quarta-feira, dezembro 30, 2009

IX -Terras da raia de Portalegre: A diversidade dos poprietários elvenses - 1850-1930



Na cidade mais a Sul do Distrito de Portalegre, a condição de proprietário, era formada por um colectivo de indivíduos com poder económico, no qual se identificava, uma maioria constituída por lavradores, comerciantes e militares que no seu todo integravam por sua vez, uma média ou pequena burguesia local e aos poucos foram constituindo a sua riqueza que por vezes não era tão real, mas antes era uma condição associada ao seu prestígio social. Neste grupo, distinguiam-se os casos particulares, dos militares e dos civis (bacharéis e licenciados) que eram reconhecidos na sociedade local como “doutores” e estavam associados à prática política, durante a monarquia constitucional eram quase todos membros activos do Partido Progressistas durante a I República estavam filiados no Partido Republicano Português. A maior parte dos lavradores integrantes da burguesia elvense eram arrendatários dos grandes terratenentes de Oitocentos, mas que ao longo das décadas de 1870 e 1880, teriam adquirido o capital necessário para a exploração e compra das propriedades arrendadas e de outras propriedades rústicas, algumas delas, fundamentais na criação e pastagens de gados outra realidade sem grande notoriedade numa região onde a paisagem agrícola variava entre os campos de cereais e olival. Eram os casos das grandes Casas Agrícolas das família Bagulho, cujo fundador , um médico que se fixou em Vila Boim, dos Rasquilhas que apesar de tudo era uma família que na época já tinha uma património assinalável no município de Arronches, dos Barbas, cuja ligação à aristocracia local era um dos sinais do seu prestígio social e os Gonçalves que se afirmam como grandes proprietários locais a partir de 1872. Outras famílias, continuavam na condição de arrendatários apesar de terem já uma fortuna considerável do ponto vista agrária e que se dedicavam à compra regular de algumas propriedades pertencentes à nobreza titulado do Reino como era o caso particular de Rodrigues Tenório que chegou a adquirir uma das maiores propriedades dos Duques de Palmela. A política de arrendamento, foi também seguida por estas famílias locais que viviam quase exclusivamente das rendas dos seus bens rústicos como eram o caso da família Andrade entre outras, que arrendavam as suas herdades aos novos-ricos que de um modo particular associavam o seu prestígio profissional à posse de uma herdade como era o caso dos médicos. Na verdade a “posse da terra” era uma das formas de integração e reconhecimento dos novos proprietários junto da” elite rural”. Um segundo grupo de proprietários era identificado não só com o referido grupo dos novos-ricos, com base na formação académica, os intelectuais, mas também os militares e ainda um pequeno grupo de comerciantes locais que surgiam integrados timidamente no estrato mais próximo dos grandes proprietários com Casa Agrícola. No entanto esse reconhecimento social, devia-se sobretudo a sua participação na vida social e política, no contexto dos interesses locais em nome do progresso e desenvolvimento. Todavia no final do séc. XIX os comerciantes enquanto grupo social em ascensão, mercê do seu trabalho e esforço, se tornavam um grupo dinâmico e com influência política notável, a família Nunes da Silva conquistara a Câmara e o Partido Progressista a principal força política do distrito, António Torres de Carvalho, empresário tipográfico, tornara-se um ideólogo político da causa republicana e um dos vultos da Loja Maçonica da Emancipação, fundada por Júlio Botelho de Alcântara e da qual surgiu a primeira geração de políticos republicanos da cidade , José Mendes caixeiro viajante que fundara a Casa Mendes & Paiva e que estava já integrado no seio dos grandes proprietários em função da prosperidade da sua Casa Agrícola e por último, Joaquim José Maria Guerra, proprietário da fábrica de ameixas “Guerra e Irmão”, cuja unidade fabril tinha conquistado mercados tão importantes como os do Brasil e da Inglaterra, para além de vários prémios internacionais. A estes diferentes grupos de proprietários juntava-se ainda os militares com propriedades rústicas, mas aqueles que estavam associados às elites locais, com quem estabeleciam relações de proximidade eram sem dúvida os Governadores da Praça Militar de Elvas ou do Forte da Graça, vistos e noticiados, em festas privadas e caçadas com as famílias de posse da cidade [ continua].