terça-feira, maio 12, 2009

O Castelo de Fronteira na Guerra Medieval.

História na raia Ibérica: - O Castelo como máquina de guerra nos assédios medievais  - O cenário da guerra  medieval nos fins da Idade Média privilegiado em toda a fronteira portuguesa de Norte a Sul , tinha como palco  central o Castelo que era sem dúvida o meio mais eficiente na prática da guerra ,quer em toda a Península Ibérica quer no Ocidente Medieval . Esta realidade bélica , o Castelo não é apenas uma arma defensiva, ela é também uma base extraordinária para a guerra ofensiva e na medida  em que a guerra de fronteira é uma guerra de conquista de posições  . Eis um exemplo desse tipo de guerra : “...antes de iniciar o cerco de Elvas, ao mandar abastecer Badajoz , Albalá , Jaraicero e Almocir com grandes quantidades de pão e trigo e cevada , necessários ao aprovisionamento das gentes e de armas     a partir desses castelos, deveriam invadir Portugal “ [1]  Porém foi na guerra defensiva que o Castelo provou ser quase inexpugnável , segundo Garcia Fitz : “ Qualquer fortificação bem abastecida , ainda que tivesse poucos defensores e com clara desvantagem em armas , tinha muitas  possibilidades  de manter-se frente a uma pressão exterior [2] .Os cercos foram a prática de guerra mais utilizada na fronteira do Caia e Guadiana . As fontes revelam-nos sistematicamente nos fins de Idade Média , em Elvas , e mais para interior das margens do Guadiana , os cercos a Vila Viçosa , importante também em acções  ofensivas pela sua posição estratégica de “ fazer correr “ os seus “ exércitos “ , numa faixa bem determinada entre o Alandroal e Estremoz , não está posta de parte a sua intervenção em terras do Sul como Terena ou Reguengos , e é provável que tal acontecesse atendendo que o fronteiro mor de Vila Viçosa , o Conde Gonçalo de Azevedo era simultaneamente o fronteiro mor de Moura no fim do Séc. XIV . A importância desta vila no palco da guerra medieval é incontestável     “ quem vençesse e ouvesse a praça ligeiramente cobriria os logares cercados[3]Mas a defesa de longa fronteira , foi também possível em função de um conjunto de modificações que ocorreram nas primeiras fortificações acasteladas do início da reconquista cristã portuguesa ao longo da raia . Na região do Caia em Elvas   ,  as alterações às novas exigências de guerra atingem o auge em finais do Séc. XV ; em Barbacena (Elvas ) a nova gramática bélica marca esta nova fortificação a caminho do Norte Alentejano ; ao contrário de Campo Maior, onde a edificação mandada erigir por D. Dinis em 1310 só será alterada com a introdução  do fogo de artilharia na segunda metade do séc. XVII , as suas altas muralhas e a sua forma compacta explicam a longa longevidade desta construção bélica . Na região do Guadiana , o Castelo do Alandroal  mantém a estrutura inicial do Séc. XIV , o seu papel na logística da guerra é deveras importante, mas como teatro de operações não se encontra nas frentes mais avançadas  , papel esse pertencente a Elvas e Juromenha e na retaguarda a Vila Viçosa . Na época de transição quase até ao aparecimento da pólvora e da sua aplicação na guerra aberta , destacamos a área das fortificações da actual região dos mármores , o Castelo de Estremoz , cuja Torre de Menagem funcionou como autêntico “ paiol” de apoio logístico  à guerra de assédio  e provavelmente[4] / pontualmente como reforço de armas através da cavalaria de ginetes ( ligeira ) aos locais de cerco . Não menos importante e o melhor exemplar das inovações e transformações, é o Castelo de Évora –Monte , salientando-se o Paço Fortificado , que se inscreve numa fase de transição pirobalística  e finalmente o Castelo de Vila Viçosa , de planta quadrada , do início do séc .XVI,  do qual se destacam os torreões cilíndricos de entrada e o profundo fosso que rodeia toda a estrutura do edifício anunciando uma nova era, a do fogo. Porém, numa época em que o Castelo constitui um elemento fundamental, considerando  que a Guerra Medieval  de um modo geral como vimos, se caracteriza como uma guerra de assédios , os exércitos que põem cerco têm alguns objectivos determinados . Nesta perspectiva,  para além da pressão psicológica sobre a população cercada, cuja atitude era de resistir e padecer , tratava-se também de destruir os seus recursos económicos e ao mesmo tempo estabelecer as condições de acesso ao Castelo , cujo assédio  se  podia fazer através da  aproximação das muralhas , utilização de engenhos e abertura de cavas e minas , esta última prática muito utilizada , através da qual o inimigo pretendia abrir  as portas da população sitiada e permitir o avanço dos invasores , por isso mesmo a vigilância das portas ou mesmo a sua abertura era um acto temido e sagrado  :     dabrir as portas tiinha moor cuidado que de rrezar as matinas [5]  . Mas os meios de assédio a um Castelo eram vários e com objectivos bem determinados :  


                      Quadro nº1 – Engenhos e máquinas de assalto


        Mas, como defendemos  ao logo do presente texto , o castelo como máquina de guerra afirmava-se através das suas capacidades defensivas e quase sempre com sucesso. As mais comuns eram : Do lançamento do alto das ameias e das torres , com grande intensidade chuveiros de viratões e de setas [12] [13]; simultaneamente , os sitiados lançavam também sobre os assaltantes e as suas máquinas de guerra fabricadas em madeira , uma vasta gama de projécteis e de materiais inflamáveis , uma técnica em que os estrategos da guerra medieval recomendavam tal como : Cristiano Pisano , Frei de D.Alonso ou Gil Roma. Se na guerra medieval , o Castelo teve um papel fundamental, as armas e o equipamento da cavalaria , da infantaria e da artilharia  tiveram um papel singular como veremos .     
       


[1]Cof.Arnaut ,1962,pp.462-474
[2] Garcia Fitz, Ob.Cit . pp.52
[3] ibid,CDJ,I ,Cap.XXVII,p.323
[4] Provavelmente porque a Guerra campal não foi prática nas guerras do Caia/Guadiana .Mas tornar-se-á umas das práticas no séc.XVI e XVII , quando Estremoz tem um ainda um papel fundamental na logística de guerra, nomeadamente na frente do Caia . Postado por Arlindo Sena
[5] ibid , Cap.CLIII ,  pp.256-257
[6]  Fernão Lopes , Ob,Cit. Cap.CLXIX,pp.360 :
Lê-se “aviam de hir muy notauees escudeiros escolleytos per el-Rey, não por linhagem de fidalgaduia , mas per conhecimentos de boons homeens darmas “ 
[7] Fernão Lopes,Ob.Cit.Cap.CXXXVIII,P.282
[8] Luis Moral Tejada , Ingeniería Militar en las crónicas catalanas, Ob,Cit. PP. 29
Sobre  as  dificuldades  de acesso ao castelo atravás de torres móveis afirma : “ Si hay um foso que
salvar , éste habría de ser rellenado o bien se tendrá de ser rellenado o bien se tendrá una especie de carriles sobre los que passe el castell “ de fusta . 
[9] Joao Gouveia Monteiro , Ob.Cit.pp 348
[10] Fernão Lopes , Ob.Cit , Cap.CXXXV,276-277
[11] Álvaro Soler del Campo,La evolución del Armamento,pp.55
[12] Este processo só era eficaz com base num treino intensivo e organizado , devido a duas razões : sucesso relativamente ao alvo e valor económico dos projécteis em acção.
[13] Foi  desta  forma  que  Fernão  Pereira  ( irmão de D.Nuno Álvares Pereira ) encontrou a morte num dos cercos a Vila Viçosa

  Objectivo
Meios ou engenhos de assédio

1.       Alcançar as muralhas de um castelo como forma de intervir com sucesso .


A ) Através de escadas:  considerada forma mais
clássica para permitir a respectiva escalada . Pretendia-se através da escalada intervir com sucesso ou expulsar os guerreiros que defendiam as ameias .[6]. As escadas deviam ser  à altura da muralha e resistentes . “ D.João I na tomada de Campo Maior serviu-se de uma escada por que as cavas estavam atupidas ”[7]. Em 1388 , durante um cerco o Campo Maior , uma das escadas de assalto a uma das torres, quebrou na altura em que a colocavam em posição de assalto a uma das torres . Sem dúvida que esta forma de aceder ao Castelo ou Praça  sitiada era   perigosa .
B ) Através de Torres móveis ou Castelos de madeira : já conhecida na Antiguidade ,  se a torre móvel vencesse os obstáculos [8] do próprio solo , e se conseguisse  aproximar-se ou abordar as muralhas , a praça  ou o Castelo ficavam imediatamente em perigo. Nestas estavam por vezes incorporados outros meios com vista à entrada no espaço cercado . No pavimento médio da torre por vezes , seguia uma ponte levadiça , que era lançada ao advarve permitindo a entrada dos assaltantes . Segundo J . Gouveia Monteiro , este tipo de torres foi utilizado em toda a Idade Média mas sem o recurso à ponte levadiça[9] e na Crónica de D. João I , há referências a este engenho durante o séc.XIV[10] . No pavimento inferior da torre podia incorporar-se um aríete ou carneiro ou transportar guerreiros com o fim de picar o muro , com vista ao seu derrube e entrada das forças invasoras  .
C ) Utilização do aríete /carneiro : Era uma máquina composta por um grande mastro de madeira em forma abobadada . Através do manejo das correntes e das cordas , os assaltantes faziam avançar e recuar uma grande viga , imprimindo-lhe um movimento de vaivém através do qual se esperava o derrube da muralha.
2. Utilização de engenhos que serviam para arremesso de projécteis aos espaços cercados , castelos e fortalezas
Tratava-se de máquinas por dois fortes pilares , unidos por um duplo ou quádruplo grupo de cordas , entre as quais era colocada uma viga , fazia-se um buraco em forma de colher , ou então associava-se uma funda ; colocava-se aqui uma pedra , e feito isso , aliviava-se rapidamente a viga , o que projectava o míssil numa rota parabólica . Este invento dos engenhos de contrapeso é atribuído aos hispano-mouros da Andaluzia e provavelmente também aos mouros da Sicília .[11] O trabuco considerado  mais eficaz que os engenhos de torção e também menos cómodo , podia ser construído no próprio local de operações . Este engenho que não dependia da torção de cordas , mas sim do súbito desprendimento de cordas , destacava-se pela sua capacidade de destruição .Esta máquina , que funcionava na base do contrapeso , permitia o lançamento de materiais pesados  normalmente pedras  (por vezes podia ser um barril contendo material inflamável). O tiro deste engenho , permitia o projéctil desenhar uma curva parabólica , como de um bomba de um morteiro moderno . Relativamente a este tipo de engenhos com o mesmo objectivo bélico , utilizou-se o “ Trabuquete“ , a “bifa” e o “tripancio “
3. Abertura de cavas e minas com vista a entrar na Praça ou Castelo sitiado ou fazer desabar algumas das suas estruturas, ex:muralhas .
O método mais clássico , conhecido desde a época dos romanos consistia , era através da escavação de túneis profundos de maneira que fosse possível passar por baixo dos fossos e atingir as muralhas . Duas atitudes eram possíveis : atingir o interior do espaço sitiado e abrir a porta principal , permitindo uma invasão de surpresa ou então proceder ao derrube de uma lanço de uma muralha ou mesmo de uma torre , colocando  nas fundações de um muro , procedendo-se depois há sua queima com matéria inflamável.