segunda-feira, abril 27, 2009

O trajecto histórico da Herdade na História de Elvas



História Local :- Do ponto vista histórico o conceito de herdade perde-se no tempo, há quem encontre na "Villa Romana" e na sua "pars rústica", a sua origem e por extensão a base da denominação do "monte alentejano". Todavia, quando se considera os fundos documentais da vila e mais tarde cidade de Elvas, encontramos as primeiras referências para o período de povoamento e aproveitamento económico da vila de Elvas. De facto, a primeira carta régia, que utiliza a designação de herdade é uma confirmação dada à Ordem de Alcobaça em 7 de Maio de 1259 ou seja, a primeira doação de uma herdade é provavelmente do início de meados do séc. XIII. Considerando ainda que uma das primeiras herdades da referida ordem a de Fonte Enossa estão referenciadas no testamento de João Paes Salzedas como doadas por carta régia em 3 de Abril de 1258. Ao longo do período medieval as doações sucedem-se a alguns membros da aristocracia de Portugal e Local, como são os casos dos Aboim. Na época Moderna, D. Álvaro, da Casa de Bragança é o primeiro aristocrata do reino a receber uma herdade e no final do Antigo Regime uma elite domina a propriedade concelhia como são os casos da Casa de Bragança e de Cadaval ou do Conde de São Martinho. A partir de meados do século XIX a herdade é fonte de riqueza e elemento determinante para a formação de novas elites económicas, de facto na lista de maiores contribuintes de Elvas entre 1880-1890, apenas o comerciante José Nunes da Silva, não constitui a sua riqueza com base na herdade. José Miguel Barreto era o maior proprietário com morado na cidade e António Bagulho, o maior proprietário oriundo de uma vila rural. Porém o esboço das primeiras Casas Agrícolas com base na herdade estavam já criadas antes do fim do século XIX como era as casas dos primeiros grandes lavradores após a Reforma de Mouzinho da Silveira: António Bagulho (1864); Adelino Gonçalves (1867) ou Francisco Lobão Rasquilha (1879). A transição para o século XX foi determinante para o alargamento das áreas de exploração agrária, correspondente a um aumento da propriedade e ao aparecimento de novos proprietários alguns dos quais antigos arrendatários, numa época em que a paisagem agrícola era ainda marcada por « ... extensos matagais de carrasco, piorno e outros arbustos silvstres». A partir de então e até final da década de 1960, a posse herdade tornou-se um sinal de elitização social e de desenvolvimento local, considerando como:


- Um sinal de prestígio social e nesse contexto os comerciantes e os "doutores", os médicos, procuravam adquirir esse tipo de propriedade como forma de se inserir nas elites económicas.


- Factor de criação de emprego, de uniformização e nivelamento social, uma vez que a maioria da população encontrava a sua subsistência no trabalho rural.As expectativas das classes populares, variavam entre a guarda fiscal e a vida militar.


-Elemento determinante na produção cerealífera e na economia nacional após as reformas agrícolas de 1883 e a Campanha do Trigo de 1929.


Sem dúvida que a herdade e os seus protagonistas não se esgotam, mas o papel da herdade como motor da economia elvense e nacional não deve ser ignorado na sua História. Postado por Arlindo Sena.