A Época Moderna, do ponto vista de periodização é marcada tradicionalmente com a conquista de Constantinopla pelos turcos, pondo fim ao Império Romano do Oriente (1453) e a eclosão do movimento revolucionário que mudou a estrutura da sociedade medieval que continuava a persistir, com o triunfo da burguesia e com o reconhecimento do “povo” como classe social (1789). 1453-1789, são na verdade dois limites que marcam o devir histórico na modernidade. No caso português, sem pôr em causa a periodização tradicional, os limites da modernidade são extensivos a 1820, quando a Revolução Liberal do Porto, lança as bases jurídicas do estado contemporâneo e da sociedade liberal. Mas, quando se analisa a História de Elvas só podemos de facto identificar os valores do liberalismo na sociedade local a partir de meados do séc. XIX, quando estão lançadas na prática as condições de afirmação e emergência de uma nova sociedade que encontra na sua origem os fundamentos teóricos do liberalismo e o esboço histórico da sociedade que evoluiu até aos nossos dias. Voltando ao ponto de partida “ Época Moderna” e a sua relação com a História de Elvas, destaca-se desde logo a sua longa estrutura política que marca este período de mais de três séculos e que constitui a “Época de Ouro” da cidade de Elvas, ainda que o séc. XVI seja a centúria da distinção. De facto, quando se inicia a modernidade a Vila de Elvas tem já todos os indicadores de uma população urbana, comprovada documentalmente desde meados do séc. XV e que de resto foram determinantes para uma estratégia régia de ascensão do aglomerado Elvense à condição de espaço urbano e defesa da soberania nacional, como prova documentação escrita e material na época das grandes construções militares, religiosas e civis. É certo que a sua operacionalidade defensiva já tinha sido testada na Crise Geral do Séc. XIV e nomeadamente no contexto das Guerras Fernandinas, mas a sua função de espaço de defesa avançada é uma realidade que se afirma em plena modernidade durante o séc. XVII, na verdade não é por acaso, que a designação de “Governador militar” de Elvas, se insere na hierarquia política - institucional da Cidade de Elvas, quando a partir de 1641, com a nomeação por carta régia do Capitão-mor, D. Álvaro de Ataíde. Ou seja ao fim de cento vinte e oito anos devida, a cidade laica, mas com vocação espiritual, deixa de estar sobre a “superintendência” de um alcaide-mor, mas de um nobre titulado com reconhecimento na carreira de armas. A sucessão de Condes e Viscondes da aristocracia do reino demonstram o valor e prestígio de servir na Praça Militar de Elvas, sobretudo em tempo de paz onde as famílias da nobreza de Portugal serviam os interesses do Estado Moderno e Absoluto numa cidade com uma nobreza local mais rica que a fidalguia medieval, mas mais modesta que a das outras cidades e vilas do reino, sem a sua notoriedade, devido ao carácter administrativo, funcionalista e espiritual da urbe elvense. Foram também três séculos que levaram a cidade e os homens de Elvas de todos os estados sociais a terras de além-mar. Ceuta, cidade fundamental nos primeiros momentos da afirmação das armas e da fé lusitana era dirigida espiritualmente a partir da Sé de Elvas, única sede espiritual com jurisdição no Império Colonial Português segundo as ordenações dos Bispos de Elvas, desde finais do século XVII. Por outras palavras mais objectivas, a criação do Bispado de Elvas, fora um processo de longo alcance e que aproximou as populações mais distantes dos bispados de Portalegre e Évora, agora integrada no Bispado de Elvas, acabou por ter um papel fundamental na cristianização dos territórios de matriz muçulmana. Espaços coloniais em que algumas figuras da raia, de Elvas e Olivença exerceram funções administrativas e militares, ao serviço da Coroa Portuguesa e no séc. XVII ao serviço do Império Espanhol. Império esse que serviu os interesses dos grandes mercadores de Elvas, como Luís Gomes da Mata Coronel que no inicio da centúria de seiscentos por “dádiva” da dinastia dos Filipes, detinha os Correios de Portugal. Todavia, a Guerra de Restauração, tinha como cenário as guerras no Alentejo, nas Linhas de Elvas evoluíram as grandes figuras da Nobreza de Armas de Portugal, destacadas para a defesa das novas edificações de matiz moderna, sob forma estrelada onde se aquartelavam a população local que com o heroísmo venceu a fome e a peste, mas sobretudo o cerco, para que a identidade Nacional fosse preservada o fundamento de Portugal como Estado – Nação, ainda que tal formulário seja uma designação do início da Época contemporânea. Foram estes os vectores, que balizaram a História de Elvas no Período Moderno, outros são mais específicos encontram-se no trajecto da história de esta nobre e valente cidade na modernidade e que serão objecto da nossa reflexão, neste ano de 2010. (Continua).