segunda-feira, julho 11, 2011

9.1. Elvas Portuguesa. Os progressistas na monarquia constitucional (1850-1899).


A aristocracia palaciana dominou a política distrital durante a monarquia constitucional


Manifesto da fundação do Partido Progressista em Elvas 


Eusébio Nunes da Silva  dominou a vida política local mas falou (?) o Parlamento ... 

A vida política e institucional na cidade de Elvas só ganha influência e importância no Distrito de Portalegre, a partir da década de 1870, até então os monárquicos elvenses não tinham qualquer protagonismo no contexto regional. De facto, o partido Regenerador e o Histórico, jamais favoreceram a ascensão dos políticos locais na vida regional, com uma única excepção, o Visconde de Alcântara, João José de Alcântara líder do Partido Regenerador, que chegaria a Governador Civil e pertencente ao círculo restrito de amigos de Fontes Pereira de Melo. Por outro lado, as lojas maçónicas influentes na cidade de Portalegre, não foram objecto de recrutamento para a vida  municipal ou regional, uma vez que a maioria desses círculos clandestinos era constituído por militares, a Loja da Liberalidade fundada em 1818 que tinha cerca de vinte um membros, só quatro dos seus membros era recrutados na sociedade civil e entre estes contava-se o Bispo de Elvas, D. Frei Joaquim de Menezes Ataíde, o Governador da Praça militar, o General William Stubbs e o Conde do Bonfim, José Lúcio Travassos de Valdez por ventura o elvense mais notável na época vintista. Por outro, a Loja elvense já estava moribunda durante o liberalismo moderado imposto pelo Cabralismo. Na vida local pontificava Ezequiel Cândido Augusto César Vasconcellos que faria quatro mandatos dominando a vida política nas décadas de 1850 e 1879, mas mantendo a cidade de Elvas fora do jogo político distrital já que a elite aristocrática portalegrense, não abria mão do monopólio dirigista do distrito e se o Visconde de Alcântara foi a excepção, também é verdade que se tratava de um militar da fidalguia local, mas sem a tradição secular das elites portalegrenses. A abertura aos políticos locais, só foi possível com a formação do Partido Progressista, já que o Doutor Frederico Laranjo necessitava de figuras de populares nas suas localidades, para que a nova formação pudesse pontificar em todo o distrito e para tal procurou encontrar figuras de referência em todos aglomerados populacionais do distrito. Neste âmbito, a cidade de Elvas ganhava visibilidade, uma vez que as famílias nobiliárquicas não tinham influência na vida política e a sua presença na vida local era nula e restrita aos seus interesses sociais e económicos. Logo era a nível elite local ainda em formação, da qual  se destacava Eusébio David Nunes da Silva á “cabeça”, um comerciante de Sertã de sucesso, seguido do Dr. João Henriques Tierno, notável e respeitado médico na cidade e do lavrador com maior prestígio na região, Francisco da Silva Lobão Rasquilha. Outros nomes destacavam-se na retaguarda, como João Joaquim Bagulho, que chegara a Elvas na grande vaga da colonização agrícola oitocentista e que se tornara em pouco tempo do principal lavrador de Vila Boim, António Garcia Andrade e David Nunes Silva, em comum os interesses pela exploração agrícola e apoio de uma serie de rendeiros e pequenos proprietários que acabariam por triunfar durante o Estado Novo. A chegada ao parlamento era assim um dos objectivos dos líderes políticos do Partido Progressista Local, uma vez que o Partido Regenerador já por duas vezes tinha colocado o Visconde João José de Alcântara em dois mandatos iniciados respectivamente em 1864 e 1871, todavia aquele ilustre elvense era sobretudo um político de carreira bem visto na capital e mais próximo dos interesses políticos dos regeneradores do que propriamente em se envolver em questões locais. Os primeiros indícios que uma figura de Elvas, poderia chegar ao Parlamento ocorreu nas legislativas de 1879, com o líder dos progressistas, José Luciano a designar Eusébio Nunes da Silva para um dos três círculos de Portalegre, o de Elvas naturalmente, já que Lourenço Cayola de Campo Maior, estava interessado em representar a cidade mais a sul do distrito, mas para os Progressistas a candidatura do comerciante de Elvas era fundamental para acabar com as guerras que se verificavam no interior do partido e ao mesmo tempo um teste aos tradicionais apoiantes do Partido Regenerador que por razões sociais e económicas mantinham relações de proximidade com a família Nunes da Silva. Todavia, apenas o Doutor José Frederico Laranjo seria eleito pelas listas do distrito e a Elvas e Fronteira, não manifestaram qualquer entusiasmo pelo Partido Progressista. Na última década do século, o Partido Progressista tornara-se na maior força partidária no Distrito, nas eleições de 1889 e Elvas apresentava duas figuras ao Parlamento, Eusébio Nunes da Silva e o Dr. João Henriques Tierno. Era uma forma de evitar o confronto entre os dois notáveis do Partido Progressista, porém o Partido Regenerador chegava à vitória e o Doutor Frederico Laranjo, era novamente eleito por Portalegre. Um ano depois novas eleições e Elvas tinha uma oportunidade única de ter finalmente o primeiro deputado progressista eleito, numa época em que a nível local, os progressistas eram igualmente o partido eleitoralmente mais forte. O Doutor Frederico Laranjo, não seria candidato por Portalegre, já que aquele académico procurava conciliar as duas facções progressistas de Elvas lideradas por Eusébio Nunes da Silva e pelo Dr. João Henriques Tierno, que inclusivamente controlavam, cada um, um jornal para se guerrearem. Aliás, já nas eleições de 1886, o líder distrital tinha proposto o lugar de Governador Civil para Eusébio Nunes da Silva e de administrador do Concelho para o Dr .João Henriques Tierno, mas a sua facção jamais aceitaria, tal sugestão não aceitando a nomeação do líder progressista para Governador Civil. Mas, uma vez mais os dois ilustres progressistas de Elvas não se entenderam para as legislativas de 1890 e o Dr. João Tierno Hernriques passou para a oposição, sendo o Conselheiro Frederico Arouca  uma personagem exterior aos interesses de Elvas, indicado como principal figura para representar o distrito no Parlamento, ganhando na cidade mas perdendo em várias localidades do distrito. Definitivamente, a cidade de Elvas perdia a sua influência nos meios políticos do Partido Progressista e na vida política distrital, Eusébio Nunes da Silva, tornava-se uma figura incontornável na vida local eleito presidente da Câmara em 1890 e  a partir de então dominaria toda a década, estendo essa influência à sua família. O Dr. João Tierno continuou a dar a sua opinião política através dos periódicos locais, mas tornava-se uma figura de referência na sociedade local, como médico e em especial da Misericórdia de Elvas até final dos anos vinte. E definitivamente Portalegre ganhava espaço político e institucional a Elvas.