domingo, janeiro 23, 2011

6.2.3 - Elvas Portuguesa: A prevenção a caminho da Paz


A paz e a guerra, foram sem dúvida uma realidade quotidiana para as populações raianas ao longo da raia nacional e essa realidade acompanhou as populações locais até ao primeiro quartel do século XVIII. Na raia de Elvas os tempos do pós Linhas de Elvas continuaram marcadas pela necessidade de prevenção. As cartas régias, dirigidas à Câmara de Elvas e aos Governadores militares da cidade evidenciavam a necessidade de preparação para uma conjuntura de guerra e nesse contexto o conteúdo legislativo indirectamente convocava os efectivos populacionais e militarizados (milicianos), para a prevenção e o esforço de guerra que a conjuntura militar iria determinar até à assinatura da Paz com a Espanha. No total de noventa cartas enviadas pelo monarca D. Afonso VI apenas cerca de 25% tinham como finalidade doações de património ou relativas há organização urbana, mas entre as doações numa análise cuidada e orientada se observa, que algumas delas beneficiaram algumas figuras que foram protagonistas na Batalha das Linhas de Elvas. Era o caso por exemplo de Afonso Fortunato de Mendonça que entre outros receberam doações fundiárias da Coroa, do qual o seu filho, João Fortunato de Mendonça seria o seu herdeiro e a sua ligação a solo elvense tornou-o Governador Militar da Praça com seis mandatos (1671, 1678,1682, 1688, 1702 e 1715. As primeiras decisões da Coroa, postas em prática pelo Governador, o Conde D. Jerónimo de Ataíde, denunciam desde logo que a paz estava muito longe de ser um dado adquirido, a nomeação de Manuel Gomes Lima para cumprir serviço militar na Praça de Elvas, denunciava que a prevenção face à guerra não se limitava a forças milicianas uma vez que o referido militar tinha como objectivo organizar o alojamento para um o estacionamento das tropas de socorro da Extremadura em caso de necessidade. Mas, a continuidade de cartas régias com finalidade preventiva acompanha os primeiros anos de regência do novo rei de Portugal, D.Afonso VI, que foi interpelado pela Câmara de Elvas três meses após a subida ao trono, uma vez que a população queixava-se da pressão fiscal. A resposta régia só seria dada dois anos depois por carta de 16 de Março de 1664, dispensando o pagamento dos contribuites elvenses da sisa no valor global de 880.000 rs., mas a política de assegurar a defesa da soberania da raia portuguesa era evidente em função de uma série de medidas que então foram tomadas entre elas podemos sintetizar e enunciar: - a fixação de residência permanente do Governador militar na praça; - a guarnição de armas para defesa da fortaleza elvense; - a nomeação de um almoxarife de armas e munições; - a nomeação de um pagador do exército que evidencia a presença de forças militarizadas com função militar independentemente do tipo mobilização militar (aliás esta era uma preocupação permanente que se observa ao longo da década de 1660 de tal forma que a Coroa aconselhou o governador, o Conde Sabugal, D. João Mascarenhas a aplicar o fundo das fortificações no aluguer das casas da Ordem de Sâo Paulo devido à falta de quartéis e várias resoluções para a deposição de trigo para o abastecimento de prevenção a eventuais cercos (no qual destacamos duas medidas, a de D. Afonso V que em 1660 mandou parar as obras de edificação dos quartéis para a compra de cereais e a de  1670, em que o infante regente D. Pedro por carte régia de 3 de Fevereiro mandou construir um amplo celeiro público com vista à auto-suficiência da cidade). Outra medida de carácter militar, táctica e como forma de impedir cercos de longa duração como tinha ocorrido entre Outubro e Janeiro de 1659,  consistiu na destruição dos rossios cuja produção agrícola podia ser eventualmente aproveitada pelas forças aventuras.   Na prática as preocupações régias e da superintendência do governo da Praça Militar tinham fundamento, já que a cidade de Elvas voltou a ser cercada sem êxito, em vários momentos, após a Batalha do Ameixal ( 8 Junho de 1663)  o exército de D. João de Áustria, irrompeu sobre Elvas após a destruição do Castelo de Arronches, mais tarde vários reconhecimentos foram feitos pelos castelhanos ocorreram na fronteira portuguesa no Verão de 1667 esperava-se um novo cerco mas o exército castelhano marcharia para Vila Viçosa. A paz era assinada em 1º de Fevereiro de 1668, mas a Praça Militar não desarmou como sentinela de fronteira e resistiria ao cerco posto pelo Marquês de Bay em 14 de Abril de 1706 que ao fim de 48 horas, retirou para Badajoz mas a defesa da cidade tornou-se uma prioridade da Coroa até a Época Contemporânea.