sábado, fevereiro 12, 2011

7.1.Elvas Portuguesa - A Paz e a reconstrução no final do Antigo Regime na cidade do Caia.


No final do Antigo Regime a fortificação da cidade completara-se


O Forte da Graça o último reduto defensivo mas uma das marcas da militarização de fronteira.


Entre as sentinelas e os campos, a renovação agrícola era uma opção 


Nas margens do Guadiana o contrabando era outra forma regular de vida entre as práticas agrícola e  comercial

As décadas finais do Antigo Regime marcam o regresso aos campos agrícolas em terras do Caia num período em que a prioridade de organização económica manifesta-se um pouco por todo o concelho de Elvas. Que nos fins de setecentos mantém uma forma de exploração agrícola medieval e tradicional, com amplas áreas do seu território ainda num estado selvagem, predominando o bosque e a mata em vastas áreas do seu território. De facto, após quase meio século de guerra quase permanente, o abandono da prática regular da exploração dos campos agrícolas, determinou que a pecuária se tornasse uma opção, aos campos de cereais. Assim o número de rebanhos cabras e ovelhas estavam em crescimento e disputavam um espaço no mundo rural onde os alinhamentos de vinhedos ( contava-se nesta época mais de uma meia dúzia de herdades que apostavam nos vinhedos, casos da Torrinha, Enxara, Vale de Marques, Mouros, Varche, Caldeiras e Amoreira) e olivais, caracterizavam a paisagem agrícola, colorida pelo afolhamento trienal, uma prática seguida pelas casas agrícolas do distrito. De resto, o comércio da cevada e do trigo, duas das culturas cujo cultivo ainda sustentava a capacidade económica de alguns lavradores, tornava-se pouco lucrativa e gerava descontentamento face as imposições da coroa, que desde 28 de Julho de 1678, só permitia o comércio de tais produções agrícolas, uma vez abastecido o Assento ou seja, a partir do momento em que era assegurada a auto-suficiência alimentar das forças militarizadas, homens e cavalos. A documentação coeva, refere o grande esforço dos proprietários rurais, independentemente da sua dimensão na limpeza dos campos com frequência ao longo de setecentos face às matas que cobriam as outrora as terras de cereais e de olivais, documentadas pela primeiras em 1689 quando a ameaça de guerra parecia poupar os campos agrícolas do termo de Elvas. As grandes propriedades de um modo geral permaneciam na posse de uma aristocracia exterior ao concelho e a um pequeno grupo de aristocráticas que residindo ou não na cidade, eram então os “donos “ da terra em Elvas. Distinguindo-se então alguns poucos burgueses da capital com alguns investimentos na exploração agrária era os casos particulares, de Augusto Lima Mayer que adquiriu a herdade do Alcaide em 1698 ou de  António José de Andrade que em 1875 adquiriu a sua primeira propriedade nos arredores da cidade a herdade das Arcas de São João por volta de 1875. Essa propriedade cuja organização já seguiu o conceito de monte que fará tradição nos montes alentejanos entre meados do séc. XIX e a centúria seguinte, era dotada de casas de moradia, granja, pastagem, terras de semeadura  e mato de azinho, e era propriedade de D. João da Silva Pessanha, uma família prestigiada com reconhecimento nobiliárquico desde os tempos medievais. Em meados do século XVIII, a cidade voltava a animar-se com a presença de mercadores sem esplendor e a importância económica da época de quinhentos, mas estavam lançadas as bases para a reanimação comercial que tornaria Elvas na cidade comercial de importância na raia em finais do século XVIII. A chegada de comerciantes, maçanos e caixeiros, oriundos da Beira e particularmente da Vila da Sertã entre eles destacam-se o mercador Domingos Lopes e os tendeiros José Silva, Venceslau Mendes, Anastácio Mendes que marcam a primeira migração de homens com algum capital que se fixam ou mantêm relações económicas na cidade. No âmbito das relações inter-regionais animavam-se as rotas dos almocreves com o norte alentejano e a ligação das barcas entre as vilas vizinhas Elvas e Olivença, que voltam animar a relação agrária e comercial interrompida com a destruição da ponte durante a Guerra da Liga em 1709. Para tal era criada a companhia das barcas em 1718 que existiu até 1812, altura em que tal serviço foi interrompido, depois de ter estado ao serviço de particulares durante os finais do séc. XVII, nomeadamente de Manuel Fernandes Largo, que utilizou a barca ao serviço das herdades de Malpique e Defezinha, antes da aquisição da nova barca que custou 70.000 rs. Em 1783 e na transição para o séc. XVIII estava nas mãos de um agrário de Olivença, Miguel Garcia, numa época em que o contrabando tinha-se tornado uma forma regular de vida ao longo do Guadiana, face à existência de uma fiscalização que se limitava às áreas fortificadas. Mas, sem dúvida que a nova companhia deu um novo alento ao intercâmbio entre Elvas e Olivença, mesmo quando perdeu oito das suas doze barcas num pavoroso incêndio nas margens do Guadiana. No final do Antigo Regime, a cidade de Elvas e o seu termo, estavam em plena recuperação, os historiadores tradicionais referem a existência de cerca de 5000 vizinhos, mas fontes que consultamos levam-nos a dados reais e mais objectivos, a população cifrava-se em cerca de 15.800 almas  e uma % elevada de efectivas militares, pela primeira vez na Praça militar existia uma população aquartelada, iniciava-se o processo de militarização de fronteira com estacionamento militar e com o esforço construtivo no plano militar, as estruturas e o arame farpado marcava a nova realidade de coexistência entre civis e militares. Longe de outras épocas, onde Elvas era referência dos mercadores e viajantes, para além dos obstáculos naturais o testemunho da violência da guerra e dos cercos, estava marcada nos solos os barrancos abertos pelas bocas-de-fogo ocupados pela água ampliara o isolamento e a interioridade da cidade que era então a porta de saída para a Europa que então já soprava os ventos do Liberalismo, nesta época em que ainda vigorava o Estado Moderno e Absoluto.