Comício Republicano na Praça de Touros de Arronches com a participação popular de gentes da raia (foto de António Ventura, in Teófilo Junior, p.19).
(foto de historiamemoria)
A melhoria das condições de vida mais do que uma revindicação popular era um acto nacional.
(in Os Rídiculos, edição de 16 de Outubro de 1916,nº1.034, Lisboa)
A falta de mão de obra para cultivo das terras abandonados favoreceu a melhoria das condições de vida e de salários depois da Grande Guerra.
Na vida regional e local, a 1ª República, suscitou e favoreceu desde logo sentimentos de desconfiança, de neutralidade e de apoio. De facto, nos sectores mais conservadores e próximos do ideal monárquico, jamais apoiaram o novo regime, todavia na cidade de Elvas tratava-se de um pequeno grupo, que não chegavam a meia dúzia de famílias uma vez que a aristocracia de sangue era quase inexistente na cidade raiana. A neutralidade, preenchia as atitudes e ambições da maioria dos lavradores locais, na verdade os antigos rendeiros da aristocracia e de alguns burgueses exteriores ao concelho e que constituíram a força do Partido Progressista durante a Monarquia Constitucional, esperavam por razões tácticas o desenvolvimento dos acontecimentos. Não é por acaso, que uma vasta maioria dos homens da lavoura, em menos de um ano estavam filiados no Partido Republicano Português, um pouco mais tarde, Partido Democrático. Constituindo os chamados adesivos e que se identificam com algumas personalidades que nasceram monárquicos, foram republicanos e morreram ao serviço dos ideais do Estado Novo, uma característica nacional e que teve grande desenvolvimento em todo o Distrito de Portalegre. Os apoios atravessaram a sociedade elvense, com alguns notáveis das famílias abastadas da cidade, com tradições políticas como a família Alcântara que serviu a causa monárquica ao longo da monarquia constitucional, mas eram sobretudo os militares, comerciantes, funcionários públicos e as camadas populares que abraçaram o regime republicano desde a primeira hora. Mas se nas elites económicas locais a hora era de moderação independentemente de ser ou não republicano, a radicalização tornava-se evidente nos campos do concelho a exemplo do que se verificou por todo o distrito de Portalegre. No inicio de 1911 a sucessão de greves tornou-se imparável em todo o norte alentejano, as causas das revindicações camponesas eram determinadas pela necessidade de uma melhoria rápida e significativa dos salários e era evidente nas herdades de Arronches, Elvas e Campo Maior, em que a mão-de-obra era abundante. Mas em Elvas, então terra de cereais as greves sucediam-se nas freguesias com maior prosperidade agrícola, casos de Santa Eulália, São Vicente, Vila Boim , Terrugem e Barbacena. A natureza das greves iam variando, já não se tratava de defender melhores salários, mas melhores condições contratuais no caso dos jornaleiros ou ainda, melhores condições de trabalho.Estes protestos rurais, foram ganhando aos poucos uma maior consciência de classe face a acção dos sindicatos que então ganhavam alguma notoriedade, na organização destas revindicações populares, algumas delas consistiam na interrupção dos trabalhos de sessões das assembleias municipais com alguma regularidade e persistência, no caso particular de Arronches. Em 1911, o deputado pelo distrito de Portalegre, Henrique José Caldeira Reis, observava com preocupação a situação de revolta que mantinha-se nos campos agrícolas nos anos seguintes (1912/1913), criticando os levantamentos populares e acção repressiva do Estado, que chegou a provocar algumas mortes, ainda que os castigos mais usuais fossem a prisão e o desterro ou exílio, para as colónias africanas. Vivia-se uma época, em que a esperança na mudança, explicava estas contestações populares que estavam devidamente sindicalizadas e no II Congresso dos Trabalhos Rurais o município de Elvas estava representado com dois sindicados operários que eram oriundos das freguesias da Terrugem e Vila Boim. No mesmo e em consequência, do I Congresso, realizado em Évora em 1911, defendiam-se uma serie de revindicações que impediam qualquer entendimento entre camponeses e operários, tais como: defesa dos melhores salários, definição de um horário de trabalho, estabelecimento de um salário mínimo, prioridade absoluta na contratação de trabalhadores locais e restrição da área de produção à mecanização. Mas, com a mesma facilidade que este movimento irrompeu por todo o distrito de Portalegre, acabou também por praticamente desaparecer. De facto, este movimento operário, popular e rural, perdeu a sua força com o desencadear da I Guerra Mundial, com o clima de repressão e de medo sobre o movimento sindical. Outras razões acabaram por esvaziar esta vaga revolucionária, como a emigração da população rural para os centros urbanos e nomeadamente para a capital, que acabou por beneficiar a mão-de-obra rural da região que devido à sua falta viu o valor dos salários crescer, numa época em que o surto da legislação republicana permitiu uma melhoria incipiente das suas condições de vida que eram todavia melhores.