A chegada da Linha de Leste ao Caia contribuiu para a acelarar a modernização agrária.
Mapa agrícola do Alto Alentejo - 1866 - àreas de ocupação e exploração agrícola
O campesinato de um modo geral era adverso à modernização agrícola uma ameaça ao emprego
Entre a Regeneração e a I República, o trabalho nos campos na planície caracterizava-se pelo esforço humano, em que a robustez física e o trabalho manual era a única característica dominante na exploração económica da propriedade. Em terras da raia, a mecanização da agricultura é uma realidade de fins do séc. XIX embora alguns agrónomos da região na imprensa regional reflectiam a emergência de uma melhor exploração dos solos e das culturas denunciando que “ tudo é feito ao acaso; tudo se espera da Providência”. De facto, a falta de conhecimentos sobre a exploração da terra propriamente dita e da apetidão dos solos para a sementeira de determinadas culturas, juntava-se a falta de instrumentos modernos e eficazes que então era objecto de aplicação na agricultura do Ocidente. Por outro lado, a imprensa periódica no seu noticiário reforçava a opinião de meia dezena de proprietários e lavradores, sobretudo com formação académica superior do distrito de Portalegre, em que a agricultura dependia exclusivamente da natureza, como se pode comprovar nas seguintes notícias no Elvense em meados da década de 1880: “ O tempo tem corrido favorável à agricultura. As oliveiras apresentam-se com um aspecto prometedor de uma boa colheita. As sementes brancas têm dado magníficas fundas especialmente elevadas”…”As geadas que caíram nas últimas noites produziram consideráveis prejuízos nos pomares de esta cidade. Em Varche há proprietários que calculam as suas perdas em centenas de mil réis” . Por essa época, o sistema de rotação quinquenal foi substituído paulatinamente nos municípios da raia portalegrense nomeadamente na Vila de Campo Maior e nas aldeias dos arredores do concelho de Elvas, onde o esforço do arroteamento dos campos era notório e distinguia-se na realidade regional. A entrada de adubos químicos nas últimas décadas eram visíveis um pouco por toda a região em finais do século XIX ainda que a maioria dos lavradores e rendeiros continuavam a utilizar o estrume animal como elemento regenerador dos solos. Na verdade, a entrada dos primeiros fertilizantes químicos em terras do sul do distrito portalegrense ocorre numa casa agrícola elvense por volta de 1884 mas seria na década seguinte que tais produtos se generalizam associados ao plantio das sementeiras cerealíferas, fruto das campanhas publicitárias em revistas e periódicos que se vendem nas casas comerciais das duas cidades portalegrenses, no caso particular dos jornais destacavam-se alguns artigos científicos que acabaram por contribuir para a formação de uma nova mentalidade nos processos de organização e exploração da terra, mais evidente na transição para o século XX. De referir também que essas reflexões descritivas evidenciavam as vantagens e os numerosos benefícios que o seu emprego determinava, de resto com a chegada da linha ferroviária de Leste à fronteira, as estações de Elvas e da Vila Santa Eulália eram o ponto de chegada dos super fosfatos de cal solúveis em água que de seguida eram distribuídos pelas casas agrícolas e herdades da região, de uma maneira particular a estação de santa Eulália tornava-se um verdadeiro entreposto de abastecimento para as terras vizinhas de Monforte, Arronches e Campo Maior. Mas o grande desafio, a lavoura regional foi sem dúvida a questão da mecanização, no distrito de Portalegre e nos municípios integrantes nesta circunscrição administrativa, este processo foi tardio quando se compara com as realidades agrícolas de outras regiões agrícolas e a primeira máquina agrícola que evolui nos solos do Distrito, ocorreu quando o lavrador Joaquim lúcio Couto, rico lavrador e proprietário da Quinta das Longas, alugou uma debulhadora mecânica a Sebastião Alvarez, grande lavrador do município de Borba para a debulha e limpeza. O êxito da experiência levou a que o referido lavrador elvense adquirisse uma máquina Garret por volta do início da década de 1880, mas tal compra não foi seguida pelos seus pares que achavam que tais máquinas eram excessivamente caras, um facto para os médios e pequenos lavradores, considerando ainda que na sua maior parte no sul do distrito tratavam-se de rendeiros e como tal sem grande capital de investimento. Também a chegada das máquinas aos campos também não era bem aceite pelos trabalhadores rurais que eram adversos a esta inovação, cuja aplicação lhes tiraria o “pão”. Assim, só na primeira década do século passado, que a mecanização tornava-se uma realidade no eixo, Arronches, Elvas e Campo Maior, fruto em parte do empenho do grande proprietário da região, Lobão Rasquilha que associado a Augusto de Andrade, negociou directamente com o Ministro Elvino Brito, conseguindo que um dos depósitos de máquinas agrícolas que seriam instalados pela Direcção Geral da Agricultura ficasse instalado em Santa Eulália que se convertia cada vez mais num pólo agrícola regional ao serviço dos municípios de Elvas, Arronches e Campo Maior. Todavia, entre o aluguer e a compra, a aversão às máquinas era evidente quer dos proprietários quer dos trabalhadores e o som das máquinas só viriam a perturbar a vida quotidiana rural, nos anos vinte quando o cereal “desgrenhado” nas propriedades rústicas elvenses, o “coração” da agricultura da raia atingia os 50% e eram cerca de cinquenta as debulhadoras registadas em 1921 ou seja o dobro do número de máquinas no início de 1911. Por último de referir que o sucesso da expansão da mecanização deveu-se a uma intensa campanha dos representantes oficiais das máquinas Garret, Marshall e Ruston, que através da imprensa apresentavam os seus modelos, as suas características e as suas vantagens, com a viragem de século, as referidas marcas tinham já os seus representantes com lojas próprias nas cidades do distrito e a partir de então se assistiu à transformação definitiva da paisagem agrícola com a introdução de vários tipos de maquinaria em terras do Distrito de Portalegre.