O cereal amarelo - determinante na afirmação da economia elvense oitocentista
O olival fundamental na economia local nos fins da Monarquia Constitucional
Desfile em Santa Eulália terra agrícola e esteio dos proprietários durante a I República
A maioria dos proprietários com estatuto inicial de arrendatários, que se constituíram a partir de meados do século XIX, chegam ao final da I República já com algum capital e alguns já com a sua casa agrícola. De facto, o número crescente de arrendatários que se converteram em grandes proprietários é de facto notável entre 1869-1881 nada mais que uma dezena de famílias de Elvas, que possuíam pelo menos uma herdade arrendada. A excepção seriam as famílias: Rasquilha , Telo e Caldeira, que dotadas de maior capital tinham sob arrendamento pelo menos duas herdades. Mas entre todas era sem dúvida a família Rasquilha que a maior potencial económico agrícola detinha já que eram grandes proprietários em Arronches e até final do séc. XIX possuíam mais quatro herdades arrendadas em Elvas entre o período situado entre 1871 e 1881, antes de as integrar na sua propriedade. Aliás os Rasquilha juntamente com o Conde de Tarouca eram os proprietários que detinham maior riqueza agrícola na área entre Arronches-Elvas e Campo Maior. De realçar que esta capacidade de fazer riqueza e fortuna com base na agricultura é sem dúvida uma particularidade da região de Elvas, uma vez que os pequenos e médios arrendatários das principais famílias elvenses com vocação agrícola, revelaram-se excelentes gestores das casas aristocráticas e dos proprietários agrícolas exteriores ao concelho que lhes cediam as suas terras para exploração agrícola, que atingiu o auge durante a primeira “Campanha dos Cereais -1899” levada a cabo no Alentejo durante a Monarquia Constitucional. Na verdade o apoio do Estado e a existência de vastidão de terras incultas favoreceu esse enriquecimento, numa época em que era possível identificar outro tipo de arrendatários, mais esclarecidos que se fixam nos arredores de Elvas e que se distinguiam dos futuros proprietários/lavradores, como era o caso dos chamados “doutores”, quase sempre médicos que associavam ao seu prestígio professional o domínio de uma ou mais propriedades, inicialmente com base no arrendamento, na maioria dos casos. Ou seja, o proprietário/lavrador foi no município de Elvas uma realidade dominante até ao final da I Guerra Mundial, ou melhor é sensivelmente a partir de 1920, que desaparecem os grandes arrendatários que chegam a ser uma dezena em vésperas da implantação da I República, pouco mais de uma meia dúzia em 1915 e nos anos seguintes já surgem na documentação como senhores das terras ou por outra, com estatuto de lavradores que durante décadas lhes permitiram adquirir o capital para a sua compra, através da exploração agrícola e da pastorícia como forma de obtenção de derivados do seu abate. Por outro lado, o número de pequenos arrendatários “dispara” entre 1910 e 1915, quando nada menos de sessenta arrendatários que desenvolveram a sua labuta em pequenas parcelas arrendadas pelos grandes arrendatários e sobretudo pelos novos proprietários, as razões são várias como o custo de exploração da terra, as taxas contributivas elevadas que eram exigidas pelo Estado e a concorrência dos cereais estrangeiros e em especial do chamado “trigo americano” para o seu aparecimento . Porém, desde meados do séc. XIX que a agricultura elvense era mais do que a produção do cereal amarelo, “transpirava” alguma vitalidade o centeio de Elvas colocado nos mercados nacionais atingia a cifra de 1.5% ocupando uma área agrícola próxima dos 150 ha, nos quais se distinguia as terras dos grandes produtores locais, Francisco da Silva Rosado e José Joaquim da Silva. O azeite era outra das riquezas da economia nacional com uma capacidade produtiva na ordem dos 2% no contexto nacional, a sua exploração era uma tradição local, o seu investimento era relativamente baixo, não exigia muita mão-de-obra, complementava muitas vezes as áreas livres das grandes propriedades mas também era explorada em pequenas propriedades rústicas, hortas de pequenos proprietários. De resto, a produção de azeite para o mercado regional/local era assegurado por duas dúzias de lagares com tecnologia variada sendo um pouco de menos de metade de prensa de ferro e varas, os mais modernos que então se destacava dos demais caracterizados com tecnologias mais atrasadas. Mas a importância da produção de azeite continuou a ser uma prioridade dos lavradores locais ao longo das primeiras décadas do século XX como se pode comprovar nas razões que levam a criação da Sociedade Oleica Elvense, constituída em 12 de Julho de 1925 com um capital de 2.000$00 e que reuniam cerca de cinquenta e quatro proprietários nos quais se destacam Júlio Alcântara Botelho e o Dr. João Pinto Bagulho que foram sem dúvida os impulsionadores deste movimento associativo. Paralelamente a criação de gado era outra aposta da agricultura elvense, como veremos.