sexta-feira, dezembro 11, 2009

4. Elvas Portuguesa: - A demografia nos fins da Idade Média



O percurso final de Elvas como vila ocorre entre finais do séc. XV e os caminhos da afirmação do Estado Absoluto, numa época em que os tempos medievais davam lugar à modernidade e o País prosperava ao ritmo dos ventos da Ordem de Cristo que sulcavam a Costa Ocidental Africana onde os navegadores e os anónimos da nobre vila de Elvas marcavam presença. Em terras da planície a Vila de Elvas secundava com alguma distância o maior centro demográfico a Sul do Tejo, a cidade de Évora, mas era já então a localidade fronteiriça com maior importância nas “terras do Sul” e competia com outras terras que foram a alma da nacionalidade no século anterior como Lamego, Pinhel ou Mirandela. Todavia, o estudo da demografia em Portugal nos finais da Idade Média e inícios da Idade Moderna, não se expressa por um número de efectivos real, mas por verdadeiras “manchas de povoamento” que nos é fornecida pelo número do rol besteiros do couto [homens armados com besta] que nos informa sobre a contribuição militar de uma dada população. Assim e em fins da Idade Média na fronteira portuguesa, a vila de Elvas pelo seu contingente de besteiros (50 a 80), apresenta já uma cota populacional só comparável à cidade da Guarda e no Norte de Portugal, berço da nacionalidade a vila raiana iguala no plano teórico o valor de efectivos populacionais das cidades nortenhas de Braga e Chaves. Em finais do séc. XIV a em área amuralhada em hectares aumenta curiosamente nas terras mais a Sul e as notícias das cercas novas como resultado do crescimento populacional regista-se por ordem hierárquica em Lisboa, Évora, Coimbra, Santarém, Porto, Braga, Guarda e Silves, as diferenças demográficas entre a primeira cidade e a vila algarvia são assinaláveis, a primeira com 35.000 habitantes a segunda com 2.700 habitantes segundo os estudos e cálculos de Armindo Sousa. Mas seguindo, a mesma metodologia e a mesma documentação régia, chegaríamos a número situado entre os 1.800 a 2.000 habitantes, de resto a necessidade de proteger a população da vila de Elvas torna-se uma realidade ao longo da segunda metade do séc. XIV e numa carta régia de 4 de Março de 1378, há já a notícia da existência das obras da “cerca nova” ou seja a população aumentara de forma extraordinária quando comparada com outras localidades mesmo considerando que uma década depois Elvas estava na linha da defesa da soberania nacional. É certo que os valores parecem pequenos, mas em véspera da reconquista de Elvas aos muçulmanos segundo os estudos do Doutor Luís Kruss a Kwar de Elvas teria 500 habitantes um século e meio depois teria triplicado o seu número de efectivos e a cidade da Guarda que utilizámos por comparação documental por volta de 1422 não ultrapassava os 1.900 habitantes ou seja, na prática a vila elvense foi dos espaços populacionais que mais cresceu até fins da Idade Média. Considerando ainda que a transição para o século XV foi nefasto em termos demográficos com índices de mortalidade variáveis pelas epidemias de fome, peste e pelas guerras de independência que ceifaram aldeias e vilas de Portugal numa época em que a esperança de vida situava-se próximo dos 35 anos quando então iniciava-se o Outono da vida, para citar o nosso monarca D. Duarte na sua teoria das idades. A verdade é que nas vilas vizinhas próximas de Elvas, algumas quase desapareceram como Estremoz e Arronches e o despovoamento fez-se sentir segundo os relatos documentas nas vilas de Portalegre, Avis, Ponte Sor e Crato como referência à Comarca Antre Tejo e Odiana ( e em especial às terras situadas no actual Distrito de Portalegre), onde se situava a vila Elvense. Se bem que parte da população perdida pelas vagas epidémicas que abalaram o país entre 1356 e 1483, foram compensadas pela entrada de cerca de 30.000 judeus face ao movimento judaico na Espanha quatrocentista, nas áreas da raia, porta natural de entrada foram centenas os que se fixaram e mais uma vez Elvas foi uma das terras que mais beneficiou tal como Portalegre e Olivença numa primeira vaga. Todavia, não comparável à comuna judaica de Estremoz que no século XV em termos de percentagem correspondia a 5% a 6% da sua população segundo os estudos e cálculos da Doutora Maria José Pimenta Ferro Tavares. Os dados demográficos não são suficientes para demonstrar a importância demográfica da Vila de Elvas mas nas Cortes de finais da Idade Média que definiam entre outros aspectos, a importância demográfica das populações Elvas era a segunda vila mais importante do País na prática a mais rica e prestigiada junto a Coroa, mas a Vila de Silves então já sede de bispado relegava a vila do Caia da liderança mas não da sua valorização institucional que a consagração de cidade de Portugal lhe conferia algumas décadas depois. (continua).