sábado, março 07, 2009

O papel da Mulher elvense na História Contemporânea.

História Local : A história de Elvas como a história de Portugal e do Ocidente é marcada pela ausência das mulheres como figuras condutoras da história, não tanto pela ausência mas pela negação do seu testemunho como protagonistas do tempo para além do seu papel na maternidade e na história da Igreja. Todavia a era das revoluções liberais que abalaram o mundo e deram uma nova periodização da memória, o período contemporâneo tornou possível distinguir o papel da mulher elvense e a sua participação no registo histórico. Desde finais do século XIX, que alguns nomes estão associados à presença da vida pública, na imprensa oitocentista, onde escrever numa folha periódica era sinal de cultura e distinção, nomes como Leonilde Rosado e Margarida Sequeira, marcam essa primeira etapa da mulher nos espaços de referência masculinos, numa época em que a noção de mulher era vista como alguém que estava na retaguarda do seio familiar, a expressão "Imperatriz da cozinha" ou "factor de atracção do homem para o seio familiar" encontramos em várias reflexões de alguns intelectuais do primeiro jornalismo em Elvas. As primeiras noções estéticas são motivo de reflexão nas folhas de Elvas





Em meados do século as noções de beleza eram variadas, em 1863 a mulher era assim apresentada:








Três coisas negras: Os olhos, os cabelos e as sobrancelas.




Três coisas rosadas: O beiço, as faces e as unhas.




Três coisas cumpridas: O talhe do corpo, o cabelo e as mãos.




Três coisas largas: O peito, a testa e o intervalo das sobrancelas.




Três coisas estreitas: A boca e a cintura




Três Coisas pequenas: A língua, o seio, a cabeça e o nariz








Na transição para o século vinte, os elvenses obervavam as mulheres e a sua beleza de acordo com a faixa etária:








1 a 10 anos é o beija flor.




10 a 15 anos é o rouxinol.




20 a 25 anos a rôla




30 a 40 anos é a gralha




40 a 50 anos é a coruja




60 anos em diante, nem é ave, nem mulher, nem coisa alguma.








Era também um tempo em que as primeiras mulheres surgiam envolvidas nas primeiras actividades de promoção da acção social e educação, embora identificadas pelo nome do respectivo marido, como era o caso das mulheres dos senhores Visconde de Alcântara, Dr. João Pinto Bagulho em Vila Boim ou Picão Fernandes em Santa Eulália, para citar como exemplo. No final do século com intervenção política e inseridas no movimento feminino e na defesa dos direitos das mulheres destacaram-se elvenses, como as médicas Adelaide Cabete e Maria Conceição Brazão. A República, abriu o espaço público que o Estado Novo, viria encerrar, o lar e a matriz educacional tornou-se o círculo fechado para as mulheres, destacando-se contudo pela sua humanidade, várias senhoras dos lavradores de Elvas com algumas acções de solidariedade com os pobres. A maternidade premiava algumas das classes populares, pelos seus numerosos filhos, com vários galardões pelo Estado Novo. No final dos anos 50, surgiam as primeiras licenciadas entre as quais Maria Céu Dentinho que em 1955 na dissertação da licenciatura em Ciências Históricas apresentava um trabalho sobre Elvas, que daria lugar a uma Monografia publicada em 1989, fora já do contexto da historiografia dos anos 60 e 70. Porém e apesar do seu cunho positivista e da estrutura pouco académica que o tempo penalizou, não pode deixar de ser observada como a obra mais importante publicada sobre Elvas por uma Elvense. No tempo de poucos, merece o devido reconhecimento público, a Srª Dona Maia Laura Santana Marques, que partilhou com o Prof. Doutor OLiveira Salazar, os segredos dos corredores do poder, oriunda de uma das famílias mais ricas e de projecção nacional os Mata Coronel. O chamado período "marcelista" favoreceu, a ascensão da mulher que timidamente chegou ao funcionalismo público, quando as filhas das classes médias procuravam a alternativa à telefonista que era o sonho de quem não estudava para além dos estudos comerciais, a professora primária era assim a alternativa ao Curso Superior que se torna um patamar atingível à maioria dos elvenses em finais daa década de 1980. Até ao fim do século algumas atingem o topo da vida académica, como por exemplo a Prof. Doutora Maria Lourdes Cidrais, que defende a sua tese de doutoramente em 1999 e é hoje uma das referências nacionais do estudo do imaginário cultural português. Das novas gerações destacam-se em Elvas e no País, várias mulheres que se afirmaram no âmbito da Saúde Pública, da Medicina, do Direito e na Educação. Postado Arlindo Sena