sábado, abril 30, 2011

O Renascimento Veneziano : as obras de Sansovino e Palladio


 A obra de Sansovino manifestou-se na renovação urbana de Veneza




 A colunata movimentada foi uma influência da sua formação romana


 As grandes cúpulas uma das marcas da obra de Palladio em Veneza
As últimas experiências de Palladio denunciam já as influências do Maneirismo.
Em Veneza, a experiência construtiva é resultado da sua própria história, na verdade a urbe italiana, não resultou da inspiração da Antiguidade, mas foi antes o resultado das experiências de mestres e artistas que desenvolveram a sua obra em território veneziano. Entre eles destaca-se, Andrea Sansovino, que se formara em Roma e que chega em 1527, permanecendo em Veneza cerca de quarenta anos até ao fim da sua vinda. Na sua obra é visível o processo de renovação da linguagem arquitectónica veneziana, traduzida nas severas formas classicistas de influência dos grandes mestres romanos como Bramante e Rafael, numa expressão mais dúctil, decorativa e movimentada que tão bem se expressa na cidade lagunar. Os melhores exemplos foram os edifícios edificados em volta da Praça de São Marcos, cuja fachada são modeladas através de um jogo notável e eficaz de claro-escuro, obtido através da disposição de elementos clássicos e de um notável aparato plástico. Outro mestre de relevo, Andrea della Gondola, mais conhecido por Andrea Palladio, vindo de Pádua, chega a Veneza, com a função de cinzelador em 1537, mas doze anos depois é o responsável pela reestruturação do Palácio Regione. A estrutura englobava a construção gótica anterior de dois pisos, que seria renovada segundo os princípios renascentistas. Na sua fachada, introduziu duas filas sobrepostas de arcos serlianos, rematada por uma bela balaustrada, na qual se levanta uma serie de estátuas, em correspondência com as colunas que se erguem no primeiro piso, dividindo os espaços dentro dos quais se encontram os arcos, supotados por colunas pequenas. Mas, a influência de elementos arquitectónicos de matriz romana, é evidente na utilização da janela em arco, denominada serliana, e na faixa de tríglifos e métopas que separam os dois níveis. A sua carreira em Veneza jamais seria igual quer na edificação de espaços públicos quer privados, destacando-se nesse âmbito uma série de villas por encomenda da nobreza veneziana. De resto, Andrea Palladio, fecha o ciclo das obras renascentistas em Veneza, com a edificação de três espaços religiosos, duas, San Maggiore (1556) e a do Redendor (1557), que estão localizadas nas ilhas limítrofes. Neste âmbito, destaca-se sem dúvida, a do Rendero II iniciada em 1577, de planta centrada, com Cúpula de três conchas sobre o cruzeiro. Cujo acesso se concretiza pela anexação de uma nave central com abóbadas de berço e capelas em forma de nicho. A Fachada com colunas duplas de ordem colossal no portal e no pórtico um frontão, denunciando desde logo a tendência maneirista neste espaço do Renascimento tardio.

8.1.3 - A afirmação do comércio Elvense numa cidade agrícola.

 O mercado local um faceta da actividade mercantil de base agrícola e artesanal que se manteve na Época Contemporânea.
A publicidade na Imprensa local contribui para a especialização do comércio durante as décadas de 1880-1890

A Rua da Cadeia pioneira do comércio contemporâneo em Elvas

A época da Regeneração foi sem dúvida um período determinante para o desenvolvimento do comércio elvense, que até então era sobretudo uma actividade subsidiária da prática agrícola com base na exploração dos seus produtos. Uma realidade que percorre a história económica da cidade desde os tempos medievais, em que o tendeiro, o mercador ou almocreve, asseguravam o sustento da sua actividade a partir dos excedentes agrícolas e de um conjunto mínimo de produtos manufacturados produzidos nos núcleos populacionais mais próximos das suas “rotas comerciais”. A viragem para uma actividade económica, de matriz exclusivamente comercial ocorre na principal cidade da região do Caia, pelo menos desde a década de 1870, numa época em que a população portuguesa não só se limitava como crescia e deslocava-se para os centros urbanos onde a prosperidade era visível. Não podemos ignorar que na cidade de Elvas,  o seu núcleo urbano cresceu muito rapidamente até ao fim do século XIX, assim em 1878 contava com cerca de 10.471 almas e em 1900, altura em que se verifica o primeiro abrandamento no ritmo de crescimento populacional a cidade atingiu um número de efectivos de cerca de 13.981 habitantes ou seja um índice de crescimento de cerca de 186% em cerca de 36 anos. Ao mesmo que crescimento médio da população rural era evidente durante o mesmo período cronológico, embora disparando mais tarde, por volta de 1887 quando cerca de 9.006 constituíam os valores efectivos da população rural. Todavia, entre a Regeneração e o final da I República, não só a existência de uma população próspera em trabalho e com um salário pago periodicamente, favorecia o desenvolvimento das práticas comerciais como também uma serie de estradas locais e regionais, facilitavam essas trocas e permitiam a prosperidade do negócio. De facto, em vésperas da implantação do Estado Novo, a Linha de Leste tornava-se um veículo fundamental para a especialização de estabelecimentos comerciais como também a rede viária sofrera uma forte reforma com um crescimento médio de novas vias à média de 5.1% desde 1922 com excepção do ano de viragem de regime, com o 28 Maio de 1926 em que o número de estradas municipais construídas não ultrapassa os 1.9%. Na verdade entre a Regeneração e o final da I República, não faltavam consumidores mas também de vias necessárias para canalizar os excedentes. E nessa perspectiva, a Linha de Leste facilitava a modernização do comércio regional colocando nas terras do interior de Portugal as novidades que se vendiam na capital. Mas, a cidade comercial propriamente dita como um espaço organizado afirma-se no final da década de 1870 e afirma-se na década seguinte, de tal forma que se publicava na cidade, duas vezes por semana, um periódico gratuito que informava e publicitava os produtos e as actividades de natureza comercial. Na década de 1860, a principal zona comercial urbana desenvolvia-se ao longo da Rua da Cadeia, as mercearias e as lojas, eram os estabelecimentos tipos e o Hotel Central a principal unidade hoteleira da região também estava sediado nesta artéria da cidade. Na década de 1870, a Rua da Carreira entrava na concorrência mas a maioria dos lojistas continuavam concentrados na Rua da Cadeia. A Rua do Alcamin entrava na disputa nas duas últimas décadas do século XIX e tornava-se um espaço de referência durante a República, o calçado, as lojas de vestuário e as ourivesarias, foram sem dúvida os estabelecimentos que vieram a valorizar aquela artéria urbana, que tal como todas as outras tinham uma ou duas mercearias no seu espaço. A viragem para o século XX, quando a cidade de Elvas era já referenciada como um pólo comercial e agrícola de referência regional, novas artérias juntavam-se ao aglomerado urbano, nomeadamente as Ruas Pereira de Miranda e da Princeza Dona Amélia que constituíam juntamente com as ruas comerciais que se foram desenvolvendo nas décadas anteriores a zona comercial da cidade. Do ponto vista da estrutura comercial da cidade a mercearia como local onde se vende um pouco de tudo e algumas delas eram agentes de algumas casas comerciais da capital, persistem com vigor até a década de 1890. Os serviços nomeadamente os transportes, as seguradoras e os agentes de actividades várias como por exemplo a bancária já estavam sediadas no final de Oitocentos. No final da I República, o comércio tinha já um estatuto próprio, não dependia da prática agrícola e resultava já de um pequeno investimento dos particulares, com uma estrutura de matriz familiar. Os poucos comerciantes de sucesso nos finais do século XIX, identificavam-se com a classe dos proprietários e eram reconhecidos na sociedade local como lavradores, numa época em que o poder ou a capacidade económica estava associada à casa agrícola como factor de criação de riqueza. Os lojas de especialidade e em contraste com as mercearias e as oficinas que se concentravam igualmente no traçado urbano, eram a novidade e esboçavam os traços comuns de um comércio virado para uma sociedade de consumo. Mas o conservadorismo, de uma mentalidade adversa à mudança continuava a persistir no modelo de muitas lojas que na verdade não eram diferentes das mercearias que foram as pioneiras do desenvolvimento do comércio local e que persistiram ao logo do séc. XX.                           

sexta-feira, abril 22, 2011

O Modernismo Catalão e a obra de Antoní Gaudi....


A Sagrada Famíla (1883)


Parque Guell

A Casa Milá


As artes decorativas uma realidade que Gaudí associou à arquitectura.

O Modernisme é um movimento artístico que se desenvolveu a partir de meados do século XIX com semelhanças à Arte Nouveau e que marcou a arquitectura catalã entre 1880-1910. Como estilo artístico, foi influenciado pelo chamado romantismo nacional que promoveu o estudo e a retomada da arquitectura e do idioma catalão e pelo progressismo, que observava a ciência e a tecnologia, como fundamento para o desenvolvimento da sociedade moderna. Estas duas influências aparentemente diferenciadas acabaram por ser determinantes na arquitectura catalã como provam as cerca de mil edificações que então se edificaram, sobre o risco de figuras como Domènech i Montaner, José Puig i Cadafalch e Antoní Gaudi. As suas obras edificadas, ecléticas e expressivas, destacam-se sobretudo pela ornamentação integrada no próprio edifício, enfatizando o seu projecto, função e construção. Em pouco tempo, o Modernisme se confundiu com a obra de Antoní Gaudi cuja obra inicial evidencia outra influência da arte internacional, o movimento Arts and Crafts, visível na abordagem no acto de projectar cada aspecto dos seus edifícios. Ou do mestre da arquitectura francesa Eugène Emmanuel Viollet le-Duc que preconizava o regresso à Idade Média e de uma forma particular à reconstrução gótica com base nas novas tecnologias. A primeira grande encomenda e que se tornou uma referência do seu legado para a arquitectura contemporânea foi sem dúvida a Igreja da Sagrada família proposta ao mestre catalão em 1883 e que constitui o centro da sua actividade como arquitecto até ao fim dos seus dias. Às estruturas góticas existentes acrescentou espirais com aparência mouriscas, decoradas com azulejos de cerâmica, onde se destaca a riqueza cromática, dando uma nova visualidade ao espaço construtivo. A Sagrada Família reunia os valores apetecidos por Gaudi e respondia às suas convicções pessoais mais íntimas, experimentadas em menor escala na cripta de Santa Coloma de Cervelló, de 1898. Na Sagrada Família até a sua morte, Gaudi deixou uma marca expressa nas duas silhuetas que se elevam sobre o casario da cidade catalã, em que se destacam as suas altíssimas torres de agulha afiada, pináculos cónicos com rendilhados e remates florais. A faceta racionalista expressa na obra edificada mas sobretudo nos desenhos e maquetas que o autor deixou como um documento aberto que permite que um século depois a sua obra tenha continuidade. A sua amizade com o grande industrial, Don Eusebi Guell permitiu-lhe trabalhar a um ritmo intenso face á variedade de encomendas como por exemplo a Casa Guell em 1888 o Parque Guell em 1900/14). O seu racionalismo estruturalista e a integração da arquitectura com as artes decorativas e o desenho industrial, percorre a sua obra que se expressa também na arquitectura privada como as chamadas casas de Gaudi. Na Casa Milá, de 1906, destaca-se pelo emprego de variado material de construção, pilares de pedra e tijolo, vigas de ferro, abóbadas à catalã, evitando as paredes de descarga e permitindo uma maior liberdade na distribuição das cargas. A organização da fachada é outro aspecto, que se cinge ao exterior  como uma parede que se sustenta a si próprio: Gaudi moldou-a como matéria plástica de linhas curvas côncavas e convexas, ondas de lava solidificada parecendo ser a massa pétrea com que a casa Milá se sustém. A Casa Batló, que na verdade não era mais do que dois prédios de apartamentos, cuja intervenção exterior se combinava com a concepção do mobiliário, evidenciando um gosto pelas formas orgânicas, mediante o emprego de determinados motivos, como por exemplo conchas. Embora o Modernisme e a Art Noveau internacional tenham tido uma vida curta, destacaram-se pela capacidade expressiva na arte e na arquitectura do século XX.                       

quarta-feira, abril 20, 2011

8.1.3. - A experiência fabril num concelho agrícola entre a Regeneração e a I República

 A mecanização foi um desafio para elite económica elvense



A Companhia de Moagens a Vapor um exemplo do associativismo da elite económica local no final de Oitocentos.


 Os moinhos e as azenhas outra forma de assegurar a importância da moagen dos cereais no distrito.

Em meados do século XIX a indústria no Distrito de Portalegre estava praticamente limitada a um conjunto de unidades fabris que se situavam na cidade capital verdadeiro pólo industrial desde os tempos da Fábrica real. Todavia, a indústria manufactureira da cidade de Portalegre atravessava uma crise sem precedentes face às dificuldades económicas que atravessavam o sector. A sul do distrito, distinguiam-se apenas duas unidades fabris, com alguma dimensão e cujo existência, se devia à aplicação de capital privado como era o caso da Companhia de Moagens a Vapor em Elvas na transição para o século XX ou a  Fábrica de moagens a União de Campo Maior  já em pleno século XX (1928). No caso, elvense a realidade industrial desenvolveu-se timidamente e não privilegiou os têxteis como no caso portalegrense e a exploração da cortiça jamais teve a importância económica que marcou a economia oitocentista da capital do distrito. A moagem seria um sector em franco desenvolvimento, na continuidade da tradição da realidade norte alentejana desde o século XVII, os moinhos hidráulicos ou eólicos povoavam o solo das aldeias agrícolas em solo elvense como eram os casos particulares de Vila Boim e Santa Eulália. Na verdade, eram os pequenos proprietários que se afirmavam como os “grandes investidores” na pequena indústria da moagem podendo ter rendas anuais segunda a documentação na ordem dos 17.000 réis. De um modo geral, tratava-se de modestos proprietários que junto das suas pequenas hortas e pequenas parcelas de cerais possuíam o seu moinho ou azenhas, no caso particular das pequenas parcelas na margem do Guadiana. Sem concorrência, identificavam-se os moinhos edificados pelos proprietários das herdades que procediam à moagem da sua produção cerealífera que lhes rendia um valor médio próximo dos 60.000 réis. De forma generalizada e até aos finais do séc. XIX, a moagem no município elvense continuava limitada pelos seus equipamentos tradicionais de matriz medieval, mas fundamental num concelho em que o aumento populacional determinava desde logo determinava maior consumo do pão na dieta alimentar da sua população. Porém, com a lei de 1899, que ordenava que a indústria da moagem implicava a utilização da máquina na moagem , mas esse processo de mecanização na indústria elvense já tinha sido iniciado em 1884 com a Companhia de Moagens a Vapor, uma sociedade anónima que associava não só uma parte significativa de lavradores mas também os comerciantes com maior capacidade económica da cidade e das localidades rurais do concelho. O sucesso deste empreendimento fabril tornou-se evidente à medida que se avançava pelo século XX e em função da importância das bolachas e massas alimentícias no espaço regional. Um pouco por todo, o território agrícola local, identificavam-se os lagares e as azenhas ( nas masrgens do Guadiana), destinados à transformação dos produtos agrícolas e de modo geral propriedade dos arrendatários bem sucedidos e identificados então já como prósperos proprietários. Outras indústrias com alguma importância na economia local e regional, foram sem dúvida a fábrica da família Guerra e Irmão, que tendo uma dimensão manufactureira de matriz tradicional, chegou a alcançar os mercados inglês e brasileiro, com as suas frutas doces, as ameixas de Elvas que chegaram a obter reconhecimento internacional com vários prémios conquistados nas Exposições Internacionais de Paris (1955), Porto (1861 e 1877), Lisboa (1864 e 1884) Filadélfia (1978) e Rio de Janeiro (1878). A fábrica os irmãos Guerra no início do século XX, tornou-se uma das mais modernas da região com a aquisição da máquina a Vapor “Rutton”, mas que não dispensava uma mão-de-obra de cerca de cem operários. Não menos importante à dimensão regional era a fábrica de António Duarte Brazão, que durante décadas foi o fornecedor do transporte de carros movidos por cavalos ou mulas, aliás só com a ameaça do automóvel que esta firma sofreu os seus primeiros golpes do ponto vista financeiro. A sua capacidade produtiva, situava-se no fabrico de quase meia centena de veículos sem motor ao ano, para além de todo um conjunto de actividades de reparação. A empresa obedecia já a uma organização pré-industrial com serviços de pintura, carpintaria e serralharia. Outra, firma de pequena dimensão, numa Praça militar era sem dúvida a oficina do metalúrgico, Alfredo Guedes que chegou a fornecer ao exército português por encomenda do Governador da Praça Militar de Elvas a requisição de dezoito espingardas. Numa cidade fortemente agrícola e em pleno desenvolvimento comercial, a indústria não tinha de facto grande impacto económico, predominando o trabalho artesanal onde se destacavam um pouco por toda a cidade numerosos operários ou artesão, como carpinteiros, pintores e serralheiros ao serviço de múltiplos oficinas de carácter privado que marcaram a época da Regeneração até ao Estado Novo.                         

segunda-feira, abril 11, 2011

8.1.2. A ciência e o progresso técnico no sul do Distrito de Portalegre [1850-1930]

A chegada da Linha de Leste ao Caia contribuiu para a acelarar a modernização agrária.

 Mapa agrícola do Alto Alentejo - 1866 - àreas de ocupação e exploração agrícola
O campesinato de um modo geral era adverso à modernização agrícola uma ameaça ao emprego 

Entre a Regeneração e a I República, o trabalho nos campos na planície caracterizava-se pelo esforço humano, em que a robustez física e o trabalho manual era a única característica dominante na exploração económica da propriedade. Em terras da raia, a mecanização da agricultura é uma realidade de fins do séc. XIX embora alguns agrónomos da região na imprensa regional reflectiam a emergência de uma melhor exploração dos solos e das culturas denunciando que “ tudo é feito ao acaso; tudo se espera da Providência”. De facto, a falta de conhecimentos sobre a exploração da terra propriamente dita e da apetidão dos solos para a sementeira de determinadas culturas, juntava-se a falta de instrumentos modernos e eficazes que então era objecto de aplicação na agricultura do Ocidente. Por outro lado, a imprensa periódica no seu noticiário reforçava a opinião de meia dezena de proprietários e lavradores, sobretudo com formação académica superior do distrito de Portalegre, em que a agricultura dependia exclusivamente da natureza, como se pode comprovar nas seguintes notícias no Elvense em meados da década de 1880: “ O tempo tem corrido favorável à agricultura. As oliveiras apresentam-se com um aspecto prometedor de uma boa colheita. As sementes brancas têm dado magníficas fundas especialmente elevadas”…”As geadas que caíram nas últimas noites produziram consideráveis prejuízos nos pomares de esta cidade. Em Varche há proprietários que calculam as suas perdas em centenas de mil réis” . Por essa época, o sistema de rotação quinquenal foi substituído paulatinamente nos municípios da raia portalegrense nomeadamente na Vila de Campo Maior e nas aldeias dos arredores do concelho de Elvas, onde o esforço do arroteamento dos campos era notório e distinguia-se na realidade regional. A entrada de adubos químicos nas últimas décadas eram visíveis um pouco por toda a região em finais do século XIX ainda que a maioria dos lavradores e rendeiros continuavam a utilizar o estrume animal como elemento regenerador dos solos. Na verdade, a entrada dos primeiros fertilizantes químicos em terras do sul do distrito portalegrense ocorre numa casa agrícola elvense por volta de 1884 mas seria na década seguinte que tais produtos se generalizam associados ao plantio das sementeiras cerealíferas, fruto das campanhas publicitárias em revistas e periódicos que se vendem nas casas comerciais das duas cidades portalegrenses, no caso particular dos jornais destacavam-se alguns artigos científicos que acabaram por contribuir para a formação de uma nova mentalidade nos processos de organização e exploração da terra, mais evidente na transição para o século XX. De referir também que essas reflexões descritivas evidenciavam as vantagens e os numerosos benefícios que o seu emprego determinava, de resto com a chegada da linha ferroviária de Leste à fronteira, as estações de Elvas e da Vila Santa Eulália eram o ponto de chegada dos super fosfatos de cal solúveis em água que de seguida eram distribuídos pelas casas agrícolas e herdades da região, de uma maneira particular a estação de santa Eulália tornava-se um verdadeiro entreposto de abastecimento para as terras vizinhas de Monforte, Arronches e Campo Maior. Mas o grande desafio, a lavoura regional foi sem dúvida a questão da mecanização, no distrito de Portalegre e nos municípios integrantes nesta circunscrição administrativa, este processo foi tardio quando se compara com as realidades agrícolas de outras regiões agrícolas e a primeira máquina agrícola que evolui nos solos do Distrito, ocorreu quando o lavrador Joaquim lúcio Couto, rico lavrador e proprietário da Quinta das Longas, alugou uma debulhadora mecânica a Sebastião Alvarez, grande lavrador do município de Borba para a debulha e limpeza. O êxito da experiência levou a que o referido lavrador elvense adquirisse uma máquina Garret por volta do início da década de 1880, mas tal compra não foi seguida pelos seus pares que achavam que tais máquinas eram excessivamente caras, um facto para os médios e pequenos lavradores, considerando ainda que na sua maior parte no sul do distrito tratavam-se de rendeiros e como tal sem grande capital de investimento. Também a chegada das máquinas aos campos também não era bem aceite pelos trabalhadores rurais que eram adversos a esta inovação, cuja aplicação lhes tiraria o “pão”. Assim, só na primeira década do século passado, que a mecanização tornava-se uma realidade no eixo, Arronches, Elvas e Campo Maior, fruto em parte do empenho do grande proprietário da região, Lobão Rasquilha que associado a Augusto de Andrade, negociou directamente com o Ministro Elvino Brito, conseguindo que um dos depósitos de máquinas agrícolas que seriam instalados pela Direcção Geral da Agricultura ficasse instalado em Santa Eulália que se convertia cada vez mais num pólo agrícola regional ao serviço dos municípios de Elvas, Arronches e Campo Maior. Todavia, entre o aluguer e a compra, a aversão às máquinas era evidente quer dos proprietários quer dos trabalhadores e o som das máquinas só viriam a perturbar a vida quotidiana rural, nos anos vinte quando o cereal “desgrenhado” nas propriedades rústicas elvenses, o “coração” da agricultura da raia atingia os 50% e eram cerca de cinquenta as debulhadoras registadas em 1921 ou seja o dobro do número de máquinas no início de 1911. Por último de referir que o sucesso da expansão da mecanização deveu-se a uma intensa campanha dos representantes oficiais das máquinas Garret, Marshall e Ruston, que através da imprensa apresentavam os seus modelos, as suas características e as suas vantagens, com a viragem de século, as referidas marcas tinham já os seus representantes com lojas próprias nas cidades do distrito e a partir de então se assistiu à transformação definitiva da paisagem agrícola com a introdução de vários tipos de maquinaria em terras do Distrito de Portalegre.