Giorgio de Chirico, Musas Desiquietantes, óleo sobre tela, 97x66 cm,
Milão, Colecção particular.
Marx Ernest, O Elefante das Celebes, Óleo sobre tela, 125x106 cm
(Londres, Tate Galery)
René Magritte, O assassino ameaçado, 1927, óleo sobre tela, 150.4x195.2 cm
(Nova Iorque, The Museum of Modern Art)
O Surrealismo conferiu uma nova
dimensão à representação pictórica com base na valorização do subconsciente na
pintura. Foi uma verdadeira revolução artística cuja principal preocupação, ao
contrário do Fauvismo e do Cubismo, não se prendia com questões de forma e cor,
e sim com a procura de novas possibilidades e processos artísticos enquanto
veículo de expressão de novos temas. Aliando à investigação científica sobre o
subconsciente com as descobertas realizadas com experiencias dolorosas e
agradáveis, os Surrealistas basearam-se em muitas fontes contemporâneas e
históricas; nos contos de fadas e nos mitos, no espiritualismo e na alquimia,
no romantismo alemão e nos elementos fantásticos da arte dos primeiros tempos
até ao século XX, na pintura naive e na arte dos doentes mentais, das crianças
e dos “povos primitivos”. Inspirados pelas teorias de Freud sobre o inconsciente,
muitos artistas surrealistas consideraram a representação do mundo dos sonhos
como reveladora da mente humana. Nas várias tentativas de ilustrar este mundo
dos sonhos, expressaram o seu fascínio com mistério, violência e sexualidade. Em
“O Elefante Celebes”, Marx Ernest criou uma sensação de mistério ao tirar uma
fotografia inócua de um contentor de milho e metamorfoscando esta peça de
equipamento agrícola num elefante de duas patas que vagueia por uma paisagem
habitada por manequins sem cabeça e peixes que nadam no céu. A técnica usada
por Marx Ernest para a transformação de coisas vulgares em seres extraordinariamente
fantásticos foi também usada por Salvador Dali. Na “Metamorfose Narciso”, o
processo de transformação surge aos nossos olhos através de uma mão que segura
um ovo ecoando o corpo próprio Narciso, colocado mesmo ao lado. Os surrealistas
foram bastante influenciados pelo artista italiano, Giorgio Chirico, cujas
estranhas justaposições de objectos díspares, como em “Canção do Amor”,
transmitiam uma sensação de mistério envolto em medo. O surrealista belga, René
Magrite explorou particularmente este estado de espírito. Em “O Assassino
Ameaçado”, representa o mistério de um crime reminiscente das histórias de detectives
e filmes da época. Aqui, sexo e violência estão lado a lado; a vítimas é uma
mulher nua com a garganta cortada, mas os rostos das personagens envolvidas não
reflectem qualquer sensação de horror. Na sua busca dos meios de expressão adequados,
os Surrealistas desenvolveram alguns processos que incluíam o acaso como fonte
artística: a frottage, em que é colocado um papel sobre um relevo e o desenho é
transferido para o papel, que depois é dobrado ou decalcado para outro papel,
sendo então a imagem acidental ou fortuita assim obtida trabalhada pelo
artista; a técnica de raspagem conhecida por “grattage”, a técnica de “fumage”
e a técnica da “pintura a areia” que consiste em espalhar areia sobre uma tela
coberta de cola. Graças à alternância entre diferentes formas mas também à sua
combinação – caligrafia automática, processos adicionais e intencionais – foram
emergindo múltiplas possibilidades de expressão e conferida também uma nova dimensão.