sexta-feira, janeiro 14, 2011

6.2.3. Elvas Portuguesa - A defesa da soberania nacional nas Linhas de Elvas


Representação cartográfica e pictórica, da Batalha de Linhas de Elvas, de Saint -Colombe, datada de 1661

  
No Outono de 1658, a Praça Militar de Elvas era de novo cercada por o segundo maior exército que em termos de efectivos e logísticos, avançara sobre as terras da raia e que entretanto estacionara numa serie de pontos estratégicos nos arredores de Elvas com vista ao domínio da praça e ao corte do socorro a Elvas. Entretanto no interior da Praça a resistência era testada, o sacrifício da população era uma exigência para evitar a sua rendição, a morte espreitava uma população esfomeada e sujeita a uma economia de guerra, caracterizada pela especulação dos preços, de facto os produtos alimentares atingiam preços exorbitantes, na maioria atingiam quase o dobro do seu valor, por exemplo a galinha que valia 400 réis passava para 700 réis. Ao mesmo tempo que a fome proliferava a peste agravava-se os índices de mortalidade chegaram a atingir uma média de 300 efectivos por dia em pleno Inverno de 1658. Aliás foi neste contexto de sofrimento e de depressão económica, que se podem entender as medidas tomadas pelo Governador da Praça D. Sancho Manuel, como o tabelamento do pão e dos preços ou acções emergentes e de risco, como a introdução clandestina de carregamentos  cevada e trigo, em pleno cerco. Entretanto nas cercanias, os castelhanos consolidavam o cerco a partir de um traçado de linhas perfeitamente articuladas com os chamados quartéis que na verdade eram pequenas construções abaluartadas de emergências (fortins) que coroavam as linhas de circunvalação organizadas em duas camadas de terra, preparadas por duas linhas de fossos protegidas por estacas e rematadas em alguns pontos da circunvalação com bocas-de-fogo, como era o caso do monte da Graça, base da artilharia pesada do Conde de S.German. Do ponto vista, defensivo as hostes nacionais prepararam a defesa de forma particular, na parte mais sensível da praça, a frente sul, entre o Forte de Santa Luzia e a  futura Baluarte do Casarão. As posições fortificadas das hostes castelhanas, situadas no Quartel General ou da Corte, a sudoeste da Praça no antigo caminho para Vila Viçosa e o Quartel de Vale de Marmelos, pareciam anunciar que o avanço ocorreria a sul. Porém tal não ocorreu durante a Batalha das Linhas de Elvas, mas durante o acontecimento bélico de 14 de Janeiro de 1659, esses espaços de concentração de efectivos militares acabaram por funcionar como reforço ao exército castelhano que acabaria por evoluir em torno do espaço situado entre a Baluarte do Príncipe e os arredores do sopé do Monte da Graça. Onde a cavalaria castelhana de reforço estacionada no Quartel da Vergada procurou obstaculizar sem êxito o avanço da cavalaria que rompeu a linha de circunvalação junto ao planalto dos Murtais com o apoio da artilharia de socorro que se concentrava na retaguarda na Serra da Malafeta. Aliás, a inoperacionalidade da cavalaria castelhana, incapaz de fechar a referida, linha de circunvalação foi determinante para a derrota do exército castelhano que durante três meses ocupou os campos de Elvas numa extensão de 15/18Km. A história da Batalha  segundo as fontes documentais, iniciou-se na madrugada de 14 de Janeiro de 1659, quando aproveitando a neblina matinal, as hostes nacionais sob comando do Conde de Catanhede surpreende a defesa castelhana estacionada nos quartéis do Cocena e de São Francisco, pressionando-a durante toda a manhã até quebrar a sua resistências às 15h00 da tarde. A partir de então e com a derrota da cavalaria castelhana, abriram-se várias brechas ao longo da linha de circunvalação determinando a queda dos vários fortins, a morte e a fuga dos invasores para Badajoz que se inicia com o abandono de D.Luis Haro do campo de batalha. A resistência castelhana ao fim da tarde limitava-se ao Monte da Graça, onde o comando militar de maior notoriedade do exército castelhano, o Duque San German  se manteve no seu posto até à manhã do dia 15 quando as forças ocupantes abandonaram definitivamente o campo de batalha com o abandono do Quartel General ou da Corte. A importância do significado do Cerco e Batalha das Linhas de Elvas: -“ Deve ser vista em várias perspectivas e sempre no contexto da conjuntura, nacional e regional, neste âmbito devemos salientar: - A importância estratégica da Praça Militar de Elvas que condicionou todo e qualquer avanço das tropas castelhanas em território português a partir da raia, anulando dessa forma uma base de apoio militar, ao deslocamento tão desejado em direcção à capital do Reino. – A valentia da população civil da cidade de Elvas, que injustamente é ignorada pela história tradicional, considerando a sua resistência perante a fome, a peste e os bombardeamentos a que foi sujeita. – A estratégia dos líderes das hostes nacionais que tornaram possível o êxito em 14 de Janeiro de 1658 e testada durante o Cerco das Linhas de Elvas, uma vez que antes da chegada do Conde de Catanhede já as hostes portuguesas induziam em erro os castelhanos fazendo sair do Castelo de Elvas, pequenos grupos de cavaleiros que logo voltavam à base, em nítido desafio, quando o mesmo se verificasse seria um desaire para os interesses portugueses. Por outro lado e apesar dos exageros de tradição, a documentação parece-nos indicar que o avanço português, surpreendeu não tanto D.Luís Haro, mas a sua disposição táctica de guerra. -  O potencial bélico, superior do lado castelhano, mais significativo neste plano do que em homens, como muitas vezes salienta a história tradicional, quando o que de facto prevalece é o poder militar de Espanha e não o número de efectivos de guerra, porque esta, não é uma guerra medieval, logo é o fogo que determina a vantagem e a derrota militar incontestável quando se analisa o documento “Relaçam do Sucesso de Armas na rota do cerco que o Castelhano tinha posto à praça em vez de Janeiro de 1659:" - que refere um número de 5000 prisioneiros, a rendição das forças castelhanas no Monte da Graça, a fuga nocturna dos sobreviventes para Badajoz e o afogamento de alguns nos rios Caia e Guadiana, as numerosas perdas e abandonos de peças de artilharia, tendas e até a correspondência entre Filipe IV e D. Luís Haro.