A iluminação pública um dos credos do Partido Progressista nos fins do séc. XIX
As fontes do Aqueduto algumas delas do séc. XIX edificadas no âmbito da saúde pública.
As fontes do Aqueduto algumas delas do séc. XIX edificadas no âmbito da saúde pública.
Os Caminhos e as estradas foram objecto de negociação dos políticos locais durante as campanhas eleitorais
Na vida política local, a política dos Regeneradores e dos Progressistas, foram desde sempre limitadas pelo poder Central de facto os ventos de mudança proporcionados pela Revolução Liberal do Porto, pouco impacto tiveram no poder local. Por isso mesmo, o recurso à banca para a execução de obras públicas a nível local foi uma prática constante a que a classe política oitocentista acabou por recorrer sempre que se tratava de uma obra de vulto e de interesse público. Por outro lado e através de um estudo exaustivo das actas de Câmara Municipal de Elvas durante a segunda metade do séc. XIX, chegamos à conclusão que as decisões de interesse público, como as obras públicas correspondiam a cerca de 4.4% da execução da prática política. (Actividade municipal: Deliberações e ofícios (46.6%); requerimentos (26.4%); fixação de preços (13.6 %) e obras públicas (4.4%). Estas limitações do poder executivo local, implicava o aproveitamento da presença de figuras dos partidos nacionais em Elvas, em tempo de campanha eleitoral para eleições legislativos. Nesta perspectiva os progressistas elvenses que dominavam a câmara procuravam que os futuros deputados se comprometessem com as necessidades locais em troca do voto da população e sobretudo dos seus apoiantes. Por outro lado, o modelo do sistema político administrativo era fortemente centralista, definido pelo Código Cabralista de 1842 que vigorou até 1878 e que permitiu que a figura central dos poderes locais, estivesse dependente da figura do Governo Civil do Distrito, a identidade que aprovava ou não, as verbas necessárias para o desenvolvimento e progresso da vida municipal. Estas realidades não eram indiferentes aos Elvenses a imprensa periódica tornou-se uma voz de denuncia em nome da descentralização, procurando explicar junto dos seus eleitores as vantagens do poder local, no Transtagno encontramos vários exemplos “O que é a descentralização? É a significação em todos os ramos da administração pública. É a igualdade de direitos entre o capital e a província. É a abolição dos vínculos. É melhorar por todos os modos a instrução pública. É a formação dos bancos de crédito para favorecer a agricultura”. O certo é que o centralismo não deixou de ser uma realidade evidente, como se observa pela leitura de uma acta de Câmara: “ A autonomia da câmara municipal tem nos últimos anos sofridos golpes profundos que se continua avançando este sistema de centralização que desde mil oitocentos e oitenta e seis mais se acentua dia a dia…”. Em termos de concretização prática, a pesar de tudo alguns avanços ocorreram por acção do poder local: na construção de caminhos, na agricultura (algumas ajudas no aproveitamento das terras baldias) a assistência social, na instrução (as primeiras iniciativas de escolarização dirigidas ainda a uma parte restrita da população urbana do concelho) ou as preocupações com a salubridade (a utilização tímida da água como prática de higiena e consequência das diferentes vagas de cólera morbos que se conheceram século XIX), hoje diríamos com a saúde pública. … marcaram as iniciativas correntes desde à vereação de Joaquim da Cunha Osório (1852) até ao fim do século, quando o líder dos Progressistas locais, Eusébio Nunes da Silva, era não só uma figura impar na vida local mas também imbatível. Todavia algumas obras públicas marcaram de forma notável a geração de oitocentos, como a reparação do Aqueduto das Amoreiras, após um relatório detalhado feito em 28 de Março de 1899 para o município de Elvas pelo prestigiado engenheiro de obras públicas de Nery Delgado, em que aconselhava com urgência “… o concerto e reparação indispensável de que muito carece o nosso aqueduto”. De resto, várias fontes foram construídas como obras anexas ao aqueduto e no contexto da política de salubridade minicipal, poderemos mesmo afirmar que os principais presidentes de câmara durante o seu mandato fizeram a sua fonte, senão vejamos, o Marechal António Joaquim da Gama Lobo ( a Fonte dos Filipinos -1855); Ezequiel Cândido Augusto César de Vasconcellos (a fonte do Rossio -1864) ; José Ignacio Pereira (a fonte do Outeiro - 1883) e Eusébio Nunes da Silva – as fontes, Nova (1893) e da Boneca (1894). A construção do Passeio Pública que abria a cidade para o exterior das muralhas e que foi edificado sobre o cemitério público, então considerado como “O mais aprazível sítio de Elvas, que pouco a pouco vai conquistando a celebridade de um passeio de primeira ordem. Sobre o terreno que outrora cobria a sombra densa de álamos e amoreiras, e pó quase nu, estava ligado às ideias fúnebres de um cemitério, que se fundou graças ao bom gosto de uma das últimas municipalidades”.Mas não há dúvidas que a grande questão do fim do século em Elvas foi sem dúvida a iluminação da cidade as primeiras ideias e revindicações de domínio político, datam de 1860 mas em 1870 já eram do domínio público uma causa, como se lia na folha pró -republicana “ A Democracia” : “Elvas está em trevas, à noite parece uma aldeia: não se pode transitar são vultos que não se conhecem uns aos outros. A Câmara deve olhar por isto, mandando fazer a iluminação todas as noites. A economia da luz não tem razão de ser numa cidade como esta”. Contudo, só em 1887 o município chega a uma solução, assinando um contrato com a firma prestadora de serviço de Emilio Pisch e António Alves e cinco anos depois eram abandonados os candeeiros a petróleo, mas as críticas não deixaram de surgir e passados mais cinco em 1892, havia quem achasse que “O contrato de iluminação a gás foi realizado num momento de entusiasmo por esse melhoramento, sem que meditassem bem, não nos encargos imediatos que ele resultavam, mas principalmente a prisão que ele representava o futuro, inibindo o município, durante um período longuíssimo de contratar outro sistema de iluminação”. E uma vez mais, Eusébio Nunes da Silva procurou “calar” a oposição e contra tudo e todos, assinou um novo contrato com Victor Redondo, morador em Badajoz para a instalação da electricidade e nesse âmbito, o mesmo seria válido por 45 anos, mas o centro urbano só conheceria a luz eléctrica na aurora do séc. XX num processo que Elvas liderou e foi pioneiro em todo o Distrito de Portalegre. Em síntese, podemos afirmar que os tempos e os ventos liberais chegaram na segunda metade do séc. XX e se a até a década de 1870, a cidade lutou a par com a capital do distrito, pela liderança do mesmo nas décadas seguintes a cidade procurou romper com o centralismo sem grande sucesso mas tornou-se pioneira do progresso e da inovação, se Ezequiel Cândido Augusto César de Vasconcellos, José Ignácio Pereira foram dos mais notáveis presidentes câmara da época da Regeneração a verdade é que foi sem dúvida, Eusébio Nunes da Silva e o seu Partido Progressista que preparam a cidade para os desafios do século XX…