sexta-feira, junho 03, 2011

8.3. A sociedade contemporânea : as classes populares -1850-1926

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A pobreza e a miséria estava associada quase sempre às "crises do trabalho"  na região do Caia
(foto de Fernando Silva Dias, in Campo Maior a Preto e Branco, coordenação de Luís Dias Caraças)


Os portais das Igrejas de Elvas foram os anjos da guarda de muitas crianças da região 


O chefe da República Nova ascendeu à categoria de Santo para as classes pobres de Elvas

A maior parte da população estabelecida no Distrito de Portalegre após os ventos do Liberalismo, estava directamente ligada a vida agrícola, realizando na sua vida quotidiana, uma serie de tarefas agrícolas complementares que incluía a pastorícia, em troca de um precário salário e formando em consequência um verdadeiro “proletariado rural”. Segundo, o Grande Dicionário de Língua Portuguesa de Domingos Vieira, caracterizava estes indivíduos que viviam do sustento do seu árduo trabalho nos campos, por oposição a classe dos grandes proprietários como “ homem do campo”, “sem educação”, “grosseiro”, “áspero e descortês”. Na imprensa periódica de Elvas, na época da Regeneração as expressões, “pobres homens”, vagabundas” e ”miseráveis”, era as mais comuns para identificar, este multidão de trabalhadores rurais que trabalhavam nas herdades locais mediante um contrato de trabalho de natureza variável correspondente às diferentes funções que exerciam, (tais como, guarda da herdade, sota, boieiro, ganhão entre outras) … De referir também que até final do séc. XIX uma parte significativa das prestações a pagar pelos proprietários rurais, não se exprimia em dinheiro mas em géneros, mas em comum durante várias décadas de Oitocentos era a época de pagamento que no concelho de Elvas, ocorria no final de cada colheita agrícola mas quase sempre durante o período da Festa de São Mateus, onde este trabalhadores rurais, por vezes iam adquirir os produtos artesanais ou agrícolas, que eles próprias tinham produzido com a força do seu trabalho. Aos trabalhadores locais, juntavam-se os itinerantes oriundos das Beiras que depois de fazerem a campanha dos cereais de Elvas, dirigiam-se para Badajoz, estes homens de trabalho, eram de resto muito “apreciados” pelos proprietários rurais da raia Alentejo/Extremadura, uma vez que estavam dispostos a realizar qualquer trabalho por salários muito baixos, que não eram de resto aceites pelos trabalhadores locais. A sua presença na cidade elvense não passava despercebida pela população local, não só deslocavam em grande número, chegavam à centena, como envolviam-se em lutas por vezes violentas quando tinham que dividir os ganhos obtidos pelo grupo e que era repartido pelo encarregado da camaradagem. Aliás a violência, era algo que perseguia estes trabalhadores itinerantes sobretudo quando chegavam à Extremadura Espanhola, nomeadamente em tempos de crise económica, aliás a documentação extremenha, refere a expulsão e a violência dos ratinhos portugueses em períodos de desemprego em Espanha nomeadamente na crise económica de 1898. Todavia, alguns acabavam por se fixar na cidade de Elvas, após o fim das campanhas agrícolas e uma parte dos mesmos durante algum tempo era identificados com a prática de mendicidade. Todavia, a mendicidade que marcou os finais do séc. XIX em Elvas não era apenas extensiva aos ratinhos das Beiras. E nesse sentido as bolsas de pobreza segundo a documentação oficial eram identificadas segundo três grupos: a ) Pobres por incapacidade de assegurar o seu próprio sustento, como meninos, enfermos e presos; b) pobres aptos para o trabalho mas incapazes de se alimentar ou vestir os seus dependentes como os desempregados, viúvas ou trabalhadores com famílias numerosas ou pobres que tinham a possibilidade de trabalhar mas eram identificados por um comportamento ocioso e marginal. Era o caso, dos “falsos pobres”, “vagabundos” ou “contrabandistas ocasionais”. O certo é que a questão da pobreza e da miséria, não deixava indiferentes certos sectores da sociedade elvense e uma das primeiras figuras da história da solidariedade em Elvas era sem dúvida o Brigadeiro José Maria Baldi, Governador da Praça militar de Elvas que durante os primeiros decénios da Regeneração criou o Asilo da Infância Desvalida com o apoio das classes mais abastadas da cidade e inclusive da própria Coroa a quem pediu apoio para esta instituição, que servia dezenas de órfãos portugueses e espanhóis, numa época em que alguns extremenhos recém-nascidos eram abandonados com alguma frequência junto dos portais das Igrejas da cidade de Elvas e particularmente junto da Igreja de São Domingos. A Casa da Misericórdia, com as suas festas de beneficência, com vista a aquisição de meios financeiros, não só para sua manutenção mas também  no apoio à multidão de desfavorecidos que apoiava, a Igreja e a acção de alguns particulares, eram outros patronos dos mais pobres que em Elvas encontra durante o Sindonismo pela primeira vez o apoio estatal com a criação da sopa das pobres nos finais da I República.