As vilas, as cidades, as nações, os impérios, têm nas suas histórias períodos, obscuros, mal estudados ou pouco referenciados na sua memória. O Século XVIII é para a história da cidade uma época com essas características, de facto depois do seu período áureo correspondente a sua elevação à categoria administrativa de cidade e após o seu protagonismo na época da Restauração, torna-se sobretudo num espaço de prevenção. Ainda longe da militarização a fase final do Estado Moderno e Absoluto, não ignorou a importância da cidade raiana, a defesa tornou-se uma prioridade se a obra mais significativa neste período foi sem dúvida a obra anexa, a norte da Praça Militar de Elvas, o Forte da Graça outras pequenas obras se inseriram nesse propósito. De facto e assinada a paz com Espanha, a população elvense continuou a ser tributada para as obras de carácter militarizado, não apenas para a manutenção das cortinas, dos fortins adjacentes e dos caminhos de ronda junto à praça, mas também para os primeiros alojamentos militares, os primeiros quartéis eram edificados em 1704, cerca de trinta e seis anos antes das primeiras medidas tomadas pela classe dirigente para a sua construção face ao estacionamento das primeiras forças militares exteriores à mobilização miliciana. Na verdade entre 1668-1704, a guarnição das forças militares ainda longe de constituir um exército nacional tinha dobrado em termos de efectivos, não sabemos exactamente o seu número, mas tal informação está registada em diversas cartas de correspondência entre os Governadores da Praça e a Coroa, a noção de que os efectivos militares aumentaram para além da sua capacidade é datada em cartas registadas para os anos de 1668, 1678,1681, 1685, 1689 e 1702, na última delas à referência que dobrou o número de efectivos, numa época que se verificava a reorganização do exército português no sentido da profissionalização sob orientação do Conde Lippe, um oficial oriundo da tradição germânica que viveu e conheceu as valências da importância da cidade na estratégia e defesa da soberania nacional, como se comprova em algumas das suas reflexões. A verdade é que a questão do alojamento militar só teria resolução efectiva e definitiva após a Revolução Liberal do Porto de 1820. Em meados do século XVIII as dificuldades mantinham-se os quartéis já não alojavam totalmente as forças militarizadas e uma parte dos efectivos desde 1767 tinham morada nas ruas dos Esteiros e Botafogo, enquanto os primeiros-oficiais de carreira sediados em Elvas estavam hospedados em casas particulares, pelo menos desde 1763 ocupavam de uma maneira particular um quarto em casas de particulares na freguesia do Salvador. Esta nova situação causava uma certa ambiguidade na população elvense, enquanto a hospedagem de militares de baixa patente não era muito apreciada ou mesmo não acontecia com os oficiais de carreira, os primeiros desenganos e os primeiros casamentos, era outra realidade que acompanhava o início de uma etapa onde os civis compartilhavam o espaço privado e urbano com os militares, uma das várias causas para a necessidade de um aquartelamento mais amplo que vingará um século depois.