O terceiro estado constituiu na Época Moderna, a base social da estrutura da população elvense e que incluí todos os grupos sociais que não estão identificados com a Nobreza e Clero, numa palavra com a Aristocracia. Uma realidade comum de resto nas sociedades das europeias do Antigo Regime e que na cidade raiana era mais que evidente já que se tratava de um senhorio régio desde a sua fundação como povoação portuguesa. Uma parte considerável desta população elvense foi resultado directo das vagas migratórias geradas por várias motivações políticas mas sobretudo económicas no final da Idade Média.. Todavia há que distinguir nesses movimentos de população, alguns fidalgos, burgueses e mercadores, que circulando pelas áreas do império continuaram a ter como residência oficial a sua cidade natal e como tal não pertencem ao rol dos novos moradores. Era o caso dos Mesquitas Pimentel, que serviram as armas da Coroa no Norte de África, Pedro Mesquita Pimental fez parte da hoste de D. Sebastião e esteve preso nessa praça africana após a campanha de Alcácer Quibir, o mercador cristão – novo, António Fernandes, rico – burguês, registado no grande trato do comércio escravos na chamada rota triangular e que tornara o arquipélago de Cabo verde como sede para o seu tráfico negreiro, chegou inclusivamente a deter o monopólio desse comércio por alvará da Coroa . De resto desde meados do séc. XVI, a colónia elvense em Cabo Verde estava perfeitamente integrada na vida das elites locais, o elvense Fernando Mesquita exercia o cargo de governador do arquipélago e Simão Fernandes, padre elvense em São Tiago, era o “salvador” das almas cristãs. Aliás os interesses mercantis foram determinantes para a existência de um “punhado” de mercadores elvenses no comércio colonial, são várias dezenas com registo no negócio das explorações das estações mineiras de Angola, porém a documentação não é precisa entre aqueles que estão no trato do comércio e os que desenvolvem a sua actividade como trabalhadores braçais. Na Índia, a família de Manuel Gomes de Elvas, ainda antes de meados de Quinhentos já era reconhecida como um grupo de mercadores de longo trato a que estava associado um dos Pegado de Elvas, oriundo da fidalguia medieval desde os primeiros tempos da vila medieval. Convém relembrar que os Gomes de Elvas, durante o século XVII tinham já adquirido a sua titulação e durante a segunda metade do séc. XVII era já referidos pela documentação como a família Coronel. Em Elvas os tendeiros, eram os homens de negócio da cidade, a maior parte deles viviam do comércio local com base nos produtos locais de matriz agrícola, uma boa parte já tinham contactos de âmbito regional e um grupo mais restrito, estava envolvido com comércio local, como era o caso de Francisco Fernandes próspero comerciante local com uma mercearia, filho de uma castelhana e que na segunda metade do séc. XVI , 1559 é registado como mercador na Praça Comercial do Peru. De resto a presença mercantil de mercadores elvenses, nas praças mercantis do sul americanas é uma realidade que se estende e se regista nas colónias espanholas, o padre elvense Sebastião de Vaz que residia na cidade colombiana de Saragoça e que em pareceria com o local, Gracia Costa detinha a exploração de uma mina de ouro e prata, cuja mão-de-obra era assegurada por uma série de escravas negros. No âmbito do comércio transfronteiriço os mercadores da raia de Elvas e Campo Maior, desempenhavam um papel fundamental entre as principais praças do comércio ibérico, Lisboa e Madrid, como agentes comerciais, os Mesa e os Silveiras radicados em Elvas especializaram-se nas transacções de mercadorias agrícolas que eram colocados nos mercados da Extremadura mas especialmente no de Badajoz. Gaspar Rodrigues era então o mercador local com maior intervenção no comércio luso-espanhol. Cuja esposa Brites Álvares, herdeira da sua fortuna acabou por ampliá-la através da constituição de uma sociedade financeira familiar que ocorria aos principais mercados e feiras em território castelhano. Aliás esta prática era seguida por Diogo Álvares, cristão-novo que chegou a ser perseguido pela Inquisição e que negociava nos principais centros urbanos do reino vizinho, tal como Medina del Campo. Córdova, Ubeda, Málaga e Sevilha, produtos da Índia, nomeadamente roupa e especiarias como se lê na documentação, mas também a madeiras exóticas, como o pau do Brasil. Contudo, a família Penso que se radicara na cidade eram os especialista do grande comércio com o Brasil com residências em Lisboa e Badajoz. A importância do comércio local e a sua relação com o Império é indiscutível, especiarias e sedas da Índia, panos e metais preciosos, vendia-se com toda a normalidade nas tendas da cidade até meados do século XVIII. A venda de jóias, pratas, espadas e espingardas, denunciam a existência de uma clientela de burguesa e fidalga. O azeite e as cavalgaduras, contribuiu também para o enriquecimento de numerosos mercadores da Praça comercial elvense. A Rua das Portas de Évora e na continuidade da entrada principal para o centro do burgo elvense, a Rua da Feira eram as principais artérias da vida comercial e mesteiral da cidade, uma vez que a documentação refere a existência de várias tendas e oficinas em seu redor, numa época em que a cidade de Elvas era o principal praça comercial da raia nacional, posição que se manteve até a época liberal já na primeira centúria da época contemporânea. Por último, não podemos deixar de fazer referência aos elvenses, João Rodrigues Penha e a Frei Rui de Brito, cuja actividade bancária, trata-se de dois prestamistas que sob empréstimo de dinheiro a juros se impuseram na sociedade na modernidade como homens de fortuna. Em suma, se a fidalguia era escassa e dependente da coroa, a burguesia mercantil era um grupo em ascensão social pela capacidade de gerir os meios de transacção comercial que determinou a sua posição no topo do Terceiro Estado.