sábado, novembro 19, 2011

10.1 -As novas formas de lazer nos actos de sociabilidade (1880-1929)

  A locomotiva a Vapor "Badajoz" nos primórdios da Linha de Leste ( in CP-GHM).

         Estação del FF.CC - ponto de partida da Linha de Leste e das viagens de Badajoz/Elvas
         (Arq. José Ángel Vicente)

Parque da Piedade outrora (ainda hoje) centro da diversão popular nas festas anuais do São Mateus

As casas nobres recebiam as elites raianas nos tempos de diversão

Os novos gostos e comportamentos sociais, na transição para o século XX o lazer e as práticas de sociabilidade, ganhavam cada vez mais popularidade nos grupos privilegiados, o gosto pelas viagens, com a chegada da Linha de Leste ao Caia, permitia às famílias mais endinheiradas da região e da cidade de Badajoz, satisfazer um gosto que então era moda da burguesia do último quartel do séc. XIX. A praia era o destino das poucas famílias de Elvas que se juntavam às pacenses a caminho dos areais da Figueira, ainda que as famílias espanholas preferissem a Costa do Sol . "De Badajoz para as nossas praias têm passado muitas famílias para a Figueira, Espinho, Cascais, por toda esta razão a demora do trem na estação (posto de desinfecção ), têm sido de duas horas”. De resto a Companhia Real de Transporte, publicava nos jornais de Elvas e Badajoz o seu serviço em direcção às praias na época balnear …” É no dia 9 de corrente que começas nas linhas férreas da companhia real a venda dos chamados bilhetes de banhos, serviço combinado com os caminhos-de-ferro do Minho e Douro, e Porto à Póvoa e Famalicão. Nas linhas espanholas a venda deve começar em 15 de corrente, havendo ano uma nova estação balnear, a de Bayona de Vigo, praia bastante concorrida. Passageiro vai, em caminho de ferro até Valença do Minho e de ali a Bayona de deligência” … O cinema chegava ao Alentejo e as primeiras projecções cinematográficas, ocorriam no final da primeira década do século, a 13 de Março de 1909, a empresa “Portuguesa Cinematógrafo” levava a cabo a primeira sessão, cuja duração não ultrapassava mais que dez minutos, mas para muitos elvenses da época era mais interessante esses breves minutos do que as duas horas de concentração e imobilidade que as empresas teatrais da capital determinavam nas suas representações na cidade raiana. Em finais da década de vinte, o cinema tinha conquistado o público elvense nomeadamente as projecções da “Invicta Filmes” que tinha sede no Porto e que chegou a produzir alguns filmes em que a paisagem do Alto Alentejo surgia como cenário, já que a referida companhia também se destacou como produtora cinematográfica. Em pouco tempo o cinema mudo, ganhou espaço ao teatro ambulante, primeiro chegaram os projectores ambulantes depois as companhias e mas muito mais tarde as salas de cinema e neste contexto, a primeira surgia na Vila de Campo Maior corria o ano de 1928 por iniciativa das firmas “ José Rodrigues Valente & Irmão “ e pela José Ramos & Irmão”. As corridas de touros, não era propriamente uma novidade, mas as praças de touros eram então a novidade, mas para os elvenses e para as “gentes da raia” nos finais do século XIX as touradas eram em Badajoz, para as quais ocorriam multidões de espectadores portugueses, as mesmas eram anunciadas na cidade e nos jornais e as famílias de referência passavam a frente ao mesmo tempo que as classes populares, mas uma vez na praça espanhola, instalavam-se nos camarotes das famílias pacenses enquanto as autoridades ficavam junto com as autoridades espanholas, numa verdadeira selecção e ordenação social, que os distinguiam das massas populares que seguiam exaltados e ao sol os acontecimentos que decorriam em plena arena. Na década de 1870, o projecto de uma praça na cidade de Elvas era então o desejo da “classe dos lavradores”, o Club Taurino dedicado à tauromaquia, ginástica e jogo de armas, tinha esse objectivo, ao contrário do que se passava na maior parte das vilas alentejanas onde o espectáculo ocorria nas praças públicas, nas cidades de Portalegre e Elvas, os touros corriam já em praças, a de Elvas bastante rudimentar e situada fora das muralhas recebeu as primeiras corridas por volta de 1872, mas com a condição em que os toureiros fossem espanhóis ara garantir a presença de público, mas o projecto de uma praça propriamente dita ficava adiada para o Estado Novo. Outros acontecimentos sociais que envolviam a população eram sem dúvida, a música, o arraial do São Mateus e a popularização dos desportos. Os concertos eram acontecimento social e popular, com dois cenários semanas como palco, a Praça D. Manuel I e o Jardim Público que a partir de 1880 era uma alternativa ao Passeio da Alameda e um lugar de recreio, e em especial para o público feminino que exibia as novidades da moda, as bandas militares eram as vedetas de cartaz, nomeadamente a Filarmónica do Recreio Artístico e as duas militares a Banda da Infantaria nº4 e a Charanga do Regimento da Cavalaria nº1. A Festa e o arraial de S. Mateus era sem dúvida o acontecimento religioso, económico e popular da época, no final da Monarquia quando a festa popular ganhava renome em toda a região e tornava-se conhecida na Extremadura Espanhola. A vasta zona agrícola dos arredores de Elvas, não cultivada era marcada por zonas próprias de estacionamento, para as populações do Alentejo e nesse contexto, a Olivença já integrada em Espanha tinha a zona de estacionamento demarcada junto aos actuais prédios defronte da retaguarda da actual Escola Secundário D.Sancho II. Mas a presença espanhola era também expressiva, algumas famílias da aristocracia e alguns oficiais do aquartelamento de Valverde, assistiam aos actos religiosos, mas a festa propriamente dita ocorria longe dos olhos dos populares, nos espaços fechados das casas nobres locais mas em especial  no palacete dos marqueses de Alegrete até de madrugada. Enquanto a multidão a cantar e a bailar invadia o Parque da Piedade, onde grande parte da “massa camponesa”, em tendas ou ao relento, vendiam o produto do seu trabalho ao longo de nove meses, numa época em que o dinheiro circulava uma vez que os salários semestrais ou trimestrais eram pagos na altura do São Mateus. Mas nem sempre a euforia, era musical mas pautada pela violência, nomeadamente pela numerosa presença das classes populares do país vizinho, que encontrava no palco da “Piedade” motivo para o confronto com os seus vizinhos. Aliás a partir da década de 1870, as forças militares entravam de prevenção quando as centenas de espanhóis desembarcavam na estação das Fontainhas, uma vez que numa das vindas a Elvas, tinham queimado integralmente uma carruagem e destruídos outros bens materiais … de resto os documentos sobre o assunto abundam …."A concorrência dos nossos vizinhos foi grande, como costuma ser no terceiro dia. A classe baixa dos nossos vizinhos, que há anos costumava fazer desordens, este ano portou-se dignamente, livrando-se assim de um castigo, que consta estava a ser preparado pelas autoridades espanhóis, sendo estes prevenidos antes da partida para esta cidade”. O desporto tornava-se uma paixão, para as elites locais o ténis na Quinta da das Queimadas atingia a excelência na organização e no trato social, as gincanas automóveis marcavam o gosto pelos automóveis, em Elvas e Campo Maior. Mas, o 2º lugar de Manuel Serra Candeias, acompanhado pela filha do Major Teixeira, Helena Morais Teixeira, na Gincana de Badajoz, foi o primeiro resultado expressivo numa prova oficial de automobilismo organizada pelo Real Clube Extremenho de Badajoz, que fica sem dúvida para a história daquele desporto. O desporto, na sua essência torna-se uma realidade popular já durante a I República, o ciclismo era a grande paixão, na medida em que nas primeiras voltas a Portugal, os ídolos da modalidade passavam por Elvas e o futebol dava os primeiros passos, num terreno preparado para o efeito na Fonte Nova mas nem toda a cidade partilhava o gosto popular e havia que olhasse para essa prática com desdém: “Chamamos atenção para o vergonhoso e degradante que quase assistimos no recinto onde se joga o futebol. Rapazes sem grande preparação física, raquíticos, amarelentos e doentios, entregam-se durante duas horas a esse desporto violento” . Chegava ao fim uma época, onde a Primeira República ainda estava fortemente marcada pelo espírito da Monarquia Constitucional.