domingo, janeiro 10, 2010

4.2. Elvas Portuguesa: A demografia na Modernidade





A demografia constitui sem dúvida uma das ciências auxiliares fundamentais para a determinação da importância das vilas e cidades, nas épocas medieval e moderna, uma vez que os maiores centros populacionais foram quase sempre os que maior importância acabaram por ter no âmbito nacional e regional em função da sua função, politica, institucional e até religiosa, num época em que o Estado e a Igreja, foram os dois pilares do Estado moderno e burocrático. Neste sentido, a vila e depois cidade de Elvas, foi sem dúvida entre os centros populacionais de fronteira, que mais cresceu ao longo dos séculos XVI, XVII e XVIII, numa época em que a o conceito de fronteira estava associada não só ao serviço militar mas a um espaço jurídico, de transacções comerciais e de cobrança de direitos alfandegários. Vivia-se numa época em que a fiscalização das fronteiras, praticamente não existia ou por outras palavras a sua operacionalidade era pouco eficaz, as fontes documentais referem durante quase três séculos a prática do contrabando como uma realidade intensa na raia de Portalegre e em especial nos termos da Vila de Marvão e da nova cidade de Elvas . Estas e outras razões só por si determinaram ao longo dos séculos da modernidade a afirmação da cidade de Elvas como um centro populacional em crescente expansão demográfica, mesmo quando o País, movimenta-se para as novas áreas de ocupação durante o movimento de expansão e colonização portuguesa. Todavia, a demografia na época moderna, apresenta tal como nos primeiros séculos da fundação portuguesa, um problema, a falta de recenseamentos das populações e as fontes que se podem utilizar são variadas, por vezes discutíveis e de fiabilidade pouco segura, por isso mesmo são os arrolamentos militares que permitem alguma segurança para a análise do comportamento populacional. Na verdade se a exactidão dos dados podem ser questionados, a caracterização da densidade populacional de uma determinada região não se questiona tal como os núcleos populacionais de referência demográfica nessas regiões. Assim e tendo como prova os arrolamentos militares de 1496, 1497, 1513 e 1537, regista-se que Évora continuava como o centro populacional mais representativo do Alentejo com uma população próxima das 10.000 almas, seguido de Elvas com mais de 5000 almas e com uma taxa média de ocupação de 15 habitantes por Km2. Os dados para meados do séc. XVI tornam-se mais raros, desconhece-se os índices de mortalidade e de natalidade para meados do século apesar das pestes que assolaram a região de 1557, 1569, 1570 e 1580 , todavia não é aceitável as posições de alguns historiadores que consideram que até à Restauração não há grandes alterações na composição demográfica da comarca do Alentejo. De facto, se consideramos o número de vizinhos na cidade de Elvas em 1532 com os valores de 1639, temos um crescimento de 25% ou seja, há um crescimento notável mas teórico, falta-nos dados sobre o movimento da população e do seu termo, a emigração para as áreas coloniais e a dinamização comercial do centro urbano na época em que Portugal se integrava no Império Comercial deverá ter contribuído para a fixação da população rural no núcleo urbano elvense. Por segurança e por prosperidade, mas os dados sobre o movimento populacional só encontramos na segunda metade do séc. XIX com a burocratização do estado, logo os registos paroquiais e nem todos chegaram até nós, limitam qualquer sentido a nossa reflexão. Mas a cidade de Elvas viveu na transição para o século XVII um clima de cosmopolitismo, pela saída e chegada de gentes que serviu no Império e que viviam na sede do concelho com a sua criadagem e alguns escravos ( Afonso Eanes Nunes, cavaleiro fidalgo, residente em Elvas, era proprietário de doze escravos) Contudo na documentação do Império Espanhol, a “Población General” , a cidade de Elvas regista 10.000 habitantes, mas perdeu o estatuto de segundo aglomerado do Alentejo, Portalegre e Beja chegavam às 12.000 almas. Outros dados documentais mostram que a cidade chega ao início do Séc, XVII em pleno crescimento e tal é visível pelo menos desde a segunda metade do séc. XVI , a Bula Papal que decretou a criação da Sé de Elvas refere que o burgo elvense estava em “visível aumento” e “ um aglomerado de 3.000 casas” , quase mais 27% que em 1532. Esta informação quando comparada com os registos das freguesias urbanas da cidade torna sustentável a nossa opinião que Elvas cresce entre 1532 e 1639, por exemplo na Freguesia da Sé entre 1532-1551, a média dos baptismos situa-se nos 454; de 1552-1571, sobe para 618; de 1572-1591 volta a crescer chegando aos 698 e entre 1592-1611, atinge o valor recorde de 1213. Este comportamento demográfico repete-se na Sé, Alcáçova, Salvador e na Sé. A título de curiosidade apenas a freguesia da Alcáçova atinge o seu ponto máximo na etapa de 1572-1591 e S. Pedro, passa de 148 baptismos em 1572 para 1151 em 1592. Não há dúvidas que a prosperidade foi evidente na maior cidade portuguesa da fronteira do Alentejo enquanto parte integrante do Império Espanhol. (Continua).