segunda-feira, dezembro 27, 2010

6.2.2.Elvas Portuguesa: Na modernidade - Nas vésperas das grandes ofensivas




                 A artiharia mudou o curso das guerras modernas no Ocidente na Modernidade


A Baluarte entreicheirada fundamental na edificação militar na época da Restauração.


A  disciplina uma problema inquestionável nos exércitos milicianos peninsulares.

A história tradicional invoca com frequência o êxito das forças portuguesas sob as forças espanholas em função do número de efectivos militares, da sua capacidade operacional, técnica e competência funcional, nada menos correcto quando se analisa e reflecte as fontes documentais quer portuguesas e espanholas. Ou de forma mais objectiva, os exércitos luso e castelhano que evoluíram na conjuntura de guerra da Restauração, não eram profissionais e a disciplina era um dos aspectos que mais condicionavam a evolução das forças no campo de batalha, mais evidente nas hostes espanholas do que nas portuguesas. Mas esta situação é uma realidade extensiva a toda a Europa sendo a única excepção os exércitos das Províncias Unidas, pela simples razão de que era um exército regular e pago. O problema dos exércitos peninsulares estava subjacente logo no recrutamento, de facto, no caso português, essa prática era feita segundo a Lei das Ordenanças de D. Sebastião de 1750 que estavam sob comando de um corregedor, todavia em face da guerra pela independência nacional essa autoridade devido às circunstâncias estava sob direcção operacional de um Comandante Militar de Província, situação documentada nos Cercos de Elvas e Badajoz (1657) ou nas batalhas do Ameixial (1663) e de Montes Claros (1665).  Vivia-se então num período de transição no processo de recrutamento em que persistia todavia o espírito de mobilização da nação em armas, apesar de em meados do século XVII o elemento demográfico passar a ser uma forte componente para a convocação dos efectivos que as forças militarizadas então determinavam. Mas esta realidade não fez parte da estrutura, senhorial, miliciana e concelhia, que evolui nos cenários de guerra nas planícies do Alentejo e da Extremadura, palcos por excelência das Guerras da Restauração. Todavia e relativamente a lei de 1570, há que fazer referência a introdução de um novo sistema de prestação militar dos concelhos, que obrigava uma contribuição em dinheiro, surgia o vulgar “soldado das pias”, normalmente veteranos pagos para o desempenho da função militar em caso de guerra o que determinava a exclusão dos jovens e dos inexperientes. Outros estratos sociais simplesmente estavam isentos do serviço militar nomeadamente os letrados, os funcionários públicos, os comerciantes, marinheiros e pescadores, no âmbito que as funções eram prioritárias no funcionamento da sociedade. Apesar das circunstâncias adversas de cinquenta anos de domínio castelhano, o exército ou a nação em armas mais correctamente, tinha uma motivação extra que era a defesa da soberania nacional recentemente conquistada. Era provavelmente esta a vontade psicológica de manter sua identidade que justificava o esforço de guerra de uma Nação que pretendia ter direito a um Estado formal e nessa perspectiva sem ter presente as noções de nacionalismo subjacentes ao Século XIX tal ideia persistia na Nobreza de Portugal que conduziria as milícias municipais aos grandes êxitos da Restauração. No caso espanhol, as fontes arquivo demonstram que as forças militarizadas estacionadas em Badajoz tinham como cujo objectivo reconquistar Portugal e sujeitar a sua nação à obediência castelhana, todavia a formação do exército da Extremadura foi dramática e marcada pela incompetência e indisciplina. As fontes históricas comprovam tal afirmação e um dos primeiros obstáculos situou-se no esforço financeiro necessário para as campanhas militares, do qual se exigia aos extremenhos cerca de dois terços do total do seu custe, que por sua vez estavam sujeitos a constantes acções de pilhagens, roubos e saques de bandos portugueses que actuavam na calada da noite em toda a raia da Extremadura. Por outro lado, a indisciplina minava as hostes milicianas devido a falta de uma cadeia de comando, uma vez que as altas patentes militares espanholas estavam mais motivadas para outros cenários de guerra na Europa e nas suas colónias que lhe traziam pompa e honra. Na verdade, a Extremadura não honrava a nobreza castelhana, com um exército mal apetrechado e sobretudo sem suporte financeiro, aliás esta foi a razão para que numa década passaram por Badajoz nada menos que nove Capitães Generais em missão de Comando Militar da Extremadura. A confrontação entre a população civil e militar era outra realidade visível na medida em que os vexames, saques e os furtos, da soldadesca era denunciados pelos extremenhos, denunciando que os mesmos eram realizados pelos naturais e não pelo invisível inimigo português. O estado de intolerância com os militares tornava-se popular através da poesia da época, em 1643 ouviam-se na Extremadura frases como:” si solo los castelhanos/ para robar tienen manos/ mas no para pelear” um funcionário do governamental na sua carta dirigia à Coroa em 1650, relatava as actividades militares e a sua relação com a população local utilizando o termo de “agresores insólitos”. Estas e outras, situações são hoje motivo de debate na historiografia da Extremadura, o historiador Fernando Cortés cuja vida académica foi dedicada às relações Portugal e Espanha, do ponto vista institucional é de opinião que estes aspectos foram pontuais, mas em perfeito desacordo com os meus colegas da Universidad da Extremadura, Filipe La Puente e Alfonso Grajera, cuja validade dos seus estudos no teatro de guerra na Extremadura é indisctível. O sistema de mobilização não era muito diferente do português e o “soldado das pias” que era financiado pelos municípios em Portugal era nitidamente influenciado pela legislação espanhola que de resto em parte estava em vigência nos códigos portugueses, formais e não formais, após cerca de cinquenta anos de domínio filipino. Mas, a realidade das milícias extremenhas era totalmente diferente da situação portuguesa, se é certo que marginais e indigentes faziam parte do exército nacional, a falta de comando no exército castelhano permitiu que os mesmos fossem protagonistas nas suas relações com a população civil, numa época em que na Extremadura o descontentamento face à Guerra da Catalunha era evidente na medida que prejudicava a defesa da Província, não só pelos tributos fiscais que eram canalizados para aquela região Espanhola mas pelos contingentes que se deslocavam para aquela região. Aliás a vila de Cáceres em 1642 lamentava a saída dos seus milicianos para a defesa da Catalunha, face a ameaça portuguesa que facilmente conquistaria aquela praça protegida por 125 Infantes.