
"A esperança está fundamentada no que sabemos que não é nada e na esperança sobre o que ignoramos que é tudo"

Como será 2010?...1910…. foi assim, logo no dia 1 de Janeiro, na Hungria foi promulgado o estado de “Ex LEx”, isto é, período de tempo sobre o qual não se podia cobrar qualquer imposto. Em 29 de Janeiro, o rio Sena subia cerca de 8.60 m e Paris ficava alagada. Logo no primeiro dia do mês de Fevereiro, Londres nomeava os primeiros inspectores do trabalho ao serviço de um Estado Nacional. O movimento futurista na arte surgia em Itália, Umberto Boccionni, Carlo Carrá, Ligi Russuolo e Gino Seeverino, utilizavam as máquinas como forma temática na arte pictórica. No dia 3 de Março a notícia começa a correr mundo, a Sociedade Médica de Madeburgo, encontra solução e tratamento médico contra a sifílus.Em Espanha, as mulheres no dia 8 de Março conseguiram uma grande conquista, podem realizar os seus estudos universitários. Dois dias depois a China promulgou o fim da escravatura. A 18 de Abril, na Alemanha Krupp y Man testam pela primeira vez um motor diesel. O Governo Civil de Lisboa proibia o uso de chapéus em espectáculos por dificultarem a visão dos espectadores sentados nas filas da rectaguarda e os armazéns do Chiado em Lisboa ofereciam aos seus clientes um bilete-postal esta famosa casa tinha um representante na cidade de Elvas. A 6 de Maio, a tragédia faz notícia cerca de mil quinhentas pessoas perdem a vida num terramoto na capital da província de Cartago, na Costa Rica e no mesmo dia Eduardo III sucede no trono da Inglaterra Jorge V. Na semana seguinte o cometa Halley aproxima-se da órbita terrestre e a comunidade científica reflecte sobre esse percurso e a ideia da tragédia manifesta-se nas camadas populares e alguns vaticinam o fim do mundo. Vasili Kandisnsky cria uma nova forma de representação pictó
rica abstracta. A norte-americana, Carlyn Hale supera 1.41m no salto em altura novo record do mundo batido em New Milford. Em 1 de Julho, o rei de Espanha, Afonso XIII firma um decreto que suprime a necessidade de um juramento religioso que então era vigente em todos os actos religiosos. José Malhoa concluiu a sua obra “O fado”. Em meados do mês, Octave Lapize vence o Tour de França. Sobre um sol escaldante, no primeiro de Agosto se realiza em Estacolmo o 16º Congresso Mundial pela Paz, seiscentos congressistas reuniram-se naquela cidade sueca representando os cinco continentes. Em 22 de Agosto a primeira agressão num mundo em p
az, o Japão potência em ascensão na região Ásia-Pacífica, anexa a Coreia. Três dias depois o imperador alemão, Guillerme II, defende a continuidade da militarização das nações sobre a sua jurisdição o que é motivo de reprovação de todos partidos germânicos. A caminho do fim do Verão, os advogados alemães reunidos em Danzing defenderam a continuidade da pena de morte propostas por uma parte considerável da opinião pública. A 5 de Outubro, Portugal se converte numa República, face à má administração, à corrupção e à necessidade de reformas que a Monarquia não foi capaz de executar durante o período constitucional. Era o fim da dinastia de Bragança que governava o pais desde 1641. Na cidade de Elvas, a República é proclamada às 5 da tarde , com um discurso do Dr.João Camoesas seguido de uma caminhada pela cidade acompanhada pela Banda de Caçadores nº4 , o lavrador, proprietário e humanista, Júlio de Alcãntara Botelho é nomeado Presidente da Comissão Administrativa da Cãmara Muncipal de Elvas. No fim do mês, numa época em que o sindicalismo ganhava uma força considerável se constituía em Espanha a Confederação Geral d
os Trabalhadores. No mesmo dia, 30 de Outubro , na Suiça, faleceu a figura do ano, Henri Dunant o fundador da Cruz Vermelha. No 1 de Dezembro é inaugurada a nova bandeira nacional de Portugal segundo o modelo de Columbano. Em 10 de Dezembro, o químico alemão, Otto Wallach, ganha o Prémio Nobel com base na análise do seu trabalho sobre a análise de óleos voláteis. E vinte dias, depois o físico, neozelandês, Ernest Rutherford, demonstra experimentalmente a existência do Protão. No último dia do ano, entram em serviço na Europa e nos Estados Unidos os primeiros carros de bombeiros, no desporto, realiza-se a 1ºedição do Torneio das Cinco Nações em Râguebi, com a presença da Inglaterra, França, País de Gales, Escócia e Irlanda.

"Os povos serão cultos na medida em que entre eles crescer o número dos que se negam a aceitar qualquer benefício dos que podem; dos que se mantêm sempre vigilantes em defesa dos oprimidos não porque tenham este ou aquele credo político, mas por isso mesmo, porque são oprimidos e neles se quebram as leis da Humanidade e da razão; dos que se levantam, sinceros e corajosos, ante as ordens injustas, não também porque saem de um dos campos em luta, mas por serem injustas; dos que acima de tudo defendem o direito de pensar e de ser digno". Agostinho da Silva


O saber é uma forma de comportamento, uma paixão. No fundo, um comportamento ilícito; porque, tal como a dependência do álcool, de sexo ou da violência, também a compulsão de saber molda um carácter em desequilíbrio. É um erro pensar que o investigador persegue a verdade; de facto, é ela que o persegue a ele. É ele que tem de suportá-la. A verdade é verdadeira, o facto é real, sem se preocuparem com ele: ele é que sofre da paixão, da dipsomania dos factos que define o seu carácter, e está-se nas tintas para saber se as suas descobertas levarão a alguma coisa de total, humano, perfeito ou o que quer que seja. É uma natureza contraditória, sofredora e, ao mesmo tempo, incrivelmente enérgica.Robert Musil, in 'O Homem sem Qualidades'


tória a Moderna, a bibliografia que fundamenta o conteúdo temático inclui as obras de referência da historiografia portuguesa dos últimos vinte anos. O autor entrevistou ainda e teve em consideração a opinião especializada de alguns académicos de referência da universidade portuguesa: António Barreto, Fernando Martins, Isabel Guimarães de Sá, Leonor Freire Costa, José Mattoso, José Manuel Sobral, Mafalda da Cunha Soares, Maria de Fátima Bonifácio, Maria Filomena Mónica, Pedro Cardim, Pedro Aires Oliveira e Vasco Pulido Valente. Uma das primeiras questões que se põe na organização de uma obra deste tipo é sem dúvida, a dificuldade das opções temáticas, que não é uma tarefa fácil: Nada fácil, sobretudo por que a História mudou muito. A quantidade de pessoas que hoje faz investigação não tem comparação com há 20 a 30 anos. Veja-se o número de mestrados e doutoramentos. Por isso, não é fácil aceder a essa informação, muito dispersa e depois geri-la e colocá-la numa narrativa que faça sentido. As linhas de orientação mostram uma estrutura convencional apesar da sua modernidade ....? : “Um livro deste género tem de ter sua estrutura base na história política, a única que permite uma narrativa. Por outro lado, acordámos que a explicação não podia ser dada apenas pela lógica dos acontecimentos, tínhamos de ter em conta as circunstâncias. Percebemos também que eram necessários actores e protagonistas, sem cair no anedótico, para transmitir a vivência da história. Como por exemplo? Nas origens da Expansão Marítima não apresentamos apenas a explicação estrutural, mas também o debate que se viveu na época. Isso dá ao leitor uma ideia de uma história viva, que é feita por pessoas que hesitam…” Ou seja a historiografia necessitava de um novo projecto? …. “Muito do que nós sabíamos ou julgávamos saber acerca de determinadas épocas estava a ser contestado pela investigação. Durante muito tempo só sabíamos que não sabíamos. Nesse momento, havia necessidade de um ponto da situação. Esta História de Portugal vem na altura em que ela é possível, correspondendo a um desafio da editora. Um convite deste género há 15 anos ou 20 anos deixar-nos-ia provavelmente perplexos…” Em termos de História Contemporânea, a nova história de Portugal valoriza um conjunto de temas durante muito tempo esquecidos …”Muitos. Todo o século XIX, por exemplo, nomeadamente a experiência Liberal. Grande parte das instituições actuais deriva daí. Além disso, as dificuldades de desenvolvimento e modernização do país sentidas na época podiam inspirar o nosso tempo, caso percebêssemos que obras públicas, corrupção, funcionamento da Justiça, peso do Estado na Economia, não são questões novas. Não estou a dizer que as discussões são as mesmas, porque a sociedade mudou muito. Mas valia a pena olhar para os argumentos da altura. É difícil não pensar no TGV quando lemos a discussão em torno dos caminhos-de-ferro. (…). Fazer uma história sem preconceitos. Ter um ponto de vista, mas recusar visões partidárias, do género ser favor ou contra. Optar por uma história mais aberta. Sem esquecer o lado repugnante, como a censura, a polícia política, a proibição dos partidos, tentar compreender como é tudo isso é possível. Evitar a condenação ou o panegírico. Porque a História não é um tribunal que passa sentenças, mas uma forma de entender o que aconteceu. O nosso século XX está cheio de rupturas, conflitos e controvérsias. Perante isso, ou tomamos partido ou tentamos perceber o que se passou, sem esquecer que somos um produto deste tempo…” . Ao Doutor Rui Ramos, um obrigado à homenagem que presta no Prólogo a Luís Krus, que desapareceu à meia dúzia de anos, um homem da minha geração académico, um amigo com quem tive a honra de colaborar num projecto de investigação durante o ano de 1996 e na minha opinião era o potencial herdeiro da corrente historiográfica iniciada por José Mattoso…. 


O mundo em debate é sem dúvida a proposta que a Conferência Climática Internacional, a decorrer no preciso momento em Copenhaga até 18 de Dezembro, na qual os olhares dos homens de ciência se concentram perante a expectativa ou desapontamento em função dos caminhos que o nosso ecossistema possa trilhar, após as crescentes mudanças que nos últimos cem anos o nosso ecossistema sofreu em virtude das diferentes etapas da Revolução Industrial. As propostas e as cotas de poluentes serão a base das conclusões de Copenhaga. Mas o que está em causa são sem dúvida, as alterações climáticas numa marcha sem recuo, apesar de mesmo na área científica há quem defenda que as alterações climáticas são apenas um resultado da mutação das condições que a marcha do tempo tem determinado … e nesse sentido a história está cheia de registos que determinaram novas etapas na vida económica e social das comunidades ainda que tais alterações ocorreram sem a “mão humana”. Segundo, o Doutor Filipe Duarte Santos (Catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa): “A médio e longo prazo o risco maior é a subida do nível médio do mar. Ao lançarmos para atmosfera gases com efeito de estufa, essencialmente dióxido de carbono, metano e óxido nitroso, aumentamos o efeito de estufa e provocamos um aumento da temperatura média global. Para além disso, há uma maior frequência de fenómenos climáticos e meteorológicos extremos, ou seja, nos locais onde há seca, há tendência a ocorrer com grande intensidade em períodos curtos. Estas respostas são relativamente rápidas, mas no caso do oceano não. A subida da temperatura da atmosfera aumenta a temperatura da camada superficial do oceano e dá-se uma dilatação térmica do mesmo. Por outro lado, há fusão dos glaciares e essa água vai aumentar o volume, que resulta também de alguma fusão de gelos nas calotes polares. Há depois uma propagação do calor em profundidade, mas é muito lenta. O oceano leva muito tempo a reagir, de forma que mesmo controlando o aumento da temperatura, a subida do nível do mar continua”. De resto o debate em Copenhaga torno da defesa de uma poluição inferior aos 2.ºC justifica-se uma vez que “O que os modelos indicam são que os campos de gelo da Gronelândia, que estão acima do nível do mar irão fundir-se irreversivelmente. Para as zonas costeiras isso seria absolutamente dramático ….Por outro lado, acelera-se a fusão dos gelos nas grandes cordilheiras como os Andes, que têm uma importância enorme em relação aos regimes dos rios em muitos países como a Colômbia, Chile, Peru ou Bolívia. Corre-se o risco de uma escassez de água muito pronunciada”. Para o Doutor Viriato Soromenho - Marques ( Catedrático da Faculdade de Letras de Lisboa) o problema no futuro centra-se numa nova política que possa respeitar ou cooperar com o ambiente “Julgo que existirão grandes mudanças a nível social. Depois da II Guerra Mundial tivemos uma política Keynesiana, baseada no crescimento. O anual aumento do PIB permite a redistribuição da riqueza, mantendo os ricos mais ricos e os pobres remediados. Mas isso foi feito à custa da pressão sobre os recursos naturais. Hoje, temos que inventar uma política social que seja capaz de cumprir a função básica do Keynesianismo – trocar a luta de classes pela coesão social num quadro de transição. Este só pode ser administrado, como Nicholas Stern e Al Gore acreditam, num caminho para um crescimento sustentável, com um mercado baseado em energias que não impliquem significativas ao ambiente. Mas isso só será possível se conseguirmos ter políticas sociais activas. Caso contrário corremos o risco de replicar à escala global a sociedade “condomínio fechado”.O exemplo de São Paulo é uma imagem, em pesadelo, do que poderá ser o mundo daqui a 15 anos, se não tivermos cuidado. Vivemos em crise e temos que sair dela, porque se não fizermos entramos no colapso” O que significa que: “ A população mundial baixaria drasticamente, teríamos uma mortandade sem paralelo. Um estudo divulgado na Dinamarca referiu que se não fizermos nada, chegamos ao final do século XXI com mil milhões de pessoas, ou seja, voltaríamos à população que tínhamos em 1930…” E Portugal onde se situa num mundo em transformação “ O desafio do nosso País é aproveitarmos a crise para redefinirmos o nosso lugar no mundo, na divisão internacional do trabalho. Portugal é um país muito rico em termos de energias renováveis. Temos muito sol, vento e marés, e por isso grandes potencialidades a este nível e em relação à eficiência energética. É uma prioridade, mas o desafio do clima é também o da sustentabilidade. Temos que repensar a nossa agricultura, e as nossas opções ao nível do mercado interno, em relação ao mercado interno, em relação a produtos alimentares. Não são precisas medidas proteccionistas. Os consumidores são cidadãos. E devem decidir comprar produtos que acreditem ter um valor qualitativo diferente – mesmo que custem algo mais. É preciso compreender que uma maior autonomia energética e alimentar faz parte da transição para uma economia menos carbónica. Este é um tempo de mudanças, não será uma transição fácil, mas o nosso estilo de vida vai ter que ser alterado. Os países que vão chegar à linha da frente são aqueles que assumirem essas mudanças e sacrifícios .Mas penso que isso tornará a nossa vida mais deliberada, intencional e reflectida”… A verdade é que já nada será igual, números actuais revelam que desde 1930 em Portugal o temperatura subiu 1.2 Cº , o desafio que hoje a Humanidade através dos seus representantes legítimos assume é poluir menos em relação à década de 1990, outras cimeiras deverão suceder para que os nossos filhos e os nossos netos possam garantir a sobrevivência do género humano...

