sábado, março 28, 2009

Os bandos nobiliárquicos na raia do Elvas e Olivença.

Hisória Local/Época Medieval :- A fronteira como espaço de passagem ao longo da sua história coincidiu com a prática do contrabando, todavia quando se analisa os processos organizados pelos alcaides de sacas da cidade de Elvas e da vila de Olivença, um aspecto desde logo se identifica, a prática do contrabando, mas com a originalidade de a mesma estar sob a organização e acção de uma aristocracia residente e até funcionalista em função dos cargos que detinham ao seviço da coroa. É neste contexto que se destacam os chamados "bandos nobiliárquicos", que tem como centro de operações a Vila de Olivença e a sua associação para práticas marginais centradas no contrabando de gados, mercadorias e armas. O roubo de gado (especialmente de cavalos) é de resto uma prática muito comum da aristocracia oliventina, que em fins do séc. XV associava alguns nobres da vila de Elvas. Assim e na última década do séc. XIV podemos identificar três bandos nobiliárquicos os Gama, os Lobo e os de Manuel de Melo, que segundo a documentação da Chancelaria de D. João II, (nomeadamente o Livro 12 - ANTT), regista cerca de 61 casos de práticas de marginalidade e violência, registadas judicialmente, sendo 55% dos actos praticados pelos Gama, 28% pelos Lobos e 17% pelo bando Manuel de Melo. De realçar também que vários casos relatos referem o confronto entre os diversos bandos em operações de marginalidade que se executaram em paralelo. Entre os fiugras da nobreza raiana destacamos, no grupo dos Gama: Bento Fernandez, castelhano morador em Alconchel, Cristovão Faleiro, escudeiro, Fernão Vaz, criado de Vasco da Gama, João Gama, escudeiro, João Gonçalves, cavaleiro da casa "del rei" . Nos Lobo: João Lobo, escudeiro, Fernão Zorro, acusado de tentar assinar D. Manuel de Melo, Lopo Esteves, cavaleiro del rei e acusado por um judeu de nome Belhamy do roubo de uma arca, com objectos no valor de quatro mil reis, Lourenço Galego, da nobreza Oliventina, vassalo do rei, exiliou-se em Castela após ter sido acusado de ferir o elvense Fernão Gil do grupo dos Melo. Nos Melo: Afonso Lourenço, escudeiro; João Castanho, escudeiro, João Lopes, natural de Oilvença mas viveu em diversos momentos no termo de Elvas, pertenceu aos três bandos em três momentos diferentes e foi acusado pelo alcaide de sacas de Olivença, para além dos crimes de roubo de dormir frequentemente com mulheres castelhanas, Lopo da Gama, criado de Manuel de Melo, rompeu com o seu grupo familiar mas acabou por ser alvo da justiça régia acusado de tentar eliminar Manuel de Melo, Lopo Lobio, outro elemento de um bando rival que se distinguiu como "operacional" na passagem de gado para Catelo . João Roiz Cabicalvo, cavaleiro e operacional de Manuel Melo foi detido em Castela, acusado de passar a raia com cerca de duzentos e cinquente carneiros. Em 1490 era um dos homens de confiança de Manuel de Melo. De realçar ainda que o parentesco familiar foi a base determinante para os conflitos gerados entre os três bandos e quase sempre provocado por Manuel de Melo, que era o alcaide de OLivença e pai do alcaide de Elvas, Rui de Melo, que não aceitando o controlo do alcaide sacas de Olivença e Terena, Vasco dda Gama, acabou por entrar em "guerra aberta" com a família Gama, a partir das pressões da Coroa feitas por Álvares de Moura que era seu cunhado. Assim em fins do século XV, os Gamas conseguem o apoio dos Lobos nestas "batalhas" familiares em que a Lei não fazia sentido para os bandos nobiliárquicos que estavam simplesmente à margem da lei. Apesar da violência gerada em terras de fronteira, perturbando a paz e o sossego no eixo Olivença, Elvas e Badajoz, o perdão acabou por beneficiar os sessenta e um componentes dos vários bandos por um perdão efectuado por carta régia por D. Manuel I, de 25 de Julho de 1501, que de resto se testemunha na sua 26º Linha quando se lê em "português medieval" : "Nos el Rey e princepe fazemos saber quantos este noso aluara vivera que quando concertamos amizades dos cavaleiros, escudeiros, lhes perdoamos todas as suas culpas comtamto que nom fosem causas de mortes, com a qual condiçom os fazemos amigos e lhe demos certo tempo pera das ditas causas virem tirar seus perdões". Postado por Arlindo Sena