segunda-feira, novembro 23, 2009

Síntese Hitórica da presença Militar em Elvas



Síntese histórica in Guião da Abertura Oficial do Museu Militar de Elvas
(do autor).

Desde a época Medieval que Elvas primeiro como vila e depois como cidade, se consolidou como um espaço territorial fundamental na defesa e afirmação da soberania portuguesa. Nos primeiros tempos da reconquista cristã os exércitos que corriam as terras de Entre Tejo e Guadiana, eram constituídos por forças de gente da pequena nobreza (ou mesmo não nobre), que no tempo das Guerras da Independência de 1383-1385 se encontravam reforçadas por milícias recrutada pelos concelhos de origem social distinta e que integrava os besteiros e os aquantiados e que no seu todo constituíam as milícias que operaram com bandeiras e oficiais próprios. Na época Moderna, as tropas concelhias correspondiam, às ordenanças a que se refere a lei de D. Sebastião, de 1570, no qual as funções de comando pertenciam a um capitão de Cavalaria ou Infantaria, sob comando de um General de Província. Mas o recrutamento subsidiado pelas obras pias no início do séc. XVII não impedia o recrutamento forçado dos passantes, dos detidos nos cárceres e dos vadios.

Em meados do séc. XVII a questão da mobilização geral era pela primeira vez “testada”, a demografia e o início da “ideia” de um serviço militar obrigatório estavam já subjacente, mas cuja problemática manteve-se já na Época Contemporânea quando os quantitativos demográficos estavam longe do número de recrutados. No teatro bélico do Cerco (1658) e da Batalha das Linhas (1659), evoluiu então a “Nação em Armas” numa época em que o País preparando a sua defesa alistava nos seus “exércitos”, todos os homens válidos de 16 aos 60 anos. A caminho de meados do séc. XVIII pela lei 1764 o recrutamento tornava-se uma realidade regular e pública, com as limitações conjunturais da própria época. Vivia-se a época do Conde de Lippe que lançava as bases para a formação de um exército moderno, com um regulamento próprio e organizado, que regulava a disciplina, o serviço, a instrução, a justiça, o pagamento e o recrutamento.

Mas a Praça Militar abaluartada de Elvas, dos governadores da Nobreza de Portugal desde a época seiscentista, gizada por Juan Sciermans ou Cosmander em 1643, com as suas setes baluartes, quatro meios-baluartes e um redente, era agora confrontada com os “ventos de modernização” instituídos pelo Conde germânico, tornando o espaço militar elvense numa máquina de guerra inexpugnável com a planificação e edificação do Forte da Graça e com as primeiras obras de referência de ocupação e permanência militar, os “Quartéis do Casarão”, iniciadas em 1767 sob a direcção do Engenheiro – General, Valleré perante a questão problemática de estacionamento militar que se tornará evidente na centúria seguinte

Todavia as últimas décadas do final de Setecentos e a primeira de 1800, foram marcadas por novas ameaças que não vinham apenas de Espanha com foi quase uma evidência ao longo da nossa história, mas da França Imperial numa conjuntura política internacional que envolvia um outro protagonista a Inglaterra. E foi neste contexto de ameaça bélica, que a cidade de Elvas não só reforçou a sua posição de “sentinela de fronteira” como se tornou até ao fim do séc. XX como uma placa operacional de estacionamento militar do exército português.

Na verdade em vésperas das invasões francesas o espaço abaluartado elvense concentrava nos seus panos de muralhas a principal retaguarda do exército de linha estacionado na raia, constituída por cerca de 21.600 efectivos de infantaria e 9.600 de cavalaria, cuja operacionalidade teórica e prática justificou a partir de então a presença efectiva do exército português, após a guerra civil que marcou a época liberal entre 1831-1834. E seria neste quadro de estabilidade política e de paz centrada na unidade do exército português, que o Governo da Regeneração legislava no sentido de modernizar os seus equipamentos e a prática e formação do serviço de armas.

O Convento e a Hospedaria da Igreja de S. Domingos, incorporava-se a partir de meados do séc. XIX, após a extinção das Ordens religiosas em 1934 na função militar tornando-se uma estrutura funcional no processo de militarização da cidade de Elvas que conheceu períodos áureos em momentos de estacionamento do exército português de apoio a cenários de guerra a longa distância como as campanhas de África em finais de Oitocentos ou a Guerra Colonial (1960-1975), marcando o quotidiano das gerações que viveram esses períodos em que os militares constituíram uma referência para os filhos de Elvas que encontraram desde então na instituição militar uma opção de vida de servirem as armas do exército português.

Na vida quotidiana a presença militar cruzavam-se em tempo de paz com a comunidade local, ao longo da segunda metade do século XIX, os cirurgiões militares, entre os quais José Desidério Pacheco, organizavam com as autoridades públicas e civis, as medidas preventivas face às ameaças epidémicas que a cólera morbus então determinava. Nas iniciativas de solidariedade como a fundação do Asilo de Infância Desvalida em 12 de Outubro de 1851 por iniciativa e acção do Governador da Praça Militar, General José Maria Baldi, numa época em que a miséria e a pobreza coincidia com o abandono das crianças. Na cultura destacaram-se figuras como o Capitão Vitorino de Almada que deixou à sua cidade natal o esboço do seu testemunho histórico. Na vida política, desempenharam a função de Presidentes de Câmara o Tenente-coronel, José Joaquim Ferreira (1905-1908) e o Major, Joaquim de Melo (1928/1931) e foram Administradores do Concelho, os Tenentes , José Jácome de Santana Silva em 1919 e o Tenente, João Miguel Simões em 1922. Em meados do século, a “cidade – quartel”, era um dos pólos da economia local e nos finais do século XX a componente formativa e profissional, tornou-se um dos vectores do Regimento da Infantaria nº 8, herdeiro directo do Batalhão de Caçadores nº 8 (1961-1975) e legítimo e histórico, das forças contemporâneas estacionadas na Praça Militar de Elvas, tais como o Batalhão de Caçadores nº1 ou os Regimentos de Infantaria nº1, nº8 e nº 17 que se distinguiram vitoriosamente nas Campanhas Militares da Guerra Peninsular (1807/1814).

Por último há que salientar os reflexos que as reformas militares que ocorreram nos dois últimos séculos, na comunidade local que desde sempre defenderam como causa principal a permanência militar na cidade, hoje representada pelo Museu Militar de Elvas..