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O palácio dos Marqueses de Alegrete o símbolo do aristocracia oitocentista.
A família Bagulho em menos de um século juntou lavradores, intelectuais e militares.
A elite dos lavradores na época áurea da agricultura elvense com o Ministro do Estado Novo, Arantes da Oliveira
A maioria da sociedade elvense que se afirma a partir de meados do século XIX é marcada pela afirmação de novas gentes que se fixam em território elvense entre os finais do século XVII e o primeiro quartel do século XIX. Ou melhor, pouco mais que 32.7 % das famílias registadas no cartório notarial de Elvas algumas dezenas de anos antes da época da Regeneração têm a sua origem nas vilas ou na cidade raiana. E de um modo geral, a sua origem é popular e apenas meia dúzia de famílias tem origem nobre e a excepção é praticamente os marqueses da casa de Penalva. Uma vez que os restantes titulados o foram durante a monarquia constitucional por comenda e não pela origem de sangue como se observa com maior atenção na aristocracia portalegrense. Mas quando se chega a meados do séc. XIX, podemos já encontrar indícios de uma nova sociedade que chega aos nossos dias, mas que nada tem a ver com o passado histórico da cidade e é sobretudo um produto da Revolução Liberal. Na verdade quando se chega ao final do século XIX a “classe dos proprietários” afirma-se como grupo dominante, integrando os lavradores como grupo maioritário que foi sem dúvida o que mais evolui, pois mais de 85% das principais famílias tinham a sua origem em pequenos arrendatário e algumas tinham mesmo uma origem social humilde. Mas no grupo dos proprietários, agrupavam-se ainda os comerciantes, muito deles com origem na Sertã e os militares cujo prestígio estava determinado pela sua posição no exército português. Porém no seio dos proprietários agrícolas no final da primeira metade haviam já algumas famílias que se distinguiam das demais, como era o caso das famílias Bagulho, Gonçalves, Barbas e Rasquilha, as duas últimas com afinidade à nobreza local e regional, no caso da família Rasquilha o seu reconhecimento social advinha da sua riqueza inicialmente concentrada na vila de Arronches. Outras, estavam ainda dependentes do arrendamento de propriedades da Casa de Bragança, Cadaval e de alguns burgueses lisboetas como Lança Alvim ou João Miguel Barreto, que tinham o monopólio das grandes propriedades do concelho. Nas décadas de 1880/90 a intensificação de compra de herdades pelas famílias locais arrendatárias torna-se uma evidência na relação de compra/venda das propriedades agrícolas (herdades), numa época em que o investimento agrícola era complementar à actividade agrícola, neste âmbito distinguia-se a família Nunes da Silva oriunda das Beiras e cuja fortuna se constituiu na prática comercial antes de se tornaram também grandes lavradores da cidade e em pouco tempo, uma família de referência local e regional pela sua intervenção na vida política. Também inicialmente fora do seio da prática agrícola, destacava-se outra família com origem na região centro a família Lopes cujo poder aquisitivo estava relacionada pela sua prática prestamista que permitiu que ainda antes da década de 1890 fosse uma família de posse e de referência na vida social e económica, de quem dependiam os pequenos/ médios proprietários agrícolas por força dos empréstimos a quem estejam sujeitos por contrato. Fora do contexto agrário, distinguia-se no grupo dos proprietários a família Torres de Carvalho, com origem na então vila vizinha de Estremoz e a família Mendes, cujo fundador da família José Mendes tinha a sua origem na Sertã como os Nunes da Silva e que da relação com o seu amigo Baltazar Paiva, nasceria a firma Mendes & Paiva com fins comerciais. No final do século XIX a elite económica da cidade tinha uma origem social exterior há cidade e procedia o seu enriquecimento económico através do arrendamento de grandes herdades que em pouco tempo, passavam para sua tutela considerando que se tratavam não de arrendatários mas de proprietários arrendatários com capital de remate era o caso de José Mendes, Lobão Rasquilha e José Lopes que se tornavam proprietários das melhores herdades do Conde de Tarouca. Na viragem do século, a propriedade não só significava riqueza como distinção, por isso mesmo alguns militares, médicos e industriais, procuravam então o estatuto de lavradores, como eram os casos do Dr.António Cidrais ou José Guerra, próspera e rico, o único com verdadeiro estatuto para tal no município de Elvas. Mas se os novos-ricos “sonhavam” com a aquisição da herdade, os grandes lavradores, bem sucedidos há muito tinham iniciado um verdadeiro processo de “nobilitação” com aquisição das Quintas e Solares, identificadas com as Casas Agrícolas como era o caso da Quinta de São João adquirida em 1872 por José Joaquim Gonçalves ou o “Solar dos Mesquitas” pelo Dr. Santa Clara que apesar de tudo tinha ascendência nobre apesar de ser uma das figuras mais prestigiadas da cultura oitocentista. De resto, o Dr.Santa Clara, o Visconde Cristovão Vasconcellos de Andrade, proprietário de uma casa palaciana de gosto itálico e o Visconde de Alcântara com a família da Marquesa de Alegrete e Condessa de Tarouca, identificadas com o grupo dos lavradores distinguia-se pela sua origem nobre e pela ligação à Casa Real. A este núcleo fechado abria-se excepção aos oficiais superiores do exército quase sempre os Governadores da Praça e a número muito restrito de proprietários, como eram o caso do Sr. Rodrigues Tenório durante várias décadas “tutor” das terras da “marqueza”, os Rasquilhas, pelo prestígio de essa grande figura do eixo Arrronches – Santa Eulália e Campo Maior, o deputado Progressista Lobão Rasquilha e os Bagulho, por via do Dr. João José Bagulho, médico que se distinguia pelo trato e educação numa sociedade fechada e profundamente ruralizada. Da I República ao Estado Novo, a classe dos proprietários, alargou-se significativamente em função da riqueza agrícola através de uma política matrimonial que acabou por cruzar as velhas famílias de posse com as que cresceram antes e depois da I República.