Vivia-se uma nova era no plano vial e urbanístico da vila, a saída directa para exterior, a partir do castelo ou da alcáçova era uma realidade da época da reconquista como provam as várias ruas estruturantes dos séc. XIV e XV, as praças e os amplos terreiros crescem em ruas mais largas uniformemente em torno do traçado antigo. Mas o progressivo aumento demográfico que a Vila de Elvas conheceu até finais do séc. XV era também o resultado da presença e crescimento da comunidade judaica, uma realidade extensiva em toda a raia do Distrito de Portalegre onde a proliferação dos judeus foi evidente por duas causas bem determinadas: a prática comercial e o exílio evidente nos períodos em que a Inquisição Espanhola, mais violenta que a portuguesa determinava o refúgio clandestino em terras portuguesas. Em fins do séc. XIV a vila de Elvas tal como outras de fronteira como são os casos de Trancoso, Guarda e Castro Marim eram centros de atracção para esta população flutuante clandestina que no Alentejo crescia em torno de outros centros urbanos como: Estremoz, Vila Viçosa e Beja [Elucidário, II ,325].A referência documental da Judiaria de Elvas mais antiga que se conhece situa-se por volta de 1386, mas a sua existência será provavelmente anterior a meados do séc. XIV como as demais situadas na raia nacional. A sua localização é ainda hoje problemática, pois a documentação é escassa e imprecisa na sua informação, mesmo quando se tem em consideração a documentação da Chancelaria Régia ou os Processos da Inquisição de Évora, fundamentais na caracterização e identificação do perfil dos Judeus e Cristão Novos de Elvas. As outras questões que se formulam é se devemos falar da Judaria de Elvas ou da Judaria Nova, são aliás estas as designações que encontramos em algumas obras publicadas por historiadores locais e nacionais. Nesta perspectiva, a problemática situa-se na inserção da comunidade judaica no espaço e no tempo, assim se tivermos em consideração as ruas dos Mercadores, Sapateiros, Beatas e outras afins que se ligavam entre si em torno de um espaço exterior à Alcáçova como referem alguns investigadores locais, não estaremos a caracterizar a Judiaria de Elvas mas provavelmente a Judiaria Velha. Sendo assim a Judiaria Nova proposta por alguma bibliografia nacional com base numa tese académica, estava quase limitada ao exterior do espaço da Porta do Templo e que envolvia praticamente o bairro residencial da rua das Beatas … ? Assim e considerando as fontes possíveis, (as objectivas seriam as arqueológicas), registamos um documento do séc. XVI [ANTT, nº 8031, fls. 157-1258], que identifica a Rua Nova ou antiga Judiaria, situada na actual artéria do Alcamin, referindo ainda que muitos judeus continuavam a habitar aquela rua e que antigos descendentes de judeus tinham como residência moradas de casa, na Praça, na rua da Feira e junto das portas de Olivença e Évora. Ou seja, quando falamos da Judiaria de Elvas, devemos ter duas realidades distintas, a Judiaria Velha a norte da actual Praça da República centrada nas ruas onde situavam os principais ofícios artesanais e a Judiaria Nova, onde a prática mercantil e artesanal, marcava a vida económica na época fernandina. A certeza porém da existência de duas Judiarias na Vila de Elvas e uma outra em Vila Boim é simplesmente indiscutível quando o ofício das rendas da Judiaria de Elvas, no qual o alcaide mor Rui de Abreu, recebia as rendas das referidas comunidades das três Judiarias elvenses no valor de 113. 333 reais. [ ANTT, Livro, 28, fols.2]- Continua.