Os principais vultos da I República na Cidade de Elvas
António Torres de Carvalho
Júlio de Alcântara Botelho
José Barroso
Tenente Coronel Miguel Santos
Dr. João Camoesas
Dra. Adelaide Cabede
O debate político no burgo elvense em meados do século XIX estava praticamente determinado pelos círculos eleitorais, nomeadamente durante os ciclos eleitorais independentemente se o acto eleitoral tinha como finalidade a eleição do deputado distrital ou da vereação local. Era aliás, durante esses períodos eleitorais que os partidos locais surgiam alguns deles praticamente em função do acto eleitoral e como partido organizado durante o período da monarquia constitucional, era sem dúvida o Progressista que estava minimamente organizado e que de resto foi fundamental para as suas frequentes vitórias eleitorais na vida local durante o último quartel de novecentos.Na verdade, já em meados do século os Progressistas em Elvas distinguiam-se dos restantes núcleos que existiam no Distrito de Portalegre onde os Regeneradores eram a principal força partidária, numa época em que as organizações partidárias estavam longe de se caracterizar como partidos de militantes e os seus êxitos eleitorais dependiam sobretudo dos figuras mais influentes da localidade . O Regeneradores do ponto vista político, defensores da propriedade privada, da ordem e do progresso, contavam com alguns distintos membros da aristocracia local no seu seio, mas o seu carácter centralista não era apreciado pelos elvenses que se reviam no Partido Progressista, defensor da descentralização e de certos princípios apreciados pela elite local como o alargamento do corpo eleitoral e das reformas na instrução pública e na boa organização financeira e contabilística do estado, estas ideias estavam subjacentes na elite intelectual local, que através das folhas periódicas, explicavam a importância e o alcance de tais ideias na modernização do País. Mas de ponto vista operacional o modo de actuação não era muito distinto da forma de actuação dos Progressistas, aliás na transição para o século XX, o partido tinha-se tornado um verdadeiro feudo da família Nunes da Silva, como se comprova, na denúncia velada na edição nº33 de 1866: “Os agrupamentos políticos em Elvas, que não regulam pelo número de sujeitos que se podem permitir a honra de receber em sua casa meia dúzia de parentes e amigos, arvorando-se logo ali chefe de uma facção”.Na verdade a política partidária na cidade centrava-se não na luta política propriamente dita mas na luta pela liderança do partido a nível local, tornaram-se célebres as lutas entre Eusébio Nunes da Silva e o Dr. João Henriques Tierno, atacando-se mutuamente na imprensa periódica. De facto, o partido inicia a última década do século profundamente dividido, O Correio Elvense, fundado em 1889, pelo Dr. Tierno, era outra voz do Partido Progressista e um adversário do Progresso de Elvas, a referência da palavra dos Progressistas desde 1886. Esta data cronológica, marcou o auge dessa divisão dos progressistas elvenses como testemunhou o Prof. Doutor Frederico Laranjo, o líder regional e um dos poucos políticos do distrito que cultivava a aproximação à classe política local, como se comprova na citação de António Ventura, referente à edição nº309 do Distrito de Portalegre em, quando se lê “Quando o Partido Progressista subiu ao poder em 1886, pediu o Sr. Eusébio Nunes que fosse governo civil de Portalegre o Sr. Dr. Tierno, se não o quisesse ser o Sr. Conselheiro Temudo; para si queria o sr. Eusébio o lugar de administrador substituto do concelho de Elvas. Opôs-se o Dr. Tierno e o seu grupo à pretensão do Sr. Eusébio, e devidamente autorizado, ofereci eu ao Sr. Dr. Tierno que fosse um dos candidatos governamentais pelo círculo de Portalegre, deixando ao mesmo tempo satisfazer a pequena pretensão que seu cunhado tinha; o Sr. Dr. Tierno recusou a candidatura, continuou a opor-se à nomeação do Sr. Eusébio para administrador substituto do concelho, e eu cruzei os braços nas questões de Elvas, esperando por ocasião que fosse ou me parecesse mais própria para conciliações. Vagando no ano passado o governo civil de Portalegre, e tendo de proceder-se a eleições de deputados, propus, como meio de conciliação entre os Srs. Eusébio e Tierno, que fosse governador civil e aquele deputado; recusando o Sr. Dr. Tierno ser governador civil, propus que ambos fossem deputados, e o público sabe que nesse mesmo periódico recomendei sem preferência estas duas candidaturas e que trabalhei põe elas igualmente” . O certo é que o Partido Regenerador nunca se afirmou como alternativa aos Progressistas apesar do prestígio do Juiz de Direito Manuel Joaquim da Matta, mas apesar de tudo a divisão existente no seu seio progressista jamais se reflectiu nas urnas, onde os irmãos Nunes da Silva, obtinham a votação necessária para ganhar a Câmara. Aliás, nas legislativas de 1890, temia-se um resultado negativo em Elvas, nas eleições legislativas face a esta luta de facções no interior do partido, o candidato Carlos Lobo de Ávila que na legislatura anterior tinha sido deputado pelo Funchal, acabou por ser cilindrado pelo candidato Regenerador em quase todo o distrito mas em Elvas triunfou contra todas as expectativas da opinião público.Todavia as primeiras ideias republicanas manifestaram-se na cidade de Elvas, de forma significativa e consistente a partir, da segunda metade do séc. XIX embora sem qualquer efeito numa cidade monárquica e leal ao rei. Sendo em parte o resultado de um conjunto de uma elite intelectual que se serviu de forma estratégica da imprensa que então constituía uma novidade no burgo elvense, mas os seus objectivos políticos bem cedo se foram definindo. De facto, na década de sessenta ainda as folhas periódicas de Elvas, davam os primeiros passos, surgiam à luz do dia periódicos como a primeira folha republicana, a Democracia Pacífica (1866), que se torna através da palavra escrita , numa voz incómoda , pela forma ofensiva e radical com que analisava a monarquia e os partidos políticos que a apoiavam . A Democracia (1869), que resultava da cisão de alguns elementos fundamentais que constituíam a folha republicana anteriormente citada, mas que continuava de forma mais moderada a denunciar o regime monárquico como a causadora de todos os males nacionais. Mas os poucos republicanos da cidade, não estavam sós e se a imprensa monárquica só se torna eficaz na década de oitenta, através das reflexões e mensagens políticas, o certo é que nos clubes, os militares e um pequeno grupo emergente de proprietários agrícolas, tratavam de pôr em causa as afirmações das folhas monárquicas, nos debates nocturnos nos clubes e nas casernas militares, procurando esclarecer os seus leitores como se comprova nas seguintes afirmação sobre o conceito de propriedade: “ ... É desvirtuado e caluniado com tanta insistência o sistema republicano pelos parasitas que vegetam à sombra da instituição monárquica .... A república aceita em princípio o direito de propriedade . repelir esse direito , fora proscrever a civilização , proclamar a selvajaria . A propriedade é um mal que produz bens imensos ou bens sujeitos a originar profundos males. Obviar quanto possível os males (....) ". Porém na década de 1860, os primeiros escritos de uma imprensa inconformada com o regime, torna-se evidente na Democracia Pacífica que eram então a única voz republicana que através dos escritos de João Francisco Dubraz ( republicano e socialista ) denunciava por vezes com a violência das palavras a centralização da classe política de Lisboa , censurava a mesma e propunha a sua substituição e que fosse o monarca a dar esse passo . Aliás a incapacidade governativa como consequência do regime monárquico, era um o tema central desta pioneira folha republicana : “ Triunfa a desmoralização! Podem estar satisfeitos . Junto do Trono , no governo , na administração , na magistratura , no exército , no tesouro , no parlamento , estão bem tangíveis as causas d ´essa decadência moral , que em breve oprimirá também a terra , a propriedade , o trabalho e a vida material da nação ”. Todavia se a conjuntura política, constitui durante algum tempo o tema predominante da campanha das hostes republicanas , uma outra ganhava expressão nas folhas de Elvas , a do alargamento da instrução pública, tratava-se de garantir os meios necessários para a sobrevivência dos próprios jornais que necessitavam de leitores e sendo ao mesmo tempo um meio eficaz para o combate ao analfabetismo popular e como tal mais um argumento para a difusão do ideário republicano . Mas a década de sessenta foi apenas um mero ensaio de um incipiente movimento republicano que se tornaria mais consistente na década de 1870 e sobretudo 1880. Nesta perspectiva podemos indicar os elementos de matriz republicana que surgiam nas folhas de Elvas em especial na Democracia Pacífica na década de 1860.
a ) Definição de conceito de república , sindicalismo e anarquismo .
b ) Explicação do funcionamento do regime socialista .
c ) Necessidade da proclamação do regime republicano.
d ) Defesa da instrução e da moral como elementos determinantes para que os cidadãos tivessem consciência dos seus direitos e obrigações .
e ) Apologia do regime democrático , como se comprova “ A democracia na actualidade , não e somente uma ardente aspiração , não é um desejo indefinível , não é uma visão que se recorta ao longe , no plano de um horizonte longínquo . A democracia é a expressão um facto - é uma realidade . A democracia é a expressão d ´este século - é o credo da humanidade “
As décadas de 1870 e 1880, marcam o aparecimento de uma imprensa política mais representativa, por vezes os jornais como Alto Alentejo editado em 1874 , surgem como folhas independentes, mas na prática são republicanas, o mesmo acontece com a proliferação dos jornais monárquicos , estes conservem mesmo o estatuto de independentes mas na prática fazem a apologia do Rei e da Monarquia . Neste período o debate público faz-se predominantemente através da palavra escrita:
De facto a forte proliferação das folhas monárquicas que assumem a dimensão política e não a menos a noticiosa, torna-se evidente num período em que a Republica como regime já se discute nos espaços esclarecidos da elite Elvense, uma vez que a média e a pequena burguesia, enquanto a nível profissional, os militares, os tipógrafos e os lavradores , tomam posições públicas nas reuniões dos clubes recreativos , nos quartéis ou nas festas aristocráticas , dos Marqueses de Penalva , a única referência da Nobreza local . Os republicanos e monárquicos, dividem a elite que se movimenta longe dos olhares populares, mas que deixa o seu testemunho nos seus escritos, que começam a chegar às classes não privilegiadas através da leitura dos periódicos feita pelos mais esclarecidos ou escolarizados, na Biblioteca Pública recentemente aberta, levam a novidade à rua, ao café ou à taberna entre a elas, a mais conhecida o do Tomás, assim os monárquicos ou mais concretamente os Progressistas, procuravam com a mesma arma p condicionar a proliferação das ideias republicanas, ainda que a luta entre as facções monárquicas e as críticas a política centralizadora do Poder Central, são objecto temático nomeadamente na década de 1880, onde o debate político e eleitoral era motivo de grandes artigos pelos principais intelectuais da cidade. Mas a imprensa monárquica, estava longe de se afirmar como uma alternativa na luta pelo poder local através da luta partidária, verdadeiro feudo dos Progressistas, Regeneradores e Históricos - que tinham nas suas folhas periódicas a sua voz. De facto, os jornais republicanos como “ A Folha Nova” de Lisboa” que circulava em Elvas com a mesma pujança das folhas de Elvas, propagando os ideais republicanos e apologia do regime republicano , ao mesmo tempo que o Centro Republicano de Elvas constitui-se e fazia editar o Correio de Elvas (1889) , assim e no fim da década , clandestinamente ou não a República tornava-se um desejo ardente de uma minoria esclarecida da população da Praça Militar de Elvas , que reunia populares , militares , professores , tipógrafos e alguns comerciantes de posse.
A década de 1890 é marcada por uma tentativa de intensificação da campanha republicana, clandestinamente ou não, o tema da república desceu ao à rua e aos pontos de encontro da sociedade Elvense. Mas, O Centenário de Camões (1880) passou despercebido como iniciativa republicana, sendo o acontecimento aproveitado pelos Progressistas para a inauguração da Biblioteca de Elvas. Ao contrário a questão do Ultimato Inglês (1890) e a Revolta do 31 de Janeiro de 1891, tiveram o mesmo impacto que se sentiu por todo o País , no caso do Ultimato , a subscrição pública levado cabo pelos republicanos para a compra de um cruzador foi acolhida com entusiasmo e patriotismo , não significando porém uma mais valia para as hostes republicanas já que tal subscrição foi também registada por personalidades monárquicas da vida local. Outro dos acontecimentos fundamentais na história da marcha republicana para a conquista do poder político, o 31 de Janeiro de 1891, não foi recebido com entusiasmo pelos Elvenses que ficaram incrédulos pelo facto dos republicanos pegarem nas armas para depor o Rei, o que mostra que a intensificação da propaganda republicana não tinha causado ainda o mesmo impacto que se vivia noutras zonas do País. Por outro lado, a tentativa de constituição de uma loja maçónica em 1893, fiel às ideias republicanos e legalmente constituída com a denominação de Loja Maçónica dos Triângulos , apesar de autorização dada pelo Grão Mestre do Grande Oriente Lusitano Unido, o Visconde de Ouguela, não se efectivou, já que número de maçons necessários para a sua constituição não se concretizou o que se compreende numa cidade fechada, controlada militarmente e com uma elite pensante à dimensão da roda dos amigos e dos espaços de privilégio da palavra escrita e oral, várias vezes referidos. Sobre estes dois acontecimentos, o Correio Elvense, considerado independente na época na prática era uma folha Progressista, é um testemunho do comportamento colectivo de uma população uma população que revelava um forte sentido patriótico: Sobre o Ultimato lê-se “ O movimento patriótico não pára afirma-se cada vez mais forte, mais imperioso, mais dominador . A dor que sofremos com a bofetada inglesa em vez de se amortecer com o tempo aparece que argumenta de intensidade e o movimento alastra... ”. Em relação ao 31 de Janeiro de 1891 “ Repugna-nos o facto de vermos militares utilizarem as armas destinadas à defesa da pátria em benefício das suas crenças, pessoas querendo assim impor a força das ideias que julgam preferíveis”. É pois neste desencontro entre o ser monárquico ou republicano ou mesmo independente ou indiferente, que se percorre a última década do século onde os sinais de mudança por vezes pressentiam-se.Não obstante a divisão entre monárquicos e liberais a questão da descentralização político tornou-se um objectivo comum. De facto durante o período em que vigorou a monarquia constitucional, o exercício do poder local era muito limitado e a capacidade de aprovar e desenvolver projectos por parte das vereações locais estavam igualmente restringidas. A provação de qualquer projecto lei estava quase sempre condicionada pelo volume muito escasso de recursos monetários disponíveis, de tal forma que nas pequenas vilas do Alto Alentejo era normal e frequente o recurso à banca como instrumento que permitiria suportar os gastos ocasionados pela execução das obras públicas, tendo em conta de que os meios financeiros de origem estatal não eram suficientes. Outra condicionante da actividade municipal era o número reduzido de funcionários e as suas limitações para o desempenho para determinadas funções, já que de um modo geral não se tratava de pessoas dotadas com uma qualificação profissional para o exercício das mesmas. Mais grave para a concretização das realizações dos governos municipais era sem dúvida os seus orçamentos muito escassos em termos financeiros, pese a existência de alguns tribunos que podiam ser cobrados pelos municípios. O código de 1895 reconhecia a reduzida capacidade de realização dos poderes locais: “ (….) pouco ou nada têm podido fazer no que respeita a viação, instrução e beneficência, polícia, higiene e outros serviços municipais, outrora quase não existentes em muitos pontos do país (…)” . A cobrança de diversos impostos municipais era o único meio que podia utilizar a fim de equilibrar o orçamento dos Câmaras, tratava-se dos impostos directos e indirectos. Os primeiros incidiam sobre a riqueza dos proprietários de acordo, pelo menos em teoria e os segundos chamados de “real água ou real do vinho” , eram impostos que eram cobrados pela ocupação do espaço municipal nomeadamente quando da realização de feiras e mercados. Neste contexto, os subsídios oficiais, procedentes do Estado ou do próprio distrito, eram fundamentais para as aspirações da classe política elvense. Todavia tal apoio económico concedido pelo poder Central era uma realidade de carácter excepcional e dependia, na prática, da capacidade de influência das autoridades locais, ou melhor, pela maior ou menor proximidade da classe política nacional. Para tal os actos eleitorais para a designação dos Deputados às Cortes era um momento determinante para a designação de uma personalidade capaz de fazer eco das revindicações locais de resto a cidade de Elvas durante a monarquia constitucional foi quase sempre uma “baluarte” eleitoral dos partidos governamentais.Apesar de tudo, a classe política local jamais pactuou com as tentações centralistas e nomeadamente com o Código Cabralista que vigorou entre 1842 e 1878 e com a persistência da vontade do Governador Civil sobre as aspirações dos executivos municipais. Não é por acaso que os periódicos locais numa atitude formativa procuravam explicar nas suas folhas o que era a descentralização e a sua finalidade, como se lê em 1870, num periódico local na primeira semana de Abril :
“ O que é a descentralização?
É a simplificação em todos os ramos da administração pública.
É a igualdade de direitos entre a capital e a província.
É a abolição dos vínculos.
É melhorar por todos os modos a instrução pública.
É a formação dos bancos de crédito para favorecer a agricultura.
É a repressão da emigração.
Todavia, o Código Administrativo aprovado em 1886 foi um autêntico golpe às poucas funções autónomas das câmaras municipais que manifestaram o seu descontentamento face reforço dos poderes concentrados na figura do Governador Distrito . A política governamental baseada na centralização política, manteve-se com a mesma atitude de reduzir as competências dos municípios em favor do Governo Central e das Juntas administrativas até ao fim do século XIX. De tal forma, que a capacidade de execução das Câmaras Municipais estava limitada a um conjunto de obras e iniciativas muito reduzidas, tais como: construção de estradas e caminhos; assistência social; instrução pública, salubridade e pontualmente em apoios em matéria da actividade agrícola e comercial. Com a implantação da I República o sistema centralista e centralizador, que marcou os últimos anos da Monarquia Constitucional se manteve ainda durante algum tempo com base no Código Administrativo de 1896, uma vez que os republicanos enquanto oposição jamais preparam qualquer projecto de reforma do sistema administrativa, mas o debate em torno desta questão, marcaria os primeiros anos do novo regime. E foi neste contexto que devemos observar a promulgação da Lei nº88, de 7 de Agosto de 1913 que marcaria um tempo novo na Administração Local, apesar de tudo a nível das competências municipais, continuava a manter a maior parte das tarefas concedidas pelos códigos de 1878 e 1898, como sejam: as construções de estradas e a reparação de pontes, ruas e caminhos (rurais); a possibilidade de subsidiar o ensino e a educação o criação de serviços municipais, como por exemplo, o abastecimento de água a luz eléctrica que estavam associados havia algumas décadas às competências e iniciativas do poder local. Contudo surgiam uma nova competência que permitia às autoridades municipais, a capacidade de expropriar todos aqueles bens rústicos ou urbanos, que fossem julgados necessários para o serviço das populações ou melhoria dos recursos municipais.Por fim, a Lei nº 88 determinava como tarefas obrigatórias municipais a programação e execução de obras da sua competência directa, tais como a construção, reparação e conservação dos poços do concelho, a nomeação dos tribunais de primeira instância, o pagamento do custo das obras públicas, a arborização de baldios ou o custo das obras públicas, a arborização dos baldios ou os gastos ocasionais com o cemitério e restantes necessidades locais, tais como a instrução primária, os planos de vacinação ou a polícia e segurança municipal. No final do regime e face às várias reformas constitucionais era possível já definir um esboço de um orçamento de um executivo com rubricas bem definidas mas sem grande alcance de ponto de vista autonomia dos poder local face ao Poder Central:
Projecto de Orçamento municipal característico em finais da Monarquia constitucional
(1900-1910).
Principais tipos de medidas camarárias:
I - Correspondência: -
Cartas Régias, Oficiais e Particulares.
II – Ofícios: -
Entrada de Documentos para a Administração Pública.
Entrada de Documentos para a Administração do Concelho.
Entrada de Documentos do Governo Civil
III - Requerimentos
Subsídios particulares:
- Velhice, doença e Invalidez.
- Requerimento para Loteamentos particulares.
- Pedido de utilização de espaços municipais.
IV – Execuções em % e área de interesse público:
Concessões (15%); Serviços (12%) e Obras Públicas ( 38%)
Mas quando se considera as grandes obras realizadas durante a Monarquia Constitucional (1850-1910), pelos Partidos Regenerador e Progressista, na cidade de Elvas destaca-se desde logo como obras de referência, as estradas e a canalização da cidade que já integramos na caracterização da cidade, numa época em que financiamento de tais obras era um dos grandes obstáculos a acção das vereações de Câmara. De resto a comparticipação dos cidadãos nas obras públicas de pequena dimensão foi uma realidade muito comum, desde a construção de fontes por iniciativa particular à cedência de espaços privados para a realização de obras públicas como se lê em Actas de Câmara, como por exemplo: “O senhor Presidente informou a Câmara que o Senhor Conde São Martinho cedeu gratuitamente cerca de 2380 metros quadrados de terreno para a estrada municipal de Barbacena” . Na verdade quando se consulta o balanço da actividade das vereações após a conclusão de um mandato, observa-se desde logo que o mesmo se limitava a gerir as finanças públicas e a resolver questões pontuais da população, considerando a obra de José Inácio Pereira encontramos como as principais referidas pelo próprio: A conclusão do abastecimento da Fonte do Largo da Misericórdia, a limpeza integral do cano da cisterna, a criação da hospedaria militar, a limpeza periódica da cidade, a introdução de vinte lampiões a petróleo e os troços de calçada entre a Ruas dos Chilões até ao Colégio; de S. Pedro até a de Olivença e toda a rua de Olivença . Todavia não podemos deixar de referir outras obras de referência que marcaram de um modo particular o período da monarquia constitucional como a abertura da Praça Militar ao exterior com a construção do Jardim Público, que segundo Vitorino de Almada tornou-se no lugar: “O mais aprazível sítio de Elvas, que pouco a pouco vai conquistando a celebridade de um passeio de primeira ordem. Sobre o terreno que outrora cobria a sombra densa de álamos e amoreiras, e pó quase nu, estava ligada às ideias fúnebres de um cemitério, que se fundou graças ao bom gosto de uma das últimas municipalidades” . A questão da iluminação na cidade já que as vilas e aldeias do concelho de Elvas estavam simplesmente abandonadas, por falta de meios económicos o próprio Presidente da Câmara, Ezequiel Cândido de César Vasconcelhos, proponha que “ concluo que não haja iluminação nos montes de luar, excepto quando estes pelas névoas se tornem escuras ” ou seja pretendia que não se gastasse os dinheiros públicos na aquisição de azeite nos candeeiros públicos. O debate sobre a iluminação da cidade tornou-se evidente a partir das últimas décadas do século XIX, altura em que se discutia qual o tipo e o meio a adoptar. Na verdade o sistema de iluminação da cidade estava já ultrapassado pelo progresso e uma parte considerável dos candeeiros de azeite eram datados de meados do século. Esta situação fazia parte da consciência da classe política local que era frequentemente criticada pela imprensa local , todavia a prioridade dos Regeneradores e dos Progressistas, esteve centrada até a década de setenta na abertura de novas artérias e na respectiva canalização. O debate sobre a iluminação da cidade tornou-se evidente a partir das últimas décadas do século XIX, altura em que se discutia qual o tipo e o meio a adoptar. Na verdade o sistema de iluminação da cidade estava já ultrapassado pelo progresso e uma parte considerável dos candeeiros de azeite eram datados de meados do século. Esta situação fazia parte da consciência da classe política local que era frequentemente criticada pela imprensa local , todavia a prioridade dos Regeneradores e dos Progressistas, esteve centrada até a década de setenta na abertura de novas artérias e na respectiva canalização.Mas a verdade é que em vésperas da implantação da República a cidade de Elvas era monopólio do Partido Progressista que girava à volta da família Nunes da Silva, o caciquismo era a prática dominante, com base num pequeno número de lavradores e comerciantes que criara entre si uma rede de interesses bem sustentada. Na qual os comerciantes desempenhavam um papel fundamental em função do contacto diário e pautado por favores a uma população predominantemente de base rural e pobre. Essa realidade era tão evidente que ultrapassava, o balcão comercial, tal forma que “O Correio Elvense”, expressava com todo o vigor a vontade Progressista, quando em plena campanha eleitoral registava mensagens como a que agora citamos: “Não troque o voto por uma regalia presente, porque essa venda pode custar-lhe a supressão de muitos privilégios” .
A experiência republicana e o avanço das forças nacionalistas.
O século xx , quando se inicia em Elvas , a classe dirigente da cidade está em plena transição, uma nova era marcaria a primeira década do século , em termos de novos valores quer ainda em termos de organização e estratégia política . De facto na vida política, praticamente Eusébio Nunes da Silva, o velho chefe do Partido Progressista, ainda inicia a nova centúria como Presidente da Câmara (1900-1902), mas é fundamentalmente um homem do século passado, tal como o seu antigo rival Dr.José Tierno da Silva. A nível da organização política, pelo menos até Presidência de David Nunes da Silva (1902-1905), continua ter como base estratégica política a sua família aparentada, algumas famílias de lavradores e com a integração da família Tierno e com o apoio tradicional de uma dezena de comerciantes da cidade, no entanto a meio da década novos valores se foram afirmando, o Dr.António Santos Cidraes, liberal por convicção que se destaca dos demais, pela sua palavra fácil e vibrante e sobretudo pela sua formação académica. Todavia com é a chegada do seu companheiro político e amigo Doutor Ruy de Andrade, marca o regresso da “classe da lavoura” nas disputas pela liderança da Câmara de Elvas, constituindo a partir de então em termos sociológicos e políticos, uma força política de facto e não aparente se tivermos em consideração os filiados e dirigentes políticos, não só tinham melhorar preparação académica como também defendiam a modernização e o progresso da cidade. A ascensão da classe dos lavradores, que triunfa sobre a dos comerciantes no final do século XIX numa sociedade estritamente rural, não se justifica apenas pela posse da terra, mas também pela formação académica que distingue os novos lavradores como os Drs. Ruy de Andrade, António dos Santos Cidraes ou João Pinto Bagulho, cuja acção política em nome de Elvas manifestava-se directamente na acção da Câmara ou dos partidos a que pertenciam nomeadamente o Regenerador Liberal e a Concentração Liberal. Contudo, os “ doutores” como eram reconhecidos na sociedade local, mas integravam a “classe agrária”, na medida que eles próprios tornaram-se proprietários de terra, adquirindo por arrendamento algumas propriedades locais.De facto o período de vigência política de David Nunes da Silva, marcava o período de vigência dos comerciantes que se verificava desde as duas últimas do séc. XIX, em função da novidade das suas lojas, por vezes representantes pelas grandes casas comerciais da capital, como a Casa Senna e os Armazéns do Chiado. Contribuindo para a valorização e dinamização comercial com base na moeda que permitiu a circulação monetária num período em que a troca de géneros continuava ainda a resistir nas zonas agrícolas como forma de pagamento. Todavia, antes do séc. XX o vil metal já era a base da riqueza da fundiária através da venda da sua produção agrícola para os mercados regionais e nacionais, não podemos esquecer a importância da Linha de Leste no enriquecimento dos lavradores, assim tratados pela documentação oficial independentemente do seu poder de compra. A vida política local na primeira década do século seria marcada por uma acção política morna, longe da intriga local que foi característica no fim do século passado onde os Nunes da Silva e os Tiernos procuravam dominar a liderança do Partido Progressista e simultaneamente disputavam a Câmara. Porém as tensões políticas entre monárquicos e republicanos, no fim da primeira década do século voltavam a animar, depois de um período de paz (1900-1908) ou de indiferença, “ tem trazido a separação de rivalidades, mesquinhas e ambições desmedidas (...) sendo Elvas a mais importante povoação ” . Apesar de tudo, o descontentamento social tornava-se evidente na elite intelectual da cidade, que reflectia de forma periódica a realidade nacional e se os Progressistas mantinham-se vigilantes já os Republicanos tomavam livremente a palavra e o grupo próximo de António José Torres de Carvalho, proprietário, comerciante e fundador dos principais periódicos da cidade inicialmente afectos ao Partido Progressista, viviam com apreensão a forma ditatorial como João Franco dirigia o País. O seu amigo, João Camoesas trazia as últimas notícias de Lisboa e o Correio Elvense abria discretamente as suas páginas aos republicanos, que defendo as virtudes do sistema republicano, não deixavam de dar sinais de esperança aos seus leitores: “ Sente-se já, embora ainda não se veja, qualquer coisa de novo, que no nosso mundo político vai em breve aparecer” . Mas convém, lembrar que a imprensa Elvas continuava a ser controlada pelos monárquicos, mesmo o Correio Elvense só aderiu ao novo regime em 1911, mas a abertura da sua folha aos republicanos devia-se a Torres de Carvalho, que embora tendo no seu círculo de amigos a maioria das principais figuras do Partido Progressista, correspondia-se e tinha na capital laços de aproximação e amizade com republicanos como Costa Galopim, Laranjo Coelho, Morais Sarmento e Bruno Sampaio. Todavia a imprensa política em Elvas, estava como que adormecida ou desencantada com a realidade que marcava o fim do regime. O Elvense desaparecera em 1904 para reaparecer mais tarde, O Notícias de Elvas em 1906 e O Liberal estava prestes a desaparecer mas continuava a ter a crença no Liberalismo e a questão republicana, não era objecto de reflexão nas suas folhas e aos seus mentores tornaram os seus periódicos quase exclusivamente noticiosas com excepção das visitas régias que desse um acontecimento um tratamento ímpar nas folhas do seus periódicos. Com tudo, a defesa e a reflexão das ideias republicanos não era tão ofensiva como se pode comprovar por uma leitura atenta e minuciosa dos primeiros escritos sobre a virtude do sistema republicano, como se lê na Democracia (1874) e na Democracia Pacífica (1884).Apesar de tudo os Republicanos, estavam já organizados e reuniam-se regularmente, chegando a publicar um panfleto em nome das virtudes da República na Primavera de 1907, assinado por um conjunto de personalidades locais e a 9 de Janeiro no Sport Club de Elvense realiza-se a primeira conferência republicana com a intervenção de figuras republicanas do Partido Republicano Português, o Dr. Bernardino Machado e o Dr. Baltazar Teixeira, a convite do Dr. João Camoesas, que termina a sessão afirmando que a solução para a realidade portuguesa e para o seu povo, era a República. Mas a sua com existência legal, torna-se efectiva em desde 12 de Março de 1908, quando se constituiu na cidade de Elvas a primeira Comissão Republicana, sob direcção de Júlio Alcântara Botelho que era oriundo de uma família aristocrata, conservadora e que não se filiava nos ideais Progressistas, de resto o seu avó o Visconde de Alcântara tinha sido durante décadas o rosto do Partido Regenerador, figura prestigiada fora amigo pessoal de Fontes Pereira de Melo que seria determinante para a sua nomeação de Governador Civil do Distrito de Portalegre durante a fase áurea da Regeneração. A referida comissão estava assim constituída: Presidente, Júlio Alcântara Botelho, Vogais, Matias Florêncio, José Joaquim do Príncipe, Secretario: Adelino Nunes Calado Cavalo e Tesoureiro: Jaime Artur Ferreira Marques.A serenidade apesar de tudo marcava a vida quotidiana da cidade as palavras de ordem da república, não chegavam à maioria da população adversa mas sobretudo indiferente aos movimentos republicanos e monárquicos, que se organizavam e se constituíam, contudo as facções sociais mais endinheiradas ou com formação académica, ao contrário da passividade popular revelava-se activista, predominando nos seus debates o sistema político vigente mais do que o regime, ainda que no início do século os valores liberais fossem os ideais cultivados por essa elite que tanto dignificou a cidade de Elvas. Essa tendência era evidente na Concentração Liberal onde algumas das suas principais figuras acreditavam que a mudança era apenas uma questão de tempo
As elites e as forças políticas Elvenses -1908-1910
Regeneradores Liberais
José Silva Picão
Ruy de Andrade
José Torres Costa
Manuel D´Azevedo e Silva
Concentração Liberal
Dr. João Pinto Bagulho
Matias Florêncio
Manuel Joaquim Lapa
João Miguel Caldeira
Joaquim Francisco
Augusto Silva
Comissão Republicana
Dr. João Pinto Bagulho
Matias Florêncio
Manuel Joaquim Lapa
José Vicente Bravo Barroso
Joaquim José Lopes
O fim da década abanava as estruturas do regime monárquico, a aristocracia de sangue praticamente tinham desaparecido e na época contemporânea não chegava a meia dúzia de família, os Pessanhas e os marqueses de Alegrete, eram as únicas famílias, monárquicas com ligação e reconhecimento real, não podemos esquecer que os seus palacetes serviram para hospedagem da Corte nas últimas viagens a Elvas. Os Progressistas, perdiam influência na vida local os Nunes da Silva e os Tierno estavam praticamente retirados na vida política, as figuras em ascensão na cidade filiavam-se nos ideais liberais eram os casos do Doutor Ruy de Andrade ou do Dr. António dos Santos Cidrais.O tempo da Monarquia Constitucional esgotava-se na manhã de 5 de Outubro de 1910, mas só em plena tarde pelas 17horas em ponto que a nova bandeira republicana era hasteado no quartel-general. Junto aos Paços do Concelho, começava a grande festa popular e cabia ao Presidente da Comissão Republicana, Júlio de Alcântara içar a nova bandeira do regime, seguindo-se do uso da palavra, de José Barroso, José Lopes e o Dr. João Camoesas que se associando, ao entusiasmo popular dirigia-se à multidão, continuava a pedir ordem e sossego, saudando de seguida os heróis de Lisboa. Entretanto os ventos da revolução de Lisboa, só chegavam às populações rurais e Vila Fernando era a primeira a aderir, a 12 de Outubro, o Padre Marques Serrão explicava as razões da mudança do regime e afirmava que “o povo é soberano” e não está “sujeito à mais leve pressão política”. O Dr. João Camoesas explicava o fim da monarquia em quatro palavras “a fraude, a corrupção, o despotismo e o saque” e anunciava as primeiras eleições para 12 de Novembro de 1910 e deixava o recado que “os caciques devem ficar calmos que vamos cumprir” Os meses finais da primeira década do século XX, ficaram marcadas pelas comemorações republicanas, que têm lugar um pouco por todo o concelho de Elvas, enquanto novas adesões à causa republicana são registadas como os professores, militares, empregados comerciais, funcionários públicos, farmacêuticos, mas também alguns lavradores e comerciantes que umas semanas antes eram reconhecidos monárquicos convictos.Em termos políticos a vida política local nos primeiros anos do novo regime tornou-se um feudo Partido Republicano Português, mais tarde Democrático,Mas seria durante a Grande Guerra, que uma nova tendência começava a se manifestar em certos círculos mais fechados, a nacionalista que incluía um conjunto de personalidades que tinham uma influência notável nas junto populações vizinhas (casos de Santa Eulália e Barbacena, onde radicava a base económica dos notáveis de Elvas, Arronches e Campo Maior) e que estariam na base das pretensões monárquicas e nacionalistas através da forte personalidade do Dr. António Sardinha. Esta figura política, que se tornou como uma referência da política nacional num breve espaço de tempo, tinha na sua Quinta do Bispo o seu espaço de reflexão, a mesma era propriedade de sua mulher oriunda da família Nunes da Silva, que durante quase duas décadas representou os interesses Progressistas e que agora estava retirada da política mas continuava fiel aos ideais monárquicos. António Sardinha, Bacharel em direito e que inicialmente militara as fileiras republicanas e questionando a instabilidade político-partidária que marcava a prática governativa do novo regime, defendia a necessidade de restaurar a monarquia. E nesse contexto defendia o regresso à “tradição portuguesa” um das ideias fundamentais do Integralismo Lusitano, doutrina política que não aceitava a ideologia republicana, que se opunha ao liberalismo político e económico e ao ideário da Revolução Francesa ou de outros processos revolucionários derivadas da mesma, segundo Oliveira Marques: “…os integralistas erguiam-se contra o individualismo e a soberania popular, com as suas expressões políticas práticas de monarquia constitucional ou de república ”. De facto o seu projecto político integralista, que tinha em Alberto Monsaraz, Hipólito Raposo e Pequito Rebelo, entre outros, estava enunciado logo na primeira edição da revista Nação Portuguesa, voz dos integralistas editada a 8 de Abril como se comprova quando se lê que a “ (…) actividade e propaganda em prol de uma Monarquia tradicional, servirá para reunir à volta de uma aspiração honesta e consciente à dedicação daqueles que, já decrescentes da mentira democrática - parlamentar”. O perigo do cientificíssimo, do ateísmo e das doutrinas que tendiam a negar a existência de Deus, a religião e todos os princípios absolutos. Se é certo, que as ideias integralistas não foram objecto de atenção relevante em terras do Alentejo, o poeta de Monforte como era conhecido nos círculos culturais, procurava dar conhecer a sua mensagem integralista, inclusivamente no semanário “A Fronteira” de matriz republicana e onde escreviam com regularidade os seus principais adversários. Mas nas eleições de 1915, apesar do descrédito do regime denunciado pelo Dr. António Sardinha e pelos sectores mais conservadores e radicais do regime no regime, o P.R.P.-Partido Democrático obtinha o maior número de deputados e em Elvas. O novo Partido Evolucionista, resultante das dissidências do Partido Democrático, elegia em Elvas um deputado o Dr. Vasconcelos de Sá, mas a questão de regime jamais foi uma questão no debate eleitoral como pretendia o integralista elvense. As constantes mudanças de governo, sete entre 1915-1917 e a sua incapacidade de resolver as crises sócio - económicas, tinham consequências nefastas nas bases de apoio no Partido Democrático no Distrito de Portalegre . As críticas ao rumo do Partido eram visíveis na imprensa regional e António Sardinha, aproveitava a situação para afirmar que o governo republicano nem sequer servia os interesses dos republicanos, referindo-se à política de Pimenta de Castro “Dissolveu o parlamento, perseguiu os republicanos, escorraçou-os das corporações administrativas dos governos civis e administração do concelho” . Em 5 de Dezembro de 1917, iniciava-se uma nova experiência de matriz nacionalista após o Golpe de Estado, com o Doutor Major Sidónio Pais a impor a sua autoridade que com a excepção da Vila de Arronches era apreciada em todo o distrito como comprova as notícias das suas visitas às cidades e vilas da região. Os integralistas da região saudavam a política do novo Presidente da República, António Sardinha escrevia que a política de Sidónio Pais era na realidade a aplicação do ideal integralista e Alfredo Pimenta seu companheiro, aconselhava-o mais moderação, deixando claro que: Não tenhamos ilusões – escrevia em 1918 – nem esquecimentos; a situação do sr. Sidónio Pais não é eterna e, quando findar, ou regressa Afonso Costa (símbolo da República) ou temos uma monarquia .
Na verdade os tempos da chamada “República Nova” animavam o poeta de Monforte, na medida em que o sistema político português embora republicano na prática mais parecia uma monarquia. E na sua visita à cidade Elvas, António Sardinha tecia os mais rasgados elogios, acompanhando o Presidente da República no discurso que proferiu perante uma multidão que se encontrava na Praça da República “Não sirvo apenas para ser o guarda temporário do País, mas sê.lo-ei por tempo ilimitado, como presidente enquanto o Parlamento o marcar e como Português até à morte”. A figura do Doutor Major Sidónio Pais, tornava-se uma esperança para o futuro do País, os apoios claros e personalizados eram registados na imprensa local, os integralistas e monárquicos, estavam rendidos à figura carismática e aos objectivos imediatos do Sidonismo e mas também algumas figuras liberais como era do Dr. António Cidrais, personalidade íntegra e admirada na cidade. Mas a Fronteira, periódico republicano não perdoava tal apoio à causa Sidonismo e lembrava o seu currículo político “ Foi franquista e a monarquia desapareceram. O seu republicanismo de há um mês levou-o para o Partido Sidonista. É caso para assustar os seus correligionários e os próprios republicanos, dado a superstições” . As dificuldades económicas e sociais que surgiram na Europa como consequência directa da I Grande Mundial foram aproveitadas, por Sidónio Pais que intervinha de forma carinhosa em numerosos actos de caridade devidamente publicitados e apoiados pela Igreja. Nos meios populares a sua figura era “consagrada”, a sopa dos pobres financiada pelo Estado, nas cidades e vilas dos distritos, onde a fome, a miséria e desemprego, era notável num período de crise económica contribuiu para a sua enorme popularidade.Nos anos seguintes muitas das personagens que aderiram a República e sobretudo os militares estacionados em Elvas mais do que a liberdade queriam sobretudo a Ordem e a Disciplina.