserção da comunidade judaica no espaço e no tempo, assim se tivermos em consideração as ruas dos Mercadores, Sapateiros, Beatas e outras afins que se ligavam entre si em torno de um espaço exterior à Alcáçova como referem alguns investigadores locais, não estaremos a caracterizar a Judiaria de Elvas mas provavelmente a Judiaria Velha. Sendo assim a Judiaria Nova proposta por alguma bibliografia nacional com base numa tese académica, estava quase limitada ao exterior do espaço da Porta do Templo e que envolvia praticamente o bairro residencial da rua das Beatas … ? Assim e considerando as fontes possíveis, (as objectivas seriam as arqueológicas), registamos um documento do séc. XVI [ANTT, nº 8031, fls. 157-1258], que identifica a Rua Nova ou antiga Judiaria, situada na actual artéria do Alcamin, referindo ainda que muitos judeus continuavam a habitar aquela rua e que antigos descendentes de judeus tinham como residência moradas de casa, na Praça, na rua da Feira e junto das portas de Olivença e Évora. Ou seja, quando falamos da Judiaria de Elvas, devemos ter duas realidades distintas, a Judiaria Velha a norte da actual Praça da República centrada nas ruas onde situavam os principais ofícios artesanais e a Judiaria Nova, onde a prática mercantil e artesanal, marcava a vida económica na época fernandina. A certeza porém da existência de duas Judiarias na Vila de Elvas e uma outra em Vila Boim é simplesmente indiscutível quando o ofício das rendas da Judiaria de Elvas, no qual o alcaide mor Rui de Abreu, recebia as rendas das referidas comunidades das três Judiarias elvenses no valor de 113. 333 reais. [ ANTT, Livro, 28, fols.2]- Continua.