sábado, julho 30, 2011

9.1. Elvas Portuguesa: O fim do século e o advento da I República




Júlio de Alcântara Botelho foi o primeira figura local a hastear a bandeira republicana (figura ímpar da vida política local - rico proprietário de origem nobre,  foi liberal, republicano e sidonista mas destacou-se pela sua humanidade e solidariedade com os mais necessitados ).


Regulamento da Loja da Emancipação, in António Ventura (A Maçonaria - no distrito de Portalegre), p.96 




Galeria dos antigos Paços do Concelho de onde se deram as primeiras " Vivas à República"

O século xx , quando se inicia em Elvas , a classe dirigente da cidade está em plena transição , uma nova era marcaria a primeira década do século , em termos de novos valores quer ainda em termos de organização e estratégia política . Na vida política,  Eusébio Nunes da Silva , o velho chefe do Partido Progressista , ainda inicia a nova centúria como Presidente da Câmara (1900-1902), mas é fundamentalmente um homem do século passado , tal como o seu antigo rival Dr. José Tierno da Silva . A nível da organização política , pelo menos atá à Presidência de David Nunes da Silva (1902-1905 , continuava ter como base estratégica política a sua família aparentada , reforçada com a integração da família Tierno e com o apoio tradicional dos comerciantes da cidade , no entanto a meio da década novos valores se foram afirmando , o Dr.António Santos Cidraes liberal por convicção destaca-se dos demais , pela sua palavra fácil e vibrante . Mas é a chegada do seu companheiro político e amigo Doutor Ruy de Andrade , que representa a entrada dos lavradores nas disputas pela liderança da Câmara de Elvas , constituindo a partir de então em termos sociológicos e políticos , uma  nova força política de facto e não aparente se tivermos em consideração os filiados e dirigentes políticos da cidade do princípio do século. A ascensão da classe dos lavradores , que triunfa sobre a dos comerciantes no final do século XIX numa sociedade estritamente rural , não se justifica apenas pela posse da terra , mas também pela formação académica que distingue os novos lavradores como os Drs. Ruy de Andrade , António dos Santos Cidraes e João Pinto Bagulho, cuja vida política em nome de Elvas manifestava-se directamente na acção da Câmara ou dos partidos a que pertenciam nomeadamente o Regenerador Liberal e a Concentração Liberal .A nível local a primeira década do século seria marcada por uma acção política morna , longe da intriga  que foi característica no fim do século passado onde os Nunes da Silva e os Tiernos procuravam dominar a liderança do Partido Progressista e simultaneamente disputavam a Câmara . Porém as tensões políticas entre monárquicos e republicanos , no fim da primeira década do século voltavam a animar , depois de um periodo ( 1900-1908 ) de paz ou de indiferença : “ tem trazido a separação de rivalidades , mesquinhas e ambições desmedidas (...) sendo Elvas a mais importante povoação “  . Ao contrário do Séc . XIX , os jornais tinham adpatado uma postura menos política , menos revindicativa e estavam praticamente controlados pelos monárquicos . Assim a aderência às causas republicanas faz-se tardiamente já a República estava implantada , o Correio Elvense só o fez em 1911 e os jornais seus concorrentes tinham desaparecido . O Elvense desaparecera em 1904 para reaparecer mais tarde , O Notícias de Elvas em 1906 e O Liberal estava prestes a desaparecer mas continuava a ter a crença no Liberalismo e a questão republicana nada dizia aos seus mentores que faziam sempre das visitas régias um acontecimento ímpar nas folhas do seu periódico . Bem longe estavam os homens dos jornais da primeira imprensa republicana que deixavam na ponta dos seus escritos a virtude do sistema republicano , como se lê na Democracia e na democracia Pacífica. Assim a palavra seria o modo do processo de difusão do ideal republicano em Elvas , a partir da Comissão Municipal Republicana , constituída em 12 de Março de 1908 do qual faziam parte : Presidente – Júlio de Alcântara Botelho; vogais: Mathias Florêncio e José Joaquim Príncipe, Secretário, Andreia Nunes Calado Cavalo e Tesoureiro: Jaime Artur Ferreira Marques, na prática esta comissão republicana não era mais nem menos que a loja maçónica “Emancipação nº 347 fundada em Elvas a 22 de Junho de 1911). Contudo as palavras de ordem da república, não chegavam à maioria da população adversa indiferente aos movimentos republicanos e monárquicos , que se organizavam e se constituíam , todavia as facções sociais mais endinheiradas ou com formação académica , ao contrário da passavidade popular revelava-se activista , predominando sobretudo a discussão do sistema mais do que o regime , ainda que no início do século os valores liberais fossem os ideais cultivados por essa elite que tanto dignificou a cidade de Elvas. O fim da década abanava as estruturas do regime monárquico , em Elvas a aristocracia de sangue praticamente tinham desaparecido , os Pessanhas e os marqueses de Alegrete , eram as únicas famílias , monárquicas com ligação e reconhecimento real as restantes, também poucas, com títulos resultavam de uma processo de nobilitação e não de uma linhagem aristocrática mas do enriquecimento que permitiu a compra de tais títulos. Os republicanos cada vez mais acreditavam no fim do regime , isso mesmo diria o Dr. António José de Almeida , no Salão que se situava na rua Nova da Vedoria , quando convidado por Júlio Botelho , entusiasta e responsável pela organização republicana em Elvas apesar de nobre por nascimento . Mas já um ano antes (1908) o Dr.Benardino Machado , tinha deixado essa mensagem , perante o entusiasmo de um jovem galante , Dr.João Camoesas que perante a presença das senhoras de Elvas , dava “ Vivas às damas de Elvas “ para de seguida dar “Vivas à República “ facto que se regista pela primeira vez publicamente em Elvas , em consequência lia-se na folha periódica local : “ Sente-se já ; embora ainda não se veja , qualquer coisa de novo , que no nosso mundo político vae em breve aparecer “.
E assim, o tempo da Monarquia esgotava-se na manhã de 5 de Outubro de 1910 , mas só pela tarde , pelas 17.00 horas , a bandeira republicana era hasteada no quartel general. Nos Paços do Concelho , começava a grande festa popular e cabia ao republicano mais activo de Elvas o içar da bandeira do novo regime , Júlio Botelho segindo-se o uso da palavra por José Barroso , José Lopes e Dr.João Camoesas que aconselha perante a euforia da população “ ordem e serenidade “ , a revolução descia à cidade , percorrendo as ruas da Cadeia , Carreira , Olivença , Alcamin , voltando à rua da Cadeia , não faltando a banda dos Caçadores nº4 e Dr. João Camoesas que se associando , ao entus iasmo popular , continuava a pedir ordem e sossego , saudando os heróis de Lisboa. Os destinos de Elvas, estavam agora entregues a Comissão Republicana de Elvas em 5 de Outubro de 1910 ou mais exactamente à já referida Loja Maçónica da Emancipação na pessoa do seu Presidente: José Júlio de Alcântara e dos vários administradores do Conselho segunda figura do distrito (os dois últimos administradores pertenciam a outra loja maçónica elvense o  Triângulo nº262) e que foram recrutados nos meios intelectuais, económicos e militares da cidade, uma tradição que vinha dos tempos da Loja da Liberalidade, como eram os casos : Raul Carlos da Silva Rebelo ( administrador em 1916) , José Dias Barroso (administrador em 1919 durante o Sidonismo) , do Tenente José Jácome de Santana e Silva ( administrador em 1919) e de Augusto António Camoesas ( administrador em 1924 até ao fim do regime). Entretanto a república chegava ás populações rurais e  era Vila Fernando  a primeira a aderir , em 12 de Outubro de 1910 e era  Padre Marques Serrão que fazia  ahistória na revolução , dizendo ao povo que agora é soberano e não está sujeito à mais leve pressão política e o que os republicanos pedem é apenas uma paz duradora . As palavras de ordem alimentam o discurso dos republicanos elvenses , o Dr. João Camoesas explica a queda da monarquia em quatro palavras “ a fraude , a corrupção , despotismo e o saque “ em 12 de Novembro de 1910 anuncia a realização das primeiras eleições livres deixando recado para “ os caciques que devem ficar calmos que vamos cumprir “ .Os meses do fim da primeira década do século , ficaram marcados pela palavra republicana , que se ouve nas comemorações republicanas , que têm lugar por todo o concelho de Elvas e pelas adesões dos lavradores , comerciantes , jornalistas, militares , funcionários públicos , farmacêuticos, escriturários , que engrossa , surpeendentemente as fileiras do Partido Republicano de Elvas , onde não faltam os Liberais e Monárquicos , do antes da revolução . O ano não terminaria sem a primeira greve que se fez em Elvas , a dos Ganhões , que revindicavam mais salário e menos tempo de trabalho . Eram os lavradores em movimento que ouviam com atenção nas reuniões nocturnas que tinham lugar no Sindicato Agrícola de Elvas , sob a palavra do Dr. João Camoesas , José Barroso e Custódio Lobo , que os orientava para as suas pretensões .