quarta-feira, dezembro 19, 2012

O Modernismo em Portugal ....






António Souza Cardoso, Tristezas.Cabeça - (1912), Óleo sobre tela.


Guillerme Santa Rita (1912), Cabeça, Óleo sobre tela.


Dórdio Gomes, Éguas de Manada, 1929, óleo sobre tela.

No princípio do século XX, as letras foram marcadas em Portugal por duas correntes literárias antagónicas; o Integralismo Lusitano, e a corrente do movimento Seara Nova. O primeiro, de que faziam parte nomes como António Sardinha, Hipólito Raposo e Rolão Preto, tinha raízes conservadoras, monárquicas e católicas; o segundo, cujos nomes mais conhecidos foram os de António Sérgio, Jaime Cortesão, Raul Proença ou Aquilino Ribeiro, situava-se na linha do nacionalismo e apresentava preocupações político-sociais e democráticas. Esta segunda corrente que deu lugar ao modernismo, reflectia as estéticas de vanguarda que no ínicio do século XX, manifestavam-se na Europa, mas não tinham uma linha programática dominante, por isso mesmo era possível uma associação à persistência de linguagem tradicionais frente a manifestações de linha cubista, futurista ou dadaísta. ( Casos das influencias do futurismo e do cubismo, nas obras de Santa Rita, Almada Negreiros e Amadeo Souza Cardoso. Outro aspecto que não podemos ignorar a influência de artistas portugueses que residiram no estrangeiro e de estrangeiros que desenvolveram parte da sua obra em Portugal (caso do Casal Delaunay que instalou-se em Vila do Conde onde desenvolveu parte da sua obra no nosso país).. O primeiro modernismo português (1911-1918), centrou-se em torno da Revista Orfheu, veículo de difusão do modernismo,  dele fazendo parte nomes como Mário de Sá Carneiro, Almada Negreiros e Fernando Pessoa. O modernismo português, surgia ainda no contexto da crise de consciência colectiva do pós-guerra, caracterizou-se pela ausência de qualquer ideologia, pela denúncia da decadência e da mediocridade da literatura, pela necessidade de romper com o saudosismo e o provincianismo que afastavam Portugal das grandes tendências literárias europeias. Almada Negreiros e Santa –Ritta Pintor, figuras de destaque do primeiro modernismo , empenharam-se de uma maneira particular na divulgação do Futurismo, que todavia não tiveram grande adesão do público. Fernando Pessoa foi o principal expoente do Orpheu e da poesia portuguesa. O sentido de mudança, a inquietação perante o destino do homem, a lucidez revelada na análise de um mundo que se desintegrava sem conseguir restituir-lhe o sentido, a capacidade de se desmembrar em várias personagens, cada qual correspondendo a um perfil bem definido, conferiram à sua poesia uma dimensão que lhe granjeou enorme prestígio no exterior. Neste contexto o primeiro modernismo, procurou divulgar as suas propostas artísticas e literárias, em exposições, conferências e em revistas ( como a citada revista Orpfeu e o Portugal Futurista), numa perspectiva renovadora relativamente à sociedade e à mentalidade do país, mas esta procura pela originalidade, que incitava à revolta e à provocação, acabou por não ter o efeito desejado pelos seus promotores. Dificuldades decorrentes da escassez de públicos culturais, resultantes querdo elevado analfabetismo quer do conservadorismo dos meios urbanos mais eruditos – agravadas pela situação política do país, foram algumas das razões.  Nas artes plásticas, o modernismo, surgido em força na segunda década do século XX, manifestou-se com pintores como Dórdio Gomes, Santa Rita-Pintor e especialmente Souza Cardoso, o qual procurou realizar a síntese de diversas tendências, na medida que ele próprio se confessava impressionista, cubista, futurista e abstraccionista. Uma segunda geração de modernistas, de que faziam parte José Régio, Miguel Torga e Adolfo Casais Monteiro, lançou a revista Presença (1927), em Coimbra. Continuando a proclamar-se como não doutrinários e sem filiação política, reagiram contra a literatura academizante e preferiram centrar-se na análise introspectiva, na confiscação ou na expressão da individualidade. Mas uma vez mais, os artistas continuaram a deparar-se com a rejeição pelos organismos oficiais, pelo que as exposições independentes que realizavam, de forma individual ou colectiva, a única forma de afirmação deste novo ciclo modernista que marcou os anos 20 e 30.