domingo, julho 04, 2010

5.2. As obras da Modernidade: A sobreposição das obras militares sobre a expansão da malha urbana

E
A recuperação da soberania portuguesa no 1º de Dezembro de 1640, acabou por dar à cidade de Elvas uma função política e militar de tal importância que a soberania nacional defendia-se nas cercanias de Elvas. Por outro lado, as cartas militares espanholas marcavam um vasto território de ofensiva militar, limitado a norte pela Serra de São Mamede e a Sul pela Serra de Ossa, todavia o eixo de penetração em território do actual distrito de Portalegre definia-se em linha recta, Elvas, Estremoz e Vila Viçosa. Assim, a retenção das primeiras ofensivas em linha, teriam que ocorrer obrigatoriamente em Elvas, uma vez que um desaire militar na cidade raiana implicava o avanço inimigo sobre o capital, claro, que nos referimo-nos a um período posterior a essa obra de referência militar a Praça militar de Elvas. A definição da planta da futura praça militar de Elvas, ainda antes da chegado dos especialistas de arte fortificar, o Tenente Correia Lucas e o flamengo, Juan Ciermans, mais conhecido por Cosmander, já antes o Conde da Torre tinha gizado as primeiras linhas para a possível fortificação. Mas, O Tenente Correia Lucas, numa análise substancial das reflexões gizadas pelo Conde da Torre propôs desde logo, uma ampliação do espaço a fortificar, cuja validade e racionalidade se justificou nos tempos vindouros, já que a expansão da cidade no interior da linha pentagonal fortificada se manteve com um ritmo moderado e racionalizada até ao devir do séc. XX. Mas, o seu julgamento implicava uma reflexão sobre a utilidade da mais importante a obra então o maior edifício público, existente em solo nacional, o aqueduto das Amoreira. Duas opiniões definiam-se os que achavam que era inconcebível com a estrutura da nova tipologia de fortificação, baixa, rasa e adaptada à nova era do fogo. Outros, achavam que era uma mais-valia, uma vez que a guerra de cerco de matriz medieval mantinha-se na modernidade, o castelo ou praça, na prática continuavam a ser a principal máquina de guerra, ainda que a tecnologia de guerra tenha mudado, mas o cenário de guerra terrestre mantinha-se e manteve-se durante mais de dois séculos. Entretanto o lançamento das primeiras obras corriam a bom ritmo e a uma cadência marcada pelo risco de um cerco a qualquer momento, os largos fossos abriam-se antes da edificação dos alçados amuralhados era a primeira e incipiente defesa para qualquer assédio. Do ponto vista, teórico a base construtiva assentou em princípios que tinham mudado a arte de fortificar desde ao fim do século XVI em função da utilização de novos engenhos de guerra que obrigou a modificação profunda dos sistemas de fortificação. Na verdade a guerra na modernidade exigiu a criação de um sistema de defesa contra as armas portáteis que actuavam a grande distância e contra canhões dotados de uma força de arremesso muito maior que as antigas trabuquetas como havia de dar à artilharia o principal papel defensivo. Esta última necessidade foi de todas a mais importante e foi ela que levou os engenheiros militares a elaborar o tipo de moderno de fortificação. Ou seja, o castelo que havia dominado actividade bélica medieval, quando os únicos recursos disponíveis ao sitiante eram os da antiguidade clássica – catapultas, aríetes, escadas, e a mais eficaz de todas as armas, a fome. O canhão terminou com isto tudo: a demolição dos muros de Constantinopla pela artilharia turca, simbolizou, neste e em muitos outros aspectos, o fim de uma longa era na história do homem ocidental. As altas muralhas construídas para resistirem às escaladas, os terrenos circunvizinhos tornaram-se pateticamente vulneráveis às balas de canhão que lhes desfaziam as bases. Mas a resposta foi facilmente encontrada. O fogo só podia ser contrariado pelo fogo. A nossa preocupação, escreveu Maquievel “ é construir muralhas retorcidas e com vários abrigos e locais de defesa para que se o inimigo tentar aproximar-se, possa ser enfrentado e repelido tanto nos flancos como na frente”. (cof. Maquievel, A Arte da Guerra, Livro II, capítulo 1.). Era tempo do triunfo da “linha de bastiões”, o arranjo dos bastiões que mutuamente se protegiam, salientes em relação às muralhas e dispostos de modo a disparar dos flancos e da retaguarda contra qualquer assalto contra as muralhas ou qualquer dos torreões. As próprias muralhas foram rebaixadas para se constituírem no menor alvo possível ao fogo inimigo e interiormente reforçadas com fortificações. Um fosso rodeava a fortaleza, era coberto pelo fogo e talvez até protegido por mais guaridas; à sua frente, estendiam-se taludes nos quais qualquer assalto ficava exposto ao fogo concentrado de todos os defensores. Fortificações deste tipo, a princípio improvisadas ad hoc pelas cidades italianas na última década do século XV, espalharam-se por toda a Europa ao longo da segunda metade do séc. XVI, uma questão de prestígio ou de necessidade militar como foi o caso de Elvas quase um século depois, herdeira dos princípios da arte fortificar europeia, o sistema defensivo da Praça militar de Elvas foi adaptada aos sistemas de fortificação portuguesa mas fortemente influenciada pela arte flamenga.(Continua).