terça-feira, julho 19, 2011

9.1. Elvas Contemporânea : - A difusão das ideias republicanas na imprensa elvense - nas décadas de 1860 e 1870.

HH
A primeira folha partidária republicana do Centro Republicano de Elvas


António Torres de Carvalho,  proprietário tipográfico e editor das principais folhas republicanas.


Se a vida política em Elvas até ao fimal da Regeneração foi um feudo do Partido Progressista, na década de 1860, surgiam as primeiras ideias que faziam a apologia da causa republicana. Não se tratava então de um movimento organizado mas de um conjunto de personalidades que nos periódicos da cidade reflectiam sobre o futuro do sistema político em Portugal. De facto, na década de sessenta ainda as folhas periódicas de Elvas, davam os primeiros passos, surgiam à luz do dia a primeira folha republicana, a “Democracia Pacífica (1866)”, que se tornava através da palavra escrita, numa voz incómoda, pela forma ofensiva e radical com que analisava a monarquia e os partidos políticos que a apoiavam. Um pouco mais tarde seria “A Democracia (1869) ”, que resultava da cisão de alguns elementos fundamentais que constituíam a folha republicana anteriormente citada, continuava de forma mais moderada a denunciar o regime monárquico como a causadora de todos os males nacionais. Mas os poucos republicanos, na verdade não estavam sós e se a imprensa monárquica só se torna eficaz na década de oitenta, o certo é que nos clubes, os militares, a quase rara aristocracia e a maioria dos proprietários agrícolas, tratavam de pôr em causa o pensamento republicano e o seu conceito de propriedade, de tal forma que os homens da imprensa respondiam aos debates nocturnos nos clubes e nas casernas militares . “ ... É disvirtuado e caluniado com tanta insistência o systema republicano pelos parasitas que vegetam à sombra da instituição monárchica ...." . E a pedagogia favorável o novo sistema era também proclamada pelos tipógrafos e colaboradores da Democracia Pacífica “A república aceita em princípio o direito de propriedade. Repelir esse direito , fora proscrever a civilização, proclamar a selvajaria . A propriedade é um mal que produz bens imensos ou bens sujeitos a originar profundos males. Obviar quanto possível os males (....) ” era uma finalidade dos republicanos. Porém a década de 1860 , marca os primeiros escritos de uma imprensa inconformada com o regime , a Democracia Pacífica é a única voz republicana que através dos escritos de João Francisco Dubraz ( republicano e socialista ) denunciava por vezes com a violência das palavras a centralização da classe política de Lisboa , censurava a mesma e propunha a sua substituição e que fosse o monarca a dar esse passo . Aliás a incapacidade governativa como consequência do regime monárquico, era um o tema central desta pioneira folha republicana : “ Triunfa a desmoralização! Podem estar satisfeitos . Junto do Trono , no governo , na administração , na magistratura , no exército , no tesouro , no parlamento , estão bem tangíveis as causas d dessa decadência moral , que em breve oprimirá também a terra , a propriedade , o trabalho e a vida material da nação “. Contudo se a conjuntura política , constitui um dos fundamentos da campanha das hostes republicanas , uma outra ganhava expressão nas folhas de Elvas , a do alargamento da instrução pública .... tratava-se de garantir os meios necessários para a sobrevivência dos próprios jornais que necessitavam de leitores e sendo ao mesmo tempo um meio eficaz para o combate ao analfabetismo popular e como tal mais um argumento para a difusão do ideário republicano . Mas a década de sessenta foi apenas um mero ensaio de um incipiente movimento republicano que se tornaria mais consistente na década de 1870 e sobretudo 1880. Nesta perspectiva podemos indicar os elementos de matriz republicana que surgiam nas folhas de Elvas em especial na Democracia Pacífica na década de 1860 : - a ) Definição de conceito de república , sindicalismo e anarquismo; b ) Explicação do funcionamento do regime socialista ; c ) Necessidade da proclamação do regime republicano; d ) Defesa da instrução e da moral como elementos determinantes para que os cidadãos tivessem consciência dos seus direitos e obrigações . e ) Apologia do regime democrático , como se observa “ A democracia na actualidade , não e somente uma ardente aspiração , não é um desejo indefinível , não é uma visão que se recorta ao longe , no plano de um horizonte longínquo . A democracia é a expressão um facto - é uma realidade . A democracia é a expressão d ´este século - é o credo da humanidade” . ( Continua)