História Local - A recuperação da independência de Portugal em 1 de Dezembro de 1640, foi marcada pela preocupação de defesa e de estratégia militar que a guerra do fogo determinou. De facto o castelo que havia dominado a actividade bélica medieval, quando os únicos recursos disponíveis ao sitiante eram os da antiguidade clássica - catapultas, aríetes, escadas e, a mais eficaz de todas as armas, a fome. O canhão terminou com isto tudo : a demolição dos muros de Constantinopla pela artilharia turca simbolizou, neste e em muitos outros aspectos, o fim de uma longa era na história do homem ocidental. A nova era da engenharia militar, como registou Maquievel, na obra a Arte da Guerra, Livº VII,C.1: "A nossa primeira preocupação é construir muralhas retorcidas e com vários abrigos e locais de defesa para que se o inimigo tentar aproximar-se, possa ser enfrentado e repelido tanto nos flancos como na frente". Nascia assim o conceito de Praça Militar que iria marcar a vida militar e institucional até ao fim do séc. XX, uma vez que a nova etapa da vida da cidade de Elvas até à Revolução Liberal de 1820, estava sob o comando de um governador militar que acabou por substituir a personagem do alcaide mor. Durante a Regeneração até à I República, a figura do Presidente da Câmara foi ganhando relevo mas pelo menos até ao fim da Guerra Civil de Espanha, o Governador Militar continuou a ser o representante de referência da soberania como prova toda a legislação militar válida que predomina sobre jurisdição civil. Ao longo da História dos governadores de Elvas conheceu cerca de 33 governadores para a Época Moderna e 79 para a época Contemporânea até à Guerra Civil de Espanha a partir desse período as informações documentais existem mas não estão completamente ordenadas no actual momento de investigação. O primeiro governador da cidade nomeado em 1640 foi o capitão môr D. Álvaro de Ataíde da segunda nobreza de Portugal e que marcou o domínio da aristocracia civil e militar até 1829, quando pela primeira vez um oficial de carreira o Marechal de Campo, Luís António Salazar Moscoso, governa a cidade entre Setembro e Dezembro do referido ano. O período entre 1642-1658 , marcado pelas ofensivas no eixo de Elvas-Badajoz, que terminou com o célebre Cerco e Batalha das Linhas de Elvas, foram governadores da cidade algumas das grandes figuras da Nobreza e Cavalaria Portuguesa: Conde S.Lourenço (1641); D. João da Costa, Conde de Soure (1642), D.Sancho Manuel, Conde Vila Flor (1658) ou D. António Luís Menezes, Conde Catanhede (1658). Contudo durante o séc. XVII a grande figura da Praça Militar de Elvas, foi sem dúvida João Furtado de Mendonça com várias nomeações de comando : 1682, 1671, 1675, 1678, 1688, 1702 e 1704. O primeiro Governador oriundo da mesma família foi D.Sancho Manuel de Vilhena, neto de um dos heróis das Linhas de Elvas o Conde de Vila Flôr. Em 1783 o reformador do exército português o Marechal de Campo Gullerme Valleré dirigiu a Praça Militar e acompanhou o período final das obras do Forte de Graça onde viveram na última década do século XIX alguns dos governadores da Praça num período em que a patente de Coronel surgia numa lista de que até então era recheada de Brigadeiros e Generais. O último dos Generais foi Roque Francisco Furtado de Mello (1876) numa época em que os Coronéis detinham o comando do Forte da Graça após a fase dos Generais e dos Brigadeiros estes últimos com funções de comando até 1860. De realçar também a figura do General José Maria Baldi (1851) um dos militares com maior protagonismo e participação na vida política e social da cidade ao longo da existência operacional da instituição militar na cidade. Os seus ideais macónicos estão na base da sua conduta que foi determinante para a fundação do Asilo de Infância Desvalida em plena época da Regeneração onde os interesses da classes dominantes centrava-se sobretudo nas obras públicas. Finalmente uma referência para os governadores de nacionalidade estrangeira como o já citado Valleré e os generais franceses durante o período das invasões, Michel, Giraud e Novilar. Do ponto vista militar, a Praça Militar atravessou a Época Moderna com uma força militar miliciana e com funções de socorro apesar de algumas actividades próprias da guerra de cerco sem grandes efectivos militares. Os séculos XIX e XX, destacou-se sobretudo como um espaço de estacionamento como determina a Decreto de lei de 19 de Maio de 1806 num período em que a ofensiva napeleónica ameaçava a soberania portuguesa, assim a Praça de Elvas concentrava parte do exército de linha, com 21.600 efectivos de infantaria e cerca de 9.600 cavaleiros, a partir de então assiste a decadência da praça que chega à I República com pouco de cinco centenas de efectivos todavia o último momento de afirmação com espaço de estacionamento e de mobilização ocorre já na segunda metade do séc. XX com a desencadear da Guerra Colonial, o novo conceito de cidadania, de tecnologia e estratégia militar, na transição do séc. XXI marca o fim de mais de três séculos e meio de história da Praça Militar. O fim da Praça Militar do ponto vista da jurisdição militar, não marcou o fim da patente do comando que passou a ser identificada com a figura do comandante do Regimento de infantaria nº 8 até ao início do séc. XXI, quando aquele regimento deixa de figurar oficialmente desde 30 de Junho de 2007 na relação das forças militares nacionais. Hoje a presença militar está representada pelo jovem Museu Militar, sob direcção do Coronel Aragão Varandas, antigo comandante do RI nº8 (2000-2002). Postado por Arlindo Sena