…Como era frequente nas terras de cereais que se estendiam na zona meridional do distrito, uma parte significativa dos maiores proprietários de Campo Maior, eram exteriores à sociedade local, uma vez que uma parte significativa dos mesmos eram oriundos de famílias nobres ou burguesas de outras regiões, que disputavam a posse das melhores herdades situadas no termo da vila. Um bom exemplo era sem dúvida a família Castelo Branco, que através do Doutor Carlos Vellez Caldeira e dos seus irmãos (João, Francisca e Angela Andrade), titulares na vila de Campo Maior de várias propriedades relevantes como a extensa e fértil herdade de “Nova Fria”, que foi alugada por Dona Adelaide Vellez Caldeira ao lavrador de Arronches, José António Bigares. E como sucedia em outras localidades, caso de Elvas, os ricos proprietários não residentes em Campo Maior costumavam arrendar a exploração das suas propriedades de uma forma indirecta, a alguns distintos proprietários com algum dinheiro como era o caso do médico campomaiorense Carlos Pinto Machado que nos começos do século XX era rendeiro do burguês António da Silva Neves Lança Alvim, residente em Vila Nova de Ourém, que arrendava ao referido médico as suas herdades de Balanco, Cortiço e Fialho. Na vila situada na linha da raia com a província espanhola de Badajoz, uma parte significativa era constituída por proprietários agrícolas de Elvas, que tinham algumas herdades nesta vila e também em Arronches. Mas, ao contrário dos nobres e capitalistas residentes em Lisboa, de condição burguesa, os lavradores de Elvas quando adquiriam as novas propriedades exerciam desde logo o controlo directo sobre a exploração e definiam o tipo de cultivo agrícola a que se iam dedicar. Este foi o caso, a título de exemplo de Amaro José Fernandes, um proprietário e lavrador residente numa das herdades mais fértis e rentáveis do município de Elvas, a Quinta das Longas, sobre quem pode ler-se na escritura de venda de uma das suas propriedades de Campo Maior : “… possui olival em Campo Maior e um terreno de mil e sessenta centiares de trigo…”. O outro grande proprietário de Elvas, José Gonçalves Barbas, que na vila de Campo Maior era dono de várias quintas rústicas, entre elas « dois olivais e 78 centiares de trigo”. Entre os grandes proprietários locais se destacava a família Cayola, que desde os inícios da Monarquia Constitucional até à I República se afirmou na vida política regional e local como uma das casas principais do norte alentejano. De facto, Lourenço Caldeira da Gama Lobo Cayola terminaria sendo uma das personagens mais importantes do distrito, sendo eleito como deputada da nação pela primeira vez em 1897, para mantendo-se no parlamento durante várias legislaturas. Durante a época de transição para o século XX esta família ampliou a sua influência política e social através de uma aliança matrimonial muito vantajosa com o grupo familiar dos Gama, conservando sempre o gosto pela actividade política e institucional. Assim, no decurso das primeiras décadas de Novecentos, Francisco Telo da Gama se tornou o membro mais destacado da família na vida local, na qualidade de Presidente da Câmara. Na mesma época cronológica, se assistiu a afirmação progressiva de um conjunto de famílias que transitaram de uma situação de médios proprietários para um estado de grandes possuidores graças à aquisição de algumas herdades. De realçar, que uma parte destes grandes proprietárias de Campo Maior eram também arrendatários e a partir dessa condição foram construindo a sua riqueza através de novas aquisições e vendas, como sucedeu com alguns membros das famílias, Minas, Corado e Rosado. Entre os grandes proprietários da vila de Campo Maior, destacava-se o comerciante - prestamista Manuel António Aço, cuja riqueza de foi construída através de empréstimos a várias personagens da sociedade local, incluindo alguns indivíduos titulares de património fundiário. Em Campo Maior, os médios proprietários foram desaparecendo e no inicio do século XX praticamente não existia, ao contrário dos pequenos que caracterizam a maioria dos proprietários da Vila. Tratavam-se de pequenos “lavradores”, “agricultores” ou “criadores de gado”, residentes nas várias localidades do município. Os pequenos proprietários tinham como propriedade tipo: “as hortas” e “pequenas áreas de olivais”, alguns deles eram oriundos das grandes famílias mas penalizados pelo sistema de heranças. Os comerciantes titulares de mercearias e os mercadores ambulantes integravam-se neste grupo social. Por último, na documentação histórica, identificava-se ainda determinado de bens que faziam parte da herança transmitida pelos pequenos proprietários como: a possessão de casas, acções, objectos de luxou ou ostentação e ainda algum dinheiro que por testamento era doado aos pobres ou às instituições religiosas. Em síntese podemos afirmar que a elite dos grandes proprietários estavam nas cidade de Portalegre e Elvas, mas a primeira distinguia-se pela sua aristocracia mais representativa e histórica. Nas vilas raianas, Campo Maior, foi aquela em que mais rapidamente os proprietários locais atingiram o topo da hierarquia social, em Arronches era aquela onde a equidade dos proprietários era mais evidente e em Marvão distinguia-se pela quantidade de proprietários cuja dimensão da riqueza era menor em termos de % quando comparada com as demais. (Continua)