A crise demográfica do séc. XIV marcou todo o Ocidente ( in Biblioteca Nacional de Paris)
O bispado de Badajoz confirmou a chegada da Peste Negra que pouco depois chegava a Portugal.
Olivença um dos cenários das guerras fernandinas
As guerras fernandinas em terras alentejanas e extremenhas( 1383-1395)
O tratado de Elvas - 1456 - trouxe a paz até finais da Idade Média
O Século XIV foi uma centúria de
grandes dificuldades em toda a planície e pela primeira vez na história,
política e militar, o Alentejo e a Extremadura converteram-se em teatros de
guerra para as duas regiões, numa época em que a fome e as crises alimentares
só por si explicam a recessão demográfica que se manifestou em ambas as regiões.
Na verdade, a crise de produção foi sem dúvida, o primeiro indicador da queda
demográfica das populações situadas no centro e sul do território, que nos
começos do séc. XIV estavam ainda em pleno crescimento demográfico, no Alto
Alentejo, havia terras importantes e “cheias de efectivos populacionais”,
Portalegre incluía oito igrejas, Évora, seis, Castelo Vide e Montemor-o-Novo,
cinco. E nas terras fronteiriças de Elvas, Arronches e Monsaraz contavam quatro.
No Baixo Alentejo, onde o despovoamento era mais evidente e a cristianização
pouco expressiva por força da tradição muçulmana, a cidade de Beja com quatro igrejas,
destacava-se dos demais núcleos populacionais. Não podemos ignorar que nesta
época de depressão demográfica, os mouros constituíam um contingente muito
numeroso e com forte expressão em todo o sul de Portugal, na região do
Alentejo, as mourarias estavam localizadas no centro e em toda a raia da região,
nas cidades de Évora, Elvas e Beja e nas vilas de Alcácer do Sal, Estremoz,
Vila Viçosa, Avis, Mourão, Moura e Serpa. Mas por
todo o Alentejo, a documentação antes de meados do séc. XIV revela uma
diminuição do número de terras arroteadas e o número de transacções de terras
diminuiu significativamente, a queda da produção cerealífera é evidente e os
Invernos frios e rigorosos, se sucedem iniciando-se os primeiros ciclos de maus
anos agrícolas. Os dados estatísticos
são rigorosos a partir da crise política de 1383-1385, mas a Peste Negra já
tinha ceifado milhares de almas em todo o território nacional, desde a sua
chegada a território português em 1348 e continuará a fazê-lo durante quase um
século, todavia são conhecidas a violência das vagas da pestilência em
1361-1363, 1374, 1383-1385 e 1389 … Todavia, na raia do Alto Alentejo, a
pestilência chega ao território alentejano, por via de Badajoz e por Valência
de Alcântara, quando a mesma já grassava em Cáceres e Trujillo, no Verão de
1349 as notícias corriam na raia luso-castelhana, o Bispo de Badajoz anunciava
que parte do cabido da catedral tinha falecido com tal enfermidade e que a
morte tinha se abatido na cidade. O
cenário despovoamento é evidente em todo o Alentejo, desaparecem vilas e aldeias
e outras resistem com perdas significativas da sua população no Alto Alentejo,
são os casos de Marvão, Estremoz, Vimieiro, Montemor o Novo ou Tereno, no
Baixo, destaca-se a Mourão, Serpa e Almodôvar. Relativamente à vila de
Almodovar, o cenário descrito pelas fontes era extensivo a muitas populações
alentejanas: “per as grandes pestilências que se seguiram, outrossim pelas
guerras que houvemos com el rei de Castela, eles [ os habitantes] andaram fugidos dessa vila, e estivera
despovoada por espaço de dez anos ou doze, em o qual tempo os ditos azinhais e
soverais e os matos cresceram tanto que chegaram a essa vila”. Em finais do séc. XIV a guerra tornara os férteis campos alentejanos
e extremenhos em verdadeiros teatros de guerra, como resultado de um delicado
equilíbrio político que dominava a conjuntura política internacional da época e
que permitiu a afirmação da Dinastia de Avis e a derrota castelhana em 14 de
Agosto de 1385 em Aljubarrota . A partir desse momento, a violência e a morte,
como resultado de uma guerra aberta ocorreu em toda a fronteira luso-espanhol e
a paz só voltaria ao Alentejo com estabelecimento da paz após o cerco de
Valencia de Alcântara. De facto, as chamadas Guerras Fernandinas (1369 ,1372 e
1382), castigaram duramente todas as populações situadas em ambos os lados da
linha de fronteira. Em finais do século e com o Tratado de Alcoutim (1371),
procurava-se a mais e em tempo de tréguas a diplomacia continuou, os cenários
para firmar a paz foram apontados entre 1939 e 1402, as vilas de Olivença e
Villanueva de Barcarrota foram seleccionados, mas o primeiro sentimento de uma
paz duradoura ocorreu quase dez anos depois com a assinatura do Tratado de
Ayllón em 1411 e devidamente confirmado com o Tratado de Almerim em 1423 …
estavam criadas as condições para refrear as ambições de ambas as coroas
abrindo-se um período de entendimento e de relações cordiais, mas não anulando
as ambições imperiais, renovadas com a crise política de 1440-1430 sem as
consequências políticas e militares da Crise do séc. XIV mas com uma solução
definitiva no Tratado de Elvas de 1456 abrindo uma fase de paz e prosperidade
até finais da idade Média …