Assim se a estrutura urbana foi crescendo e ampliando-se de um modo particular nos séc. XV e XVI, as principais ruas, ruelas ou becos, constituíram sem dúvida o núcleo a partir do qual a vila se organiza na segunda metade de Trezentos seguindo a tradição árabe na zona história. Das mais remotas destacam-se, a Rua dos Mercadores cuja denominação medieval é referenciada em todas as vilas e cidades medievais no caso da artéria elvense é datada para o ano de 1273 e foi das primeiras ruas a integrar o traçado da judaria velha em finais do séc. XV. Nas primeiras décadas do séc. XIV era referenciada com a denominação de Rua dos Açouges, considerando a descrição documental, que coloca esta via entre a Igreja Nova (Sé) e a do Salvador, tratava-se de uma área com tendência para a prática comercial, uma vez que a maior parte dos tendeiros que desenvolviam as suas actividades económicas desde 1274 pagavam foro aos seus proprietários residentes na freguesia de Santa Maria dos Açouges mais tarde da Alcaçova. Era nesta rua da vila de Elvas que em 1498 se situava “ uns acouges antigos, de tres naves, mui grandes, todos de cantaria, e são dos melhores do vosso reino”.[ Capítº dos procuradores do concelho de Elvas, nº26 . às Cortes de 1498]. No séc. XIV destacamos outras ruas de natureza económica como a Rua dos Hortelões de 1351, que nos permite afirmar sem grandes reservas que a existência de pequenas hortas era uma característica dos moradores da paróquia do Salvador. Aliás nos livros de registo de 1351, encontramos parcelas de vinha e olival de Estevão Annes, que pagava foro ao Prior de S.Bartomoleu d’ Alfange. Por outro lado e analisando a toponímica comprovamos que as actividade de natureza económica se encontravam representadas por uma série de ruas situadas na mesma freguesia, como a Rua do Ganço (1344) que mantém essa função económica na centúria seguinte, onde se localizavam os lagares da cidade na rua do mesmo nome, que se mantiveram até pelo menos finais do séc. XVI ou princípios do séc. XVII. Não menos importante na vida económica da cidade medieval era sem dúvida a Rua do Alcamim principal via da freguesia de Santa Maria de Alcácova, rua de moradores e almocreves com informação documental frequente desde segunda metade do séc. XIV, mas com importância económica desde o período árabe, como espaço provável de exploração de cereais nos limites da cerca árabe. De resto não devemos ignorar que o termo (qamh) era o termo geral empregue para o trigo e que hoje identifica várias ruas portuguesas registadas na toponímia portuguesa que utilizam o termo Alcamin como são os casos de: Vila Franca de Xira, Castelo Branco, Estoí (Faro) ou herdade de Alcamins – S.Matias (Évora). As ruas de carácter profissional como a dos Mercadores ou dos Sapateiros, que se identificam com a presença dos cristãos novos em Elvas, completam-se com a actividade profissional do ofício das armas, como a Rua dos Cavaleiros (1386) ou dos Quartéis (1580) . A primeira que António Thomaz Pires, identifica como sendo de natureza onomástica considerando a relação nominal da freguesia de S. Pedro, contudo a designação de cavaleiro é uma prática atribuído à função profissional dos ricos homens que no período medieval era extensiva aos herdadores de origem nobre ou não. Ainda na dimensão da cavalaria destaca-se uma das ruas mais tradicionais e populares dos tempos medievais, a Rua da Carreira (1587) verdadeiro espaço de lazer para a cavalaria local que aí fazia disputar os seus torneios no contexto da arte de bem cavalgar. Durante o séc. XV e XVI, surgem com mais evidência as ruas com denominações de nomes comuns e quase todas com moradas de casa, tal como a de: João Fangueiro (1494); Gonçalo Varela (1500) ; João Vaz de Pousada (1523) cavaleiro; João Preto (1505), identificado como mercador, Gil Ferreira (1535), João Paes (1547); Pessanhas (1559), de família nobre de origem genovesa que defendeu fervorosamente a União Ibérica; Heitor das Sillas (1571), Luís Mendes de Vasconcellos, da nobreza do reino, João Rico (1581), de origem judaica e reconhecido como Dr., exercendo a profissão de físico, Gaspar Gomes (1590); João Sotil (1592) , que na documentação do Cabido da Sé, designa a partir de 1597 esta artéria como a Rua da Sapataria Velha e dois anos mais tarde Rua de Olivença (1599) ou seja em todos os casos referimo-nos a uma ou mais artérias da Judaria Velha. Outras de tradição histórica desenvolveram-se até finais da Baixa Idade Média como a de João de Olivença (1543), cuja referência nominal herdou da antiga porta fernandina e nesta perspectiva trata-se de uma das ruas de denominação histórica mais antiga de Elvas quando se considera a pesquisa toponímica. As ruas direccionais praticamente não fazem parte da toponímica medieval como por exemplo a Rua de Santarém aberta ao público provavelmente em meados do séc. XIV e referida pela documentação com alguma frequência entre 1361 até finais do séc. XV nos livros de testamentários. A toponímica referente à Cristandade estava subjacente em todo o período medieval como são os casos dos ruas de São Lourenço (1387), S. Mamede (1477) , Travessa de S. Miguel (1536), S. Martinho (1597). Em finais do século XV , Portugal Medieval limitava-se a nove cidades que eram em simultâneo sedes de bispado por ordem alfabética: Braga, Coimbra, Évora, Guarda, Lamego, Porto, Silves e Viseu, mas vilas urbanas como Guimarães, Beja, Elvas , Lagos e Setúbal já superavam a demografia e o desenvolvimento económico das urbes nortenhas Lamego, Guarda e Viseu assim como a desenvolvida cidade do antigo Algarbe Andaluz, Silves. Postado Arlindo