quarta-feira, dezembro 02, 2009

- IX -Terras da Raia de Portalegre: O grupo dos proprietários [1850-1930] - Marvão.


"O grupo dos proprietários à margem da aristocracia do Distrito foram se afirmando ao longo da segunda metade do século XIX como consequência da Revolução Liberal que permitiu o aparecimento deste grupo social na vida económica e social na região. A maior parte dos mesmos numa análise documental, eram médios proprietários quando comparados em termos de riqueza efectiva com os grandes de Portugal. E cuja identificação feita através dos Livros de Notas e Testamentários, nos permite comprovar que na sua vasta maioria se tratavam de “lavradores” mesmo nos casos em que a constituição da sua riqueza se tenha constituído a partir de actividades paralelas como o comércio e a indústria. De facto, se os grandes proprietários do Distrito em meados do séc. XIX possuíam já uma ou várias herdades, na sua maioria tinham na sua posse um conjunto de várias propriedades fragmentadas e alguns dos mesmos se encontrava envolvidos em negócios comerciais, financeiros e industriais. Com a designação de proprietários se identificava também alguns industriais, mas quase todos pertencentes ao pólo industrial de Portalegre que em crise era todavia a força motriz do Distrito. De resto, se os grandes proprietários se integravam nas classes dominantes dos diferentes núcleos populacionais da região portalegrense a verdade é que as diferenças eram muito grandes dependente o se o proprietário era residente numa vila ou cidade, em que área do distrito. Em Marvão – A riqueza dos proprietários esteve sempre condicionada pela própria extensão, muito reduzida do seu termo que não ultrapassava os 40 hectares. Por outro lado uma parte considerável do seu espaço não era possível de utilização para fins de exploração agrícola devido ao acidentado do seu solo, que impedia um aproveitamento económico rentável. De resto até finais do séc. XIX parte do solo arável não era susceptível de exploração uma vez que se encontrava sob jurisdição militar embora a desmilitarização da sua praça fosse uma realidade de começos de oitocentos. Fruto desta realidade geográfica o regime de propriedade da terra se caracterizava por uma presença maioritária de quintas rústicas com uma superfície muito escassa num espaço igualmente reduzido, mas onde era possível o cultivo de algumas culturas agrícolas. Estes prédios rústicos correspondiam a um numeroso grupo de pequenos proprietários que viviam exclusivamente dos produtos agrícolas e pastoris que obtinham das referidas explorações, de tal forma que nas primeiras décadas do século XX a maior parte da população vivia do auto consumo. O regime de exploração de propriedade dominante, baseava-se em pequenas parcelas cultivadas com vinhas e olivais que em alguns casos se anexavam pequenas hortas, utilizadas para na sua base alimentar dos seus proprietários. Os pequenos proprietários que viviam de rendas agrárias, os comerciantes a retalho e de outro tipo de recurso monetário como o aluguer de casas e os funcionários da administração do estado eram os grupos sociais com maior capacidade económica. De resto e considerando o valor do imposto dos nove maiores contribuintes da vila do Marvão no início do séc. XX, se comprova desde logo a predominância da sua condição de pequenos proprietários, realidade específica desta vila acidentada da raia portalegrense. [ 1ºJosé António Moutta /contribuição predial : valor do imposto 22$659rs /2º Manuel Vivas Pachego /contribuição de comércio e rendas de casa: valor de 153$339 rs., /3ºManuel Velez Tavares /contribuição de comércio e rendas de casa: valor de 4$885 rs.,/4ºTeodora Estácio /contribuição predial: valor de 4$706 rs./ 5ºSebastião Garão/ contribuição predial: valor de 3$744 rs,/ 6ºAntónio Barradas /contribuição predial: valor de 2$860 rs./ 7ºJosé Ganhoto/ contribuição predial/ 2$860rs./8ºManuel Silva/contribuição comercial/ 1.$894 ser 9ºJosé Camilo Russo/contribuição sumptuária; valor de 1$110 rs. ].Mas a maioria da população eram constituídos por trabalhadores agrícolas ( 76.5% - 1890; 79.1% -1900 e 76.5% em 1911), com salários modestos que muitos vezes eram rentabilizados nas suas tarefas agrícolas em terras vizinhas. Outras profissões que garantiam unicamente o sustento e alimentação às gentes do Marvão, eram : os mineiros [ 14.8% em 1890 e 8.3% em 1911]; em valores entre os 2.8 % e 0.4% nos períodos cronológicos considerados encontramos: os artesãos, os profissionais de transporte, os comerciantes, funcionários da administração pública e os proprietárias situados em médias de 0.4%. Finalmente de referir que no final da década de 1930 a vila de Marvão apesar de tudo, possuía no seu território uma única Casa Agrícola cuja grandeza era indiscutível pertencente a João Nunes Sequeira com uma superfície de 162 hectares, dedicada a criação de gados e à exploração e produção cerealífera. De realçar ainda que se tratava de um proprietário exterior à vila de Marvão que através de várias compras teria então constituído a maior exploração agrícola do termo principal junto a qual edificou o seu solar.