segunda-feira, junho 01, 2009

O Asylo de Infância Desvalida de Elvas um exemplo da sociedade civil


História Local – No dia das comemorações do Dia Mundial da criança, será interessante recordar o pioneirismo de um “punhado de Elvenses e portugueses” , da cidade que criaram o chamado Asylo de Infância Desvalida quando a questão da sobrevivência e o direito a uma infância feliz não era sequer motivo de debate. De resto, o número de crianças abandonadas aumentava sempre que as crises agrícolas se faziam sentir no Alentejo e na Extremadura Espanhola, não era por caso que algumas crianças espanholas eram deixadas junto aos portais de algumas igrejas locais, nomeadamente da Igreja de São Domingos. A primeira referência histórica sobre a referida instituição inicia-se com chegada a Elvas no Verão de 1851, do Brigadeiro de Artilharia José Maria Baldi (natural de Lisboa) , que segundo a documentação encontrara em Elvas nas primeiras visitas à cidade “Muitas crianças com os pés nus, o corpo mal coberto e com caras cheias de fome” e segundo aquele oficial superior do exército português, justificava-se pelo trabalho no campo de muitas famílias que não tinham outra opção que não o abandono dos filhos à sua sorte pela cidade e por vezes por largas temporadas. O caminho para a fundação da primeira instituição de solidariedade alguma vez formada em Elvas, inicia-se com uma reunião no interior do quartel da praça, mais exactamente na secretaria onde estiveram presentes um grupo de elvenses que deveriam lançar de imediato a base do futuro “Asylo de Infância Desvalida”, a partir do estudo dos estatutos dos estabelecimentos semelhantes já existentes em Lisboa e Coimbra. Em menos de três meses, constituía-se a primeira direcção em 12 de Outubro de 1851, sendo eleito por aclamação o referido brigadeiro, que era acompanhado pelos elvenses, vice-presidente Cristovão de Vasconcelhos; secretários Joaquim António Lopes e Jerónimo José Alves Silva e pelo tesoureiro António Sousa Barradas. O funcionamento da instituição estava a cargo de várias senhoras que marcaram pela primeira vez a presença feminina em cargos de direcção entre elas: D. Maria do Carmo Valdez, D. Rosa Freire Leal, D. Adelaide de Assunção, e D. Ana Rita Gama Lobo (esposa do Marechal Gama Lobo) . O apoio da população foi indiscutível e da Coroa vieram os apoios da Imperatriz D. Amélia que doou cerca de 40.000 rs em 1854 e o própria rei D. Pedro no ano seguinte confirmava a verba. Da população elvense, os donativos foram constantes ao longo da sua existência em 1863 chega por carta registada ao então director do Asylo, o Tenente Coronel, Joaquim Travassos Valdez (natural de Elvas), a notável verba de 1 conto e 750.000 réis, resultado de uma circunscrição feita pela comunidade de emigrantes elvense no Rio de Janeiro e um dos médicos militares de referência da cidade, António Fausto Namorado, regista nos termos do seu testamento a verba de 250.000 réis para a referida instituição. Ao longo da sua existência o Asylo conheceu sucessivas reformas, iniciando-se no primeiro ano com cinquenta alunos que aprenderam as primeiras letras, a escrita e a contabilidade. O ensino religioso integrava o contexto educativo. Na primavera de 1890, o Asylo respirava a segurança e a tranquilidade financeira, o número de crianças salvas da miséria ultrapassava a meia centena, o século do progresso e dos direitos ainda estava a uma década da” luz solar”, mas os elvenses saudavam a obra de José Maria Baldi em acta do dia 2 do mês de Maio de 1890 : “Hoje a batalha estava ganha, e a ele parecia-lhe que o Asylo nunca se teria de arrepender do empreendimento em que se lançara, porque confiava muito na caridade, para acreditar que ele nunca deixaria de proteger e amparar” . Postado por Arlindo Sena