domingo, junho 02, 2013

I - História do caminho de ferro na Madeira: A inauguração.


O Monte Palace - o hotel das elites europeias


O Bello Monte outra das unidade hoteleira pioneira do Turismo Madeirense


O Comboio de partida do Pombal


A chegada ao Monte centro do Turismo Madeirense

As dificuldades de comunicação e transportes era um problema que afectava os madeirenses desde o tempo dos descobrimentos, em finais do século XIX o Diário de Notícias, noticiava assim os obstáculos à circulação no interior da ilha “Quem julgar que haja exagero no que dizemos monte-se num cavalo e vá percorrer a ilha e voltará horrorizado pelo que respeita a vias de comunicação em muitos pontos se não na maior parte das freguesias rurais”. As notícias do triunfo da linha férrea na Europa era já conhecidas antes de meados do século XIX no arquipélago madeirense, mas seria o capitão António Joaquim Marques natural de Lisboa,  o pioneiro do desenvolvimento ferroviário na Madeira, apresentando na Câmara Municipal em 17 de Fevereiro de 1887 um estudo da autoria de Raul Mesnier Ponsard que deixava clara que a viabilidade do caminho de ferro era uma realidade. As autoridades municipais acabaram por apresentar alguns obstáculos ao projecto, do capitão António Marques, mas em 24 de Julho de 1890 o projecto era finalmente aprovado e concedido ao madeirense, capitão Manuel Alexandre de Sousa, que se propunha a criar a Companhia dos Caminhos de Ferro do Monte. O Monte era então a zona de turismo por excelência e a elite madeirense possuía as suas quintas na referida freguesia, zona privilegiada para as férias dos madeirenses de posse até ao séc. XX e o comboio podia ser um instrumento ao serviço   de uma indústria em desenvolvimento . A escritura da companhia definia as suas características: Art.º1 - É criada uma sociedade anónima da responsabilidade limitada que se domina Companhia dos Caminhos de Ferro do Monte; Art.º 2 – A Companhia tem por fim construir e explorar o caminho-de-ferro do Monte para o sítio do Monte, bem como um casino denominado as Laginas, extremo da Linha. Artº 3 – A sede da Companhia é o Funchal; Art.º4 – A sua duração será pelo tempo de noventa anos (…): Art.º 4 – O capital da Companhia será de cento e doze contos e quinhentos mil réis dividida em doze mil e quinhentas acções. Em Agosto de 1891 foram inaugurados os trabalhos do elevador começando simultaneamente na Confeitaria e no Pombal. Entretanto a imprensa local ia dando conta da chegada do material fixo e circulante para o elevador. Em 12 de abril de 1893, as notícias davam conta “ que estava ontem à vista a barca que se supõe ser a que veio de Antuérpia com parte do material fixo e circulante para o caminho-de-ferro do Monte”. Entretanto as informações técnicas era motivo de divulgação, dizendo-se que devido ao declive do traçado era escolhido o sistema Riggenback, que consistia na presença de uma cremalheira colocada no eixo da via e ao longo de todo o seu percurso e constituída por uma calha de ferro, cujas lâminas verticais estão rebitadas os seus dentes ou degraus como se uma escada se tratasse. Outros pormenores eram notícia, como o tipo de carro (carruagem), como então lhe chamavam, que teria uma lotação para 60 passageiros. Finalmente a 16 de julho de 1893, era inaugurado o primeiro troço entre o Pombal e a Levada de Santa Luzia. A imprensa local noticiava assim o acontecimento: “Antes das 10 horas da manhã já eram numerosos os grupos de curiosos que estacionaram em toda a linha do percurso, onde, a pequenos espaços, se erguiam mastros com bandeiras e em cima, na Levada de Santa Luzia, onde também flutuavam bandeiras levemente agitadas por uma viração que mal atenuava a intensidade do calor. Sob um sol faiscante a multidão dos curiosos foi aguentando gradualmente, e muito antes de uma hora da tarde, a anunciada inauguração, era difícil encontrar um lugar onde se pudesse estar à vontade. Na Levada de Santa Luzia achava-se armado um coreto com toldo, onde tocou a banda regional de Caçadores 12 depois da cerimónia religiosa. A estação do Pombal apresentou-se, decorada com flores e verduras. O Exmº prelado diocesano, D. Manuel Agostinho Barreto, de pluvial, de roquete, de estola e mitra e empunhando o báculo, procedeu à cerimónia da bênção da locomotiva, onde se via hasteada a bandeira portuguesa, rodeando sua s.ex. reverendíssima o Cabido da Sé com a cruz alçada. Assistiram a este acto quase todos os cavaleiros convidados pela direcção do Caminho-de-ferro. Concluída a bênção estrugiu nos ares uma girândola de foguetes e fizeram-se ouvir os sons festivos da música. Em seguida, o Exmo. Prelado, o Sr. Governador Civil; o Sr. Agostinho de Ornelas e os srs. Conde Calçada; comendador Read Cabral, director da Alfândega do Funchal, comendador Luís Ribeiro de Mendonça; secretário-geral interino, Major Almeida Ferreira; capitão Camacho; engenheiro Roma Machado; dr. Joaquim Ricardo trindade de Vasconcelos, vice-presidente da Câmara Municipal do Funchal e vereadores João Franco de Castro, Pedro Luís Rodrigues, Silvestre Quintino de Freitas, cónego vigário do monte, Francisco Rodrigues de Almeida; Manuel Pires Taborda; Dr. Frederico Martins ; os directores do Caminho-de-ferro do Monte e outros cavaleiros, deram entrada no carro que se pôs imediatamente em marcha, percorrendo em cinco minutos a distância que vai da estação do Pombal à Levada de Santa Luzia entre duas alas compactas de espectadores. Ali foram os viajantes convidados pela direcção a se apearem e seguindo para uma propriedade pertencente ao Sr. Manuel Pires foi-lhes servido um delicado copo de água. A banda dos caçadores 12 tocou várias peças escolhidas, terminando assim uma festa comovente e abrilhantada por um tempo esplêndido que há-de lembrar sempre na Madeira para a qual se abre uma página nova e auspiciosa da história”.