quinta-feira, outubro 08, 2009

V -Terras da Raia:-Síntese histórica da Vila de Campo Maior



Ao contrário do que ocorreu com as demais cidades e vilas do norte alentejano, Campo Maior não foi resultado directo do esforço da reconquista cristã, mas antes dos esforços diplomáticos realizados com vista ao estabelecimento de relações pacíficas entre Portugal e Castela. De facto a incorporação da vila de Campo Maior na coroa portuguesa foi uma consequência da assinatura do Tratado de Alcanices em 12 de Dezembro de 1297. Estabelecido com o objecto de pôr termo, às guerras que durante décadas envolveu os dois estados ibéricos. Uma vez que pelo referido Tratado, portugueses e castelhanos comprometiam-se a ser verdadeiros amigos e inimigos dos seus inimigos. E foi nessas circunstâncias, que se definiu então a repartição de castelos e populações mais importantes da raia, desde o Norte ao Sul, no qual o território da vila de Campo Maior passou a integrar a soberania portuguesa. Por essa razão, o desenvolvimento de obras de fortificação passou a ser uma constante, numa localidade que em tempos de crise política se mostrou quase sempre favorável à integração na coroa castelhana, mas tal não evitou que as armas de Portugal fossem defendidas naquela terra da raia nacional, com honra e heroísmo. Mas a ligação a Castela, foi um caso ímpar em terras do distrito de Portalegre, nos séculos XVI e XVII, Campo Maior se converteu de uma maneira particular, num núcleo de atracção de diversas populações da vizinha Extremadura, mais exactamente de Badajoz, Albuquerque e Cáceres. Dois factores contribuíram de um modo especial para esta circunstância, por um lado o desenvolvimento alcançado pelo comércio raiano durante o período da União Ibérica e por outro a chegada de milhares judeus que atravessaram os pontos principais da raia nacional, casos de Elvas e Marvão. Assim e de acordo, com as cifras documentais cerca de 25.000 foram o número de fugitivos de Castela e entre eles, algumas centenas de médicos, boticários, mercadores, sapateiros para citar as profissões mais significativa, dos judeus que se fixaram na vila alentejana. Mais, tarde com a Guerra da Restauração a expansão demográfica que Campo Maior conheceu durante os inícios da Modernidade sofreu um notável retrocesso, quando a sua praça era então reconhecida como a segunda mais importante da região Alentejo. Nos começos do século XVIII a população campomaiorense ainda não tinha recuperado as perdas sofridas durante a segunda metade de seiscentos, não só como consequência da conjuntura de guerra, mas sobretudo pela deslocação de parte dos seus efectivos populacionais, para os núcleos vizinhos, de Arronches e sobretudo para Elvas. Do início do século XVIII destaca-se um precioso documento datado de 1708, que refere que o núcleo urbano estava arruinado e o despovoamento era evidente “ foi uma população com 1.200 vizinhos mas hoje, por causa da guerra com Castela, se apresenta com 850”. Mas a centúria de Setecentos e as primeiras décadas do século XIX foram adversas em termos de desenvolvimento económico e social, uma vez que a maior parte da propriedade agrícola estava sob domínio de um grupo restrito de proprietários e em especial de alguns militares que se tornaram senhores das melhores propriedades da vila e os intercâmbios comerciais frequentes ao longo dos séculos XV e XVI, foram pouco a pouco, interrompidos. E devido, a estas circunstâncias, a vila se converteu num espaço predominantemente agrícola, ao mesmo tempo que o contrabando até então uma actividade complementar nos rendimentos de muitas famílias da raia se tornava uma prática comum e uma actividade exclusiva e sempre crescente ao longo do século XIX. Todavia, como de resto se verificava nos demais centros fronteiriços do distrito, a agricultura continuava a ser a principal actividade pelo menos desde os tempos medievais. E mesmo quando Campo Maior, se afirmava como uma praça comercial de interesse regional, a sua capacidade como centro exportador passava pela produção cerealífera, não é por acaso que o monarca D. Manuel I, enviou a esta vila, um seu criado para a aquisição de trigo para abastecer as necessidades da capital. Em suma, como procuramos comprovar os principais núcleos fronteiriços do distrito se formaram inicialmente, no contexto da reconquista cristã e acabariam por se consolidar nas guerras com Castela, um conflito que em determinados momentos pressionou a fronteira portuguesa, quase sempre sem êxito pois, em muitos casos, as acções consistiram unicamente na realização de operações de saque ou guerras de cerco, sobretudo nos períodos medieval e moderno. Terminada as síntese históricas das cidades e vilas da raia (O caso de Elvas, vide nos textos sobre Elvas Portuguesa), vamos situar as nossas reflexões com base na documentação coeva e no período de 1850-1930, que corresponde nada menos nada mais, as origens mais recentes destes centros populacionais raianos.