Nos primeiros tempos da Reconquista Cristã e em função da conjuntura política da época que determinava a deslocação dos monarcas para o Centro e depois para a Sul, determinou um corte progressivo com a aristocracia do Norte da região de Entre Douro e Minho, perante a afirmação dos filhos segundos da Nobreza que acompanham o “ primer inter pares” nas campanhas contra os infiéis. Por outro lado, esta nova nobreza encontrava nas campanhas da reconquista um meio de afirmação social e de reconstituição da sua riqueza fundiária que a progressiva constituição de linhagens não lhes permitia, sendo o exercício das armas, uma das razões para acompanhar as hostes reais. Assim a conquista de novas terras a partir da linha do Tejo e terras da raia, ficaram à reserva das ordens militares e aos filhos segundos da nobreza, identificados como ricos homens eram os únicos dotados de virtudes guerreiras em função da sua formação que exercitava a violência guerreira. (Como foi o caso, das hostes militares que acompanharam D. Sancho II na conquista de Elvas). Nestas circunstâncias a Nobreza de Corte nas primeiras décadas da existência da Vila de Elvas, estava praticamente ausente sendo excepção as duas famílias da Corte de D. Afonso III, os Estevão Annes e os Aboim. Os primeiros senhores de várias propriedades fundiárias localizadas nos distritos de Évora e Portalegre e que por carta régia de 1251 recebia as primeiras terras na região de Elvas o baldio de Barbacena, que desde a reconquista era considerada terra de ninguém na pessoa do chanceler Estevão de Annes. O Chanceler do rei “Bolonhês”, um homem com carreira política na Corte e um verdadeiro senhor feudal, com grandes domínios identificados documentalmente no Norte de Portgal (Arcos de Valdevez, Valença e Monção), na Linha do Tejo (Abrantes, Santarém, Lisboa e Cascais) e no Algarve (Silves, Lagoa, Portimão, Faro e Tavira). A família Annes estava representada em Elvas por outros três nobres irmãos de Estevão Annes, Gomes Peres, e os falecidos Fernão Peres e Paio Peres num conflito entre ambos. (ANTT, 4 de Abril de 1255). Os Aboim senhores da herdade do mesmo nome, na sua posse durante mais de um século pelo menos até 14 de Junho de 1374, quando doaram a referida terra a Fernão Gonçalves Sousa, que passou a ser reconhecida pela Coroa, como vila, estendiam os seus domínios mais para sul, com algumas propriedades em Évora nomeadamente ao longo do Guadiana com excepção de algumas que se situavam no Centro do actual distrito de Beja. Mas no Distrito de Évora o seu principal núcleo de bens situava-se na região de Portel, segundo a documentação, “num extenso tracto de terra que se situava entre a ribeira de Pecenas até ao Guadiana, confrontando com o termo de Beja para sudoeste e tocando na ribeira de Dejebe para leste”. Não deixa de ser curioso, que a riqueza acumulada por Estevão Annes e João Peres de Aboim, chefes de melhores linhagens que se constituíram no Alentejo no período pós-reconquista, não só foi obtida pela sua influência na Corte Régia, em função dos cargos que desempenharam mas pela amizade e convívio com o monarca D.Afonso III. Em finais do séc. XIV, estas duas famílias, João Peres de Aboim de Arco de Valdevez e o Chanceler Estevão Annes, era identificados não só como membros da Nobreza de Corte de pleno direito, como os seus domínios senhoriais e fundiários eram só comparáveis à riqueza fundiária de Nuno Martins de Chacim que dominava praticamente as terras de Portugal situadas no Norte Interior. [ Continua]