sábado, abril 30, 2011

8.1.3 - A afirmação do comércio Elvense numa cidade agrícola.

 O mercado local um faceta da actividade mercantil de base agrícola e artesanal que se manteve na Época Contemporânea.
A publicidade na Imprensa local contribui para a especialização do comércio durante as décadas de 1880-1890

A Rua da Cadeia pioneira do comércio contemporâneo em Elvas

A época da Regeneração foi sem dúvida um período determinante para o desenvolvimento do comércio elvense, que até então era sobretudo uma actividade subsidiária da prática agrícola com base na exploração dos seus produtos. Uma realidade que percorre a história económica da cidade desde os tempos medievais, em que o tendeiro, o mercador ou almocreve, asseguravam o sustento da sua actividade a partir dos excedentes agrícolas e de um conjunto mínimo de produtos manufacturados produzidos nos núcleos populacionais mais próximos das suas “rotas comerciais”. A viragem para uma actividade económica, de matriz exclusivamente comercial ocorre na principal cidade da região do Caia, pelo menos desde a década de 1870, numa época em que a população portuguesa não só se limitava como crescia e deslocava-se para os centros urbanos onde a prosperidade era visível. Não podemos ignorar que na cidade de Elvas,  o seu núcleo urbano cresceu muito rapidamente até ao fim do século XIX, assim em 1878 contava com cerca de 10.471 almas e em 1900, altura em que se verifica o primeiro abrandamento no ritmo de crescimento populacional a cidade atingiu um número de efectivos de cerca de 13.981 habitantes ou seja um índice de crescimento de cerca de 186% em cerca de 36 anos. Ao mesmo que crescimento médio da população rural era evidente durante o mesmo período cronológico, embora disparando mais tarde, por volta de 1887 quando cerca de 9.006 constituíam os valores efectivos da população rural. Todavia, entre a Regeneração e o final da I República, não só a existência de uma população próspera em trabalho e com um salário pago periodicamente, favorecia o desenvolvimento das práticas comerciais como também uma serie de estradas locais e regionais, facilitavam essas trocas e permitiam a prosperidade do negócio. De facto, em vésperas da implantação do Estado Novo, a Linha de Leste tornava-se um veículo fundamental para a especialização de estabelecimentos comerciais como também a rede viária sofrera uma forte reforma com um crescimento médio de novas vias à média de 5.1% desde 1922 com excepção do ano de viragem de regime, com o 28 Maio de 1926 em que o número de estradas municipais construídas não ultrapassa os 1.9%. Na verdade entre a Regeneração e o final da I República, não faltavam consumidores mas também de vias necessárias para canalizar os excedentes. E nessa perspectiva, a Linha de Leste facilitava a modernização do comércio regional colocando nas terras do interior de Portugal as novidades que se vendiam na capital. Mas, a cidade comercial propriamente dita como um espaço organizado afirma-se no final da década de 1870 e afirma-se na década seguinte, de tal forma que se publicava na cidade, duas vezes por semana, um periódico gratuito que informava e publicitava os produtos e as actividades de natureza comercial. Na década de 1860, a principal zona comercial urbana desenvolvia-se ao longo da Rua da Cadeia, as mercearias e as lojas, eram os estabelecimentos tipos e o Hotel Central a principal unidade hoteleira da região também estava sediado nesta artéria da cidade. Na década de 1870, a Rua da Carreira entrava na concorrência mas a maioria dos lojistas continuavam concentrados na Rua da Cadeia. A Rua do Alcamin entrava na disputa nas duas últimas décadas do século XIX e tornava-se um espaço de referência durante a República, o calçado, as lojas de vestuário e as ourivesarias, foram sem dúvida os estabelecimentos que vieram a valorizar aquela artéria urbana, que tal como todas as outras tinham uma ou duas mercearias no seu espaço. A viragem para o século XX, quando a cidade de Elvas era já referenciada como um pólo comercial e agrícola de referência regional, novas artérias juntavam-se ao aglomerado urbano, nomeadamente as Ruas Pereira de Miranda e da Princeza Dona Amélia que constituíam juntamente com as ruas comerciais que se foram desenvolvendo nas décadas anteriores a zona comercial da cidade. Do ponto vista da estrutura comercial da cidade a mercearia como local onde se vende um pouco de tudo e algumas delas eram agentes de algumas casas comerciais da capital, persistem com vigor até a década de 1890. Os serviços nomeadamente os transportes, as seguradoras e os agentes de actividades várias como por exemplo a bancária já estavam sediadas no final de Oitocentos. No final da I República, o comércio tinha já um estatuto próprio, não dependia da prática agrícola e resultava já de um pequeno investimento dos particulares, com uma estrutura de matriz familiar. Os poucos comerciantes de sucesso nos finais do século XIX, identificavam-se com a classe dos proprietários e eram reconhecidos na sociedade local como lavradores, numa época em que o poder ou a capacidade económica estava associada à casa agrícola como factor de criação de riqueza. Os lojas de especialidade e em contraste com as mercearias e as oficinas que se concentravam igualmente no traçado urbano, eram a novidade e esboçavam os traços comuns de um comércio virado para uma sociedade de consumo. Mas o conservadorismo, de uma mentalidade adversa à mudança continuava a persistir no modelo de muitas lojas que na verdade não eram diferentes das mercearias que foram as pioneiras do desenvolvimento do comércio local e que persistiram ao logo do séc. XX.