quarta-feira, abril 20, 2011

8.1.3. - A experiência fabril num concelho agrícola entre a Regeneração e a I República

 A mecanização foi um desafio para elite económica elvense



A Companhia de Moagens a Vapor um exemplo do associativismo da elite económica local no final de Oitocentos.


 Os moinhos e as azenhas outra forma de assegurar a importância da moagen dos cereais no distrito.

Em meados do século XIX a indústria no Distrito de Portalegre estava praticamente limitada a um conjunto de unidades fabris que se situavam na cidade capital verdadeiro pólo industrial desde os tempos da Fábrica real. Todavia, a indústria manufactureira da cidade de Portalegre atravessava uma crise sem precedentes face às dificuldades económicas que atravessavam o sector. A sul do distrito, distinguiam-se apenas duas unidades fabris, com alguma dimensão e cujo existência, se devia à aplicação de capital privado como era o caso da Companhia de Moagens a Vapor em Elvas na transição para o século XX ou a  Fábrica de moagens a União de Campo Maior  já em pleno século XX (1928). No caso, elvense a realidade industrial desenvolveu-se timidamente e não privilegiou os têxteis como no caso portalegrense e a exploração da cortiça jamais teve a importância económica que marcou a economia oitocentista da capital do distrito. A moagem seria um sector em franco desenvolvimento, na continuidade da tradição da realidade norte alentejana desde o século XVII, os moinhos hidráulicos ou eólicos povoavam o solo das aldeias agrícolas em solo elvense como eram os casos particulares de Vila Boim e Santa Eulália. Na verdade, eram os pequenos proprietários que se afirmavam como os “grandes investidores” na pequena indústria da moagem podendo ter rendas anuais segunda a documentação na ordem dos 17.000 réis. De um modo geral, tratava-se de modestos proprietários que junto das suas pequenas hortas e pequenas parcelas de cerais possuíam o seu moinho ou azenhas, no caso particular das pequenas parcelas na margem do Guadiana. Sem concorrência, identificavam-se os moinhos edificados pelos proprietários das herdades que procediam à moagem da sua produção cerealífera que lhes rendia um valor médio próximo dos 60.000 réis. De forma generalizada e até aos finais do séc. XIX, a moagem no município elvense continuava limitada pelos seus equipamentos tradicionais de matriz medieval, mas fundamental num concelho em que o aumento populacional determinava desde logo determinava maior consumo do pão na dieta alimentar da sua população. Porém, com a lei de 1899, que ordenava que a indústria da moagem implicava a utilização da máquina na moagem , mas esse processo de mecanização na indústria elvense já tinha sido iniciado em 1884 com a Companhia de Moagens a Vapor, uma sociedade anónima que associava não só uma parte significativa de lavradores mas também os comerciantes com maior capacidade económica da cidade e das localidades rurais do concelho. O sucesso deste empreendimento fabril tornou-se evidente à medida que se avançava pelo século XX e em função da importância das bolachas e massas alimentícias no espaço regional. Um pouco por todo, o território agrícola local, identificavam-se os lagares e as azenhas ( nas masrgens do Guadiana), destinados à transformação dos produtos agrícolas e de modo geral propriedade dos arrendatários bem sucedidos e identificados então já como prósperos proprietários. Outras indústrias com alguma importância na economia local e regional, foram sem dúvida a fábrica da família Guerra e Irmão, que tendo uma dimensão manufactureira de matriz tradicional, chegou a alcançar os mercados inglês e brasileiro, com as suas frutas doces, as ameixas de Elvas que chegaram a obter reconhecimento internacional com vários prémios conquistados nas Exposições Internacionais de Paris (1955), Porto (1861 e 1877), Lisboa (1864 e 1884) Filadélfia (1978) e Rio de Janeiro (1878). A fábrica os irmãos Guerra no início do século XX, tornou-se uma das mais modernas da região com a aquisição da máquina a Vapor “Rutton”, mas que não dispensava uma mão-de-obra de cerca de cem operários. Não menos importante à dimensão regional era a fábrica de António Duarte Brazão, que durante décadas foi o fornecedor do transporte de carros movidos por cavalos ou mulas, aliás só com a ameaça do automóvel que esta firma sofreu os seus primeiros golpes do ponto vista financeiro. A sua capacidade produtiva, situava-se no fabrico de quase meia centena de veículos sem motor ao ano, para além de todo um conjunto de actividades de reparação. A empresa obedecia já a uma organização pré-industrial com serviços de pintura, carpintaria e serralharia. Outra, firma de pequena dimensão, numa Praça militar era sem dúvida a oficina do metalúrgico, Alfredo Guedes que chegou a fornecer ao exército português por encomenda do Governador da Praça Militar de Elvas a requisição de dezoito espingardas. Numa cidade fortemente agrícola e em pleno desenvolvimento comercial, a indústria não tinha de facto grande impacto económico, predominando o trabalho artesanal onde se destacavam um pouco por toda a cidade numerosos operários ou artesão, como carpinteiros, pintores e serralheiros ao serviço de múltiplos oficinas de carácter privado que marcaram a época da Regeneração até ao Estado Novo.